O Estado de São Paulo (2020-06-14)

(Antfer) #1

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A16 Metrópole DOMINGO, 14 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Ludimila Honorato


Segundo país do mundo com
mais contaminados e mortos
pelo novo coronavírus, o Bra-
sil registrou ontem, 890 no-
vos óbitos e mais 20.894 ca-
sos confirmados de infecção,
segundo levantamento con-
junto feito pelos veículos de
comunicação
Estadão , G1, O
Globo
, Extra , Folha e UOL.
No total, 42.791 brasileiros já
perderam a vida por causa da
covid-19 e 850.796 pessoas fo-
ram infectadas, conforme da-
dos atualizados às 20h. Na sex-
ta-feira, o País ultrapassou o
Reino Unido em número abso-
luto de mortes e chegou à segun-
da posição no ranking global.
Os Estados Unidos continuam
na liderança, com 115.251 óbi-
tos, segundo contabilização da
Universidade Johns Hopkins.
Três Estados brasileiros con-
centram mais da metade do to-
tal de mortes: São Paulo (com
10.581 óbitos), Rio de Janeiro
(7.592) e Ceará (4.853). Apesar
disso, as capitais de todos eles
já adotaram planos de flexibili-
zação das medidas de distancia-
mento social. O Estado com me-
nos casos e óbitos é Mato Gros-
so do Sul, com 28 mortes e 3.
pessoas infectadas.
De acordo com os dados do
Ministério da Saúde, também
divulgados ontem, às 18h40, o
Brasil tem 850.514 pessoas infec-
tadas pelo novo coronavírus e
42.720 mortos. Nas últimas 24
horas, foram contabilizados
21.704 novos casos e 892 óbitos.
Para o infectologista Jean Go-
rinchteyn, do Hospital Emilio
Ribas, o cenário vivido hoje pe-
lo Brasil é resultado de uma po-


lítica descoordenada do gover-
no federal, que levou a atos ir-
responsáveis por parte de ges-
tores locais. “O governo fede-
ral não unificou as estratégias
de assistência e integração
com governos estaduais e mu-
nicipais”, diz ele. “A partir do
momento que não houve enga-
jamento, houve problema es-
trutural de saúde pública, de
unificar as posturas.”
Técnicos do Ministério da
Saúde e os próprios ex-minis-
tros diziam repetidas vezes que
a evolução da pandemia não
ocorreria da mesma forma em
todo o Brasil. Por isso, cada re-
gião, Estado e município teriam
políticas de distanciamento so-
cial diferenciadas, com base na
análise do cenário local. Mas o

que se vê são cidades com mui-
tos registros de infecção e mor-
tes adotando flexibilizações no
isolamento social.

Abertura precoce. O epidemio-
logista Pedro Hallal, que coorde-
na estudo no Rio Grande do Sul
sobre o número de infectados, o
primeiro em âmbito nacional,
avalia que algumas propostas
de reabertura são bem pensa-
das, mas ele questiona a imple-
mentação precoce delas.
“Mesmo a proposta de São
Paulo, que acho bem delicada
pelo momento, parece que leva
em consideração a regionaliza-
ção, a dinâmica, é gradativa”,
diz. “A grande crítica geral, que
tenho a todas, é que parecem
que estão apressadas demais. A

hora (de flexibilizar) é quando a
curva está definitivamente des-
cendente.”
Segundo Gorinchteyn, era es-
perado que o Brasil seguisse
por um caminho diferente de
outros países que se viram com
altos números de casos e mor-
tes. A perspectiva se dava pelo
fato de, em 3 de fevereiro, o Mi-
nistério da Saúde ter declarado
a infecção pelo coronavírus
uma emergência de saúde públi-
ca de importância nacional.
Apesar de ter começado bem, o
País saiu dos trilhos no cami-
nho, avalia o infectologista.
“O ponto foi quando perde-
mos a liderança do Ministério
da Saúde, um líder que tinha
uma ascensão sobre a popula-
ção. Todo mundo já queria sair

