O Estado de São Paulo (2020-06-17)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto QUARTA-FEIRA, 17 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Mesmo depois que a má ges-
tão da pandemia do coronaví-
rus interrompeu a capacidade
do país de fabricar e comprar
produtos de todo o mundo, ex-
pondo ainda mais as falhas do
seu sistema autoritário e le-
vando o governo chinês a in-
tensificar sua guerra de propa-
ganda, o poderio econômico


da China faz com que isso seja
a melhor esperança para se evi-
tar uma longa desaceleração
global. Empresas estrangeiras
discutem como ser menos de-
pendentes da China, mas mão
de obra e mercado consumi-
dor dificultam estratégias.

http://www.estadao.com.br/e/china

R


eafirmar que o Brasil vi-
ve uma tripla crise – sa-
nitária, econômica e
política – pode ser um truís-
mo, mas permite analisar a si-
tuação da educação superior
e da pesquisa científica no Es-
tado de São Paulo a partir de
uma perspectiva mais ampla,
a nacional. O contraste entre
o cenário do País e o estadual
é incontestável.
No âmbito federal, as repeti-
das tentativas de interferência
na vida das universidades ul-
trapassam os limites da auto-
nomia garantida no artigo 207
da Constituição. As lamentá-
veis decisões sobre financia-
mento da pesquisa, como re-
dução ingente de recursos,
cortes de bolsas e sua limita-
ção a algumas áreas ditas prio-
ritárias, afetam também as uni-
versidades estaduais, tornan-
do todo o quadro nacional in-
congruente com a expectativa
de inserção global do Brasil na
sociedade do conhecimento.
Essas investidas contra a
educação superior e a pesqui-
sa coincidem com um mo-
mento em que o mundo recor-
re fortemente à ciência para
enfrentar a maior emergência
de saúde recente, com suas
consequências sociais e eco-
nômicas. Muitas sondagens
de opinião pública no Brasil e
em outros países atestam o
crescimento do prestígio pú-
blico da ciência.
A comunidade científica
paulista tem respondido de
maneira intensa e rápida aos
dramáticos desafios impostos
à sociedade pela pandemia.
Uma força-tarefa de centenas
de pesquisadores das universi-
dades estaduais paulistas in-
vestiga todos os aspectos da
doença, busca tratamentos efi-
cazes e desenvolve tecnolo-
gias – incluindo testes e vaci-
nas – para combatê-la.
Responsáveis por mais de
40% dos protocolos de pesqui-
sas relacionados à covid-19 no
País, pesquisadores paulistas
já descobriram, por exemplo,
o mecanismo que faz altos ní-
veis de glicose potencializa-
rem a ação do vírus em diabéti-
cos e o papel da coagulação na

evolução da doença. E têm tes-
tado – em muitos casos, com
sucesso – protocolos clínicos
de tratamento, como o uso de
plasma de doador convales-
cente em doentes.
Em parceria com a Universi-
dade de Oxford, pesquisado-
res paulistas sequenciaram o
genoma do vírus do primeiro
paciente brasileiro infectado e
concluíram o sequenciamento
de 500 isolados virais de pa-
cientes de 21 Estados, identifi-
cando as três linhagens preva-
lentes no Brasil. O mais recen-
te capítulo é a capacitação pa-
ra produção e distribuição de
vacina, a abordagem definiti-
va para suplantar a epidemia.
Às pesquisas clínicas em vi-
rologia e epidemiologia so-
mam-se esforços de pesquisa-
dores das ciências exatas e hu-
manas que desenvolvem mo-
delos matemáticos para orien-

tar políticas de controle epide-
miológico e monitorar o im-
pacto social e econômico da
doença. Soma-se, ainda, o im-
portante papel dos hospitais
universitários no atendimen-
to direto à população, por
meio do Sistema Único de
Saúde (SUS).
Dezenas de startups gesta-
das nas universidades, nos ins-
titutos e hospitais, muitas
com apoio da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (Fapesp), bus-
cam escalar tecnologias de
atendimento a pacientes, co-
mo ventiladores pulmonares,
testes sorológicos e tomógra-
fos por impedância elétrica,
entre outras, algumas já no
mercado.
A competência da comuni-
dade paulista para oferecer
resposta rápida a uma deman-
da urgente da sociedade está
diretamente relacionada às
condições para a formação de
recursos humanos qualifica-
dos, à disponibilidade de in-
fraestrutura laboratorial de

