O Estado de São Paulo (2020-06-18)

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A10 Metrópole QUINTA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


País tem mais 1.


óbitos; SP registra


recorde pelo 2º dia


Com dados de ontem, total de mortos é de 46.665 e de infectados,


de 960.309, conforme o levantamento do consórcio da imprensa


Guilherme Bianchini


A Organização Mundial da Saú-
de (OMS) suspendeu em defini-
tivo os testes com a hidroxiclo-
roquina no ensaio clínico glo-
bal Solidariedade, pois o remé-
dio não apresentou benefícios
contra a covid-19. A entidade
anunciou a decisão ontem com
base nos dados de pacientes
que utilizaram a droga. O Solida-
riedade pesquisa a eficácia e a
segurança de possíveis trata-
mentos para a covid-19, com vo-


luntários em dezenas de países.
“As evidências dos ensaios su-
gerem que a hidroxicloroquina,
quando comparada com o pa-
drão de tratamento em pacien-
tes hospitalizados, não reduz a
mortalidade. Com base nessa
análise e nas revisões publica-
das, chegamos à conclusão de
interromper os estudos rando-
mizados com hidroxicloroqui-
na no Solidariedade”, explicou
Ana Maria Henao-Restrepo,
chefe do departamento de pes-
quisa de vacinas da OMS.
A entidade selou a decisão em
reunião ontem entre o Comitê
Executivo da OMS, o Comitê de
Segurança e Monitoramento de
Dados do Solidariedade e os
principais pesquisadores do
projeto. O grupo fez uma revi-
são sistemática das informa-

ções sobre a hidroxicloroquina
para observar o nível de segu-
rança nos pacientes tratados
com a droga.
O órgão também considerou
os dados publicados por pesqui-
sadores do Reino Unido em ou-
tro ensaio clínico, o Recovery
(Recuperação). Os britânicos
suspenderam os testes com a hi-
droxicloroquina em 5 de junho,
sob a justificativa de o remédio
não apresentar “efeitos benéfi-
cos” para pacientes hospitaliza-
dos com a covid-19.
“A decisão é um resultado
dos ensaios, e não se aplica ao
uso ou à avaliação da hidroxiclo-
roquina como prevenção para
covid-19. Essa é uma situação
com um foco diferente no Soli-
dariedade”, esclareceu Ana Ma-

ria Henao-Restrepo.
A hidroxicloroquina foi moti-
vo de reviravoltas na OMS nas
últimas semanas. Após suspen-
der temporariamente, em 25 de
maio, o uso da droga no Solida-
riedade, a entidade retomou os
testes com o medicamento em
3 de junho. A confusão se deu
em razão de um estudo publica-
do no periódico científico The
Lancet , que indicava um aumen-
to do risco de morte em infecta-
dos que tomaram o remédio. O
estudo, porém, se mostrou con-
troverso, o que forçou a revista
a retirar o conteúdo do ar.

Sem evidências. No Brasil, o
uso da cloroquina e da hidroxi-
cloroquina é defendido por Jair
Bolsonaro. Por pressão do presi-
dente, o Ministério da Saúde li-
berou o remédio para todos os
pacientes da covid-19. “É o que
tem. Ou você toma a cloroquina
ou não tem nada”, justificou
Bolsonaro. Nesta semana, o Mi-
nistério da Saúde ampliou a re-
comendação de uso da cloroqui-
na para gestantes e crianças,
mesmo sem qualquer evidência
científica de eficácia da droga.

PM é acionada após


deputado tentar


invadir hospital na BA


O Brasil se aproxima cada vez
mais da marca de 1 milhão de
pessoas contaminadas pelo
coronavírus. Ontem, o País
registrou 1.209 mortes e
31.475 novas infecções em 24
horas. Com isso, o total de
óbitos é de 46.665 e o de con-
taminações, de 960.309, con-
forme o levantamento do con-
sórcio formado por
Estadão,
G1, O Globo, Extra, Folha e
UOL com as secretarias esta-
duais de Saúde. São Paulo
continua à frente e registrou
recorde de óbitos pelo segun-
do dia consecutivo.

