O Estado de São Paulo (2020-06-18)

(Antfer) #1

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A4 QUINTA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS
PARTICULARES.
Nelson Teich,
ex-ministro
da Saúde

»Selo. Aliás, a ala mais ra-
dicalizada de parlamentares
apoiadores do presidente
foi apelidada, entre gover-
nistas, de “padrão Sara Win-
ter”. Não como um elogio,
claro. A “ativista” está, in-
clusive, presa.

»Aff. A reaproximação do
Planalto com o PSL, após
Joice Hasselmann (SP) ter
saído da liderança do parti-
do, foi o mais recente gati-
lho para os ataques contra
Ramos. Gerou ciumeira na
ala “fiel” ao presidente: o
governo perdoa os supos-
tos traidores mais rápido
que os correligionários.

»Apertem os cintos... A
refrega Supremo versus
Executivo e a gravidade das
crises política e sanitária
estão evidenciando algo
que os analistas e políticos
mais experientes já tinham
notado: a carência de líde-
res com história, preparo e
envergadura política na
atual legislatura do Con-
gresso Nacional, especial-
mente na Câmara.

»...o Congresso sumiu. A
estratégia “zen” adotada
até aqui por Rodrigo Maia
não tem ajudado em nada
para mudar essa percepção,
sem contar as dificuldades
impostas pelas novas regras
de convívio social na pande-
mia. Porém, é consenso de
que faltam Gabeiras, Ulys-
ses, Simons, Miros, etc.

»Pra cima... A caneca com
o símbolo do Corinthians
exibida por Alexandre de
Moraes na sessão online do
STF foi mais do que uma
caneca com o símbolo do
Corinthians, na interpreta-
ção do mundo jurídico.

»...deles Timão? No con-
texto atual de mobilização
das torcidas dos times de
futebol em defesa da demo-
cracia e contra Jair Bolsona-
ro, foi quase como botar
uma bandeira de partido.

»Amigo... Luiz Henrique
Mandetta participou terça-
feira passada de reunião no
Palácio dos Bandeirantes,
sede do governo paulista,
com o seu ex-braço direito
no Ministério da Saúde, o
médico João Gabbardo.

»...estou aqui. Eles não se
encontravam desde que
Mandetta deixou o cargo
de ministro, em abril. Gab-
bardo passou a compor o
time de João Doria no com-
bate ao novo coronavírus.

»Condão. Bolsonaro tem
se revelado uma fada madri-
nha às avessas: quem o pre-
sidente tenta jogar na lama
da opinião pública costu-
ma, ao contrário, ganhar
mais respeito. Foi assim
com Nelson Teich.

»De olho. Carlos Bolsona-
ro assistiu à posse de Fábio
Faria como ministro das
Comunicações do mezani-
no do Palácio do Planalto.

»Boa iniciativa. O minis-
tro do Supremo e presiden-
te do TSE, Luís Roberto
Barroso, mediará amanhã
live com a escritora Djamila
Ribeiro, a atriz Camila Pi-
tanga e a senadora Simone
Tebet (MDB-MS) para dis-
cutir a necessidade do au-
mento da participação das
mulheres na política.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

N


ão é sempre que Jair Bolsonaro concorda com o
que seus apoiadores mais radicalizados dizem nas
redes sociais. Recentemente, tranquilizou Luiz
Eduardo Ramos, vítima de ataques da militância bolsona-
rista: foi chamado de “comunista”, vejam só. O presidente
aconselhou o ministro da Secretaria de Governo a não dar
trela porque “está seguro no cargo”. A interlocutores, co-
mo demonstração de sua fidelidade ao “amigo” e presi-
dente Bolsonaro, Ramos tem dito que é o “Último Samu-
rai”, numa referência ao filme estrelado por Tom Cruise.

Bolsonaro afaga Ramos


após onda de ataques


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Deputados veem
MEC ‘omisso’ na crise

da covid-19. Pág. A


Relatório


Edson Fachin
Votou pela valida-
de do inquérito,
mas com delimita-
ção de um foco de
apuração e maior
participação do MPF. “Não há
direito no abuso de direito.”

Alexandre de Moraes
Para ministro, in-
quérito se justifi-
ca pois ataques
sob investigação
não têm a ver com
liberdade de expressão. “É ban-
didagem, criminalidade.”

Luís Roberto Barroso
Instauração do in-
quérito, disse, é
“perfeitamente
legítima” para
investigar ataques
“massivos, orquestrados e fi-
nanciados à Corte”.

Luiz Fux
Ao defender prosse-
guimento do in-
quérito, afirmou
que é preciso
“matar no nasce-
douro atos abomináveis” prati-
cados contra o STF.

