O Estado de São Paulo (2020-06-17)

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H2 Especial QUARTA-FEIRA, 17 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


‘É PRECISO RETOMAR A


VIDA DE ALGUM PONTO’


RESTAURANTE

Pensando, como outros cole-
gas, na reabertura dos restau-
rantes em São Paulo, Salvato-
re Loi e Paulo Barros , chefs e
sócios do Modern Mamma Os-
teria, estão prontos para rea-
brirem as portas tão logo re-
cebam sinal verde: acabam
de instalar biombos de madei-
ra, com proteção de acrílico,
entre as mesas e tomam ou-
tras precauções. “Na Holanda,
colocaram cabines de vidro. É
exagero. Mas faremos o que
for preciso, temos que recome-
çar a vida de algum ponto”,
avalia Loi, à coluna, do alto da
sua experiência de 13 anos na
cozinha do Fasano.

Na pandemia da covid-19,
tem restaurante pelo mundo
colocando manequins à mesa,
caso dos EUA, e pandas de
pelúcia, na Tailândia. Tudo,
nesse começo de liberação ao
público, para diminuir a sen-
sação de vazio. Essa informa-
ção pegou Loi de surpresa,
não estava sabendo. “Meu
setor, um dos mais afetados
pela crise sanitária, está sem-
pre se reinventando”.

No MoMa, conta que preci-
sou, “de coração partido”,
demitir gente que estava na
casa desde o início, em 2016.
Montou delivery e, na retoma-

da, serão apenas 12 pessoas
na cozinha – antes tinha o
dobro. Cardápio? Mais enxu-
to, dez pratos sairão de cena,
e entram itens com menor
manuseio possível. Garçons
usarão luvas e máscaras.
Atendimento só mediante
reserva. “As pessoas estão
assustadas, precisamos dar

segurança pra elas voltarem”
frisa Loi, italiano que está há
20 anos no Brasil.

O MoMa Mia, que os sócios
abriram colado à casa princi-
pal do Itaim, só reabrirá na
sequência. E o Mondo, nos
Jardins, não fazem ideia. Pelo
plano da Prefeitura, quando per-

mitida a reabertura de restau-
rantes e bares para consumo,
será com 20% da capacidade da
casa e apenas com mesas ao ar
livre, mas o setor negocia para
ampliar esse conceito e incluir
terraços, jardins. “Isso é muito
pouco, mas vamos obedecer o
que decidirem”. Para se ter uma
ideia, o MoMa vendia cerca de
300 couverts às sextas-feiras.
Prevê-se, na retomada, 60.

Nascido na Sardenha, o chef
acompanhou com angustia a
situação da Itália, sobretudo a
Lombardia, onde moram duas
irmãs. Filho de uma cozinhei-
ra, ele lembra que sua mãe
contava histórias sobre fome,
bombardeios, “o que vivemos
hoje é uma guerra sem bom-
bas”. Aos 56 anos, Loi agrade-
ce não ter perdido ninguém.
\CECÍLIA RAMOS

Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]

Leandro Nunes


Quando Hugo Possolo assumiu
a direção do Teatro Municipal
em fevereiro do ano passado,
muito se pensou sobre qual a
relação de um palhaço com um
templo de uma arte clássica.
O projeto Novos Modernistas,
lançado naquele período, em refe-
rência à Semana da Arte de 22, pa-
recer ter aberto o caminho de pen-
samento e ação para o atual secre-
tário municipal de Cultura, em
tempos de pandemia. Em mea-
dos de março, ele assumiu o posto
no lugar de Alê Youssef, que agora
integra o gabinete executivo do
prefeito Bruno Covas. “Acredito
que a arte vai retomar uma carac-
terística híbrida, ao estilo dos mo-
dernistas, agora com a internet”,
disse em entrevista ao Estadão.
Antes do confinamento, ele
conta que teve que passar por
uma rápida integração. Não por-
que viesse de outras bandas, já
que defende “um trabalho de
continuidade”, mas por conta
da chegada da pandemia na capi-
tal e o impacto no segmento. “Fe-
chamos os teatros distritais, ca-
sas de cultura e espaços cultu-
rais, mas havia uma programa-
ção inteira para tocar.”
Desde o ano passado, a nova
gestão vinha lotando teatros
que há algum tempo não eram
centrais nem na oferta de pro-
gramação, nem na geografia da
capital. Esse entendimento, de
que há locais mais vulneráveis
que outros, conduziu o pensa-
mento nesse confinamento. A
SMC lançou uma série de edi-
tais nos últimos meses e o retor-
no dos inscritos serviu de pano-
rama para o impacto da pande-
mia. “Há cerca 400 a 500 espa-
ços independentes na capital, e
eles sempre correndo riscos.
Agora ainda mais”, diz. “A vul-
nerabilidade sempre acompa-
nhou o artista periférico.”
No entanto, uns dos chama-


mentos, intitulado Janelas de
São Paulo, segue impedido de
contratar artistas. O edital foi
suspenso em março pelo Tribu-
nal de Justiça de São Paulo, que
acatou parcialmente uma limi-
nar que contestava o valor de
R$ 10 milhões para ações cultu-

rais em janelas. De acordo com
a decisão, “ajudar a classe ar-
tística deve ser ponderado do
ponto de vista orçamentário,
com o fato de que outras classes
profissionais igualmente de-
mandarão auxílio.” Para Posso-
lo, trata-se de um “movimento

conservador”. “Há um discurso
que trata o artista como usurpa-
dor do governo.” De acordo
com o secretário, a origem dos
recursos para o edital era priva-
da. A SMC seria intermediado-
ra dos recursos, em parceria
com duas empresas privadas –

