O Estado de São Paulo (2020-06-18)

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B12 Economia QUINTA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Estúdios de animação têm demanda maior com isolamento


Projetos ajudam a suprir


com desenhos em 2D a


ausência de pessoas em


clipes e programas de


canais a cabo na pandemia


Cleide Silva


Após três meses de paralisa-
ção por causa da pandemia
do coronavírus, a Nissan reto-
mará a produção, ainda par-
cial, na fábrica de Resende
(RJ) na próxima quarta-feira.
Além do desafio comum a to-
das as empresas do setor, de
lidar com as perdas decorren-
tes da covid-19 e de um merca-
do em média 40% inferior ao
esperado no início do ano, a
empresa terá de adequar seus
projetos ao plano global
anunciado há poucos dias no
Japão, de produção em plata-
formas (bases) unificadas
com a Renault.

A aliança que reúne também
a Mitsubishi passou por abalos
após a prisão do ex-presidente
do grupo, o franco brasileiro
Carlos Ghosn, por suspeitas de
fraudes financeiras. “A conti-
nuidade da aliança havia sido co-
locada em dúvida mas, com o
novo plano, ela será fortaleci-
da”, afirma Marco Silva, presi-
dente da Nissan do Brasil.
Silva está iniciando traba-
lhos para definir, junto com a
Renault, quais serão os dois pri-
meiros modelos a serem produ-
zidos até 2023 na plataforma


compartilhada no Brasil.
Hoje as duas empresas têm,
por exemplo, quatro diferentes
bases para a produção de seis
modelos (March e Kicks, da Nis-
san, e Sandero, Stepway, Logan
e Captur, da Renault, produzi-
dos no Paraná). Com o compar-
tilhamento, uma única platafor-
ma produzirá sete carros das
duas marcas.
“A sinergia promoverá econo-
mia de custos, ganho de escala,
maior produtividade, eficiência
e redução de tempo de desenvol-
vimento de produtos”, diz Silva,
para quem a estratégia ajudará o
Brasil e a América Latina a atrair
investimentos das matrizes.
Nissan e Renault aguardam
aval das direções globais para
novos planos de investimento
no País e é possível que o anún-
cio ocorra de forma conjunta
em breve. De acordo com a em-
presa, investimentos para pro-
dução de modelos em bases
compartilhadas são em média
40% inferiores aos necessários
em relação à forma atual, em
que cada uma tem suas bases.
Segundo o executivo, toda
vez que se apresenta um novo
projeto, as matrizes levam em
consideração as incertezas eco-
nômicas relativas, por exem-

plo, à instabilidade do País e cus-
tos elevados de produção, itens
que já levaram fabricantes lo-
cais a perderem vários projetos.
“Com melhores condições
de custos e ganhos em produti-
vidade na sinergia, vamos tirar
parte do risco de se colocar di-
nheiro nesses produtos e pode-
remos vender os projetos de for-
ma mais fácil (para as matri-
zes)”, afirma o presidente da
Nissan. “O investimento virá.”

Silva ressalta que já existem
sinergias entre as duas marcas
nas áreas de compra, recursos
humanos, alguns componentes
e isso vai se fortalecer com o
uso das mesmas bases. “Em vez
de 300 mil veículos em quatro
plataformas poderemos fazer
300 mil ou mais em uma só”,
diz. Segundo ele, o ganho de es-
cala se estenderá também aos
fornecedores de peças.

Plano global. As medidas anun-
ciadas no fim de maio pela alian-
ça Renault/Nissan/Mitsubishi
visam reduzir custos e recupe-
rar a lucratividade em todo o
grupo. Só com o desenvolvi-
mento e produção conjunta de
novos utilitários-esportivos
compactos (SUVs), por exem-
plo, a corporação espera econo-
mia de US$ 2,2 bilhões.

No caso da Nissan, o plano in-
clui fechar fábricas na Espanha
e na Indonésia, mas Silva afirma
que não há riscos de movimen-
tos deste tipo no Brasil. “Mes-
mo com a indústria mais baixa,
há capacidade para absorver par-
te da produção das duas fábri-
cas (da Renault e da Nissan).”
“Vamos avaliar o que é me-
lhor, mais eficiente para cada
planta, mas usaremos as duas
para produção e também há pro-
jetos individuais que podem
ocorrer de forma paralela”.
A marca também reduzirá seu
portfólio global de produtos em
20% – de 69 para 55 modelos –, e
promete 12 lançamentos nos
próximos 18 meses. Até 2024
pretende ter 80% de sua produ-
ção compartilhada com Renault
e Mitsubishi. No Brasil, a unifica-
ção será só com a Renault.