de casa naquela época, em abril,
e infelizmente perdemos a lide-
rança, deixamos a população in-
citada a sair das suas casas e isso
tornou a situação muito compli-
cada”, diz Gorinchteyn, referin-
do-se ao ex-ministro da Saúde
Luiz Henrique Mandetta.
O que preocupa a comunida-
de médica é que o Brasil ainda
não chegou ao pico do corona e
registra, a cada dia, mais casos e
mortes. “Estamos colhendo o re-
sultado do que vem acontecen-
do: números são crescentes, ci-
dades que já têm uma proximida-
de de comprometimento das
UTIs estão flexibilizando sem
qualquer preocupação. É um ato
de irresponsabilidade. Estamos
expondo mais as pessoas ao ris-
co”, diz Gorinchteyn.

Mais de cem diferentes linha-
gens do novo coronavírus che-
garam ao Brasil entre os meses
de fevereiro e março, mas ape-
nas três delas – muito provavel-
mente vindas da Europa – conti-
nuaram a se expandir no País e
originaram os mais de 800 mil
casos da covid-19.
As três linhagens emergiram
em São Paulo e do Rio de Janei-
ro entre 22 e 27 de fevereiro e
sua transmissão comunitária já
estava estabelecida no início de
março, bem antes de os órgãos
de saúde recomendarem a res-
trição de viagens aéreas e a ado-
ção de “intervenções não farma-
cológicas” para conter a disse-
minação do vírus.
O Ministério da Saúde regula-
mentou em 13 de março os crité-
rios de isolamento social e qua-
rentena, que foram implemen-
tados por governadores e prefei-
tos cerca de uma semana de-
pois. As fronteiras terrestres só
foram fechadas em 19 de março


e a entrada de estrangeiros por
voos internacionais só foi res-
tringida no dia 27.
“Nossos resultados eviden-
ciam a existência de duas fases
da epidemia no País. A primeira
é de transmissão a curta distân-
cia, dentro das fronteiras esta-
duais de São Paulo e Rio. No iní-
cio de março teve início a fase
dois, de longa distância. Ou se-
ja, as pessoas contaminadas nes-
ses dois estados já estavam le-
vando o vírus para as demais re-
giões”, disse a pesquisadora Es-
ter Sabino, do Instituto de Medi-
cina Tropical da Universidade
de São Paulo, uma das coorde-
nadoras da pesquisa.
Para chegar a essas conclu-
sões, os cientistas usaram um
modelo de transmissão orienta-
da pela mobilidade da popula-
ção. Informações sobre viagens
aéreas e as mortes confirmadas
por covid-19 entre fevereiro e

abril foram cruzadas com da-
dos genômicos do vírus obtidos
pelo sequenciamento de quase
500 isolados virais de pacientes
diagnosticados em 21 dos 26 es-
tados brasileiros, além do Dis-
trito Federal.
Apesar da queda acentuada
nas viagens aéreas nacionais
após meados de março, os pes-
quisadores detectaram um au-
mento de 25% na distância mé-
dia percorrida por passageiros
aéreos no período. Tal fato, se-
gundo os autores, coincidiu
com a disseminação do corona-
vírus dos grandes centros urba-
nos para o restante do país.
“Nossos resultados lançam
luz sobre o papel de grandes
centros populacionais altamen-
te conectados na ignição rápida
e no estabelecimento do vírus e
fornecem evidências de que as
atuais intervenções permane-
cem insuficientes para manter
a transmissão sob controle no
Brasil”, afirmam no texto.
Para Ester, esse tipo de estudo
ajuda a entender como uma epi-
demia evolui. “Esse conheci-
mento talvez sirva de lição para
que em uma situação futura as
medidas sejam tomadas mais
precocemente e de forma mais
efetiva.” / AGÊNCIA FAPESP

