O Estado de São Paulo (2020-06-18)

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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2020 Metrópole A


SÃO PAULO
‘Estadão’ encampa iniciativa
de dar flores a médicos

Por enxergar a batalha diária
das equipes de Saúde neste
momento de pandemia, o Es-
tadão
encampa agora a ação
#FloresParaHerois, em parce-
ria com a florista Luly Vidigal
e a jornalista Margot Pavan,
que coordenam o projeto, que
tem início nesta quinta-feira.
A iniciativa é apoiada pela
campanha #AbracoNaSaude,
lançada pelo Estadão em
abril para reunir mensagens
de apoio para esses profissio-
nais. Só no Twitter, a ação


multiplataforma reúne mais
de 4 mil mensagens, fotos e
vídeos enviados por amigos,
familiares e até mesmo profis-
sionais da área. Nesta primei-
ra ação, do #FloresParaHe-
rois, os trabalhadores do Insti-
tuto de Infectologia Emílio
Ribas receberão flores, gesto
que mostra o agradecimento
da população pelo trabalho
que eles têm realizado. As
1.700 flores serão distribuídas
pelo Comitê de Humanização
do Hospital ao fim do plantão
na saída do prédio hospitalar,
às 19 horas desta quinta e às 7
horas de amanhã.

BRASÍLIA
STF veta liberar agrotóxico
sem conclusão de estudo
O plenário do Supremo Tribu-
nal Federal (STF) referendou
ontem liminar do ministro Ri-
cardo Lewandowski, de abril
deste ano, que na prática im-
pedia a autorização do uso de
agroquímicos antes da conclu-
são de estudos sobre possíveis
malefícios à saúde humana e
animal. O julgamento no ple-
nário virtual da corte, que co-
meçou na sexta-feira passada,
terminou com nove votos fa-
voráveis à liminar do ministro
Lewandowski.

@MaisBrasil


CURIOSOS E


SAUDOSISTAS NO


CINE DRIVE-IN


Belas Artes exibiu ‘Apocalipse Now’, no Memorial


da América Latina, para assistir dentro dos carros


Gilberto Amendola

Q


uem poderia imagi-
nar que um dos efei-
tos colaterais da co-
vid-19 seria a volta do
drive-in? Aquilo que só exis-
tia na fantasia dos cinéfilos
mais saudosistas ou na me-
mória dos mais antigos renas-
ceu como opção para esses
tempos de isolamento. Ago-
ra, é cada um no seu quadra-
do. Ou melhor, cada um no
escurinho do próprio carro.
Ontem ocorreu a primeira
sessão oficial (aberta ao pú-
blico) do projeto Belas Artes
Drive-in, uma parceria entre
o Petra Belas Artes e o Memo-
rial da América Latina, com
apoio da Secretaria de Cultu-
ra e Economia Criativa do Es-
tado de São Paulo. O espaço

destinado à exibição dos filmes
é o Memorial da América Lati-
na, na Barra Funda.
O filme escolhido para a ses-
são de estreia parece uma refe-
rência aos nossos dias pandêmi-
cos, o Apocalipse Now. Claro,
não se trata de documentário fil-
mado no Brasil dos últimos me-
ses, mas do clássico dirigido por
Francis Ford Coppola, em 1979,
sobre a guerra do Vietnã.
Como nada é mais como a
gente imagina, minha experiên-
cia com drive-in não foi como o
próprio cinema me fez imagi-
nar. Ao invés de um encontro
romântico, tive a companhia do
bravo piloto Paulo Rafael Gue-
des, motorista do Estadão.
Para assistir às sessões, os in-
gressos precisam ser compra-
dos com antecedência, pelo site
cinebelasartes.com.br e cus-

tam R$ 65 (valem para até 4 pes-
soas – o máximo permitido den-
tro de cada carro).
Chegamos ao portão 2 do Me-
morial da América Latina às 18
horas, uma hora antes da ses-
são. Outros quatro veículos já
estavam aguardando. Para nos-
sa surpresa, o primeiro carro
não era de um cinéfilo desespe-
rado. “Sou Uber. Estacionei
aqui para esperar uma corrida.

