O Estado de São Paulo (2020-06-17)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 17 DE JUNHO DE 2020 NotaseInformações A


U


m governo que trabalha apenas
para dar sobrevida política ao pre-
sidente da República dificilmente
será capaz de propor as reformas
de que o Brasil urgentemente pre-
cisa e, mais, de articular sua apro-
vação no Congresso. Mesmo antes da presente
crise, quando a continuidade do mandato de Jair
Bolsonaro não estava em questão e não havia a
emergência nacional causada pela pandemia de
covid-19, a agenda de reformas não era tratada
com a devida seriedade pelo governo. Nada mu-
dou de lá para cá – com a agravante de que a mo-
nopolização das atenções do Congresso para o
combate aos efeitos da pandemia deu a um presi-
dente tão desinteressado nas reformas que pro-
meteu o pretexto ideal para deixá-las para o Dia
de São Nunca.
Não surpreende assim que o presidente Bolso-
naro tenha informado na segunda-feira, em en-
trevista à TV Band News, que a reforma adminis-
trativa, prometida por ele no ano passado e de
novo no início deste ano, “com toda a certeza” fi-
cará para 2021. “É um desgaste muito grande”,
disse o presidente, argumentando que o maior
obstáculo à reforma administrativa é uma supos-


ta campanha da imprensa contra seu governo.
“Eu não estou preocupado com reeleição, mas
nós devemos nos preocupar com o brasileiro de
forma honesta, justa, e não ser massacrado pela
opinião pública por uma coisa que você não fez e
não propôs. Então, a guerra da mí-
dia é importante, por isso o atra-
so no envio da reforma adminis-
trativa”, disse Bolsonaro.
Para o presidente, portanto, a
reforma administrativa só será
enviada quando houver um “bom
trabalho de mídia” para conven-
cer os funcionários públicos de
que eles não perderão sua estabili-
dade. “Senão, chega para os 12 mi-
lhões de servidores públicos que
estou acabando com a estabilida-
de deles. Eu não estou preocupa-
do com reeleição, mas temos que
ouvir nossos eleitores”, disse o presidente. Ou se-
ja, a obsessão de Bolsonaro, preocupadíssimo
com a reeleição, é não contrariar sua base eleito-
ral. Logo, se vier, a reforma administrativa tem
tudo para ser apenas um arremedo.
Já a reforma tributária é, nas palavras de Bolso-

naro, “complicada”. Deve ser mesmo. Em 23 de
setembro de 2019, o ministro da Economia, Pau-
lo Guedes, disse que a proposta de reforma tribu-
tária seria enviada pelo governo “na semana que
vem”. Pouco menos de seis meses depois, em 5
de março deste ano, o mesmo mi-
nistro disse que a proposta de re-
forma tributária seria enviada “na
semana que vem”.
Aparentemente essa tal “sema-
na que vem” vai demorar ainda
mais para chegar, pois Bolsonaro
informou que quer uma reforma
“que possa ser aprovada”. Em ou-
tras palavras, o governo está longe
de elaborar uma proposta politica-
mente factível.
Assim, a exemplo do que aconte-
ceu com a reforma da Previdên-
cia, o Executivo, preocupado so-
mente em evitar desgaste eleitoral, tende a dei-
xar para o Congresso o protagonismo da refor-
ma tributária. O presidente da Câmara, Rodrigo
Maia, já avisou que essa reforma é prioridade do
Legislativo, a partir de projetos apresentados pe-
los próprios parlamentares.

A boa notícia, portanto, é que o País parece de-
pender cada vez menos da iniciativa de um gover-
no tão perdido. Embora seja no mínimo excêntri-
co que, num regime presidencialista, o debate po-
lítico esteja ocorrendo sem a participação do pre-
sidente – que, desde a posse, se dedica exclusiva-
mente a causar tensão e criar instabilidade –, pa-
rece haver um bom clima para tocar adiante as
reformas quando a pandemia arrefecer. E as re-
formas são ainda mais importantes diante da
perspectiva sombria para as contas nacionais.
Nesse cenário de incerteza, teme-se, com ra-
zão, que a anunciada saída do secretário do Te-
souro, Mansueto Almeida, espécie de guardião
dos limites fiscais, sinalize afrouxamento da
agenda de controle dos gastos públicos. Mas es-
sa agenda, mais do que nunca, não pode ficar na
dependência dos humores de um ou outro fun-
cionário do Ministério da Economia, do ministro
Paulo Guedes ou, pior, do presidente Bolsonaro.
O esforço de manutenção dos mecanismos de
responsabilidade fiscal e de aprovação das mu-
danças necessárias para adequar os gastos públi-
cos à real capacidade do País depende fundamen-
talmente da mobilização da sociedade – esta
sim, a avalista indispensável das reformas.

