O Estado de São Paulo (2020-06-17)

(Antfer) #1

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A4 QUARTA-FEIRA, 17 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS
PARTICULARES.
Marco Aurélio
Mello, ministro
do STF

»Sem essa. Vitor Hugo
nega tal intenção. De acor-
do com ele, o tema do terro-
rismo já foi tratado em um
projeto anterior. Para o de-
putado bolsonarista, todo
ato terrorista tem algum
tipo de viés político.

»Hot. “Esse projeto sem-
pre vai gerar reações contra
e a favor. Já é polarizado
pela natureza dele”, disse.
A chance de o projeto avan-
çar é pequena. Porém, mais
uma vez, os aliados do pre-
sidente, seguindo a cartilha
de Abraham Weintraub,
dão mostras de estarem
pouco dispostos a baixar a
temperatura no País.

»Hummm. No caso das
manifestações brasileiras,
ele alega que cada uma se-
ria analisada separadamen-
te, mas destaca que atos
“pacíficos que não des-
truam patrimônio” esta-
riam liberados.

»Nem pensar. O líder da
oposição na Câmara, André
Figueiredo (PDT-CE), re-
chaça a ideia: “É mais uma
das estratégias do governo
para marcar posição”.

»Chega mais. A aliança de
oposição formada por PSB,
PDT, Rede, Cidadania e PV
ganhou adesões pelo impea-
chment: os movimentos So-
mos 70% e #estamosjun-
tos. O ex-ministro, cantor e
compositor Gilberto Gil
também entrou no barco.

»Ação. Para o presidente
do PSB, Carlos Siqueira, as
adesões de movimentos
desvinculados de partidos
mostram a necessidade de
formar uma “frente am-
plíssima” pela democracia.

»Outra frente. O PT diz
não ter sido convidado para
o movimento. Os petistas
prometem lançar movimen-
to pelo impeachment com
outros partidos e movimen-
tos sociais organizados.

»Quero... A ministra do
STF Rosa Weber assinou
despacho com pedidos de
informações à União, ao
Meio Ambiente, aos Esta-
dos da Amazônia Legal, ao
BNDES e ao Inpe sobre de-
núncias de omissão e parali-
sação do Fundo Amazônia.

»...saber. O despacho é
parte de ação apresentada
pelo PSB que pede a reativa-
ção do fundo. Para o advo-
gado Rafael Carneiro, a mi-
nistra reconheceu a relevân-
cia jurídica da questão.

»Opa. Pegou mal entre ad-
vogados e juristas uma fra-
se do ministro Luís Rober-
to Barroso no Roda Viva
(TV Cultura) sobre “a ne-
cessidade” de formação de
uma “massa crítica negra”.
No grupo Prerrogativas, foi
observado que o ministro
desconsiderou, por exem-
plo, a existência de Abdias
do Nascimento, Guerreiro
Ramos, Virgínia Bicudo e
outros intelectuais negros.

»Digital. Marco Aurélio
Mello completou 30 anos
de STF sem perder o gosto
pelas novidades. “Estou gos-
tando deste período (de tra-
balho remoto) porque venho
conseguindo julgar meus
processos. Já não vou publi-
car o livro: ‘Votos que eu
não proferi’.”

COM MARIANA HAUBERT. COLA-
BOROU DANIEL WETERMAN.

O


líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo
(PSL-GO), apresentou projeto de lei para incluir
“razões políticas” no rol de motivações de atos ter-
roristas. No limite, pode ser um atalho para criminalizar
protestos. Na justificativa da proposta, o deputado cita
“ameaças terroristas” contra Jair Bolsonaro e as recentes
manifestações de rua com presença de grupos como o “An-
tifas”. Segundo ele, esses atos “pedem a luta armada para
a tomada do poder”. A oposição enxerga no gesto uma
“provocação” que pode tumultuar o ambiente na Casa.

