O Estado de São Paulo (2020-06-13)

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H2 Especial SÁBADO, 13 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]

Diorman Werneck
ESPECIAL PARA O ESTADO


Pouco antes de as manifesta-
ções pelo fim do racismo e da
brutalidade policial explodi-
rem pelo mundo, estreava Little
Fires Everywhere (Pequenos In-
cêndios por Toda Parte), série do
Hulu, plataforma de serviço de
streaming pertencente à Dis-
ney – no Brasil, está disponível
na Amazon Prime. Baseada no
romance homônimo de Celeste
Ng, lançado originalmente em
2017, a produção tornou-se um
enorme sucesso. Como toda
adaptação, as comparações são
itens obrigatórios, mas a linha
guia presente nas duas obras é
ainda mais importante e já dá o
tom desde o começo.
Protagonizada
e produzida por
Reese Withers-
poon e Kerry
Washington, a his-
tória é ambienta-
da na década de
1990, na cidade
de Shaker Heigh-
ts e gira em torno do encontro de
duas famílias completamente di-
ferentes, lideradas por Elena Ri-
chardson (Witherspoon) e Mia
Warren (Washington).
Logo no primeiro episódio, as
diferenças entre as duas prota-
gonistas são escancaradas e ser-
vem de fio condutor da trama.
De um lado, uma mulher contro-
ladora que, ainda nova, já tinha
planejado toda sua vida (a ponto
de medir até a quantidade de vi-
nho que toma) e, do outro, uma
mulher orgulhosa, com um pas-
sado misterioso e sem amarras.
Em uma das cenas mais im-
pactantes, Elena e sua família
observam sua mansão arder em
chamas, ao mesmo tempo em
que constatam o sumiço da ca-
çula, Izze (Megan Slott), sinali-
zando que ela pode ser a respon-
sável pelos “pequenos incên-


dios por toda parte”, constata-
dos pelos bombeiros.
Nesse momento, a história re-
cua ao passado, retornando qua-
tro meses no tempo e permitin-
do que espectador conheça me-
lhor as protagonistas. De um la-
do, Elena, mãe rica e branca
com quatro filhos que sempre
tiveram acesso ao conforto; do
outro, Mia, também mãe, artis-
ta, negra e pobre, que se muda
constantemente, sem criar raí-
zes por onde passa.
A chegada de mãe e filha a
Shaker Height vai marcar defini-
tivamente a rotina da família Ri-
chardson. Trata-se de um subúr-
bio calmo, auto centrado em
suas próprias regras e planeja-
mento, da cidade de Cleveland,
onde as casas têm rígido padrão
de pintura e o lixo é escondido
no fundo das casas, para não ser
visto. Além disso, a altura da gra-
ma nos jardins é
controlada e as
escolas são consi-
deradas modelos
a serem segui-
dos, muda para
sempre a vida da
família Richard-
son.
A colisão de duas trajetórias
tão distintas permite que a série
ganhe relevância ao tratar das
temáticas racial, sexual e de gê-
nero com mais densidade que
as observadas no livro.
A história aborda os desafios
da maternidade em uma época
em que a emancipação feminina
chegou ao ponto máximo, reve-
lando a crua realidade de mães
que precisam sobreviver à sua
maneira, enquanto tomam cons-
ciência do peso de suas decisões
na criação dos filhos.
Nesse momento, a diferença
principal entre livro e série já se
impõe – Celeste Ng criou Mia e
Pearl como personagens brancas,
principalmente pelo seu lugar de
fala. A própria autora, em entrevis-
ta ao jornal New York Times, reve-
lou sua satisfação pelo fato de a
série apresentar a temática racial

de uma forma que ela mesma não
abordou.
Na série, o contraste não se
dá apenas por questões sociais:
a produção ganha uma camada
mais densa e complexa nas dife-
renças entre as protagonistas.
A sexualidade de Izzy (Megan

