O Estado de São Paulo (2020-06-17)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:C-7:20200617:
O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 17 DE JUNHO DE 2020 Especial H7


Roberto DaMatta


Sem intervalo


l]


HOUVE QUEDA DE 100%
NOS RESTAURANTES,
COM EXCEÇÃO DOS QUE
TÊM DELIVERY

Luiz Carlos Merten


Em tempos de pandemia, e em
meio a tanta dor e inseguran-
ça, nada melhor do que tentar
relaxar e rir um pouco. O cine-
ma pode ajudar na tentativa.
O Telecine Cult programou
um duplo de morrer de rir nes-
ta quarta, 17. Dois clássicos do
humor nos anos 1960.
Dá para se divertir com
Jerry Lewis, O Terror das Mu-
lheres
, de 1961, às 20h15, e
emendar com Peter Sellers, A
Pantera Cor de Rosa
, de 1963,
às 22h. Jerry é também diretor
e nesse filme dá para encon-
trá-lo por inteiro, com seus te-
mas e obsessões. O atrapalha-
do vai trabalhar num pensio-
nato de mulheres e Jerry refle-
te sobre o matriarcado na
‘América’, revela o cenário de
sua ação (a maquete do casa-


rão, no final), além de, o tem-
po todo, desdobrar-se como
ator, autor e personagem.
Com direção de Blake
Edwards, Sellers faz outro ti-
po de atrapalhado. O Inspe-
tor Clouseau é tão inepto que,
ao investigar o roubo de um
valioso diamante, não se dá
conta de que a própria mulher
integra a quadrilha. Sellers,
Claudia Cardinale, Capucine,
David Niven, a trilha de
Henry Mancini. E a Pantera,
que saltou dos créditos para
virar série de animação adora-
da por adultos e crianças. O
próprio Clouseau virou perso-
nagem de série, que prosse-
guiu com Peter Sellers e, de-
pois, Steve Martin.

Camila Tuchlinski


A Alternativa Casa Natural
existe há 25 anos na Rua Fradi-
que Coutinho, na Vila Madale-
na, em São Paulo. Em tempos
de pandemia do novo corona-
vírus, a loja decidiu se juntar a
outros comerciantes na plata-
forma digital Compro do Pe-
queno da Vi-
la, uma inicia-
tiva para ten-
tar estimular
a economia lo-
cal. “É uma
ideia muito
boa, que pode
amadurecer e
dar muitos bons frutos. A
união do comércio local junto
aos moradores e frequentado-
res do bairro pode beneficiar a
todos de muitas maneiras. Me
coloco à disposição inclusive
para ajudar a articular propos-
tas assim”, afirma o proprietá-
rio Gabriel Martins Ibrahin.


O site Compro do Pequeno
da Vila reúne as principais lo-
jas de alimentos, restauran-
tes, cafeterias, pet shops e
prestadores de serviços do
bairro, com endereço, telefo-
ne e endereços eletrônicos. A
ideia é incentivar os morado-
res a consumir na própria re-
gião.
A pande-
mia reduziu
muito a pro-
cura na loja
de Gabriel. Se-
gundo ele, o
faturamento
caiu 80% no
período. “Os
reflexos estão sendo muito de-
safiadores. Caso não cheguem
mais recursos, entraremos em
situação crítica em pouco tem-
po. Muitos estabelecimentos
amigos já encerraram ativida-
des. Nós aqui estamos dando
nosso melhor para manter nos-
sa atividade a serviço da comu-

nidade”, desabafa.
A percepção do empresário
coincide com o levantamento
da Associação Brasileira de Ba-
res e Restaurantes. O presiden-
te da Abrasel-SP, Percival Ma-
ricato, avalia que a situação é
ainda pior para quem não tra-
balha com alternativas, como
serviços de entrega, e onde
houve um isolamento social
mais rigoroso. “Onde teve qua-
rentena, a queda foi de 100%,
exceto os que têm delivery e
rotisserie, esses faturaram de
10% a 30% do normal. Grande
parte dos restaurantes e quase
a totalidade do bairro não têm
essas alternativas. Em São Pau-
lo, nós avaliamos que a queda
foi mais de 80% do faturamen-
to dos comerciantes durante a
crise”, enfatiza.
Para o pós-pandemia, Mari-
cato acrescenta que haverá
uma redução de concorrência.
“Mais de 20% vão quebrar e
haverá redução de clientela,

seja por medo de contamina-
ção, insegurança em relação
ao emprego e reflexos em rela-
ção à renda. Isso tudo será
uma realidade que a gente terá
que enfrentar”.
Apesar disso, Percival Mari-
cato acredita na força e na cria-
tividade dos empresários lo-
cais para minimizar os efeitos
econômicos do setor. “Nós es-
tamos divulgando muito essa
necessidade de as pessoas se
ajustarem nessa situação do
‘novo normal’ e trazer para
dentro do mercado a solidarie-
dade. Tem que haver equilí-
brio, tolerância e esforço co-
mum para reerguer a econo-
mia”, diz o presidente da Abra-
sel-SP. O site da entidade tam-
bém oferece orientações para
os empresários durante a pan-
demia e sobre como lidar com
as contas em tempos de crise.
Gabriel Martins Ibrahin, do
Alternativa Casa Natural, afir-
ma que valorizar a economia

