O Estado de São Paulo (2020-06-18)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-3:20200618:
O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2020 Economia B


Isaac de Oliveira


Com a Selic em 2,25%, o investi-
dor deve considerar seu perfil de
risco e priorizar a diversificação
de sua carteira, segundo especia-
listas ouvidos pelo E-investidor.
A economista da Toro Investi-
mentos Paloma Brum diz que o
investidor conservador não tem
como sair da renda fixa. Mas di-


versificar a carteira entre as ta-
xas de juros aumenta as chances
de rentabilidade. Ela sugere que
cerca de 60% dos recursos, nes-
te perfil, devem ser aplicados
em papéis atrelados à Selic ou
ao CDI. “A taxa de juros não de-
ve se manter tão baixa por muito
tempo. Não que vá crescer de for-
ma muito expressiva. Mas ten-
de, a partir do ano que vem, a

retomar uma trajetória de alta.”
Para diversificar, Paloma indi-
ca que 15% do capital restante se-
ja investido em papéis ligados à
inflação, como títulos de IPCA+,
que podem pagar retorno positi-
vo se tiverem vencimento entre
um e três anos. Os 25% que so-
bram podem ser posicionados
em títulos pré-fixados.
Pessoas de perfil moderado e

arrojado podem se expor à renda
variável em busca de rentabilida-
de maior. Contudo, é importan-
te que esses perfis de investido-
res também mantenham um por-
centual em renda fixa na cartei-
ra. O ideal, segundo especialis-
tas, é manter 70% dos recursos
na renda fixa, no caso de modera-
dos, e 40% no caso dos arrojados.
Para pessoas com mais capi-

tal disponível, uma opção é in-
vestir uma parte do recurso em
ações e outra parte em fundos
de ações, como fundos multi-
mercado.
As ações continuam sendo
boa alternativa para perfis de ris-
co mais elevado. O CEO da Plan-
ner Corretora, Alan Gandel-
man, afirma que um “espelho”
para os investidores brasileiros

é olhar o que aconteceu com
ações de alguns setores que dis-
pararam nos EUA. “Foi o caso
dos papéis ligados ao setor de
turismo, aviação e consumo,
que são os que mais sofreram
em todo este confinamento e fe-
chamento (da economia)”, diz.
“No Brasil, os shoppings e lojas
estão abrindo. Com a reabertu-
ra desses comércios, mercados
de trabalho e escritórios, a gen-
te vai ter aumento de valor das
ações que foram as grandes afe-
tadas nessa queda toda.”

ENTREVISTA


Renato Jakitas


Ex-presidente do Fundo Garan-
tidor de Créditos (FGC), o hoje
sócio da Kairós Capital Andre
Loes acredita que o Banco Cen-
tral chegou ontem ao fim do
atual ciclo de redução da taxa
básica de juros (Selic). Segundo
ele, o corte de 0,75 ponto por-
centual foi certeiro, mas, para
evitar riscos de instabilidade fi-
nanceira, sobretudo na cotação
do dólar, quedas adicionais
“vão depender de uma combina-
ção bem mais específica”.
“Aposto (em uma taxa básica
de juros) nos atuais 2,25% por
pelo menos um ano”, diz ele. A


seguir, os principais trechos da
entrevista ao Estadão.

lComo o sr. avalia esse novo
corte da Selic?
Achei compatível com uma in-
flação que vai permanecer abai-
xo da meta em 2020 e em 2021,
ainda que no ano que vem vai
ter uma ascensão gradual.

lHoje, quais as suas projeções
para a inflação?
Projetamos 1% de inflação pa-
ra 2020, abaixo do que está no
relatório Focus, do Banco Cen-
tral, e 2,7% para 2021. E, por
conta disso, minha visão é que,
dentro do mandato do Banco
Central, tinha espaço para fa-
zer um corte maior nos juros,
como o feito agora.

lNeste momento, o BC chegou
no fim do ciclo de flexibilização
ou ainda tem espaço para novas
quedas?