N


o dia 11 de junho,
o presidente Jair
Bolsonaro inci-
tou seus seguido-
res a invadir hos-
pitais para verifi-
car “se os leitos estão ocupados
ou não”, pois, segundo o presi-
dente, “tem um ganho político
dos caras”, referindo-se aos go-
vernadores, a quem acusa de au-
mentar o número de mortos pe-
la pandemia de covid-19 para
desgastá-lo politicamente.
“Tem um hospital de campa-
nha perto de você, tem um hos-
pital público, arranja uma ma-
neira de entrar e filmar. Muita
gente está fazendo isso, mas
mais gente tem de fazer, para
mostrar se os leitos estão ocupa-
dos ou não, se os gastos são
compatíveis ou não”, disse o
presidente da República em sua
live semanal em rede social.
Como lembrou o ministro
Gilmar Mendes, do Supremo
Tribunal Federal (STF), “inva-
dir hospitais é crime – estimu-
lar também”. Cabe, portanto,
ao procurador-geral da Repúbli-
ca, Augusto Aras, pedir a abertu-
ra de inquérito para investigar
o novo descalabro presidencial.
Esse pedido não teria nenhum
caráter excepcional, sendo o es-
correito cumprimento das atri-
buições definidas pela Consti-
tuição de 1988, tendo em vista
o que ocorreu no dia 11 de ju-
nho. No meio de uma gravíssi-
ma crise de saúde pública, o pre-
sidente Bolsonaro incitou os
brasileiros a invadir hospitais
próximos de suas casas, para fil-
mar leitos e checar a correção
dos gastos.
Em vez de seguir a trilha cons-
titucional, pedindo abertura de
investigação a respeito da fala


do presidente Bolsonaro, o pro-
curador-geral da República op-
tou, no entanto, por um estra-
nho caminho. No dia 15 de ju-
nho, Augusto Aras enviou ofí-
cios ao procurador-geral de Jus-
tiça de São Paulo, Mário Luiz
Sarrubbo, e à procuradora-geral
de Justiça do Distrito Federal,
Fabiana Costa Oliveira Barreto,
solicitando que investigassem a
invasão de um hospital de cam-
panha e agressões a profissio-
nais de saúde ocorridas nas últi-
mas semanas.
Em entrevista ao Estado , o
procurador-geral de Justiça de
São Paulo manifestou-se surpre-
so com o ofício de Augusto
Aras. “O Ministério Público de

São Paulo não consegue avaliar
a razão pela qual esse ofício che-
gou aqui, solicitando uma inves-
tigação que já estava em anda-
mento, que é da nossa atribui-
ção e que efetivamente não com-
pete a nossa coirmã da área fe-
deral requisitar, ou solicitar, na
medida em que já havíamos ins-
taurado essas investigações as-
sim que tivemos a notícia. Não
conseguimos compreender. Es-
tamos realmente surpresos”,
disse Mário Luiz Sarrubbo.
A investigação estadual refe-
re-se à invasão do hospital de
campanha do Anhembi, realiza-
da por cinco deputados esta-
duais no dia 5 de junho. Segun-
do o chefe do Ministério Públi-
co de São Paulo, no mesmo dia
da invasão abriu-se a investiga-
ção para apurar indícios de cri-

