O Estado de São Paulo (2020-06-14)

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B2 Economia DOMINGO, 14 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Alto Escalão


O recorde negativo
dos indicadores do
mercado de trabalho
apurados pela Funda-
ção Getúlio Vargas
(FGV) ocorreu em
abril, mas a recupera-
ção registrada em maio foi tão peque-
na que não alterou o quadro de grave


dificuldade das contratações de mão
de obra. É o que permitem constatar
duas pesquisas de emprego divulga-
das nos últimos dias pela FGV: o Indi-
cador Antecedente de Emprego
(IAEmp) e o Indicador Coincidente
de Desemprego (ICD). Além disso, os
Indicadores de Emprego Previsto
também são ruins. O conjunto de in-
formações indica o grau de constran-
gimento a que a economia brasileira,
que depende do consumo das famí-
lias para crescer, terá de passar até
que se firme a tendência de recupera-
ção das atividades após o equaciona-

mento da crise do novo coronavírus.
Como notou o economista Rodolp-
ho Tobler, da FGV/Ibre, o resultado
de maio “pode ser interpretado como
uma acomodação do índice em pata-
mar muito baixo, considerando que
esse é o segundo menor valor da
série”. Predomina a incerteza, o que
“ainda não permite imaginar cenários
de recuperação do mercado de traba-
lho no curto prazo, o que deve fazer
que o indicador continue registrando
números baixos nos próximos me-
ses”, acrescentou.
O IAEmp subiu 3 pontos em maio

e atingiu 42,7 pontos, muito abaixo
do nível médio de 100 pontos que
separam os campos positivo e negati-
vo. Já o ICD, que quanto mais alto
pior é, atingiu 99,6 pontos em maio.
E não há previsões de melhora, enfa-
tizou Tobler.
Já as previsões de emprego apura-
das em pesquisas com quatro gran-
des setores de atividade – indústria,
serviços, comércio e construção – re-
velam a tendência generalizada de
não contratar pessoal. Situações mui-
to graves aparecem em segmentos
como têxteis e vestuário, turismo e

viagens aéreas, obras viárias e cons-
truções não residenciais, serviços de
transporte viário e de alojamento e
comércio de veículos e materiais de
construção. Menos crítica, mas tam-
bém negativa, é a situação dos seg-
mentos farmacêutico e de alimentos,
hiper e supermercados, armazena-
gem e correios e preparação de terre-
nos e edificações residenciais.
As dificuldades de emprego afe-
tam muito a disposição de consumo
das famílias, que se concentra em
itens essenciais como alimentação e
remédios.

Editorial Econômico


Persistência do


nível baixíssimo


do emprego


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TWITTER: @COLUNADOBROAD

O


s empresários de hotelaria e turismo – dois dos segmentos mais
afetados pela crise do coronavírus – estão cobrando o Senado para
prorrogar por mais 180 dias a Medida Provisória (MP) 936, que
permite a suspensão ou a redução dos contratos de trabalhadores. O plei-
to foi endereçado aos parlamentares por meio de uma carta conjunta que
reuniu a assinatura de líderes de 19 associações. O setor argumenta que
pode haver uma onda de demissões em massa e quebradeira de empresas
a partir do próximo mês, já que a validade da MP 936 expira no dia 1º de
julho. Depois disso, os contratos de trabalho voltam ao normal, o que cau-
sará um impacto relevante para os hotéis, pois cerca de 60% das suas des-
pesas são com folha de pagamento. Ao todo, 2,9 milhões de pessoas traba-
lham no ramo de hotelaria e turismo no Brasil.


A


pandemia amplificou um deba-
te que já ganhava corpo: o da ne-
cessidade de que o Estado passe
a garantir uma renda mínima para a
população mais pobre.
Essa deixou de ser apenas uma pro-
posta de política social. Com o desem-
prego crônico agora agravado pelo
crescimento da automação e das tecno-
logias digitais, o próprio sistema capita-
lista parece interessado em que se pro-
picie um mercado mínimo de consu-
mo que seja capaz de dar sustentação
às empresas. Agora, é o ministro da
Economia, Paulo Guedes, grão-sacer-
dote do liberalismo econômico, que
acaba de anunciar o programa Renda
Brasil, ainda em estudos pelo governo.
No momento, o impulsionador do de-
bate foi a implementação do Auxílio
Emergencial, lançado pelo governo fede-
ral em abril para amparar a população
que, de repente, ficou sem emprego,
sem ocupação e sem renda, em conse-
quência da suspensão de grande parte da
atividade econômica e do isolamento so-
cial adotados para contra-atacar o vírus.
“O Auxílio Emergencial não é um
programa de renda básica, mas abriu
uma fresta para um projeto mais ambi-
cioso. Muita gente percebeu que esta
não é uma ideia maluca. Podem-se defi-
nir projetos que caibam no orçamento
e que não afrontem os princípios de res-
ponsabilidade fiscal e social”, afirma a
economista do Peterson Institute e co-
lunista do Estado , Monica de Bolle.
Com base em estudos elaborados
por vários institutos, De Bolle defende
uma proposta, ainda em fase embrioná-
ria, que procura atender famílias com
crianças de zero a seis anos, com o paga-
mento de meio salário mínimo por
mês. O objetivo declarado é reduzir a
desigualdade e atacar a instabilidade
dos trabalhadores informais, que osci-
lam entre uma ocupação e outra, sem
garantia de renda. A ideia é similar ao
programa Bolsa Família, que paga um
benefício médio de R$ 180 por criança
até os 18 anos, desde que sejam preen-
chidas certas condições de escolarida-
de. Mas a professora De Bolle avisa que
o Bolsa Família não pode ser substituí-
do ou incorporado ao programa de ren-
da mínima, como parece pretender o
ministro da Economia. “A gente preci-
sa complementar essa rede de prote-
ção para alcançar as pessoas que não
cumprem os requisitos do Bolsa Famí-
lia”, defende. Ela garante que se pode
evitar a duplicidade de pagamentos, na
medida em que as famílias mais pobres
teriam de escolher entre receber meio
salário mínimo por um período mais
curto ou receber menos, mas com a ga-
rantia de que a criança estaria assistida
até a idade adulta.
Essa proposta exigiria dispêndio equi-