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


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No Recife,


manicure depõe


no caso Miguel


Medidas de contenção foram


adotadas após disseminação


SP, Rio e CE têm mais da metade dos óbitos; levantamento de consórcio de veículos da imprensa também apontou 20.894 novos casos


lUma pesquisa do Hemorio
mostra que 28% dos fluminenses
que doaram sangue nas últimas
duas semanas apresentaram an-
ticorpos contra o coronavírus –
no início de abril eram 4%. O estu-
do, feito em parceria com Secre-
taria Estadual de Saúde, Uerj,
UFRJ e Fiocruz, já coletou infor-
mações de 7,3 mil pessoas e con-
tinua sendo feito. O objetivo é ma-
pear o índice de infectados e de
pessoas com anticorpos para o
novo coronavírus no Rio de Janei-
ro. / CAIO SARTORI

75%
Do total de genomas
sequenciados no Brasil
pertencem a três linhagens
de origem europeia.

Pedro Jordão
ESPECIAL PARA O ESTADO / RECIFE


A manicure Eliane Lopes pres-
tou depoimento durante cerca
de duas horas, anteontem, no
caso da morte do garoto Miguel
Otávio Santana da Silva, de 5
anos, que morreu ao cair do no-
no andar de um prédio do cen-
tro do Recife.
Ela não quis se pronunciar,
mas, segundo o advogado Iri-
neu Ferreira, que representa


Eliane, a manicure não “esteve
presente em todos os momen-
tos do ocorrido e se manteve o
tempo todo dentro do aparta-
mento”.
Eliane atendia Sarí Corte
Real enquanto a mãe do meni-
no e empregada doméstica Mir-
tes Renata Santana de Souza
passeava com a cachorra dos pa-
trões. “O tempo todo Sarí esta-
va preocupada com o menino”,
afirmou o advogado. A manicu-
re é funcionária de um salão de
beleza e só começou a ir à casa
da cliente por causa da pande-
mia da covid-19.
Também foi ouvido Tomaz
Silva, gerente de operações do
condomínio do Edifício Pier
Maurício de Nassau. Ele foi o

terceiro a encontrar Miguel caí-
do, depois do zelador do prédio
e da mãe do garoto. “Quem fez
os primeiros socorros na crian-
ça fui eu. Foi uma cena muito
triste, muito chocante. Infeliz-
mente, senti o garoto indo em-
bora, porque ele apertou a mi-
nha mão, eu dizendo a ele: aper-
ta a mão do tio, a gente ainda vai
jogar bola, reage! Mas, com
mais ou menos um ou dois mi-
nutos, ele começou a enfraque-
cer e infelizmente aconteceu o
que nós não queríamos”, disse.
Sarí Corte ainda não prestou
depoimento sobre o caso. Ela
foi indiciada por homicídio cul-
poso (sem intenção), mas res-
ponde em liberdade depois de
ter pago fiança de R$20 mil.

Pesquisa aponta que


mais de cem linhagens


do coronavírus chegaram


ao Brasil já em fevereiro;


três ainda se espalham


RANKING

FONTES: ESTADÃO, G1, O GLOBO, EXTRA, FOLHA E UOL, OMS E WORLDOMETERS INFOGRÁFICO/ESTADÃO

117.

ESTADOS
UNIDOS

4.645 CHINA

34.301ITÁLIA

42.791BRASIL

29.398 FRANÇA

●Em números absolutos, País ocupa 2º lugar, atrás apenas dos EUA

0

20.

40.

60.

80.

100.

120.

11
JAN

13
JUN

41.662 REINO UNIDO

Total de mortes

1

CLÉBER MENDES/AGÊNCIA O DIA

Brasil soma mais 890 mortos em 24h


Deu praia. Movimento foi intenso na Barra da Tijuca, no Rio, na manhã de ontem

28% dos doadores


têm anticorpos

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