Rosa Weber
Ministra disse que
inquérito é res-
posta institucio-
nal do STF. “Ata-
ques contra o Judi-
ciário e seus membros, em seu
extremo, configuram crimes.”

Cármen Lúcia
“Liberdade rima
com responsabili-
dade, não com
impunidade de
atos criminosos”,
afirmou a ministra ao negar a
ação que questiona o inquérito.

Ricardo Lewandowski
Ministro, também
favorável à valida-
de do inquérito,
alegou que Corte
deve zelar, com
responsabilidade, pela seguran-
ça de seus integrantes.

Gilmar Mendes
Ministro argumen-
tou, a favor do
inquérito, que “o
uso orquestrado
de robôs para di-
vulgar ataques ao STF passa
longe da mera crítica”.

Maioria do STF dá aval


a inquérito das fake news


Judiciário. Oito ministros da Corte se posicionam a favor da continuidade da investigação;


em seus votos, dizem que liberdade de expressão não pode justificar discursos de ódio


Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA
Pepita Ortega

Oito dos 11 ministros do Supre-
mo Tribunal Federal (STF) já
votaram a favor da continuida-
de das investigações do in-
quérito que apura ameaças,
ofensas e fake news dispara-
das contra integrantes da Cor-
te e seus familiares. A sessão
de ontem foi marcada por
uma enfática defesa institucio-
nal do papel do Supremo na de-
mocracia. Em seus votos, os
ministros argumentaram que
a liberdade de expressão não
deve abrir espaço para discur-
sos de ódio e ataques a institui-
ções, o que alguns represen-
tantes do STF classificaram
como “bandidagem”.
Ontem, o tribunal retomou o
julgamento de uma ação do par-
tido Rede Sustentabilidade que
questiona a legalidade do proce-
dimento instaurado em março
do ano passado por decisão do
próprio presidente da Corte,
Dias Toffoli. A maioria do cole-
giado deu aval ao inquérito.
A apuração já fechou o cerco
contra o chamado “gabinete do
ódio”, grupo de assessores do
Palácio do Planalto comandado
pelo vereador Carlos Bolsona-
ro (Republicanos-RJ), filho do
presidente Jair Bolsonaro. A
existência do gabinete do ódio
foi revelada pelo Estadão em
setembro do ano passado.
O julgamento da validade do
inquérito das fake news avan-
çou um dia depois de o ministro
Alexandre de Moraes autorizar
a quebra de sigilo bancário de
dez deputados e um senador
bolsonaristas em outra investi-
gação que tramita no Supremo


  • sobre atos antidemocráticos.
    Após a medida, no fim da noite
    de anteontem e ontem, o presi-
    dente mandou recados à Corte
    e chamou as quebras de sigilo
    de “abuso”, prometendo tomar
    “medidas legais” para “prote-
    ger a Constituição e a liberdade
    dos brasileiros” (mais informa-
    ções na pág. A6)
    .
    O julgamento sobre a legalida-
    de do inquérito das fake news
    deve ser concluído hoje. Na ses-
    são de ontem houve uma união
    dos ministros em defesa do STF
    frente à escalada de protestos –
    no último fim de semana, fogos
    de artifício de militantes bolso-
    naristas foram disparados em
    direção à sede do tribunal.
    Ao apresentar o voto, o rela-
    tor do inquérito das fake news
    destacou alguns dos ataques à
    Corte, entre eles uma publica-
    ção de uma advogada “incitan-
    do o estupro” de filhas de minis-
    tros do STF. “Em nenhum lugar
    do mundo isso é liberdade de
    expressão, isso é bandidagem, é
    criminalidade”, disse Moraes
    ( mais informações nesta página ).
    O recado de que ameaças, ata-
    ques e discursos antidemocráti-
    cos dessa natureza não estão
    protegidos pela liberdade de ex-
    pressão foi reforçado pelos ou-
    tros integrantes da Corte. “Não
    estamos aqui a tratar de cercea-