Stott), tanto no livro como na
série, é apresentada como a da
filha rebelde que faz tudo para
desafiar o que a mãe fala. Na
série, a filha caçula tem sua se-
xualidade colocada em foco
quando sofre bullying na escola
por ter supostamente se insi-

nuado para a melhor amiga.
Outra diferença é o motivo
que explica a desavença entre
mãe e filha. A série evidencia que
Elena não planejava a gravidez
da filha rebelde, pois tinha acaba-
do de voltar a trabalhar depois
do nascimento de Moody, seu

terceiro filho. No livro, o emba-
te entre as duas se dá principal-
mente pelas diferenças de per-
sonalidade: entre a jovem mais
aberta e a mãe muito controla-
dora, ainda traumatizada pela
fragilidade de Izzy, que nasceu
prematura.
Tanto a série como o livro infor-
mam que Mia estudou em uma
famosa escola de artes em Nova
York. Suas habilidades fotográfi-
ca e artística chamaram a aten-
ção de Pauline Carlson (Anika
Noni Rose), que logo se tornou
sua mentora. Nesse ponto, surge
uma distinção entre as obras: na
série, além de mentora, Pauline
logo desperta sentimentos por
sua protegida e elas se tornam
amantes. Na obra literária, aluna
e professora se tornam boas ami-
gas, construindo uma ligação ape-
nas de aprendiz e mestre.
Na obra, Izzy se revolta com a
forma como sua família tratou
Mia e Pearl e, antes de fugir, ini-
cia o incêndio que destruiu a ca-
sa, com pequenos fogaréus na ca-
ma dos irmãos. Na série, quando
ela começa a despejar gasolina
na própria cama, é impedida pe-
los irmãos. Mas, quando um no-
vo acesso de raiva da mãe provo-
ca a fuga da irmã caçula, Moody
e Trip se revoltam e terminam o
que Izzy havia começado.
O que leva a mais uma diferen-
ça na comparação entre livro e
série – no texto original, Izzy é
considerada a culpada enquan-
to na série Elena se dá conta que
foi a causadora de todos as do-
res e sofrimento dos filhos e se
responsabiliza pelo incêndio.
No livro, antes de sair da casa
alugada em Shaker Heights, Mia
deixa um envelope com um con-
junto de fotos para cada mem-
bro da família Richardson, re-
presentando a forma como ela
os enxerga, e também uma men-
sagem cifrada, que só a pessoa a
quem foi direcionada consegue
entender. E, na série, Mia cria
uma grande maquete da cidade
com uma mensagem direciona-
da principalmente para Elena.

lKatia Cubel e Paula Azar
Mariosa fazem live sobre o
tema Redes Sociais – Os Desa-
fios na Nova Era da Comunica-
ção. No dia 18, no Instagram
@agenciauruk.

lO Lapinha Spa comemora
o Global Wellness Day, hoje,
com série de lives sobre
bem estar. Começa com au-
la da personal trainer Cau
Saad, segue com atividades
de yoga com Dani Reis e ba-
te papo sobre A Importância
da Presença, com o psiquia-
tra Dr. Eduardo Sincero.

lGrupo de médicos e benefi-
ciários da Prevent Senior fa-
zem lives de leitura de poe-
sias e canções para amenizar
o isolamento. Hoje.

POLAROID


RESPONSABILIDADE
SOCIAL

Erika Palomino,
diretora do CCSP,
o Centro Cultural
São Paulo, conta
que, apesar de
fechado para o
público, o espaço
segue virtualmen-
te – tanto arreca-
dando doações
como produzindo
conteúdo cultu-
ral. “Já realiza-
mos o festival
Marsha (da comu-
nidade trans), de-
bates e atividades
com bailarinos e
professores ”, diz
Erika, que realiza
lives com curado-
res do espaço to-
das às quartas-fei-
ras por meio do
Instagram
@ccsp_oficial.

Na quarentena, o apartamento do
casal Bruno Mazzeo e Joana Jabace,
no Rio, acabou virando cenário do
Diário de um Confinado – série que
estreia dia 26 no Globoplay. “O
personagem Murilo tem pitadas de
uma ‘loucurinha’, mostrando o que a
gente está vivendo nesses tempos de
isolamento, marcado por
sentimentos alterados. E é aí que
entra a carga do humor”, contou
Mazzeo à coluna. Em julho, o
programa vai ao ar na TV Globo e no
Multishow, além de pílulas no GNT.

