O Estado de São Paulo (2020-06-16)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 16 DE JUNHO DE 2020 Especial H5


HÁ 40 ANOS, A GURGEL ERGUIA


EM SP UMA FÁBRICA DE CARROS


Defensor da eletricidade e crítico do carro a álcool, engenheiro queria tornar


realidade nos anos 80 a tecnologia que só recentemente ganhou importância


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A cerimônia de entrega do 93º
Oscar, em 2021, foi adiada em
oito semanas, com data previs-
ta para 25 de abril, depois que a
pandemia de coronavírus fe-
chou os cinemas, prejudicando
o calendário de lançamentos de
Hollywood, informou a Acade-


mia na segunda-feira, 15.
Com muitos blockbusters e
filmes independentes forçados
a adiar suas datas de lançamen-

to até a reabertura dos cinemas,
a data limite para filmes elegí-
veis ao Oscar também foi esten-
dida de 31 de dezembro de 2020
a 28 de fevereiro de 2021.
“Nossa esperança, ao estender
o período de elegibilidade e a da-
ta de entrega de nossos prêmios,
é proporcionar a flexibilidade
que os cineastas precisam para
terminar e lançar seus filmes
sem serem penalizados por algo
além do controle de qualquer
um”, afirmaram o presidente da
Academia, David Rubin, e o dire-
tor executivo, Dawn Hudson.
Embora incomuns, esses mo-

vimentos da Academia não
são inéditos. O Oscar já foi
adiado três vezes antes – devi-
do às inundações de Los An-
geles em 1938; após o assassi-
nato do Martin Luther King
Jr., em 1968; e após a tentati-
va de assassinato do presiden-
te Ronald Reagan, em 1981.
Os organizadores querem
também desenvolver “pa-
drões de representação e in-
clusão” para elegibilidade ao
Oscar até 31 de julho que “in-
centivarão práticas de con-
tratação igualitárias nas te-
las e fora delas”. / AFP

Hairton Ponciano


Junho de 1980. Há 40 anos,
quando muito pouco ou nada se
falava sobre carro elétrico no
mundo, o empresário João Au-
gusto Conrado do Amaral Gur-
gel construiu uma fábrica cuja
finalidade era montar veículos
movidos a eletricidade em Rio
Claro, interior de São Paulo.
O projeto de um veículo do
gênero há quatro décadas foi
apenas uma das ideias extrava-
gantes do engenheiro mecâni-
co e eletricista, que mostrava in-
conformismo desde cedo. Diz a
lenda que, aos 23 anos, quando
estudava engenharia na Escola
Politécnica de São Paulo, em
vez do projeto de um guindaste,
pedido pelo professor, Gurgel
apresentou um pequeno veícu-
lo com motor de dois cilindros,
batizado de Tião. Como respos-
ta, além da quase reprovação,
ouviu do professor que “carro
não se fabrica, se compra”.
De certo modo, o mestre ti-
nha razão. E, a partir de 1969,
compradores de automóveis
passaram a contar com mais
uma opção. Nascia a Gurgel Mo-
tores, para fabricar carros, não
guindastes. A ideia era fazer um
automóvel 100% nacional. Em
oposição às multinacionais, ao
longo de sua trajetória o enge-
nheiro dizia que sua empresa
era “muito nacional”.
O primeiro carro foi uma es-
pécie de bugue com mecânica
Volkswagen, batizado de Ipane-
ma. Ao fazer um veículo de re-
creação destinado ao uso fora
de estrada, Gurgel evitava o con-
fronto direto com as marcas já
estabelecidas no País.
Em 1972, chegou o Xavante
XT, mais tarde rebatizado de X-
12, e transformado em Tocan-
tins em 1988. Uma das caracte-
rísticas do jipinho era o chassi
feito de um material batizado
de plasteel, mescla de plástico e
aço. A carroceria era feita de
plástico e fibra de vidro. Outra
inovação para a época era o sis-
tema batizado de Selectraction.
Rudimentar e eficaz, bloqueava
uma das rodas de tração para
evitar patinação sobre piso de
baixa aderência. O X-12 se torna-
ria o Gurgel de maior sucesso, e
o mais conhecido até hoje.
Três anos mais tarde, em
1975, as instalações da empresa,
em São Paulo, já não comporta-
vam a expansão. Foi quando a
fábrica se transferiu para Rio
Claro, num terreno bem mais
amplo, que cinco anos mais tar-
de abrigaria também a fábrica
do carro elétrico. A gestação do
modelo a eletricidade, no entan-
to, começou no mesmo ano da
mudança para o interior, com a
apresentação do protótipo Itai-
pu E150. Gurgel era um crítico
do carro a álcool. As coisas nes-
sa época iam tão bem que, em
1979, a empresa participou do
Salão de Genebra, um dos mais
importantes do mundo.
Após cinco anos de desenvol-
vimento, em 1980 a Gurgel lan-
çou o E150, seguido, em 1981,
pelo Itaipu E400. O modelo foi
apresentado na versão furgão e
depois veio a picape, em ver-
sões de cabine simples e dupla.
O alto peso, por causa das bate-
rias, e a baixa autonomia acaba-
ram sepultando o projeto. Em
1982, o carro foi rebatizado de
G800. O motor elétrico deu lu-
gar a um quatro cilindros a com-
bustão da Volkswagen.