Em números absolutos, o Bra-
sil é, desde o dia 12, o segundo
país no mundo com mais mor-
tes por covid-19, atrás apenas
dos Estados Unidos, com 117,
mil óbitos, de acordo com os nú-
meros da Universidade Johns
Hopkins atualizados até 20 ho-
ras desta quarta-feira. Em ter-
mos de infecção, o Brasil tam-
bém está em segundo lugar.
O balanço de óbitos e casos
resulta da parceria inédita en-
tre jornalistas dos seis meios de


comunicação, uma resposta à
decisão do governo Jair Bolso-
naro de restringir o acesso a da-
dos sobre a pandemia. Mesmo
com o recuo do Ministério da
Saúde, que voltou a divulgar o
consolidado de casos e mortes,
o consórcio dos veículos de im-
prensa continua.
Ontem, pelo segundo dia con-
secutivo, o Estado de São Paulo
voltou a ter recorde de mortes
em 24 horas. Foram mais 389,
totalizando 11.521 vítimas.
Quanto ao número de infec-
ções, foram 1.232 novos regis-
tros, elevando o número para
191.517. Projeções feitas pelo go-
verno nesta semana indicam
que o Estado pode ter até 18 mil
mortes e até 290 mil casos da
doença até o fim de junho. “O
número que temos hoje está
dentro desse cenário ( de até 18
mil mortos ). Toda vida conta,
mas a boa notícia é que nossa
taxa de letalidade está cami-
nhando para estabilização”, dis-
se a secretária de Desenvolvi-
mento Econômico, Patrícia El-
len, uma das gestoras à frente

do Plano São Paulo, o programa
do governo paulista que vem au-
torizando a retomada de ativi-
dades econômicas em diversas
regiões em meio à pandemia.
“Nosso número de óbitos está
no intervalo inferior das nossas
projeções, que já foram revisa-
das para baixo”, afirmou.
Segundo Patrícia, o número
de novos casos confirmados es-
tá em alta, diferentemente do
número de mortos, por causa
do aumento das testagens no

Estado, explicação que vem sen-
do reafirmada desde a semana
passada por ela e outros mem-
bros do governo. A taxa de ocu-
pação de leitos de UTI na Gran-
de São Paulo é de 70,6%%. No
Estado, esse índice está em
77,1%. Ainda segundo a Secreta-
ria Estadual da Saúde, o Estado
tem 5.257 pacientes internados
em UTI e 8.423 em enfermaria,
entre confirmados e suspeitos.
Havia expectativa de que o Es-
tado divulgasse a revisão sema-
nal e a eventual reclassificação
das cidades paulistas dentro
dos critérios do Plano São Pau-
lo (que qualificam uma região
em cores para autorizar ou não
a retomada de atividades econô-
micas). Isso não ocorreu. De
acordo com Patrícia, os anún-
cios agora serão feitos às sex-
tas-feiras e as novas regras pas-
sarão a valer na segunda-feira
seguinte.

OMS. Nesta quarta-feira, a Or-
ganização Mundial da Saúde
(OMS) afirmou que a pande-
mia do novo coronavírus apre-
senta sinais de estabilização no
Brasil, mas reforçou a necessi-
dade de manter todas as precau-
ções para evitar um novo cresci-
mento da covid-19. O diretor do
programa de emergências da en-
tidade, Michael Ryan, ressaltou
que o quadro da doença “ainda
é muito severo” no País. “O cres-
cimento não é tão exponencial
quanto antes, há sinais de esta-
bilização. Mas já vimos isso
acontecendo em outros países.
Eles registraram uma estabiliza-
ção por alguns dias, e depois a
doença decolou de novo. O mo-
mento é de extremo cuidado no
Brasil”, alertou Ryan. / ÉRIKA
MOTODA, PALOMA COTES, BRUNO
RIBEIRO, MARINA ARAGÃO e
GUILHERME BIANCHINI

Érika Motoda

Apontada por pesquisadores da
Universidade de Oxford como
promissora no tratamento de
pacientes com quadro grave da
covid-19, a dexametasona só de-
ve ser utilizada com prescrição
médica, afirmam a Agência Na-
cional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) e o Conselho Federal
de Farmácia (CFF). O medica-
mento é um forte anti-inflama-
tório e imunossupressor usado
em doenças reumatológicas e
alérgicas.
“Os resultados positivos ob-
servados referem-se apenas a
pacientes graves e sob suporte
respiratório, não havendo bene-
fício aparente entre aqueles pa-
cientes leves e moderados de co-
vid-19”, escreveu o CFF sobre o
estudo batizado de Recovery,
que ainda não foi publicado em
nenhuma revista científica.
A Anvisa lembrou que para in-