Projeto abre brecha


para criminalizar atos


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Para analista, Bolsonaro
intimida Poderes para

evitar queda. Pág. A


Entrevista


Um senador e dez deputados
bolsonaristas tiveram o sigilo
bancário quebrado por deter-
minação do ministro do Supre-
mo Tribunal Federal (STF)
Alexandre de Moraes, respon-
sável pelo inquérito que apura
a organização e financiamen-
to de atos antidemocráticos.
Assinada em 27 de maio, a deci-
são tornou-se pública ontem,
quando a Polícia Federal (PF)
cumpriu 21 mandados de bus-
ca e apreensão contra um par-
lamentar, políticos ligados ao
Aliança pelo Brasil, partido
que o presidente Jair Bolsona-
ro pretende criar, além de blo-
gueiros e youtubers que apoi-
am o governo federal.
Segundo a Procuradoria-Ge-
ral da República (PGR) os inves-
tigados teriam agido para “fi-
nanciar e promover atos que se
enquadram em práticas tipifica-
das como crime pela Lei de Se-
gurança Nacional”. O objetivo
deste inquérito é descobrir
quem está por trás de manifesta-
ções que pediam o fechamento
do Congresso e do Supremo,
além da volta do AI-5, medida
mais dura da ditadura militar.
Em 19 de abril, Bolsonaro che-
gou a discursar em um ato do
tipo, em frente ao Quartel Gene-
ral do Exército, em Brasília.
Moraes também determinou
que YouTube, Facebook e Insta-
gram informem se as páginas
mantidas pelos alvos da opera-
ção recebem algum tipo de paga-
mento por postagem. Se tive-
rem acesso a esses dados, os in-
vestigadores poderão saber se
as convocações para os atos e as
postagens contra as institui-

ções são ou não remuneradas.
Um dos alvos da quebra de si-
gilo e mandado de busca é o de-
putado Daniel Silveira (PSL-
RJ). O parlamentar prestou de-
poimento por cerca de 30 minu-
tos ontem, sem responder às
perguntas. No Twitter, disse
que exerceu o “direito de perma-
necer em silêncio até que tenha
acesso ao inquérito”. Sua defe-
sa não foi localizada.
Outro deputado citado pela
PGR no pedido de abertura de
inquérito por ter ligação com os
atos antidemocráticos, Cabo Ju-
nio do Amaral (PSL-MG) tam-
bém teve o sigilo bancário que-
brado. “Eu pouco importo para
o que verão lá, mas chegamos

no extremo. Direitos e garan-
tias fundamentais garantidos,
salvo se apoiador do presiden-
te”, disse o parlamentar, criti-
cando a decisão do Supremo.
O cerco a apoiadores de Bol-
sonaro ligados a manifestações
envolve ainda um dos princi-
pais articuladores da criação do
Aliança pelo Brasil: o empresá-
rio Luís Felipe Belmonte. Ele au-
xiliou na organização de ao me-
nos um dos atos antidemocráti-
cos realizados em Brasília. Co-
mo revelou o Estadão em
maio, ele serviu de ponte para
os diferentes grupos se organi-
zassem. Em entrevista na épo-
ca, Belmonte disse que não colo-
cou nenhum centavo no even-

to. “Coloquei eles em contato,
chamei um, chamei outro. Fiz a
questão de dizer que precisaria
ter dois tipos de procedimento.
Primeiro, que se limitasse a
apoio ao presidente Bolsonaro
e que não (tivesse) fora (Rodri-
go) Maia ou fora Congresso”,
afirmou na ocasião.
Como parte do mesmo in-
quérito, Moraes havia determi-
nado, anteontem, a prisão de Sa-
ra Giromini, uma das líderes do
grupo bolsonarista “300 do Bra-
sil” – seus advogados entraram
com pedido de soltura. Ontem,
outros três líderes do grupo fo-
ram detidos. / FAUSTO MACEDO,
RAFAEL MORAES MOURA, PEPITA
ORTEGA e RAYSSA MOTTA