me contra a saúde pública. Se-
gundo Sarrubbo, a ação dos cin-
co deputados estaduais foi “no
mínimo atabalhoada”.
No documento enviado ao
procurador-geral de Justiça de
São Paulo, Augusto Aras men-
ciona possível “responsabilida-
de criminal ou por ato de impro-
bidade” dos autores da invasão
do hospital. Ora, cabe aplicar o
mesmo raciocínio à fala de Jair
Bolsonaro do dia 11 de junho.
“Arranja uma maneira de entrar
e filmar”, disse o presidente. E,
de forma a excluir qualquer
dúvida sobre o conteúdo de sua
recomendação, Bolsonaro com-
pletou: “Muita gente está fazen-
do isso ( invadir e filmar ), mas
mais gente tem de fazer”.
Se Augusto Aras entende que
não pode se omitir em relação à
invasão de hospitais, chegando
a solicitar que Ministérios Públi-
cos Estaduais investiguem tais
condutas, é evidente que, como
procurador-geral da República,
tem o dever de pedir que se in-
vestigue o presidente da Repú-
blica que, em live em rede so-
cial, instigou a população a inva-
dir hospitais.
Augusto Aras está em posi-
ção segura, não tendo necessi-
dade de agradar ao presidente
Bolsonaro. A Constituição as-
segura que eventual “destitui-
ção do procurador-geral da Re-
pública, por iniciativa do presi-
dente da República, deverá ser
precedida de autorização da
maioria absoluta do Senado Fe-
deral”. O procurador-geral da
República tem, portanto, as ga-
rantias constitucionais neces-
sárias para cumprir de forma
isenta seu dever. Seu único
compromisso pode e deve ser
apenas com a lei.

S


eria de suma impor-
tância para a Nação
poder contar com a
liderança do presi-
dente da República
na condução da gra-
víssima crise sanitária, social e
econômica que ora o Brasil atra-
vessa. Ouvir sua firme voz de co-
mando, deixar-se guiar por suas
orientações prudentes e sentir
o amparo advindo da genuína
empatia da máxima autoridade
executiva do País faria a Nação
lidar melhor com as dificulda-
des de hoje e temer um pouco
menos o futuro. Mas o Brasil é
presidido por Jair Bolsonaro, de
quem não se pode esperar nada
disso, seja porque ele é desprovi-
do das qualidades mínimas que
um presidente deve ter, seja por-
que o interesse nacional seria
sempre sobreposto por seus in-
teresses particulares.
Na falta da liderança de quem
cabe exercê-la no momento, ou-
vir as palavras de quem já a exer-
ceu em crises passadas, e bem,
serve como alento. Na abertura
do Fórum Brasil UK 2020, even-
to organizado pela comunidade
de estudantes brasileiros no Rei-
no Unido, com apoio do Esta-
do , o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso fez importan-
tes comentários sobre governan-
ça em tempos de crise. Além de
ter ajudado, como então minis-
tro da Fazenda, a implementar
o Plano Real e, enfim, debelar a
hiperinflação, não foram pou-
cas as crises domésticas e inter-
nacionais que FHC teve de en-
frentar em seus dois mandatos
presidenciais. Portanto, ele sa-
be do que fala.
Em entrevista ao brasilianista
Timothy Power, da Universida-
de de Oxford, FHC disse que o

primeiro passo de um presiden-
te ao se deparar com uma crise
é ouvir com humildade os espe-
cialistas. Entendido o proble-
ma, sua dimensão e desdobra-
mentos, cabe ao chefe de Esta-
do e de governo dialogar franca-
mente com a sociedade, traçar
objetivos claros, engajar os cida-
dãos e liderá-los. Na visão do
ex-presidente, Bolsonaro é inca-
paz de seguir esse roteiro básico
porque se mostra tão perdido
quanto a sociedade. “A sensa-
ção que temos é que estamos
perdidos e o presidente tam-
bém. O governo está um pouco
sem rumo”, disse FHC, elegan-
temente. Se o governo estivesse
apenas “um pouco” sem rumo,

o País passaria melhor.
Jair Bolsonaro foi eleito presi-
dente da República prometen-
do combater a corrupção e res-
taurar o equilíbrio fiscal. Uma
mixórdia de promessas chama-
da “nova política”, envernizada
por uma retórica “conservado-
ra” (a bem da verdade, reacioná-
ria), funcionou eleitoralmente
como um esboço de rumo para
a Nação, mas logo sucumbiu à
realidade. A sociedade já não vê
Bolsonaro como fiador da agen-
da anticorrupção, como atesta
uma variedade de pesquisas de
opinião, e tampouco se susten-
ta, ao menos por ora, a defesa
da austeridade fiscal, solapada
pela imposição de pesados gas-
tos públicos em decorrência da
pandemia de covid-19 e, princi-
palmente, pela falta das prome-

