O Estado de São Paulo (2020-06-14)

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A10 Política DOMINGO, 14 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


J. R.


GUZZO


ENTREVISTA


E


leição direta, por mais que
seja chato dizer isso, é um
método muito ruim para se
eleger o presidente da República.
Não é uma questão de ponto de vis-
ta. É o que resulta quando se exami-
na a lista de presidentes que o elei-
tor brasileiro vem elegendo desde
1960 – atualmente por maioria abso-
luta, e através do voto livre, univer-
sal, direto e obrigatório de todos os
cidadãos que têm mais de 16 anos
de idade.
Nesses 60 anos foram eleitos seis
presidentes: Jânio Quadros, Fer-

nando Collor, Fernando Henrique, Lu-
la, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro.
Que tal?
Não adianta olhar para o lado, por-
que você não vai encontrar outros; são
esses mesmos, e só esses. É o que te-
mos, em matéria de voto popular para
presidente. Parece que 60 anos – sim,
60 anos – seria tempo suficiente para o
eleitor aprender alguma coisa, como,
aliás, vivem dizendo os altos mestres
da nossa ciência política. (Democracia
só se aprende com muita prática e com
muito tempo, repetem eles sempre
que alguém lhes pergunta.) Mas não

está funcionando assim.
Se depois desse tempo todo a popula-
ção – na última vez que foi consultada a
respeito, menos de dois anos atrás –
elegeu Jair Bolsonaro para a presidên-
cia da República, depois de ter usado o
seu voto para escolher personagens co-
mo Jânio, Collor ou Dilma, a pergunta
é: será que compensa?
O grande problema de eleição é que
quem tem mais voto ganha – e não há a
mais remota garantia, ou talvez nem
mesmo a probabilidade, de que os que
têm mais votos sejam os melhores. O
Brasil tem no momento cerca de 150
milhões de eleitores. Já não é simples,
em qualquer circunstância, que uma
tal quantidade de gente esteja objetiva-
mente qualificada para escolher quem
deve ocupar o cargo mais importante
do País; é por isso, aliás, que a maioria
das democracias bem sucedidas do
mundo se organiza de outras maneiras
para eleger os seus governantes.
Mas tudo fica muito mais complica-

do quando se considera que pelo me-
nos a metade do eleitorado brasileiro
não consegue entender um texto em
português, nem as operações básicas
da matemática ou os princípios ele-
mentares das ciências – noções míni-
mas para o exercício da cidadania.
Mais: os analfabetos podem votar.
Não podem exercer a função de lixeiro
municipal. Mas podem escolher o pre-
sidente da República. Como esperar
que as eleições tenham resultados dife-
rentes dos que têm tido?
Para garantir o desastre, o voto no
Brasil é obrigatório – uma aberração
que transforma um direito em dever, e
entrega a decisão eleitoral para milhões
de pessoas que não estão interessadas
“em política” e não sairiam de casa para
votar se não fossem obrigadas a isso. O
voto opcional levaria às urnas apenas
os cidadãos efetivamente conscientes
do que estão fazendo, seja qual for o seu
nível cultural ou econômico; tornaria
as eleições mais legítimas.

A possibilidade de que isso ve-
nha a ocorrer no Brasil é igual a três
vezes zero. Tudo bem: se democra-
cia é isso, na opinião de nove entre
dez doutores que mandam em algu-
ma coisa neste País, deixa assim.
Só não dá para ficar reclamando, a
cada eleição, que o presidente elei-
to é um horror e que “o país não
aguenta”. Dos cinco presidentes
que vieram antes de Bolsonaro, um
renunciou e outros dois foram de-
postos – ou seja, 60% dos eleitos
não vingaram.
Tem cabimento um negócio des-
ses numa democracia que venera as
“eleições diretas”? Tenta-se, agora,
mais um impeachment, sob a acusa-
ção de prática do “fascismo”. Mas se
há fascismo há 58 milhões de fascis-
tas que fizeram a maioria absoluta
do eleitorado e puseram esse presi-
dente lá. E aí? Não dá para trocar de
povo. Nesse caso, a saída seria tro-
car de sistema.