cluir a eficiência contra o coro-
navírus na bula da dexametaso-
na é preciso que haja a compro-
vação por meio de estudos de-
senvolvidos pelos laboratórios
farmacêuticos. “Há um estudo
aprovado e em desenvolvimen-
to no Brasil para o uso de dexa-
metasona no tratamento de co-
vid-19. O tempo para o desen-
volvimento destes estudos de-
pende do patrocinador da pes-
quisa e das instituições envolvi-
das”, informou em nota.
O diretor do programa de
emergências da Organização
Mundial da Saúde, Michael
Ryan, ressaltou que o remédio
só deve ser utilizado “sob super-
visão médica rigorosa”, em pa-
cientes graves. Ele alertou que a
dexametasona não serve para
prevenir a covid-19. “Não é uma
prevenção contra o vírus, já que
corticoides mais fortes podem
facilitar a replicação viral no cor-
po humano.”

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


l Efeito nulo

OMS suspende em


definitivo testes com


hidroxicloroquina


Fernanda Santana / SALVADOR
ESPECIAL PARA O ESTADO

O deputado estadual Capitão
Alden (PSL) tentou invadir, na
manhã de ontem, leitos do Hos-
pital Riverside, em Lauro de
Freitas, na região metropolita-
na de Salvador, onde estão inter-
nados pacientes com a covid-


  1. O caso foi denunciado pela
    Secretaria de Saúde da Bahia. O
    parlamentar confirmou a “visi-
    ta surpresa”, disse que tinha in-
    tenção de vistoriar a unidade e
    afirmou que fará o mesmo em
    outros dez hospitais. Ele nega
    ter invadido o espaço.
    O parlamentar chegou ao hos-
    pital acompanhado de seguran-
    ça e cinegrafista. Na entrada,
    funcionários impediram que
    ele fosse até os leitos. O seguran-
    ça do parlamentar posicionou-
    se na porta de um dos quartos,
    onde estava uma paciente nua,
    enquanto tomava banho, segun-
    do a Secretaria. A Polícia Mili-
    tar foi acionada, após o deputa-
    do ameaçar dar voz de prisão a
    profissionais do hospital, e fez
    boletim de ocorrência.


Capitão Alden é aliado do pre-
sidente Jair Bolsonaro que, no
dia 11 de junho, incentivou a po-
pulação a entrar em hospitais
para fiscalizar leitos. O deputa-
do nega ter inspiração em Bolso-
naro e disse ao Estadão que a
“visita foi comunicada”. “Não
tenho de pedir autorização para
entrar. Comuniquei minha ida
em abril, depois em maio, e em
junho. Não preciso solicitar visi-
ta. Meu papel é fiscalizar. Não
acho que o cidadão que tem de
fazer isso, mas eu tenho.”
Por meio de nota, o PSL infor-
mou que a executiva estadual
do partido não apoia ações de
invasão a hospitais e que a fisca-
lização ostensiva diretamente
em locais públicos cabe a Minis-
tério Público, Tribunal de Con-
tas e polícias.

Outros casos. Na sexta-feira
passada, seis parlamentares en-
traram no Hospital Estadual
Dório Silva, na Serra (ES), refe-
rência no tratamento da covid-


  1. No dia 5, um grupo de cinco
    deputados estaduais de São Pau-
    lo invadiu o Hospital de Campa-
    nha do Anhembi, na zona norte,
    sob o argumento de fazer uma
    vistoria. O procurador-geral da
    República, Augusto Aras, pediu
    que Ministérios Públicos Esta-
    duais investiguem casos de inva-
    sões a hospitais e ofensas a pro-
    fissionais de saúde.


l Números do governo

Dexametasona só deve ser


utilizada com aval médico


Brasil pode produzir respirador da Nasa. Pág. A11 }


Remédio não apresentou


benefícios contra a


covid-19, segundo a


entidade; ensaio pesquisa
eficácia de tratamentos


“A hidroxicloroquina,
quando comparada com o
padrão de tratamento em
pacientes hospitalizados,
não reduz a mortalidade.”
Ana Maria Henao-Restrepo
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

Parlamentar do PSL foi à
unidade para covid com
segurança e cinegrafista e
ameaçou dar voz de
prisão aos profissionais

ALTEMAR ALCANTARA.-SEMCOM

955.
casos confirmados de covid fo-
ram registrados oficialmente até
agora pelo Ministério da Saúde,
conforme o boletim de ontem.

46.
pessoas morreram, pelos regis-
tros governamentais, que desta-
cam também o número de recu-
perados: 463.474.

Amazonas. Com queda no número de casos, sepultamentos voltam a ser feitos em covas individuais em Manaus; para OMS, há certa estabilização, mas momento ainda inspira cuidados

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