Blog: estadão.com.br/diretodafonte Facebook: facebook.com/SoniaRacyEstadao Instagram: @colunadiretodafonte

Sem parar


Doria se reuniu, na terça-feira,
com 15 patrocinadores da refor-
ma e novas exposições do Museu
do Ipiranga. Desde o início da pan-
demia, as obras do museu, inicia-
das em 2019, foram mantidas.

Foco? Que a entrega da obra –
marcada para setembro de
2022 – não atrase. O museu está
fechado desde 2013.

Sem parar 2


Para o reitor da USP, Vahan
Agopyan – condutor da reunião –
o principal desafio agora é man-
ter o fluxo de caixa para cumprir
compromissos da obra.

Segundo ele, recursos já estão
aprovados na Lei Rouanet e asse-
gurados pelos patrocinadores.

Fala...


A partir de julho, a HarperCol-
lins disponibilizará no mercado
a versão em audiolivro de al-
guns de seus maiores sucessos
de venda, começando pelo livro
Do mil ao milhão, de Thiago Ni-
gro – obra nacional mais vendi-
da de 2019 no Brasil.

Narrada pelo próprio autor, terá
texto adaptado para o formato.

...que escuto


Segundo a editora, a seleção de
livros foi pensada para atender
a questões importantes para o
leitor neste momento de refle-
xão e reinvenção.

Nos próximos meses, sai tam-
bém o audiobook de Darwin Sem
Frescura – justo no momento de
anticientificismo no País.

Decolando


E Giulia Be conquista o certifi-
cado de Platina pela QWarner.
Com o EP Solta. A música teve
106 milhões de visualizações
em menos de um mês.

Roller coster


Com a pandemia, o índice
de consumo das famílias
brasileiras está se igualan-
do aos patamares de 2010 e
2012 – descartada a infla-
ção. A conclusão é de uma
pesquisa fresquinha feita
pela IPC Maps.

Que inclui projeção do PIB pa-
ra este ano de 5,89% negati-
vos, em comparação à 2019.
Algo como R$ 4,4 trilhões.

Roller 2


Marcos Pazzini, sócio da IPC
Marketing Editora e responsá-
vel pela pesquisa, lembra que
no início de março, antes do
isolamento social, a previsão
de crescimento do PIB para
2020, conforme o BC, era de
2,7%. “Isso resultaria em con-
sumo da ordem de R$ 4,9 tri-
lhões, superando R$ 4,7 tri-
lhões no ano passado”.

Roller 3


Algo parecido entre 2020 e
2019? O repeteco da queda
do consumo nas capitais do
Brasil. O interior avança com
um número 54,8% maior.

Entretanto, não ultrapassa o
total do bolo registrado pe-
las capitais: 28,3%. O desem-
penho das cidades do inte-
rior alcança 16,9% da totalida-
de do consumo.

Pedir não custa


Empresários de restaurantes
e bares mais os sindicatos pedi-
ram, esta semana, à Prefeitu-
ra, mudança na interpretação
de ‘área ao ar livre’ registrada
no plano de retomada da Capi-
tal. Querem que contemple to-
dos os espaços arejados – cal-
çadas, terraços, jardins e lo-
cais próximos a janelas.

Pleito foi levado a Orlando
Faria, na Casa Civil.

UMA VISÃO MAIS


SILVANA GARZARO/ESTADÃO

O CONTRASTE
NÃO SE DÁ
APENAS POR
QUESTÕES SOCIAIS

AMAZON PRIME VIDEO

Caderno 2


Como série, ‘Pequenos Incêndios por Toda Parte’ trata de


assuntos, como temática racial, que não constam no livro


ATUAL

Série. Kerry Washington (E) e Reese Witherspoon (D) são protagonistas e produtoras

TV GLOBO
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