O Estado de São Paulo (2020-06-16)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-1:20200616:B1 TERÇA-FEIRA, 16 DE JUNHO DE 2020 INCLUI CLASSIFICADOS O ESTADO DE S. PAULO


E&N


ECONOMIA & NEGÓCIOS


Retomada do Brasil no pós-covid deve


ser mais lenta que em 90% dos países


Levantamento feito pelo Ibre/FGV aponta que o PIB brasileiro deve cair 1,6% no biênio 2020/2021, o que coloca o Brasil na 171.ª


posição entre 192 países; entre os sul-americanos, apenas Venezuela terá resultado pior, ficando no penúltimo lugar do ranking


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS Condução oscilante deve comprometer recuperação. Pág. B5}


Douglas Gavras

A recuperação do mundo
após a pandemia do novo co-
ronavírus será mais difícil
agora do que foi em recessões
anteriores – e especialmente
para os brasileiros. Nove em
cada dez países devem atra-
vessar esta crise melhor do
que o Brasil, de acordo com
um levantamento que cruza
previsões do Fundo Monetá-
rio Internacional (FMI) com
a edição mais recente do Bole-
tim Focus, do Banco Central.
A expectativa é que o Produ-
to Interno Bruto (PIB) brasilei-
ro desabe este ano e tenha uma
recuperação tímida no ano que
vem, com o impacto econômi-
co das medidas de isolamento
social implementadas para con-
ter a covid-19. No biênio
2020/2021, o PIB deve cair 1,6%.
O levantamento do pesquisa-
dor Marcel Balassiano, do Insti-
tuto Brasileiro de Economia, da
Fundação Getulio Vargas (I-
bre/FGV), aponta que o Brasil
ficará na 171.ª posição entre 192
países. Na lista dos sul-america-
nos, apenas a Venezuela terá
um resultado pior e deve ficar
em penúltimo lugar. Enquanto
isso, a China, onde a epidemia
começou, poderá crescer 5,1%.
“O Brasil vive uma crise de
saúde e uma crise política ao
mesmo tempo, isso não tem pa-
ralelo internacional. O otimis-
mo do começo do ano com o
País ficou para trás e os princi-
pais agentes preveem uma que-
da forte para a economia nacio-
nal este ano”, avalia Balassiano.
Ele lembra que as perspecti-
vas do FMI e do Focus estão até
otimistas, na comparação com
outros agentes internacionais,
como o Banco Mundial, que já
espera uma queda de 3% para o
País neste biênio. “O FMI deve
fazer uma nova rodada de previ-
sões no mês que vem e o desem-
penho esperado para o Brasil de-
ve ser ainda pior.”

Largando atrás. Um agravan-
te para o baixo desempenho da
economia brasileira é que o País
já crescia pouco mesmo antes
da pandemia. Desde 2017, o Bra-
sil vinha crescendo na casa de
1%, após duas quedas seguidas
de mais de 3%. O País estava
atrás da maior parte do mundo:
para se ter uma ideia, sete em
cada dez países cresceram mais
do que o Brasil no ano passado,
ainda segundo o FMI.
“O Brasil veio de uma reces-
são forte e não conseguiu sair
rápido dela. Entramos na crise
atual com desemprego em dois
dígitos e quase 70 milhões de
vulneráveis”, diz Balassiano.
Já sob efeito da pandemia, a
desocupação era de 12,6% no tri-
mestre até abril, segundo a Pes-
quisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) Contínua,
do IBGE. Como muita gente
não consegue sair de casa para
procurar trabalho, estima-se
que a taxa seja, na verdade, de
16%, segundo o Itaú Unibanco.
O economista Luiz Carlos
Mendonça de Barros, ex-presi-
dente do Banco Nacional de De-
senvolvimento Econômico e So-
cial (BNDES), avalia que a crise
da covid-19 deve marcar uma ge-
ração. “Órgãos como a OCDE
(o clube dos países ricos) falam
que será a pior crise em cem
anos. A forma como a enfrentar-
mos será lembrada por anos.”
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