tidas reformas. Sem uma agen-
da concreta para apresentar ao
País e tragado por uma crise sa-
nitária com múltiplos desdobra-
mentos, as deficiências de Bol-
sonaro ficaram ainda mais evi-
dentes. Para FHC, o presidente
foi substituído pela imprensa
profissional na condução do
diálogo com a sociedade nessa
hora grave. Bolsonaro só fala
para os seus.
A imprensa livre, o Congres-
so e o Supremo Tribunal Fede-
ral têm sido fundamentais na
defesa do Estado de Direito.
Jair Bolsonaro, na visão de
FHC, não tem propriamente
um projeto autoritário de po-
der, mas isto não significa que a
democracia não esteja sob risco
no País. “A retórica do presiden-
te vai no sentido do autoritaris-
mo, mas na mão dele não se sen-
te a espada. Estamos numa zo-
na cinzenta, ainda bem. Vai de-
pender da reação ( da sociedade
aos arroubos bolsonaristas ). Mes-
mo não tendo esse projeto ( au-
toritário ), Bolsonaro pode che-
gar lá. É um momento perigo-
so”, disse o ex-presidente. Um
governo autoritário não pode se
instalar por inércia no País. Não
se pode tolerar pequenos ou
grandes abusos diários e afron-
tas às leis e à Constituição.
A grande lição deixada por
FHC no evento de abertura do
Fórum Brasil UK 2020, que
também contou com a partici-
pação da ex-presidente Dilma
Rousseff, é a de que o regime
democrático requer diálogo,
negociação. E negociar não sig-
nifica, necessariamente, cor-
romper-se. É possível formar
uma coalizão em torno de pla-
nos. Cabe ao presidente apre-
sentá-los se for capaz.

Bolsonaro e o Dia de São Nunca


ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

Na falta da liderança de
Jair Bolsonaro, ouvir
quem já a exerceu
serve como alento

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Notas & Informações


O dever de Aras


O único compromisso
do procurador-geral da
República pode e deve
ser apenas com a lei

Governança em tempos de crise


l Desgoverno Bolsonaro
O cerco se fecha

Enquanto o ministro da Justiça
faz as vezes de advogado de Jair
Bolsonaro ao pedir investigação
por uma charge, o cerco contra
os absurdos do presidente e de
sua militância vai se fechando.
Começou semanas atrás com a
operação contra propagadores
de fake news. Anteontem, a ex-
tremista Sara Giromini, que
ameaça ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF), foi pre-
sa. Abraham Weintraub, que é a
personificação do governo –
sem educação e despreparado
–, está por um fio e deve sair
em breve, mesmo a contragos-
to do presidente, que só vai exo-
nerá-lo para tentar apaziguar a
relação com o STF. Bolsonaro
está tentando ser bombeiro pa-
ra combater o fogo que ele pró-
prio ateou. Resta saber se o in-
cêndio será controlado ou se
mostrará devastador.
LUCAS DIAS
[email protected]
RIO VERDE (GO)


Manifestações bolsonaristas
Em todas as imagens transmiti-
das pela mídia, o que vemos é


sempre meia dúzia de gatos-pin-
gados. Já vimos que “os 300 do
Brasil” são meros 30. Nas mani-
festações em frente ao Planalto
não havia mais de cem pessoas.
São esses desordeiros que amea-
çam a nossa democracia? Um
presidente que só fala bobagens
para despertar atritos que com-
petência tem? É só Alexandre
de Moraes pôr na cadeia a tur-
ma do gabinete do ódio e resol-
vemos essa questão.
ALDO BERTOLUCCI
[email protected]
SÃO PAULO