Quedas adicionais vão depen-
der de uma combinação de si-
tuações bem mais específicas.
Primeiro, os juros estão agora
em um grau de estímulo bas-
tante grande, mesmo com um
hiato de produto que vai per-
manecer aberto ainda por mui-
to tempo. Eu espero também
que o Banco Central comuni-
que na semana que vem que
ele vai ficar com a taxa baixa
por um período relativamente
longo. Mas, mesmo que ele
não comunique, eu acho que é
isso mesmo que vai ocorrer,
que vamos ficar com taxas
bem baixas provavelmente por
um ano antes de voltar a subir.

lMas qual a sua aposta de taxa
de juros para o fim do ciclo?
A minha aposta é que fique
nos atuais 2,25% ao ano. Eu
não fecharia a porta, mas deixa-
ria essa porta com uma fresta
não muito grande. Para novos

corte, é preciso estar muito se-
guro de que serão realmente
necessários e de que não há al-
gum risco para o outro manda-
to do Banco Central, que é a es-
tabilidade financeira, com os
mercados funcionando de ma-
neira fluida.

lO sr. vê algum risco de instabili-
dade financeira?
Não há risco, e, por estabilida-
de, falo do mercado de câm-
bio. A minha dúvida é se o BC
der cortes adicionais, se não
poderia haver repercussões no
mercado de câmbio.

lPor falar nisso, o dólar estava
em torno de R$ 5,60 na reunião
de maio. Agora, está em torno de
R$ 5,20. Espera algum impacto
desse novo corte sobre a cotação
da moeda americana?
Não deve ter um impacto mui-
to grande justamente pela ex-
pectativa do mercado, que era
quase unânime em 2,25% ao
ano. Nessas situações, o merca-
do de câmbio já se antecipou e
se acomodou a essa expectati-
va. Ao contrário, se viesse uma
queda de 0,50 ponto. Nesse ca-
so, eu acho que haveria uma
apreciação do câmbio.

lComo a crise política influencia
nessas previsões?
Não influencia. O que influen-
cia é a sustentabilidade das
contas fiscais. Estamos no
meio da pandemia, o movimen-
to tem sido de aumento de gas-
tos, o que é esperado e prova-
velmente acertado. O Brasil
precisa, no entanto, passar pa-
ra o modo austeridade muito
rapidamente, daqui a dois, três
meses, voltar para o modo de
reformas. Tem de delimitar,
de fato, o aumento de gastos
neste ano só para o período de
calamidade. A política só im-
pacta se tiver desdobramentos
sobre a estabilidade fiscal. Mas
não é o caso ainda.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Especialistas indicam diversificar carteira na hora de investir


(^) Este material é produzido pelo Media Lab Estadão com patrocínio da Plataforma Mercado Bitcoin
APRESENTADO POR
Ativos alternativos diversificam portfólio

A ideia de que haverá um
“novo normal” na sociedade, pas-
sada a fase aguda da pandemia da
covid-19, já é uma realidade no
mundo dos investimentos. A per-
manência da Selic, hoje em 2,25%
ao ano, no menor nível da história,
por um bom tempo é dada como
certa e reforçará a migração de re-
cursos de investimentos tradicio-
nais, como caderneta de poupança
e CDB, para ativos de maior risco
e retorno, como bolsa de valores e
fundos multimercados.
Nesse novo ambiente, os cha-
mados investimentos alternati-
vos ganham espaço em um port-
fólio que precisa ser cada vez
mais diversificado. “A educação
financeira é essencial nesse pro-
cesso”, afirma Reinaldo Rabelo,
CEO do Mercado Bitcoin (MB),
plataforma de negociação de
criptomoedas e que vem agre-
gando produtos alternativos,
como tokens de precatórios e de
cotas de consórcio. Desde sua
criação, o MB já movimentou
mais de R$ 12 bilhões.
O MB utilizou de sua experiên-
cia com criptomoedas para “to-
kenizar” os precatórios, que são
dívidas judiciais do Estado, e as
chamadas cotas excluídas de con-
sórcio, que são aquelas originadas
de cotistas que precisaram inter-
romper a participação no grupo.
“Vimos a possibilidade de cons-
truir contratos representados por
token, assim como um criptoativo
pode representar uma tecnologia
banco nos Estados Unidos.
Entre as facilidades de usar
esse ativo estão não precisar ir
a uma casa de câmbio para com-
prar dólar, não pagar uma série
de taxas nem se expor a um fun-
do, com contratos de câmbio.
Mesmo sobre as criptomoe-
das, que têm no Bitcoin seu
principal representante, os
investidores ainda têm muitas
dúvidas relativas a segurança e à
liquidez desses ativos. Reinaldo,
entretanto, reforça que, embora
não seja regulado pela CVM ou
pelo Banco Central, o setor – e
especialmente o MB – adota po-
líticas rígidas de compliance e
aplica mecanismos de combate à
lavagem de dinheiro em todas as
transações que realiza.
A empresa oferece, além do
Bitcoin, outras criptomoedas,
como Bitcoin Cash, Ethereum,
Litecoin, XRP (Ripple) e a no-
vidade, o USDC, incluída em
maio na plataforma.
FUNCIONALIDADES
REUNIDAS