O jipe Carajás, de 1984, foi o
primeiro Gurgel com motor
dianteiro. O modelo utilizava o
propulsor 1.8 do Santana. Mas
havia um problema. Apesar do
motor na frente, o câmbio fica-
va na traseira, o que elevava o
tempo de troca de marchas.
As dimensões do Carajás con-
trastavam com o Xef, minicarro
de apenas 3,12 m de comprimen-
to. Uma de suas excentricida-
des eram os três bancos diantei-
ros. Outra, o fato de o modelo
ter para-brisa e vidro traseiro
exatamente iguais.
O Xef não teve muito êxito
comercial, mas Gurgel estava
determinado a fazer um carro
urbano e econômico. No dia 7
de setembro de 1987, o empresá-
rio apresentou o protótipo bati-

zado de Cena, iniciais de Carro
Econômico Nacional. Tinha
motor de dois cilindros refrige-
rado a água de 650 ou 800 cm^3.
O lançamento ocorreu no ano
seguinte, com novo nome: BR-


  1. Isso porque a nomenclatu-
    ra original causava confusão
    com o nome do piloto Ayrton
    Senna, que aparentemente não
    gostou da associação.


‘Ford’. Uma peculiaridade do
pequeno modelo é que ele ini-
cialmente só estava disponível
para quem adquirisse ações da
Gurgel Motores S/A. No lança-
mento da campanha, o empresá-
rio se comparava a ninguém me-
nos que o fundador da Ford. O

mote era: “Se Henry Ford o con-
vidasse para ser seu sócio, você
não aceitaria?”.
Cada acionista pagou o equi-
valente a US$ 7 mil pelo carro
mais US$ 1.500 pelas ações. O
valor era inferior ao dos mode-
los mais baratos da concorrên-
cia, porque o governo havia con-
cedido ao carro uma alíquota in-
ferior de IPI. Por causa da baixa
cilindrada do motor, o BR-800
recolhia 5% de imposto, contra
pelo menos 25% dos demais.
No início dos anos 90 a Gur-
gel lançou o Motomachine, um
carro ainda menor que o BR-


  1. Tinha apenas dois lugares
    e portas transparentes.
    Mas as coisas se complica-
    ram para a empresa quando o
    então presidente Fernando Col-
    lor de Melo isentou de IPI todos
    os carros com motor abaixo de
    1.000 cm^3. Com isso, logo surgi-
    ram opções maiores, mais con-
    fortáveis e potentes que o BR-
    800, caso do Fiat Uno Mille.
    Outro duro baque na Gurgel
    foi a abertura das importações.
    Como resultado, opções como
    o jipe russo Lada Niva desem-
    barcaram por aqui custando me-
    nos que os modelos da marca.
    Em 1992, a empresa lançou o
    Supermini, evolução do BR-

  2. No ano seguinte, pediu
    concordata. Em 1994, teve a fa-
    lência decretada. João Augusto
    Conrado do Amaral Gurgel mor-
    reu em 2009, vítima de Mal de
    Alzheimer, aos 83 anos.


JornaldoCarro


Sem intervalo


Machuca
(Chile/Espanha, 2004). Dir. e roteiro (com
Mamoun Hassan) de Andrés Wood, com
Matias Quer, Ariel Mateluna, Manuela Martel-
li, Ernesto Malbran.

Em 1973, o projeto para a educa-
ção do presidente Salvador Al-
lende, do Chile, leva a que um
estudante pobre da periferia –
Machuca – seja acolhido em
uma escola da alta classe média.
Ele se torna amigo de um dos
colegas ricos, mas logo vem o
golpe militar, e os dois, e a dire-
ção da escola, sofrem as conse-
quências de forma brutal. O ta-
lentoso Andrés Wood também
dirigiu o belo Violeta Foi para o
Céu (2012).
CANAL BRASIL, 22H. COR, 120 MIN.

História*


Visionário. Gurgel fez carro
elétrico e criou o urbano
Motomachine (à dir.)
em uma época em
que ninguém falava
sobre esses
temas

ELÉTRICOS


Entrega do


Oscar é


adiada para


25 de abril


DESTAQUE
WOOD PRODUCCIONES

Filmes na TV


Família. O empresário
à frente da ampla linha
de veículos que levava
o seu sobrenome

FERNANDO PIMENTEL/ESTADÃO

MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO
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