local pode salvar vidas. “Esta
conscientização dos consumi-
dores para comprar dos peque-
nos pode ser decisiva para a
vida daquele comércio que
tem na sua rua, seu bairro. Ca-
da compra feita é com a ener-
gia que você coloca, dizendo
que gosta daquele local e quer

que ele continue existindo.
Empregamos diretamente 30
pessoas e compramos de mais
de 350 fornecedores. São mui-
tas famílias que giram em tor-
no da renda de um comércio.
Desejo muita saúde e esperan-
ça a todos para atravessarmos
esta crise”, conclui.

COMÉRCIO


LOCAL LUTA


POR SOBREVIDA


UNIÃO


Plataforma digital Compro do Pequeno da


Vila busca estimular a economia do bairro


ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS

M


eu instinto brasileiro de
desconfiança, pois vivo
num país de ladrões da coi-
sa pública, acendeu a luz amarela na
medida em que os nossos múltiplos
“governos” foram autorizados a ad-
quirir sem licitação, e com a mais jus-
ta urgência, remédios, aparelhos de
respiração, máscaras e a construir
hospitais e outras facilidades em fun-
ção da expansão da covid-19. Falou
em suspender licitação, eu imediata-
mente pensei em corrupção. Lamen-
tavelmente, não deu outra.
Mencionei “governos”, mas pode-
ria invocar o modo como atuam: por
meio dos tradicionais conselhos e
comitês. Esses coletivos de elite pro-
jetados para que as responsabilida-
des sejam diluídas e se esvaziem no
velho jogo de empurra acusatório e

“dentro da lei”. A coletividade de um
conselho (ou comissão) dissolve con-
tabilidades e protagonismo individual
de modo que todos se salvam. É, por-
tanto, comum no âmbito administrati-
vo: o nível federal joga a responsabili-
dade para o estadual e este ao munici-
pal que a empurra novamente para “ci-
ma” de modo que, com o passar do tem-
po, o engavetamento ou o pedido de
vistas dos inquéritos abertos dentro
do nosso legalismo aristocrático eva-
porem ou sejam engavetados.
Esses mecanismos impeditivos de
atribuição de responsabilidade são par-
te estrutural no nosso sistema políti-
co-legal. Eles garantem que os nossos
eleitos invertam seus papéis num regi-
me democrático já que, devidamente
“empossados”, eles deixam de ser nos-
sos servidores e se tornam os que lu-

cram com o nosso trabalho. Somos al-
vos de suas promessas como candida-
tos apenas para sermos usados e abusa-
dos depois que esses “eleitos” ocupem
seus cargos quando então (com raras ex-
ceções) lucram e, como de uma “classe
burocrática” que detém o poder de legis-
lar e de (deslegislar), trabalham mais pa-
ra a sua hegemonia e seus interesses do
que para quem os elegeu. O investimen-
to inconsciente na ambiguidade e na in-
coerência deixa a nu um sistema que cor-
rói o regime democrático, desmorali-
zando o seu processo eleitoral!
Essa é uma das resistências mais
óbvias para quem vai ao fundo do lama-
çal da polícia brasileira neste momento
no qual rondamos o suicídio democráti-
co em paralelo a uma pandemia. Esse
fato não previsto por nenhum dos mui-
tos “Joãos de Deus” salvacionistas, que

são parte e parcela da nossa concepção
de mundo. Uma visão marcada pela
imensa intenção – tanto à direita quan-
to à esquerda – de não “mexer” num
“Estado” que vale mais para uns do que
para todos. No Brasil, um Marx comu-
nista foi virado pelo avesso, mas pou-
cos têm consciência desse movimento.
O resultado, em meio à crise perma-
nente, é o asqueroso roubo de equipa-
mentos médicos de primeira hora pe-
las “autoridades administrativas”
num habitual gangsterismo de família
e compadrio, como é normal e banal
no nosso sistema político.
Enoja, aos 83 anos, testemunhar essa
iniquidade que rouba dinheiros, vidas
e, além disso, confiança e esperança pa-
ra não falar na total marginalização do
sistema democrático. É contra esse as-
co que devemos resistir, já que ele é o
núcleo da nossa antidemocracia.
Ora, se quem rouba dos nossos doen-
tes são precisamente os eleitos em dis-
putas regradas por todos os múltiplos
tribunais cujos vocais não perdem a

oportunidade de nos dar aulas de
democracia, pois eles confundem
sentenças com discursos, estamos
todos envolvidos numa perversão.
Elegemos quem logo vai roubar re-
cursos públicos ou, pior do que isso,
vai tentar realizar um republicanis-
mo absolutista invertendo (ou train-
do) suas promessas de campanha.
Tal reação seria o fim da democra-
cia, ou o começo de uma maior com-
preensão do nosso papel como cida-
dãos? A prova do pudim está em co-
mê-lo, disse num texto célebre Karl
Marx. No nosso caso, comemos a
ponto da indigestão o pudim da di-
reita – um liberalismo sem competi-
ção e totalmente legalizado, tal co-
mo ocorria no velho Portugal das
corporações de ofício –, mas (entre-
mentes) também provamos em al-
tas fatias o bolo da esquerda lulope-
tista. A prova é clara: comemos tan-
to de um lado quanto de outro o mes-
mo pudim. Hoje, porém, sentimos a
sua amargura...