ponta, à capacidade de articu-
lar colaborações internacio-
nais e, sobretudo, à existência
de um ambiente estável de fi-
nanciamento. O principal pi-
lar de sustentação desse siste-
ma é o compromisso do Esta-
do de respeitar a autonomia
das universidades estaduais
paulistas, USP, Unicamp e
Unesp, e da Fapesp. Há 31
anos, o Decreto n.º 29.598, pu-
blicado no contexto da rede-
mocratização do País, garante
estabilidade financeira às uni-
versidades públicas paulistas
e respeito à sua autogestão di-
dática e administrativa. A
Constituição paulista garante
à Fapesp autonomia financei-
ra e administrativa.
Dessa forma, a autonomia
confere às universidades esta-
bilidade e capacidade de pla-
nejamento, ingredientes es-
senciais para cumprirem a
missão de formar recursos hu-
manos qualificados e avançar
o conhecimento. À Fapesp, ga-
rante o cumprimento da mis-
são de apoiar o desenvolvi-
mento científico e tecnológi-
co, por meio do financiamen-
to de projetos realizados em
universidades e institutos de
pesquisa, suporte a iniciativas
inovadoras de empresas e bol-
sas de estudo para formação
de recursos humanos.
Apesar desse sucesso, sub-
sistem movimentos sociais de
repúdio à ciência e ataques às
universidades, os quais, embo-
ra minoritários, têm tido re-
percussão em camadas da po-
pulação que acreditam que a
pandemia será vencida com
pretensas curas miraculosas,
sem evidência científica que
comprove sua eficácia.
É preciso que o reconheci-
mento da sociedade quanto
ao êxito da ciência se trans-
forme em mobilização em
sua defesa, para que o respei-
to à autonomia de fato se es-
tenda a todas as universida-
des, todos institutos e agên-
cias de pesquisa do Brasil.

]
RESPECTIVAMENTE, REITOR DA
UNICAMP, PRESIDENTE DA FAPESP,
REITOR DA UNESP E REITOR DA USP

Consumo de chocolates e
embutidos cresceu no perío-
do entre brasileiros.

http://www.estadao.com.br/e/alimentacao

ECONOMIA


Quebrar a dependência da China?


Prefeitura de Salto, no inte-
rior de SP, montou estrutu-
ra para acolher desabriga-
dos durante a pandemia do
novo coronavírus.

http://www.estadao.com.br/e/salto

l“Estou esperando esse pico desde a época em que Luiz Henrique Man-
detta era ministro.”
IZABEL ESTEVES

l“O negócio é se proteger como pode e rezar para não sofrer com os
piores sintomas da doença. Muitos estão infectados e nem sabem.”
LEONARDO LANGONI

l“Tantas mortes e ainda não sabem quando vai chegar o pico? Em
todos os países previram, aqui não. Por quê?”
CAMILA BARBOSA

l“Fico entristecida com pessoas rindo da desgraça alheia. Quero ver
quando for com um parente, como no meu caso. Sofri a perda.”
ERICA APARECIDA

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Isolamento social e fecha-
mento de fronteiras diminuí-
ram o índice de pessoas que
vão se vacinar. Sarampo está
crescendo em vários países.

http://www.estadao.com.br/e/pandemia

Espaço Aberto


A


pandemia fez evaporar
o argumento econômi-
co – crescimento forte
com baixo desemprego – da
campanha à reeleição de Do-
nald Trump. O Federal Reser-
ve, o banco central dos EUA,
projeta recuperação lenta e
desemprego próximo de 10%
em dezembro. Faltando qua-
tro meses para as eleições, as
sondagens sugerem vitória do
candidato democrata, o ex-vi-
ce-presidente Joe Biden. Elas
são apenas um dos dados ne-
gativos para Trump. Se a ten-
dência se confirmar até o plei-
to de 3 de novembro, o atual
ocupante da Casa Branca en-
trará para a História como o
quarto presidente a não se ree-
leger na dúzia de pleitos reali-
zados desde 1976.
Com 80% dos americanos a
dizer nas pesquisas que o país
está no rumo errado, as dissi-
dências ganham espaço no
Partido Republicano – antes
solidamente aliado a Trump –
e reforçam a percepção de que
o personalíssimo populismo
encarnado pelo empresário e
ex-animador de programas de
reality television tem data de va-
lidade próxima a expirar. Ou-
tros indícios estão nos deta-
lhes de várias pesquisas, que
mostram perdas significativas
de apoio em dois segmentos,
o das eleitoras brancas de cer-
ta idade e o dos muito ricos,
que negaram votos à democra-
ta Hillary Clinton em 2016 e
garantiram o inesperado triun-
fo de Trump, por uma ínfima
margem de menos de 80 mil
votos no colégio eleitoral em
três Estados, depois de perder
por 3 milhões a eleição popu-
lar. Interessados acima de tu-
do em estabilidade e previsibi-
lidade, qualidades opostas à
aposta no caos que Trump ali-
menta com seus tuítes, esses
dois grupos de eleitores migra-
ram para Biden.
É evidente também a perda
de espaço por Trump nos dois
temas que dominam as preo-
cupações dos eleitores: os efei-
tos da pandemia, que tornou
evidente o despreparo e a in-
competência do presidente pa-
ra lidar com uma crise de saú-


