EM
ESTADODEMINAS●DOMINGO,14DEJUNHO DE 2020●EDITORA:Silvana Arantes●EDITORA-ASSISTENTE:Ângela Faria●E-MAIL:[email protected]●TELEFONE:(31) 3263-5 126
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ÃO
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Cincodécadasde crônicasmostram que oLuis FernandoVerissimoque estreou no fim
dos anos 1960 segue atualíssimo.Livroreúne 316 textos do escritor,alguns garimpados
MARIANAPEIX OTO
“Escreveréaartedecortarpalavras”,sentenciou
certavezCarlosDrummonddeAndrade.Levadacomo
ummantra porescritores,profissionaisoudiletantes,
amáximadrummondianaencontraemLuis Fernan-
doVe rissimosuamais completatradução.Aos 83 anos,
omaisimportante (e popular)cronistabrasileirovivo
seachahoje“prolixonopassado”.Nestaalturadavi-
da,Ve rissimocontinuaescrevendomuito.Masesse
muitoésempreconciso,certeiro.Sóosbonstêmta-
manhopoderdesíntese.
Verissimoantológico–Meioséculodecrônicas,ou
coisaparecida,queaeditoraObjetivalançaagora,é
umlivrão,mesmoquenestemomentosomente via
e-book–aediçãoluxuosaemcapadura estánospla-
nospós-pandemia.São 316 crônicasdosanos 1970 até
aatualidade,compiladasereunidas,décadaadécada,
defontesdiversas.
Alémdapresençaininterrupta naimprensa–sua
estreiafoiem 19 deabril de1969,comEntrandoem
campo,sobreoInternacional,nojornal gaúchoZero
Hora–, olivroapresenta tambémtextosraros,fruto
deextensapesquisadeMarceloDunlop.Eleextraiu
materialdecontosperdidosemantologias,edições
quesóforampublicadasnoRioGrandedoSul, textos
publicadosnas(extintas)revistasÍcaroePlayboy.
“Comoagente nãoquisdeixar escaparnada,viajei
porváriosdiasaPortoAlegreparaescarafunchar osar-
quivosdoLFV,inclusivenabibliotecadacasadele. Acha-
mosraridadesquenemelelembrava,eissofoiamaior
recompensadaodisseia–sóperdendotalvezparaapo-
lentaquecominacasadosVe rissimo”,comenta Dunlop.
Napesquisa,deparou-secomaconcisãocaracterís-
tica doescritor.“QuandoafamíliaVe rissimorecebeuo
apanhadodecrônicasparaavaliar,decaraopovologo
achouqueeraparacortarumas 200,paraficaraqueleli-
vroenxuto desempre.”Oescritoracompanhoutodoo
processodaedição,mas manteveumacertadistância.
Substituiueventualmente umtrechooupalavra,mas
nãoindicouqualquercrônica.Talfunção,conta Dun-
lop,coubemais aFernanda,primogênitadocronista.
Umdosprincipaiscritériosparaaseleçãofoireti-
rartudoquefossefactual,querepercutissealguma
notícia domomento,evitando,assim,notasderoda-
pé.“Comoafronteiraentrecrônicaecontoémuito
fluida,escorregamosmais paraoconto”,continua
Dunlop.Nestaseara,estãocontosbíblicosepoliciais.
Osdiálogos,sempreimpagáveis,fazemgargalhar,
décadasdepoisdesuapublicaçãooriginal. Deusnuma
mesadebotecoouumareceitadesuflêdechuchu. De
situaçõesabsolutamenteinverossímeisoucomezi-
nhas oautortemoseumelhor.
“Ocronista/contistaVe rissimopareceternascido
pronto.Tantonastemáticasquantonoestiloelese
manteveomesmo,éimpressionante.Algunsdeseus
melhorestextos,repetidosemquasetodasasantolo-
giasdehumor,sãodosanos1970.Já oseuaugeparece
sernosanos 1980 e1990,emqueeleconsolidouacon-
cisãonoestilo,otipodehumor”,analisaopesquisador.
NA ‘SELEÇÃO’Dunlopacrescenta queaimprensano
início dadécadade 1970 saudouVe rissimocomoo“no-
voStanislawPonte Preta”–umvício daqueleperíodo,
comenta opesquisador.“Adoroescalaressetipodese-
leção,eoBrasilsótevecraqueemtextoscurtos.Meus
onze:oescritoreex-goleiroSérgioPorto,LuizAntonio
Simas,NelsonRodrigueseFernandoSabino;Rubem
Braga, AldirBlanc,AntonioMaria (talvezoprediletodo
LFV)ePauloMendesCampos;noataque,Millôr,Veris-
simoeDrummond.Mascreioquemesmonessasele-
çãosóoVerissimopodiaatuaremtodasas posições”.