A Floresta
Que Se Move
(Brasil, 2015.) Dir. de Vinicius Coimbra,
com Ana Paula Arósio, Gabriel Bastos
Braga, Nelson Xavier, Ângelo Antônio,
Fernando Alves Pinto.

Luiz Carlos Merten

Homem de TV, Vinicius Coim-
bra revelou-se grande diretor
de cinema com sua versão de
A Hora e a Vez de Augusto Ma-
traga , melhor até que a dos
anos 1960. A transposição de
Macbeth para o meio empresa-
rial contemporâneo pode não
ser tão boa, mas sua solução
para a floresta que se move é
coisa de gênio. Ana Paula Aró-
sio é magnífica.
C. BRASIL, 21H30. COL., 99 MIN.

Filmes na TV


Pandemia.
Assim
como em
muitos
locais da
cidade, o
comércio
parado
na Vila
Madalena

DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Programa


duplo para rir


com Lewis


e Sellers


Eliana Silva de Souza

Em nome do planeta
O programa Sem Censura
desta quarta, 17, conta com
a participação de Mateus
Solano. De sua casa, via Sky-
pe, ator conversa com o apre-
sentador Bruno Barros sobre
seu momento nesta fase de
pandemia de covid-19. Ma-
teus vai mostrar um pouco
mais de seu lado de ambien-
talista, de um homem preo-
cupado com nosso planeta e
com a melhor qualidade de
vida para as pessoas. Ele
fala sobre a iniciativa do mo-
vimento SanitaRio e impor-
tância de se discutir, apre-
sentar soluções e exigir
ações efetivas sobre o sanea-
mento básico. Atração vai ao
às 14h, na TV Brasil.

Pura adrenalina
Campeão mundial de surfe,
Italo Ferreira estreia nesta
quarta, 17, seu primeiro pro-
grama no canal Off, que foi
gravado antes da pandemia
de coronavírus. Em Parque
do Italo , que vai ao ar às
21h30, o esportista vai en-

frentar os mais diversos desa-
fios ao lados dos amigos. Du-
rante umas férias em sua ca-
sa na Baía Formosa (RN), Ita-
lo preparou uma semana para
a diversão de todos, com ativi-
dades como aula de como pe-
gar onda com uma tampa de
isopor da mesma forma que
fazia na infância e também
organizou uma competição de
surfe diferenciada. Um pouco
antes da exibição do progra-
ma, às 20h30, o surfista parti-
cipa de um bate-papo no Ins-
tagram do Off.

Reino selvagem
Estreia nesta quarta, 17, às
21h, no Animal Planet, a série
Pequenos Grandes da Nature-
za , que é apresentada pelo
autor de livros sobre vida sel-
vagem Bradley Trevor Greive
e pelo biodesigner Billy Almon.
No primeiro episódio, acompa-
nhamos os dois em uma re-
gião chamada Chupaderos, no
México, em busca de um mi-
núsculo dinossauro que atra-
vessou milhões de anos e, pa-
ra sobreviver aos mais varia-
dos perigos, contou com ar-
mas muito peculiares.

DESTAQUE A Opinião
Pública
(Br., 1966.) Dir., argumento e montagem
de Arnaldo Jabor, fotografia de José Me-
deiros, Dib Lutfi (também cameraman).

O primeiro longa – documentário


  • de Jabor, antes que virasse dire-
    tor de ficção. Costumava passar
    num programa duplo com o curta
    O Circo , que ele também dirigiu.
    Olhar sobre a classe média na inti-
    midade. Muito interessante de ver
    para comparar o Brasil dos anos
    1960, na ditadura, com o atual.
    C. BRASIL, 13H40. COL., 78 MIN.


Rogue One, Uma História
Star Wars/Rogue One
(EUA, 2016.) Dir. de Gareth Edwards, com
Felicity Jones, Diego Luna, Ben Mendelsohn,
Mads Mikkelsen.

Bom spin-off da saga famosa, retro-
cede ao tempo de A Vingança dos
Sith e Uma Nova Esperança. A
Aliança Rebelde bola um plano
para roubar A Estrela da Morte, o
armamento mais poderoso do Im-
pério. Felicity Jones faz a rebelde
Jyn Erso, que busca o pai cientista,
Galen (Mikkelsen).
GLOBO, 22H18. COLORIDO, 133 MIN.

GLOBO FILMES

ACERVO PESSOAL

Grupo. Fachada da Alternativa Casa Natural

O asqueroso roubo das vítimas

Free download pdf