Para facilitar a vida do in-
vestidor, o MB criou também
o Meubank, que reúne todas
as funcionalidades disponíveis
para o cliente. Ele pode com-
prar tokens alternativos e crip-
tomoedas, ver seu saldo conso-
lidado em reais e mesmo pagar
contas no app e fazer transfe-
rências usando suas criptomoe-
das e investimentos.
Criptomoedas, e tokens de precatórios e de consórcios entram no horizonte do investidor que busca retorno em cenário de juro básico em queda
(Bitcoin) ou uma moeda (US$)”,
explica Rabelo, acrescentando
que é uma forma de democratizar
o acesso a este tipo de investimen-
to, hoje disponível para bancos e
grandes investidores. “A tokeni-
zação permite fracionar um preca-
tório de R$ 5 milhões em milhares
de contratos de R$ 100.”
ALTERNATIVAS E
DEMOCRATIZAÇÃO

Para a negociação dos to-
kens, foi criada uma unidade de
negócios, a MB Digital Assets,
que originou até aqui quatro to-
kens de precatório e um de co-
tas excluídas de consórcio, que
seguem o mesmo princípio. Em
agosto de 2019, o MB vendeu,
variável, como ações; e prazo curto
de recebimento, seis meses.
Sobre liquidez dos tokens,
uma preocupação dos investido-
res, Rabelo explica que o lança-
mento do mercado secundário
resolveu a questão e garantiu ao
investidor a liberdade de encerrar
a sua posição sempre que desejar.
Sobre a segurança do investi-
mento, o diretor do MB, Fabricio
Tota, explica que os tokens têm
lastro com o ativo real.
STABLECOIN, UMA
CRIPTOMOEDA COM LASTRO

O USDC é uma stablecoin,
ou seja, um tipo de criptomoeda
com lastro real. Para cada USDC
há um dólar depositado em um
pela primeira vez, frações de pre-
catórios do Estado de São Paulo
ao valor mínimo de R$ 100. O
primeiro lote, de R$ 1,6 milhão,
com vencimento em 2021, aca-
bou em menos de 24 horas. O se-
gundo, de R$ 5 milhões, esgotou
em menos de três dias. O retorno
médio do contrato de precatório
vai de 15% a 22% ao ano.
O outro token da MB, de cotas
de consórcio, chegou ao mercado
neste ano e, dependendo do prazo
de vencimento, tem retorno entre
8% e 9% ao ano. O produto está
em linha com o objetivo da empre-
sa de oferecer alternativas para di-
versificar a carteira de investimen-
to, com um ativo de bom retorno,
comparado à renda fixa tradicional;
baixa volatilidade – diferente do
que ocorre no mercado de renda
INVESTIMENTOS
ALTERNATIVOS
O QUE É BITCOIN
É a maior criptomoeda do
mercado, representando 60%
de todo
o volume movimentado
por essas moedas no mundo.
Tem entre seus fundamentos
liquidez, descentralização e
segurança. Valorizou mais de
100% nos últimos 365 dias.
O QUE É USDC
Diferente das demais, esta
criptomoeda pertence ao grupo
das stablecoin
, ou seja, estão
lastreadas a um ativo real. No caso
da USDC, é o dólar. Para cada
unidade da stablecoin emitida
há um dólar depositado
em uma
conta nos Estados Unidos.
O QUE SÃO TOKENS
A tokenização permite a negociação
de parcelas de ativos reais, com
alto retorno e liquidez, como
precatórios ou cotas de consórcio
excluídas. Registrados de forma
transparente no blockchain,
têm retornos entre 15% e 20%
ao ano, no caso dos tokens
de precatórios.
Novo Refis deve renegociar R$ 56 bi. Pág. B5 }
KAIROS CAPITAL
Loes. Novo corte da Selic pode provocar impacto no câmbio
‘Vejo a Selic a 2,25% por
pelo menos um ano’
Economista afirma que
corte anunciado pelo BC
foi ‘compatível’ com um
cenário de inflação sob
controle em 2020 e 2021
André Loes, ex-presidente do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), atual sócio e economista da Kairós Capital

Free download pdf