AmarcadeVe rissimoestátambémnasentrevistas
queconcede.Pore-mail,depreferência (paraeleeo
entrevistador,jáqueconversar,aindamais comestra-
nhos,nãoéasuapraia).Aassinaturaéclara.Respostas
curtas,certeiras,inspiradas.Quefazemsorrir,mesmo
emtemposnadafelizes.
Oque uma antologia de tamanhovultosu-
gere ao senhor?
Poisé. “A ntologia”lembra“obracompleta”,de
alguémquejá deuoquetinhaquedar.Tinha
umnarradordefutebolemPortoAlegreque,
semprequecomentavaoúltimogoldeuma
partida,diziaqueseuautorderacifrasdefi-
nitivasaomarcador.Com 83 anos,achoque
já deicifrasdefinitivasaomarcador.
Crônicaouromance?Tamanhoédocumento?
Crônicaémaisfácil, romanceémaistraba-
lhoso.Crônicaéumveleirocompoucosna-
vegadores,romanceéumnavio decruzeiro
com1,5milpassageiros.Mas,àsvezes,um
veleiroinventadecruzarumoceano,eaío
tamanhodaembarcaçãonãofazdiferença.
Qualseriaotítulodaantologiadesuavida?
Já passou?!
Entreascentenasdecrônicasqueosenhorjá
publicou, consegueelencarasua preferida?
Agente sempresesurpreendecomcrôni-
casantigas.Assurpresasvãode‘Euescrevi
essabobagem?’a‘Essabobagematéque
nãoestátãoruim...’Mas émelhornãoterfa-
voritas.Amoressecretosnuncadãocerto.
Oquemove osenhoraescrevernosdiasde
hoje?
Antesdemais nada,paragarantirouísque
dascrianças.
Aovisitarcrônicasdeoutrora,oquevemàca-
beça do senhor?Aliás,osenhor se lê muito?
Oquesempremeespanta,vendoumacrô-
nicaantigaminha, éotamanhodostextos.
Nãoseiseosespaçoserammaiores,seeu
eramais prolixoousefiqueimais pregui-
çoso.Provavelmente,as trêscoisas.Não,não
meleio muito.Paranãoserinfluenciado.
Quandoosenhorvaiescrever,pensanolei-
torenoalcancedotexto?
Eutentoagradaramimmesmo,namedi-
dadopossível. Massempreprocurandoser
claroou,nomínimo,entendido.
Apassagemdotempofacilitouaescritapa-
ra osenhor?
Aocontrário.Minhaexperiênciaéque
quanto mais se escreve,maisdifícil fica.
Crônicaéleiturarápida.Como“pegar”olei-
tordeprimeira?
Aprimeiraobrigaçãodocronistaépropor-
cionar umaleituraagradável aoleitor.Ase-
gundaobrigaçãoéagradarasimesmo,ea
terceiraéser fielàs suasconvicções.
NacrônicaAutopsicografia,q ueabreolivro,
osenhorfala que nãot em ambições políti-
cas,“fora aPresidênciada República”.Ho-
je, aos 83, quais ambições osenhortem?
Éestaremformaparaaposse,casoseja
eleito.Dojeitoqueandaanossapolítica,eu
chegar àPresidência nãoparecemuitoab-
surdo.OBolsonaronãochegou?
Dá pararir de algumacoisa diante do mo-
mentoemque vivemos?
Sórisohistérico.
ESCRITA
PA RA ALÉM
DO TEMPO
RAUL KREBS/DIVULGAÇÃO
Para oautor,poder de
concisãoacompanhouseu
amadurecimento,retratado
no e-bookVerissimo
antológico–Meioséculode
crônicas,oucoisaparecida
“Achoque
já deicifras
definitivas”
VERISSIMOANTOLÓGICO
●De LuisFernandoVerissimo
●EditoraObjetiva
● 728 páginas
●R$ 44,90(e-book)
OBJETIVA/REPRODUÇÃO
Achamos
raridadesque
nemele
lembrava,e
issofoia
maior
recompensa
daodisseia,só
perdendo
talvezparaa
polentaque
comina
casados
Verissimo”
■■Marcelo Dunlop,
pesquisadorejornalista
degusta
LUISFERNANDOVERISSIMO
ENTREVISTA