O Estado de São Paulo (2020-06-17)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 17 DE JUNHO DE 2020 A


Internacional


PEQUIM


Autoridades de Pequim, capi-
tal da China, classificaram on-
tem os surtos de coronavírus
na cidade como “extrema-
mente severos” e baixaram
normas que determinam que
os moradores não deixem a ci-
dade. As novas medidas para
conter uma segunda onda do
novo coronavírus ainda sus-
pendem os voos entre provín-
cias do país e proíbem via-
gens em grupo.

A prefeitura da capital chine-
sa ordenou o confinamento de
28 bairros residenciais intei-
ros. Seus milhares de morado-
res não podem sair, mas estão
autorizados a receber comida.
Embora tenha havido apenas
nove mortes pela covid-19 des-
de dezembro na cidade, a Orga-
nização Mundial da Saúde
(OMS) disse que acompanha
“muito de perto” a situação e
falou em enviar mais especia-
listas à cidade para avaliar as
medidas que estão sendo toma-
das até agora.
“A situação epidêmica na ca-
pital é extremamente grave”,
afirmou o porta-voz da cidade,
Xu Hejian. “Agora, precisamos
tomar ações estritas para limi-
tar a propagação da covid-19”,
disse, afirmando que agora a ci-
dade vive “uma corrida contra
o tempo”. Ao todo, a cidade já
contabilizou 106 novos infecta-
dos desde a última quinta. Es-
se é o maior surto da doença
desde fevereiro, o que acen-
deu o alerta das autoridades.
A capital da China chegou a
não reportar novos casos de co-
ronavírus por 56 dias seguidos,
mas agora quase que dá como
certa uma segunda onda de
contágios – não se sabe se do
mesmo tamanho da primeira.


Preocupadas com os riscos
de contágio, outras províncias
chinesas impuseram exigên-
cias de quarentena para visitan-
tes vindos de Pequim. Nos últi-
mos três dias, Hebei, Liaoning
e Sichuan relataram casos no-
vos da doença que teriam surgi-
do em mercados de frutas, le-
gumes e carne que vieram da
capital do país.
O novo surto em Pequim foi
localizado em um mercado ata-
cadista de alimentos de Xinfa-
di, no sudoeste da cidade, on-

de milhares de alimentos são
comercializados todos os dias


  • o local abastece pelo menos
    80% da cidade de 22 milhões
    de habitantes e ainda é referên-
    cia de compra para outras pro-
    víncias do país.
    Na segunda-feira, a prefeitu-
    ra já havia classificado os bair-
    ros isolados como áreas de ris-
    co médio, exigindo que a po-
    pulação que mora neles te-
    nham a temperatura monito-
    rada. Também na segunda-fei-
    ra as autoridades locais ha-


viam anunciado que a cidade
está em “estado de guerra” pa-
ra enfrentar uma nova onda
do coronavírus.
Além das províncias chine-
sas, ontem, Xangai exigiu que
viajantes de Pequim passem
duas semanas em quarentena.

Cercas. Após a notificação
dos novos casos, áreas de Pe-
quim receberam cercas da noi-
te para o dia, com entradas e
saídas restritas e barreiras de
segurança que funcionam 24

horas. Serviços de táxi foram
suspensos. Além da determi-
nação de fechamento de mais
escolas e do recuo da volta às
aulas no ensino médio, o go-
verno também proibiu a reali-
zação de festas de casamento.
Bibliotecas, museus e par-
ques ficarão abertos por tem-
po reduzido e com apenas
30% da capacidade.
A cidade intensificou ainda
a inspeção dos mercados de
produtos frescos como carne
suína, bovina, ovina e de aves

congeladas. Outros negócios,
incluindo supermercados e
restaurantes, estão sendo con-
trolados para garantir que
não haja produtos contamina-
dos nesses locais.
Pequim tem capacidade de
testar mais de 90 mil pessoas
por dia, segundo a agência de
notícias estatal Xinhua.
Autoridades municipais
querem testar todos os vende-
dores de mercados e donos
de restaurantes. / AFP, EFE e REU-
TERS

Com 106 novos casos de covid-19 desde quinta-feira, autoridades da capital chinesa cercaram 28 bairros, em que os moradores não


podem sair e só estão autorizados a receber comida; OMS disse que avalia enviar especialistas para saber se medidas são suficientes


NOVA DÉLHI


Pelo menos 20 militares india-
nos morreram em um confron-
to de paus e pedras com o
Exército chinês na disputada
fronteira entre os dois países.
Esse foi o primeiro embate com
mortos entre os dois gigantes
asiáticos nos últimos 45 anos.
A China acusou a Índia de ser
responsável pelo incidente – au-
toridades chinesas disseram
que os indianos atravessaram
duas vezes a fronteira. A China
não informou se o confronto
deixou mortos do seu lado.
Já o Exército indiano infor-
mou que “houve um confronto
violento na noite passada que
deixou vítimas de ambos os la-
dos”, no Vale de Galwan. De acor-
do com as autoridades indianas,
um oficial e dois soldados morre-
ram na hora e depois outros 17
soldados “gravemente feridos
sucumbiram aos ferimentos”.
Desde o início de maio, tro-
pas das duas potências nuclea-
res têm se envolvido em vários
confrontos ao longo da frontei-


ra comum, principalmente em
Ladakh. Milhares de soldados
foram enviados à região para re-
forçar a presença dos dois la-
dos. Após negociações entre ge-
nerais dos dois Exércitos há 10
dias, um processo de desmilita-
rização teve início em alguns
pontos disputados na região.
O porta-voz do Ministério
das Relações Exteriores da Chi-
na, Zhao Lijian, disse que as tro-
pas indianas “provocaram e ata-
caram os chineses, o que gerou
um grave confronto”.