uma delas, Possolo não quis ci-
tar, a outra trata-se de uma con-
cessionária de telefonia e inter-
net no País. “Depois da reper-
cussão, as patrocinadoras prefe-
riram se afastar”, relata.
Em 2018, ocorreu algo seme-
lhante. Um parecer da SMC sob
a gestão do então secretário An-
dré Sturm alterou o entendi-
mento da Lei de Fomento ao
Teatro e o Ministério Público
estadual abriu um inquérito ci-
vil para investigar um suposto
caso de lobby. A edição do edi-
tal de pesquisa teatral contínua
só pôde ser retomada no primei-
ro semestre de 2019.
Em franca oposição ao gover-
no federal, a SMC do governo
Bruno Covas já se posicionava
com Youssef na secretaria. O
mesmo se dá com Possolo. Ele
acredita que São Paulo tem li-
mitações para conduzir algu-
mas políticas culturais na capi-
tal, e crítica a falta de coopera-

ção em relação ao trabalho na
esfera da Secretaria Especial
de Cultura, atualmente aloca-
da no Ministério do Turismo.
“Antes de a Regina Duarte dei-
xar a secretaria, ela foi cobrada
sobre o Fundo Nacional de Cul-
tura e o Fundo do Audiovisual,
que estão paralisados. São Pau-
lo não dá conta sozinha.”
No dia 4 de junho, o Senado
Federal votou a Lei Aldir Blanc
de suporte emergencial que
transfere R$ 3 bilhões para esta-
dos e municípios, destinados
aos trabalhadores da Cultura.
O projeto seguiu para sanção
do presidente Jair Bolsonaro.
“É preciso pensar soluções e al-
ternativas para que os artista”,
afirma Possolo. “Sem incenti-
vo, a indústria automotiva ou
de produção trigo, por exem-
plos, não sobrevivem. A Cultu-
ra tem seu lugar na economia e
não há perspectiva de retorno,
mas de um novo horizonte.”

l O SafraPay passou a acei-
tar pagamento com o uso do
auxílio emergencial do go-
verno federal.

lA médica Thaís Saron
criou Instagram para infor-
mar sobre covid-19 com foco
em comunidades.

l Carlos Kaufmann organi-
za leilão beneficente de peças
de Eduardo Kobra , Nelson
Piquet e Rivellino , entre ou-
tros. A partir do dia 18.

lA empresária Janaína
Araújo faz live beneficente
com performance da cantora
Graciely Junqueira em prol
da Associação Franciscana
de Solidariedade. Domingo,
no insta @janaina 123.

lA Cless Cosméticos vai
doar álcool em gel e toalhas
umedecidas ao GRAAC.

POLAROID


RESPONSABILIDADE
SOCIAL

INCENTIVOS PARA A


A Spectaculu, escola de arte e
tecnologia que tem Gringo Cardia,
Marisa Orth e Vik Muniz entre seus
diretores, vai estrear uma série
musical durante a quarentena, em
parceria com o YouTube Space Rio.
Spectaculu – Mestres do Samba traz
depoimentos e apresentações
musicais para contar as histórias dos
‘grandes’ da música brasileira. “O
antirracismo deve ser positivo.
Vamos começar celebrando uma das
nossas melhores invenções a partir
da nossa herança africana: o
samba”, explica Marisa.

Blog: estadão.com.br/diretodafonte Facebook: facebook.com/SoniaRacyEstadao Instagram: @colunadiretodafonte

Sinais


Em regime de trabalho remo-
to durante a pandemia, o
STF já proferiu mais de 22
mil decisões, sendo 17.460
monocráticas e 4.705 colegia-
das. Só sobre a covid-19 são...
2,5 mil processos.

Luís Roberto Barroso tem
projeto para que o Supremo
não receba mais tantos pro-
cessos. Esse volume faz com
que muitas decisões sejam in-
dividuais.

Críticos avaliam que quando
apenas um magistrado deci-
de – e não o colegiado – perso-
naliza o debate.

Pedaladas


A Prefeitura de SP estabeleceu
a retomada da Ciclofaixa de La-
zer, agora com parceria da
Uber, no dia 19 de julho – mas
pode rever a data, se preciso.

A OMS, inclusive, recomen-
da que, sempre que possível,
os deslocamentos mais cur-
tos devem ser feitos a pé ou
de bicicleta – o modal que se-
ria mais seguro no combate à
disseminação da covid-19.

Pedaladas 2


A última vez que a ciclofaixa
funcionou foi em 25 de agos-
to do ano passado...

Só lá


A Galeria Kogan Amaro, ba-
seada em São Paulo com fi-
lial em Zurique, abre nesta se-
mana duas novas exposições
na cidade europeia.

Com curadoria de Ricardo Re-
sende , a exposição Flávio de
Carvalho: O Novo Homem dos
Trópicos marca os 47 anos do fa-
lecimento do artista. E o jovem
recifense Samuel de Saboia
expõe obras inéditas em Um
Pássaro Chamado Inocência.

Caderno 2


SALVATORE LOI

DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO – 10/7/2019

No Teatro Municipal. Antes da Secretaria Municipal de Cultura, ele já apostava em uma programação diversa, não feita para teatrões, e surpreendeu

Biombos
com
proteção
de acrílico
separam
mesas no
MoMa, no
Itaim

‘Confinamento tornou a criação artística mais híbrida’, diz


secretário municipal Hugo Possolo na defesa de verbas


ARTE

SILVANA GARZARO/ESTADÃO
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