mento de liberdades. Liberda-
de rima juridicamente com res-
ponsabilidade, mas não rima ju-
ridicamente com criminalida-
de, menos ainda com impunida-
de de atos criminosos ou que
podem vir a ser investigados.
Milícias e organizações crimino-
sas formadas para estilhaçar o
sistema democrático não têm
espaço nem tutela do direito vi-
gente numa democracia”, afir-
mou Cármen Lúcia.
O ministro Gilmar Mendes
endossou a posição dos cole-
gas. “Não se trata de liberdade
de expressão. O uso orquestra-
do de robôs para divulgar ata-
ques ao STF passa longe da me-
ra crítica.” Gilmar apontou que
integrantes da Corte já vinham
sofrendo ataques, o que não te-
ria sido devidamente analisado
pela Procuradoria-Geral da Re-
pública, levando, portanto, o Su-
premo a abrir o inquérito por
iniciativa própria. “As ameaças
à vida de ministros e seus fami-
liares não foram anteriormente
apuradas, embora já ocorres-
sem com alguma frequência.”
O inquérito foi aberto em mar-
ço do ano passado por iniciativa
de Toffoli, sem um pedido da
PGR. As investigações já leva-
ram à censura de reportagem so-
bre o presidente do Supremo pu-
blicada no site O Antagonista e
na revista digital Crusoé, o que
foi alvo de críticas internas. No
entanto, com o recrudescimen-
to dos ataques ao STF, a resis-
tência ao inquérito diminuiu en-
tre os ministros, que passaram a
enxergá-lo como um instrumen-
to de defesa institucional.
Para o ministro Luís Roberto
Barroso, as instituições demo-
cráticas não podem ficar “ame-
drontadas”. Ele afirmou que a
democracia comporta militân-
cia, mas “quem recebe dinheiro
para fazer campanhas de ódio
não é militante, é mercenário,
criminoso”. “Esse processo tem
que prosseguir porque temos
que matar no nascedouro esses
atos abomináveis que vêm sen-
do praticados contra o Supremo
Tribunal Federal”, disse Luiz
Fux, que assumirá a presidência
do tribunal em setembro.
Para a ministra Rosa Weber,
o inquérito das fake news é uma
resposta do Supremo frente os
“ataques deliberados e destruti-
vos contra o Poder Judiciário e
seus membros”.

Apreensão. O julgamento é
acompanhado com apreensão
pelo Palácio do Planalto, já que
o inquérito das fake news pode
pavimentar o caminho da cas-
sação da chapa da eleição de
2018 do presidente Jair Bolso-
naro no Tribunal Superior Elei-
toral (TSE).
A avaliação entre ministros
do tribunal é a de que, caso seja
autorizado, um compartilha-
mento das provas do STF com a
Justiça Eleitoral deve dar um no-
vo fôlego às investigações que
apuram o disparo de mensagens
em massa na campanha presi-
dencial de Bolsonaro em 2018.

Ao apresentar seu voto no julga-
mento sobre o inquérito das
fake news, o ministro Alexan-
dre de Moraes citou ataques à
Corte e afirmou que “em ne-
nhum lugar do mundo isso é li-
berdade de expressão”.
Moraes usou como exemplo
uma publicação nas redes so-

ciais de uma advogada “incitan-
do o estupro” de filhas de minis-
tros do Supremo Tribunal Fede-
ral (STF). “Que estuprem e ma-
tem as filhas dos ordinários mi-
nistros do STF”, escreveu a mu-
lher, segundo Moraes.
“Isso é bandidagem, é crimina-
lidade”, disse ele, que é o relator

da investigação no STF – o pro-
curador-geral da República, Au-
gusto Aras, afirmou que a advo-
gada citada pelo magistrado já
foi denunciada.
O voto do ministro foi pela to-
tal improcedência da ação que
questiona o inquérito, aberto de
ofício há um ano para apurar
ofensas e ameaças a ministro da
Corte. Moraes revelou ter envia-
do 72 inquéritos à primeira ins-
tância sobre ataques à Corte.
“Nenhum trata de liberdade
de expressão, de críticas, ou xin-

gamentos. Tratam de ameaças,
atentados, tentativa de coação
a ministros do Supremo Tribu-
nal Federal”, afirmou.
Segundo o ministro, as ofen-
sas dirigidas ao Supremo são
“fatos orquestrados com o in-
tuito de intimidar, desmorali-
zar e deslegitimar o papel da
Corte e do poder Judiciário’.
“Liberdade de expressão não é
liberdade de agressão, de des-
truição da democracia, das ins-
tituições e da honra alheia”,
afirmou Moraes. / P.O.

Arnaldo Jardim

‘Bandidagem’, não liberdade


de expressão, diz Moraes


Plenário. Presidente do STF, Dias Toffoli, durante sessão

BOMBOU NAS REDES!

COLUNA DO ESTADÃO

FALTAM VOTAR
Ministros Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Dias Toffoli

VOTOS

NELSON JR./STF

“Colocar tudo em ordem? Que bom. Significa não
crescer o acirramento entre os Poderes, respeito à
Constituição e esforços para enfrentar a crise.”

Deputado federal (Cidadania-SP)

»CLICK. Com Doria, Man-
detta e Gabbardo troca-
ram afagos e dividiram
impressões sobre o de-
correr da pandemia em
SP e as medidas para mi-
tigar a evolução do vírus.

l Até agora, oito dos 11 ministros do Supremo
votaram pela continuidade do inquérito das fake news
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