Altos funcionários dos dois
países estão negociando um
acordo para a região para acal-
mar a situação. “China e Índia
concordam em seguir resolven-
do os problemas bilaterais por
meio do diálogo”, disse. “Pedi-
mos novamente à Índia que con-
trole suas tropas na fronteira.
Não atravessem a fronteira,
não provoquem problemas”, in-
sistiu o porta-voz chinês.

Paus e pedras. Desde o início
de maio são relatados combates
com socos, pedras e paus entre
militares dos dois países na re-
gião de Sikkim (leste da Índia).
Relatórios preliminares do confli-
to de ontem indicaram que os sol-
dados não foram baleados, mas
mortos em uma briga com paus e
pedras, semelhante aos embates
de maio, que feriram gravemente
soldados dos dois lados.
Um militar indiano na região
afirmou à agência de notícias
France-Presse que não foram dis-
parados tiros. “Nenhuma arma
de fogo foi utilizada. Acontece-
ram combates violentos corpo
a corpo violentos”, disse o mili-
tar, que pediu anonimato por-
que não está autorizado a falar
com a imprensa.
Oficialmente, o Exército dis-
se que, além dos mortos, havia
militares desaparecidos, que te-
miam ser capturados.

A fronteira comum tem 3,
mil quilômetros e nunca foi de-
vidamente delimitada. As duas
potências regionais tiveram vá-
rias disputas territoriais nas zo-
nas de Ladakh e Arunachal Pra-
desh. “Este foi um incidente es-
perado para acontecer”, disse
HS Panag, general indiano apo-
sentado. “A situação estava fer-
vendo desde a última semana
de abril”, afirmou.
Os dois países se enfrenta-
ram em uma guerra relâmpago
em 1962, mas houve uma trégua
por anos. No entanto, os con-
frontos em zonas montanhosas

entre os Exércitos indiano e chi-
nês se tornaram mais frequen-
tes nos últimos anos.
Em 2017, aconteceram 72
dias de embates, depois que for-

ças chinesas avançaram na área
disputada de Doklam, na fron-
teira entre China, Índia e Butão.
Após esses confrontos, o pri-
meiro-ministro indiano, Naren-
dra Modi, e o presidente chinês,
Xi Jinping, entraram em acordo
de que era o momento de se re-
duzir a tensão.
No mês passado, Alice
Wells, principal funcionária
do Departamento de Estado
americano para o sul da Ásia,
afirmou que a China estava ten-
tando mexer com o equilíbrio
regional e era necessário “resis-
tir”. / NYT e AFP

lPara conter uma nova onda de
covid-19, a prefeitura de Pequim
desinfetou 276 mercados – fe-
chou 11– e 33 mil restaurantes
ou lojas de alimentos. Desde 30
de maio, pelo menos 200 mil
pessoas visitaram o mercado de
Xinfadi, onde o vírus foi desco-
berto em tábuas onde salmão
importado era fatiado. Mais de 8
mil funcionários do local passa-
ram por testes e foram coloca-
dos em quarentena.
O Centro de Controle e Pre-
venção de Doenças (CDC) da
China informou que a cepa des-
coberta no mercado correspon-
de a uma frequentemente acha-
da na Europa. “Mas isso não é
suficiente para certificar que
procede de frutos do mar impor-
tados”, disse o diretor do CDC,
Wu Zunyou.
No entanto, de acordo com o
órgão, ainda não se sabe se es-
sas novas contaminações foram
causadas por uma transmissão
entre humanos ou por meio de
alimentos. / AFP

Com medo de novo surto, Pequim veta


viagens, isola bairros e proíbe até táxis


Restrição. Guarda em bloqueio do acesso ao mercado de Xinfadi: alimentos podem ter causado novas infecções por covid

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


l Aviso

SANJEEV GUPTA/EFE

Vírus foi achado em


tábua de fatiar salmão


TINGSHU WANG/REUTERS

“Pedimos novamente à
Índia que controle suas
tropas na fronteira. Não
atravessem a fronteira. Não
provoquem problemas”
Zhao Lijian
PORTA-VOZ DO MINISTÉRIO DAS
RELAÇÕES EXTERIORES DA CHINA

● Países têm 3,5 mil km de
fronteira comum

ÁREA EM DISPUTA

FONTE: NYT INFOGRÁFICO/ESTADÃO

CONTROLADOAAD
PELA CHINA

CONTROLADO PELO PAQUISTÃO

CONTROLADO
PELA ÍNDIA

LINHA DE
CONTROLE REAL

ÍNDIA

CHINA

Jammu e
Kashmir

FRONTEIRA INDEFINIDA

0161 km

N

Exército dos dois países


se enfrentaram com paus


e pedras, sem armas de


fogo; baixas só teriam


ocorrido do lado indiano


Confronto na fronteira entre a


China e a Índia deixa 20 mortos


Manifestação. Indianos queimam a foto do presidente da China, Xi Jinping: tensão regional
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