de pública que já custou mais
de 120 mil vidas e custará mui-
tas mais e jogou o país na re-
cessão, e a questão racial, que
ganhou enorme espaço com a
divulgação das imagens do lin-
chamento do negro George
Floyd, asfixiado na rua pela po-
lícia de Minneapolis depois de
ser preso e algemado.
A arrogante e incompeten-
te reação de Trump aos pro-
testos desencadeados pelo as-
sassinato de Floyd fez aumen-
tar a repulsa nacional causada
pelo injustificado abuso da po-
lícia e mobilizou contra o pre-
sidente outro grupo influente
na opinião pública que tradi-
cionalmente se abstém de par-
ticipar da política: os milita-
res. Nada menos que quatro
ex-chefes do Estado-Maior
Conjunto das Forças Arma-
das, o atual ocupante do pos-
to e mais de uma dúzia de ex-

generais de quatro estrelas de-
sassociaram-se da presepada
que Trump montou no início
de junho na praça em frente à
Casa Branca empunhando
uma Bíblia , depois de o lugar
ter sido esvaziado com uso de
gás lacrimogêneo contra os
manifestantes.
O primeiro ministro da De-
fesa de Trump, o condecora-
díssimo ex-general do Corpo
de Fuzileiros Navais James
Mattis, fez a crítica mais con-
tundente à tentativa do presi-
dente de militarizar a respos-
ta aos protestos. “Donald
Trump é o primeiro presiden-
te da minha vida que não ten-
ta unir o povo americano – e
nem sequer pretende tentar”,
escreveu Mattis. “Estamos as-
sistindo às consequências de
três anos desse esforço delibe-
rado”, continuou ele, concla-
mando os americanos a se uni-
rem “sem ele, captando ener-
gia” da sociedade civil e recu-
sando tentativas de criar uma
divisão artificial entre milita-
res e civis.

A tendência de rejeição a
Trump é reforçada por proje-
ções que apontam a manuten-
ção de folgada maioria dos de-
mocratas na Câmara dos Re-
presentantes e uma possível
mudança do mando no Sena-
do, hoje sob controle dos re-
publicanos por uma margem
de três em cem cadeiras.
A se confirmarem, as impli-
cações do atual panorama elei-
toral são obviamente negati-
vas para o governo Bolsonaro,
que julga ter em Trump um
aliado ao quem devota uma
lealdade capacha, não corres-
pondida. Diante disso, o que
esperar de um governo Bi-
den? Membros da assessoria
internacional do candidato de-
mocrata mal disfarçam sua re-
pulsa ao presidente brasileiro
e ao que ele representa em
dois temas, nos quais o País
se isolou de seus aliados tradi-
cionais nas democracias da
Europa e das Américas: 1) de-
mocracia e direitos humanos
e 2) preservação da Amazônia
e política climática. A postura
americana ficou visível na car-
ta que a maioria democrata
da Comissão de Orçamento
da Câmara dirigiu recente-
mente à Casa Branca fechan-
do a porta a acordos comer-
ciais com o Brasil.
Eleito Biden, a postura da
Casa Branca certamente será
moderada pelos interesses po-
líticos e econômicos dos
EUA, que incluem a preocupa-
ção de não alienar o Brasil na
disputa pelo poder global que
Washington trava com Pe-
quim. Na prática, isso signifi-
ca privilegiar relações com go-
vernos estaduais, entidades
cívicas, associações empresa-
riais, universidades e as rela-
ções entre empresas, especial-
mente nas áreas de saúde,
educação e tecnologia. Mas o
Brasil ficará no fim da fila en-
quanto Bolsonaro estiver no
Planalto.

]
JORNALISTA, É PESQUISADOR
SENIOR DO BRAZIL INSTITUTE
DO WOODROW WILSON
INTERNATIONAL CENTER FOR
SCHOLARS, EM WASHINGTON

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

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COVID-
Acampamento atende
moradores de rua

Outras doenças
avançam na pandemia

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]
Paulo Sotero


Tema do dia


Empresa compartilha vi-
deoaulas de ginástica que
pode ser feita em casa.

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Promotor de instabilidade,


Trump está em declínio


O presidente alienou
os militares em sua
resposta divisiva aos
protestos antirracismo

Ciência e universidades livres


promovem o progresso


O contraste entre
os cenários do País
e do Estado de São
Paulo é incontestável

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
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Pandemia não atingiu


o pico na América


Latina, alerta Opas


Entidade diz que situação pode continuar
por longo período se medidas de
contenção do vírus não forem adotadas

]
Marcelo Knobel, Marco Antonio Zago, Sandro Roberto Valentini e Vahan Agopyan

REUTERS SAÚDE

No estadao.com.br


QUARENTENA

Alimentação piorou
durante o isolamento

GINÁSTICA

Treino para pessoas
em cadeiras de rodas
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