E-MAIL: [email protected]
J.R. GUZZO É JORNALISTA E ESCREVE
AOS DOMINGOS

Adriana Ferraz
Alessandra Monerat


Após quase três meses de pande-
mia de covid-19 é hora de definir
os impactos da doença no calen-
dário das eleições municipais des-
te ano, segundo o atual presiden-
te do Tribunal Superior Eleitoral,
ministro Luís Roberto Barroso.
Patrono do Forum Brazil UK ,
evento que começa amanhã orga-
nizado pela comunidade de estu-
dantes brasileiros no Reino Uni-
do cujo tema este ano é “E agora,
Brasil? Alternativas para os múlti-
plos desafios”, Barroso vai deba-
ter no dia 10 de julho sobre a im-
portância do combate às fake
news e os desafios de se realizar
eleições nos 5.570 municípios bra-
sileiros em pleno surto do novo
coronavírus. Nesta entrevista ao
Estadão , o ministro antecipa os
planos do TSE, que preveem o
adiamento do pleito e novas re-
gras de votação. Veja os princi-
pais trechos:


lMinistro, já é a hora de se deci-
dir se a votação das eleições muni-
cipais deve ocorrer em outubro?
Acho que está chegando a hora
de se ter uma decisão. Eu me
reuni por videoconferência
com médicos de diferentes es-
pecialidades altamente respei-
tados nas suas áreas. A percep-
ção é que possivelmente em se-
tembro a curva da covid-19 já
estaria decrescendo. Como a


gente precisa programar isso
com alguma antecedência, su-
gerimos adiar por algumas se-
manas. Mas a decisão é do Con-
gresso. A sugestão do TSE é
uma janela que vai de 15 de no-
vembro até 20 de dezembro.
Seria o limite para o segundo
turno, para que possamos dar
posse até o dia 1.º de janeiro.

lHaverá novas regras de vota-
ção em função da pandemia?
A ideia de estender o horário é
muito provável que seja en-
campada, fazermos possivel-
mente de 8h às 20h. Com isso,
ganharíamos três horas de vo-
tação. Recomendarmos, dar-
mos preferência a faixas etá-
rias por horário para evitar
aglomeração, também é uma
ideia que está colocada. Possi-
velmente as pessoas mais ido-
sas votariam na primeira hora
da manhã. Já as eleições em
dois dias têm dois problemas.
O primeiro é que encarece mui-
to, cerca de R$ 180 milhões ex-
tras. O segundo é a segurança
das urnas durante a noite.

lE os cuidados com a saúde?
Estamos ouvindo especialistas
para preparar uma cartilha
com o passo a passo das elei-
ções. Coisas básicas como não
levar a mão à boca, aos olhos.
O eleitor vai ter que votar e,
em seguida à votação, ter um
servidor de luva que dará um

jato de álcool gel para limpar a
mão. O álcool gel tem que ser
depois do voto, porque senão
estraga a urna e a biometria.

lComo o TSE planeja combater
fake news nessas eleições?
O protagonista no combate às
fake news não pode ser da Jus-
tiça Eleitoral. Queremos con-
trolar as fake news menos pelo
conteúdo e mais pelos meca-
nismos de difusão. Vamos con-
versar individualmente com ca-
da plataforma. Eu já fiz uma
conversa preliminar com o
WhatsApp – que do ponto de
vista eleitoral talvez seja o de
maior repercussão –, pensan-
do em como monitorar e neu-
tralizar robôs e comportamen-
tos inusuais de retransmissão
e reenvio de mensagens. O se-
gundo protagonista vai ser a
imprensa profissional, que é a
que se move por princípios éti-
cos e sabe separar fato de opi-
nião. Em terceiro lugar, o TSE
vai fazer uma campanha de es-
clarecimento à população.

lO sr. ou o TSE têm uma defini-
ção de fake news?
Bom, a resposta é sim e não.
Em teoria, sim. Quer dizer,
campanha de desinformação é
a divulgação deliberada de in-
formação sabidamente falsa.
Esta é a definição. Fake news é
um apelido. Eu posso definir
pra você o que é uma campa-
nha de ódio: é você fazer ata-
ques preconceituosos, discri-
minatórios ou racistas a gru-
pos vulneráveis da sociedade.
Definir em teoria é fácil. Nos
casos concretos, é menos fácil.

lO sr. sofre campanha de ódio?