valente a 1,5% do PIB brasileiro e impli-
caria a aprovação de uma minirreforma
tributária que incluísse o fim das dedu-
ções do Imposto de Renda (sem impac-
to para as famílias com renda mínima) e
a tributação de dividendos. Para De Bol-
le, o programa é sustentável, já que é
favorecido pelas mudanças da demogra-
fia brasileira, que vem aumentando a po-
pulação idosa e reduzindo a natalidade.
O economista Daniel Duque, do Ins-
tituto Brasileiro de Economia da Fun-
dação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), de-
fende um plano mais abrangente que
extingue o Bolsa Família e outros pro-
gramas sociais e cria uma renda míni-
ma de pelo menos R$ 142 para crianças,
jovens, trabalhadores informais e ido-
sos não beneficiados pelo regime de
aposentadoria. O custo é bem mais al-
to: de nada menos que 3,9% do PIB (R$
265 bilhões, a preços de 2018). Ele
propõe que essas despesas sejam co-
bertas com receitas de um imposto so-
bre grandes fortunas, fim dos subsí-
dios à iniciativa privada e imposição de
um teto aos vencimentos do funciona-
lismo público, de modo a acabar com
acréscimos nos salários.
Para a vice-presidente da Rede Brasi-
leira da Renda Básica, Tatiana Roque, a
instituição de uma renda básica signifi-
caria “democratizar a segurança finan-
ceira”, algo que hoje beneficia apenas
pessoas que desfrutam do regime for-
mal de trabalho. Seria também a opor-
tunidade de que o Estado passe a inves-
tir na qualificação dos jovens, que não
precisariam abandonar os estudos para
ajudar a família. Em última instância, a
renda básica deve oferecer proteção
num momento em que a automação
destruirá muitos postos de trabalho.
Roque aponta a Islândia e a Finlândia
como países que já experimentaram um
sistema de renda básica, ainda que em
escala reduzida. A Espanha, na semana
passada, aprovou um projeto de renda
universal, enquanto outros países euro-
peus discutem iniciativas semelhantes.
O principal obstáculo continua sen-
do a insuficiência de recursos, num mo-
mento em que o Tesouro está quebra-
do e a dívida pública brasileira ameaça
saltar para níveis próximos dos 100%
do PIB. / COM GUILHERME GUERRA

»Passos lentos. O setor prevê
uma recuperação muito lenta, por-
que boa parte dos consumidores
não tem dinheiro nem confiança
para viajar. E aqueles que têm en-
frentarão dificuldades de encontrar
voos, já que a malha área foi dimi-
nuída pelas companhias. Com isso,
as atividades devem voltar ao nível
pré-covid só por volta de 2023.


»Semana decisiva. O Senado vota-
rá na terça-feira, 16, a prorrogação
da MP 936. O projeto já foi aprova-
do na Câmara. Se passar agora, ca-
berá à Presidência sancioná-lo e de-
finir quais setores poderão adotar a
prorrogação da MP 936.


»Sinal verde. A Petrobrás obteve
sentença favorável no processo en-
volvendo a venda de campos terres-
tres de petróleo e gás natural, e ins-
talações integradas, situados na Ba-
hia. A venda foi questionada em
ação popular, negada pela 1ª Vara


Federal de Sergipe. Cabe recurso
sobre a decisão. O juiz entendeu
que valia a deliberação do Supremo
Tribunal Federal, de 2019, segundo
a qual a venda do controle de subsi-
diárias de estatais não precisa de
autorização legislativa, desde que o
processo tenha transparência.

»Ativos. Entre os campos afetados
pela decisão estão o Polo Miranda,
que já está em fase vinculante, ou
seja, em conversas formais de ven-
da; e os campos Conceição, Fazen-
da Matinha, Fazenda Santa Rosa e
Quererá, todos com contratos assi-
nados e dependendo de aprovação
de órgãos reguladores. Os desinves-
timentos são parte da estratégia da
Petrobrás de focar suas operações
nos campos marítimos.