Agora que eu vi que formou
uma fila atrás de mim. O que
é?”, indagou Marcos Abel Soa-
res, de 67 anos. Ao menos na fila
de espera (já que no interior do
Memorial seria proibido sair do
carro para fazer entrevistas), o
público parecia variado – de jo-
vens que nunca tiveram essa ex-
periência às pessoas que que-
riam reviver o cinema drive-in.
“Tive muita curiosidade. Que-

ria saber como era essa coisa do
cinema no carro”, falou a desig-
ner Yarbi Oliveira, 21 anos. “Eu
já fui a um drive-in. E isso foi há
muito tempo. Lembro que a
gente não ia muito pelo filme,
mas muito mais pela diversão”,
contou a professora Maria Elisa
Curti, de 67 anos.

Distância. Ao entrar no Memo-
rial, uma equipe indica o local
em que o carro deve ser estacio-
nado. A distância entre os veícu-
los é de 2 metros. Carros maio-
res são estacionados nas late-
rais para não prejudicar a visão
de quem está atrás, com veícu-
los mais baixos. A lotação máxi-
ma é de cem carros por sessão.
O áudio do filme vem por
meio de uma estação de rádio –
basta sintonizar na frequência
107, 5 FM. O som do filme den-
tro do carro é perfeito. E ouvir a

frase clássica de Apocalipse
Now direto do rádio do carro
é um barato: “I love the smell
of napalm in the morning
(Eu adoro o cheiro de napalm
pela manhã) ”.
O carro da reportagem fi-
cou na última fileira. É possí-
vel enxergar a tela e ler as le-
gendas, mas a distância can-
sou um pouco a visão deste
repórter (que tem 5.5 de mio-
pia). O mais confortável se-
ria se posicionar perto da te-
la, que tem 15 metros de largu-
ra por 9,5 metros de compri-
mento.
Dentro do espaço do Me-
morial da América Latina é
obrigatório o uso de másca-
ras. Nos carros, o uso é reco-
mendável. E qualquer emer-
gência deve ser comunicada
acionando o pisca-alerta. Pa-
ra ir ao banheiro, você deve
ligar o pisca-alerta e esperar
um funcionário se dirigir até
o carro. É ele quem vai te en-
caminhar ao banheiro – que
só pode ser ocupado por uma
pessoa de cada vez.
As sessões de junho já es-
tão esgotadas, mas ingressos
para julho continuam à dispo-
sição. Entre os filmes em car-
taz estão Cinema Paradiso,
2001 – Uma Odisseia no Espa-
ço e Pulp Fiction.

Beatriz Bulla/ CORRESPONDENTE
WASHINGTON


Para responder a uma das
maiores demandas surgidas
na pandemia de coronavírus,
engenheiros do Laboratório
de Propulsão a Jato da Nasa –
JPL, em inglês – desenvolve-
ram um respirador mecânico
de alta pressão específico pa-
ra tratamento de pacientes
da covid-19. A ideia foi criar
um projeto mais simples de
ser produzido do que um res-
pirador mecânico tradicio-
nal, que pudesse ser reprodu-
zido em todo o mundo.

Depois da aprovação do pro-
tótipo feito pelo JPL, que fica
na Califórnia, na agência ameri-
cana reguladora de drogas e ali-
mentos (FDA), a Nasa passou a
conceder patentes e licenças a
empresas americanas e estran-
geiras com capacidade de pro-
duzir o equipamento, que pode
agora começar a ser fabricado
no Brasil.
Quando soube do projeto de-
senvolvido pela Nasa, Rubens
Calbucoy, diretor comercial da
Russer, empresa especializada
em urologia que fica em Indaia-
tuba, interior de São Paulo,
achou que seria a oportunidade
perfeita. Desde o início da pan-
demia, ele, filho do fundador da
empresa, queria ajudar na pro-
dução de equipamentos que pu-
dessem tratar infectados. “Tí-
nhamos a capacidade para fabri-
car um respirador, mas não tí-
nhamos o know-how.”
A Russer foi uma das três insti-
tuições brasileiras autorizadas
a desenvolver o equipamento
no País. No total, 331 compa-
nhias de 42 países se inscreve-
ram no processo do JPL. Inicial-
mente, 30 instituições brasilei-
ras se mostraram interessadas.
Das cerca de 100 propostas for-