Lei neles
O presidente Bolsonaro está há
18 meses no poder e tem ainda
dois anos e meio para terminar
o mandato. Se governasse bem,
poderia até ser reeleito. Por
que, então, parcela de seus apoi-
adores fica por aí mandando
fechar STF e Congresso, pedin-
do intervenção militar com Bol-
sonaro no poder? Estou com
dificuldade para entender essa
turma. Não é falta do que fazer?
Essas aberrações já estão en-
chendo a paciência dos aman-
tes da paz e da liberdade. Os
responsáveis pela aplicação da

lei precisam dar um basta nes-
ses transgressores antes que o
circo pegue fogo. Lei neles! Che-
ga de refresco, ninguém está
acima da lei. Não se pode dei-
xar que o desrespeito a tudo e a
todos tome conta do País. Há
quem pense que pode tudo, não
é bem assim. Chega de jogar
pedras para criar inimigos.
JEOVAH FERREIRA
[email protected]
BRASÍLIA

Corda esticada
Será que o secretário de Gover-
no, general Luiz Eduardo Ra-
mos, na verdade queria dizer
“não estica a corda porque a
lona deste circo pode cair”...?
CARLOS GASPAR
[email protected]
SÃO PAULO

Garrote
No esticar da corda, vão acabar
enforcando a democracia. De
tabela, o povo...
A. FERNANDES
[email protected]
SÃO PAULO

Munição de Weintraub
O ministro da Educação ainda

não caiu porque tem muita bala
na agulha a respeito da família
Bolsonaro. Ele sabe tudo! Só sai
se lhe oferecerem algo que o
satisfaça, inclusive politicamen-
te. Por sua vez, Mansueto Al-
meida está saindo para salvar
sua biografia, pois sabe que não
vamos sair do ponto morto.
CECILIA CENTURION
[email protected]
SÃO PAULO

Saída honrosa
Na iminente demissão do titu-
lar da Educação, para evitar de
alguma forma arranhar mais a
sua biografia e acalmar sua base
de apoio, a saída seria Bolsona-
ro nomeá-lo adido cultural da
Embaixada do Brasil na Coreia
do Norte, para divulgar por lá
seus postulados olavistas.
JORGE SPUNBERG
[email protected]
SÃO PAULO

l Pandemia
Leão 2020
Faltam menos de duas semanas
para o prazo de entrega das de-
clarações de Imposto de Renda
de 2020, ano-base 2019, se esgo-
tar e cerca de metade dos con-

tribuintes está em débito. Possi-
velmente eles estão com receio
de sair atrás de documentos
num momento em que há o ris-
co concreto de contágio – o que
em caso extremo pode corres-
ponder a uma dispensa definiti-
va desse dever cívico... Quando
a data-limite foi estabelecida
em 30 de junho, imaginava-se
que a curva de contágio estives-
se apontando para baixo. Mas
hoje ela aponta para cima e o
número impensável de 1 milhão
de casos é questão de dias, infe-
lizmente. Adiar mais uma vez
parece-me ideia construtiva.
ALEXANDRU SOLOMON
[email protected]
SÃO PAULO

l Em São Paulo
Urbanização de favelas
Dois textos recentes do Esta-
do , Na periferia, famílias adoe-
cem juntas (14/6, A13) e A s fave-
las no pós-pandemia (12/6, A3), e
a crise sanitária atual expõem o
desleixo dos poderes municipal
e estadual na questão de levar
saneamento básico às comuni-
dades carentes. O Executivo e o
Legislativo municipais só pen-
sam em projetos de interven-

ção urbana – instrumentos gen-
trificadores e com foco no mer-
cado imobiliário –, os quais pre-
cisam ser adiados em benefício
do saneamento básico onde ain-
da não chegou. A urbanização
de favelas, incluindo sistemas
de coleta de esgotos e de distri-
buição de água, é imprescindí-
vel e urgente. Venho enviando
a diversas secretarias da Prefei-
tura pedidos de informação de
suas ações de apoio ao confina-
mento, ao distanciamento so-
cial e ao acesso a água corrente
de comunidades carentes, mas
só houve evasivas até hoje. Os
poderes públicos têm uma dívi-
da enorme em matéria de sanea-
mento básico, crucial para to-
das as comunidades precárias a
fim de se atingir o objetivo de
cidade e área metropolitana sau-
dáveis. Por isso precisamos co-
nhecer as prioridades dos políti-
cos atuais e de todos os candi-
datos a cargos na cidade e no
Estado quanto a universalizar o
saneamento básico. E a impren-
sa tem papel decisivo nessa ne-
cessária informação ao eleitor.
SUELY MANDELBAUM, urbanista
[email protected]
SÃO PAULO
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