Supremo quebra sigilo de


parlamentares governistas


Poderes. Alexandre de Moraes manda abrir dados bancários de senador e 10 deputados;


PF faz buscas em endereços de políticos do Aliança e influenciadores pró-Bolsonaro


P


ressionado pela crise com o Supremo Tribunal Fede-
ral (STF), o presidente Jair Bolsonaro orientou pes-
soas próximas a evitar manifestações públicas sobre
a Operação Lume da Polícia Federal, que investiga seus
aliados no âmbito do inquérito sobre os atos antidemo-
cráticos. Apesar da nítida irritação nos bastidores, Bolso-
naro, seus filhos e integrantes do governo silenciaram so-
bre os mandados de busca e apreensão solicitados pela
Procuradoria-Geral da República e autorizados pelo minis-
tro do STF Alexandre de Moraes.
Eles tampouco comentaram sobre a quebra de sigilo ban-
cário de dez deputados e um senador bolsonaristas, autori-

zada por Moraes para verificar o financiamento de mani-
festações contra o STF e o Congresso. Auxiliares do presi-
dente justificam que o silêncio é um sinal de que o governo
está disposto a diminuir a temperatura da crise.
A trégua envolve a demissão do ministro da Educação,
Abraham Weintraub, que vem sendo preparada pelo Pla-
nalto como um gesto de pacificação. Para a oposição, no
entanto, a moderação é sintomática e reproduz o receio
de que os inquéritos em curso se aproximem da família
do presidente.
“É medo de eles serem os próximos”, disse o deputado
Kim Kataguiri (DEM-SP). “A reação firme do ministro Ale-
xandre de Moraes, que conta com o apoio dos outros mi-
nistros, mostrou que o Supremo não está de brincadeira.
Vai cobrar as responsabilidades de cada um, seja quem
for. Ninguém está acima da Constituição”, afirmou o líder
do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ).

Silêncio do presidente reflete


tentativa de amenizar crise


Alessandro Molon

PRINCIPAIS ALVOS

l Busca e apreensão
Allan dos Santos
Sócio do site Terça Livre. É alvo
do inquérito das fake news

Daniel Silveira
Deputado do PSL do Rio, é investi-
gados no inquérito das fake news
e teve sigilo quebrado.

Sérgio Lima
Marqueteiro do Aliança pelo Bra-

sil. Foi o responsável pela identi-
dade visual do partido que Bolso-
naro tenta criar.

Luís Felipe Belmonte
É o segundo-vice-presidente do
Aliança. Auxiliou na organização
de atos antidemocráticos.

l Quebra de sigilo
Deputados
Daniel Silveira (PSL-RJ)

Carla Zambelli (PSL-SP)
Junio do Amaral (PSL-MG)
Caroline de Toni (PSL-SC)
Alê Silva (PSL-MG)
Bia Kicis (PSL-DF)
General Girão (PSL-RN)
Otoni de Paula (PSC-RJ)
Guiga Peixoto (PSL-SP)
Aline Sleutjes (PSL-PR)

Senador
Arolde de Oliveira (PSC-RJ)

PRONTO, FALEI!

]
BASTIDORES: Jussara Soares

GABRIELA BILO/ ESTADAO

Cerco. Deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) deixa Polícia Federal em Brasília sem responder às perguntas dos investigadores

“A maior ameaça ao Brasil está no Palácio do Planal-
to, e não nas manifestações democráticas ”, sobre o
projeto para alterar a Lei Antiterrorismo (leia acima).

Deputado federal (PSB-RJ)

»CLICK. O deputado Mar-
cos Pereira (à dir.) ga-
nhou do Flamengo cami-
sa personalizada após
ter elogiado a máscara
rubro-negra do ministro
Luiz Eduardo Ramos.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
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