Eu pessoalmente não sofro.
Não que não possa ser vítima
de ódio, mas não é o que eu te-
nho no meu radar pessoal.
Acho que a crítica ao Tribunal
é legítima. Quem quer que se
disponha a se aventurar no es-
paço público tem que se prepa-
rar para conviver com a crítica.
Mas o poder que o Supremo
exerce não é um poder em no-
me próprio. Ninguém, em uma
democracia, exerce poder em
nome próprio; todo mundo
exerce poder em nome do inte-
resse da sociedade. O que me
parece que se tornou perigoso
e precisa ser enfrentado são as
campanhas maciças, baseadas
em falsidade e financiadas por
grupos radicais para destrui-
ção das instituições.

lÉ o que vivemos hoje?
Eu acho que há guetos pré-ilu-
ministas que fazem esse tipo
de campanha de ódio contra o
Supremo, massificadas de falsi-
dade, destruição, ataque, amea-
ças. Não acho que elas que te-
nham chegado ao ‘mains-
tream’ (corrente de pensamento
mais comum). E isso é crime.
Ameaçar um juiz e a família de-
le é coisa de bandido, não é coi-
sa de militante.

lA Justiça tem sido muito acio-
nada nessa pandemia. Por quê?
O ideal seria a pandemia ser
combatida sob uma liderança
nacional em aliança com Esta-
dos e municípios, respeitadas
as peculiaridades locais com
um mínimo de interferência ju-
dicial. Na medida em que essa
liderança e coordenação nacio-
nais não ocorreram, você pas-
sou a ter muitas visões particu-
lares desse problema. Num
País em que tudo se judiciali-
za, você começa a ter a interfe-
rência do Judiciário.

lEm tese, o senhor é a favor do
compartilhamento de informa-
ções entre tribunais superiores?
É pacífico na jurisprudência
do Supremo que é possível
compartilhar informações en-
tre processos diferentes. Em
tese, a resposta é sim.

lO sr. diz haver um “terraplanis-
mo constitucional” em relação
ao artigo 142. O que significa?
A Constituição é suficiente-
mente clara no sentido de que
as Forças Armadas não desem-
penham nenhum papel mode-
rador, muito menos um papel
hegemônico na democracia. O
que eu disse na minha decisão

é que as Forças Armadas nes-
ses 32 anos de democracia tive-
ram um comportamento exem-
plar de profissionalismo, pa-
triotismo e institucionalidade
e que ninguém deseja, nem
elas próprias, que elas sejam ar-
remessadas no varejo da políti-
ca. Quem pede intervenção mi-
litar é o mesmo gueto pré-ilu-
minista que defende o fecha-
mento do Congresso e o fecha-
mento do Supremo. Eu consi-
dero ofensivo às Forças Arma-
das quererem associá-las à que-
bra da institucionalidade, à in-
terferência política ou golpe.

lMas o general Ramos disse à
Veja que não se pode ‘esticar a
corda’ e ainda disse que o julga-
mento da chapa Bolsonaro-Mou-
rão pelo TSE é ‘casuístico’...
Eu não li a entrevista e não sou
comentarista da opinião de
ninguém. O que eu posso dizer
é que os limites da democracia
estão traçados na Constitui-
ção. Quanto ao julgamento, o
TSE não é um ator político,
mas institucional. Nem os ad-
versários nem os apoiadores
do presidente devem esperar
qualquer coisa que não seja
um julgamento puramente téc-
nico, com base nas provas.

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Trocar o sistema


TSE propõe janela que


vai de 15 de novembro a


20 de dezembro e três


horas extras de votação


para evitar aglomerações


NA WEB
Vídeo. Assista
a trechos da
entrevista

estadao.com.br/e/barrosotse
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REPRODUÇÃO

Provas. Barroso: jurisprudência do STF admite compartilhar informações entre processos

‘Sugerimos adiar


as eleições por


algumas semanas’


Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral

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