malmente enviadas, a Nasa con-
cedeu licenças a oito empresas
americanas e 24 estrangeiras.
O respirador, criado em 37
dias pelos engenheiros do labo-
ratório da Nasa, recebeu o no-
me Vital, abreviação em inglês
para Tecnologia de Interven-
ção do Respirador Acessível Lo-
calmente. A máquina é usada co-
mo os respiradores comuns,
em que o paciente precisa ser
sedado para que o tubo de oxigê-
nio seja inserido e o ajude a res-
pirar. A diferença é que o Vital é

específico para tratamento de
covid-19. Isto faz com que o apa-
relho não tenha tantas funcio-
nalidades, mas seja construído
de forma mais simples e rápida.
O equipamento usa, segundo
o laboratório da Nasa, 1/7 do nú-
mero de partes de um respira-
dor tradicional, sendo todos
componentes já disponíveis
nas cadeias de suprimentos. A
ideia é liberar os respiradores
tradicionais para os piores ca-
sos da covid-19.
Há uma preocupação dos en-

genheiros também para que as
peças usadas não sejam as mes-
mas de um respirador comum –
o que evita escassez na produ-
ção dos respiradores tradicio-
nais. A duração do respirador é
de cerca de três a quatro meses,
enquanto os respiradores tradi-
cionais podem durar anos.
“Na hora que soubemos que
fomos selecionados para produ-
zir no Brasil, foi muito emocio-
nante”, afirma Calbucoy, da
Russer. O brasileiro Luis Philli-
pe Tosi foi um dos responsáveis

no laboratório da Nasa pelas
avaliações dos projetos de em-
presas do Brasil. “O propósito
deste projeto e a mensagem que
queremos passar é que preten-
demos dar acesso a esse respira-
dor ao mundo inteiro”, afirma
Tosi. “Consideramos como di-
ferencial na seleção a experiên-
cia técnica de desenvolvimento
de produtos médicos e a expe-
riência prévia com a Anvisa.”
As empresas selecionadas re-
ceberam o pacote de desenhos
e projetos para desenvolver o

produto, software e a documen-
tação e aprovação do projeto na
FDA. A parceria não acaba aí. O
JPL quer saber o retorno das em-
presas, as dificuldades e suges-
tões de aprimoramento.

Apoio. Para atingir a meta so-
nhada de produção de 1 mil res-
piradores por mês, Calbucoy
ainda precisa de parceiros. “So-
zinhos não vamos conseguir",
afirma. Com cem funcionários,
a Russer quer fazer parcerias
com montadoras de carros e au-
topeças para conseguir produ-
ção em grande escala. As empre-
sas contatadas se mostraram
entusiasmadas, mas disseram,
segundo ele, que preferem
aguardar até que todos os com-
ponentes para produção este-
jam disponíveis.
“Algumas empresas ficaram
um pouco assustadas depois
que entraram no mundo dos res-
piradores, foi mais complicado
do que esperavam”, afirma o di-
retor da Russer, que acredita
que conseguirá todos os compo-
nentes – pouco mais de cem –
em breve e deve ter um protóti-
po pronto em duas semanas. Se-
gundo a Russer, a maior parte
das peças é encontrada no mer-
cado nacional. Até agora, ele
conseguiu uma parceria com a
Fundação Indaiatubana de Edu-
cação e Cultura (Fiec) que dá
suporte com professores e espe-
cialistas que têm ajudado no
projeto.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


l Novidade

l Sonho

Empresa em Indaiatuba foi selecionada para reproduzir tecnologia desenvolvida nos EUA; agora, busca parcerias com montadoras


DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

“Acho um jeito seguro para
quem até agora fez tudo
direitinho e ficou em casa
confinado. Uma ótima
novidade para quem
sente falta de cinema
com telão.”
Victoria Alves
PRODUTORA DE CINEMA, DE 24 ANOS

Experiência. Veículos enfileirados para curtir o cinema

Efeitos da pandemia

NASA/JPL-Caltech

Brasil pode produzir respirador da Nasa


“Na hora que soubemos que
fomos selecionados para
produzir (os respiradores)
no Brasil, foi muito
emocionante.”
Rubens Calbucoy
DIRETOR COMERCIAL DA RUSSER

Acesso. Protótipo criado pela Nasa usa menos componentes do que um respirador tradicional, o que o torna mais barato
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