»Pedágio. Apesar da expectativa
de entregar em breve os estudos da
concessão da Nova Dutra ao Tribu-
nal de Contas da União, o governo
federal ainda não bateu o martelo
sobre qual será o desconto máximo
de pedágio que os interessados po-
derão oferecer na disputa pela rodo-
via. Segundo apurou a Coluna, o nú-
mero deve ser definido nos próxi-
mos dias. O leilão será feito no no-
vo formato elaborado pelo governo,
decidido pela menor tarifa, com li-

mite no desconto, e lances de outor-
ga para o desempate. O modelo
híbrido de leilão também será usado
nas concessões da BR-153/414/080,
entre Goiás e Tocantins, e na BR-
381/262, entre Minas Gerais e Espíri-
to Santo.

»Blindado. O formato foi arquiteta-
do pelo ministério como forma de
tentar evitar fracassos como a 3ª ro-
dada de leilões rodoviários, quando
a média de deságio no valor do pedá-
gio oferecido pelas vencedoras che-
gou à marca de 50%, mas as opera-
ções deixaram a desejar no cronogra-
ma de investimentos. Apesar de o
valor ainda não ter sido definido pa-
ra a Dutra, fontes que acompanham
o processo já sabem que a porcenta-
gem deve ser maior do que a da BR-
153, que já foi enviada para o TCU
com deságio máximo de 12%. O pon-
to é um dos últimos temas a serem
resolvidos para o projeto da Dutra.
A ideia é apresentar o projeto à Cor-
te ainda em junho.

»Urânio. A L2 Capital Partners vai
lançar na sexta-feira, 19, um fundo
multimercado com investimento di-
reto no exterior que terá entre seus
ativos o mercado de urânio. Segun-
do o gestor Marcelo López, apesar
de a cotação ter despencado desde o
acidente em Fukushima, o mineral
deverá fechar o ano com o melhor
desempenho entre as commodities.

»Sobe. As duas maiores minas de
urânio do mundo estão fechadas, e
as outras, com a produção suspensa
ou cancelada. O nível dos estoques
também está nas mínimas históri-
cas. O preço do urânio chegou a to-
car US$ 17/libra-peso após o aciden-
te, em 2011, e era cotado em torno
dos US$ 32/l em abril. Segundo a
Agência Internacional de Energia, o
preço justo seria de US$ 60/l.

»Discurso. Segundo Lópes, a narra-
tiva em relação ao urânio mudou
por conta dos investimentos de US$
1 bilhão feitos por Bill Gates e do
apoio do presidente dos EUA, Do-
nald Trump. Este ano entram em
operação 13 reatores nucleares no
mundo e mais 13 ano que vem. Há
450 em operação e outros 50 em
construção.

CIRCE BONATELLI, CYNTHIA DECLOEDT,
AMANDA PUPO E DENISE LUNA

CELSO


MING


WILTON JUNIOR/ESTADÃO - 27/4/

Rede anuncia uma presidente


Paula Cardoso, vinda do
Banco Carrefour, substitui
Marcos Magalhães na presi-
dência da empresa de maquini-
nhas. Ele assume nova direto-
ria executiva do Itaú Uniban-
co na área de varejo, com foco
em crédito e cobrança.


»Khan Academy. A platafor-
ma americana de educação


online anuncia Sidnei Shibata
(ex-Ericsson, TIM, Oi) como
country manager no Brasil.

»Citi Brasil. Ex-Itaú Uniban-
co, Eduardo Ventura retorna
como head do Private Bank.

»Mandaê. Para CTO foi
contratado Danilo Ferreira
(ex-Via Varejo e Webmotors).

»Lendico. A fintech trouxe
Marcelo Negrini para CTO,
cargo que ocupava no
alt.Bank.

»Sancor Seguros. Wady
Cury, ex-head de Insurance
Solutions na Agrotools, chega
para a diretoria técnica.

»Valmet. André Kakehasi
passa a diretor de automação
América do Sul.

»Cultura Inglesa. Ingressam
Flavia Zulzke (ex-Live Na-
tion) no Marketing e Comuni-
cação e Giovanni Peduto
(ex-Somos Educação).

»Claranet. Edesio Cervino
(ex-Oracle) entra como dire-
tor de vendas, marketing e
alianças.

»Thymos Energia. Victor
Ribeiro (ex-Brookfield Ener-

gia Renovável) reforça a equi-
pe como gerente de Assuntos
Regulatórios.

»Grupo Mongeral Aegon.
Foi criada a diretoria de
Estratégias Públicas, com
Arnaldo Lima.

»Tibco. Marcelo Tomelin
(ex-META e SAP) foi contrata-
do como diretor de vendas
no Brasil.

Plano de renda mínima


Filas. Em busca do Auxílio

| LUANA PAVANI | E-MAIL: [email protected]

coluna do


Lobby do turismo pede que


MP 936 vá até fim do ano


E-MAIL: [email protected]

SERGIO MORAES / REUTERS - 7/5/

CARLOS EZEQUIEL VANNONI/ESTADÃO - 7/4/

FELIPE MARIANO

MIKE BLAKE/ REUTERS - 23/4/
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