Bombril pede


desculpas por


‘Krespinha’


Letícia Ginak


Assim como a indústria de ga-
mes, o segmento de animação
também passa pela pandemia
sem grandes crises e com novas
oportunidades no mercado.
Com a paralisação de alguns seg-
mentos do setor de economia
criativa, novas demandas come-
çaram a surgir para os estúdios,


como a elaboração de videocli-
pes. As empresas também rela-
tam que os projetos que esta-
vam em andamento antes do
isolamento social não foram in-
terrompidos, proporcionando
a contratação de profissionais.
De acordo com a empresa in-
ternacional de pesquisa do se-
tor Digital Vector, a maioria dos
segmentos da indústria de ani-
mação cresce a uma taxa de 2%
a 3% ao ano no mundo. O tama-
nho do mercado de streaming
de conteúdo de animação e efei-
tos visuais foi de US$ 3,5 bilhões
em 2019 e está crescendo a uma
taxa anual de 8%.
Com a estreia recente da
série Any Malu no canal Car-
toon, Marcelo Pereira, sócio-
fundador do Combo Estúdio,
do Rio de Janeiro, confirma que
a pandemia não abalou a dinâ-

mica da empresa. “Até contrata-
mos mais gente, porque o volu-
me de trabalho era muito gran-
de, inclusive com o surgimento
de outras oportunidades nesse
período. Fizemos um videocli-
pe animado que não seria feito
em animação se não tivesse
ocorrido o isolamento social.”
Nos últimos dois meses, a em-
presa contratou 30 funcioná-
rios, em regime de contrato que
dura o período do projeto, mui-
to comum no setor. O empresá-
rio ainda afirma que um curso
online de animação 2D ofereci-
do pelo estúdio teve aumento
de 100% nas vendas durante o
período de isolamento social.
Rodrigo Olaio, produtor exe-
cutivo do estúdio Chatrone,
com sede nos Estados Unidos e
em São Paulo, diz que, enquan-
to as produções em live action

da empresa foram paralisadas,
as animações cresceram. “Os
projetos que estavam em produ-
ção não pararam. Os executivos
que antes dividiam a atenção
em vários projetos até acelera-
ram o passo em algumas aprova-
ções, (a pandemia) deu até um

empurrãozinho”, diz. “As plata-
formas e canais fechados preci-
sam colocar conteúdo no ar e o
foco se voltou para animação.”
A empresa também está com
vagas abertas para a contrata-
ção de profissionais por proje-
to. O estúdio é o criador da série

animada Menino Maluquinho,
produzida pela Netflix.
Olaio ainda destaca que o
mercado internacional voltou
os olhos para o Brasil, para a ter-
ceirização de etapas de projetos
e contratação de profissionais
nacionais devido às facilidades
do home office. As dificuldades
relatadas no setor, diz ele, são
sobre as dublagens, pois não
são todos os atores que conse-
guem gravar a voz em casa.

Exportação. Com rodadas de
negócio online, até o dia 30 de
junho acontece o Festival Inter-
nacional de Cinema de Anima-
ção de Annecy e International
Animation Film Market (MI-
FA), na França. A delegação bra-
sileira inclui oito estúdios, co-
mo o Combo, que são ampara-
dos pelo Brazilian Content, pro-
grama de exportação do setor.
O programa é tocado pela Brasil
Audiovisual Independente,
BRAVI, e pela Apex-Brasil.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Talita Nascimento

A Bombril chegou ontem aos as-
suntos mais comentados do
Twitter por ter em seu portfólio
a esponja de aço chamada “Kres-
pinha”. O produto, que já con-
tou com a gravura de uma mu-
lher negra em suas propagan-
das, era descrito em sua embala-
gem atual como ideal para “lim-
peza pesada”. Dentre os argu-
mentos dos internautas, que
reuniam ativistas e pessoas co-
muns, estavam a associação pre-
conceituosa do produto ao ca-
belo crespo e aproximação da
figura da mulher negra ao traba-
lho doméstico pesado.
Após a hashtag #BombrilRa-
cista atingir os trending topics,
a empresa publicou um posicio-
namento em sua conta na rede
social. Na nota, a companhia pe-
diu “sinceras desculpas” e disse
que decidiu retirar a marca do
portfólio. Segundo a Bombril,
não houve relançamento ou re-
posicionamento recente para es-
te item. “Diferentemente do
que foi divulgado nas redes so-
ciais e mídia em geral, não se tra-
tava de lançamento ou reposi-
cionamento de produto. A mar-
ca estava no portfólio há quase
70 anos, sem nenhuma publici-
dade nos últimos anos, fato que
não diminui nossa responsabili-
dade”, disse a companhia.

l Retorno
A reabertura da fábrica da Nis-
san em Resende deve ser feita
com apenas um turno. Parte dos
funcionários está com contratos
suspensos ou jornada reduzida.
Lançamentos deste ano da em-
presa foram postergados. Protesto. Na web, Bombril
foi acusada de racismo

ALI PRODUCOES/PEDRO GOMES-23/10/2019

Para Nissan,


plano global


facilitará


investimento


Plataforma com Renault ajudará a compensar


riscos de fazer aportes no País, diz presidente


Aliança. Sinergia com vai reduzir custos e melhorar produtividade, afirma Marco Silva

COMBO ESTÚDIO

Combo.
Personagem
Any Malu, no
ar no canal
Cartoon

REPRODUÇÃO
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