O Estado de São Paulo (2020-06-18)

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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2020 A


Renata Cafardo


As Universidades de São Pau-
lo (USP), Estadual de Campi-
nas (Unicamp) e Estadual
Paulista (Unesp) decidiram
que as aulas vão voltar em
agosto de maneira remota. E
provavelmente todo o segun-
do semestre será feito tam-
bém dessa maneira.

Os reitores se dizem preocu-
pados com a contaminação de
alunos, professores e funcioná-
rios pelo coronavírus. Aulas
teóricas estão sendo adianta-
das e as práticas poderão ser fei-
tas só em 2021, considerando
um quadro de maior controle
da pandemia. Juntas, as institui-
ções têm 114.674 alunos na gra-
duação e 64.094 na pós. Cerca
de 90% das disciplinas estão
sendo dadas remotamente.
O Ministério da Educação
(MEC) liberou ontem universi-
dades e institutos federais a
substituírem classes presen-
ciais por remotas até o fim do
ano. Essas instituições, no en-


tanto, têm enfrentado mais difi-
culdade em manter atividades
online (mais informações nesta
página).
Na Unicamp, novas regras du-
rante a pandemia permitem até
que professores não precisem
dar notas aos estudantes. A
Unesp está instalando estúdios
em todas as unidades para que
aulas sejam gravadas e come-
çou a formar professores e fun-
cionários para usarem ferra-
mentas de educação online.
“Não conseguimos ter controle
de 90 mil alunos, não dá para
instalar catracas como fazem
em faculdades menores”, diz o
reitor da USP, Vahan Agopyan.
“Já que não sabemos muito so-
bre a doença e não consegui-
mos decidir quando voltare-
mos com aulas presenciais, de-
cidimos que voltamos remota-
mente. Não podemos deixar
nossa comunidade exposta.”
A medida foi anunciada an-
teontem por um grupo de traba-
lho montado na USP para pen-
sar um plano para o segundo se-

mestre. O documento foi apre-
sentado para 130 diretores e vi-
ce-diretores das unidades. As
aulas de pós também continua-
rão sendo online.
USP, Unesp e Unicamp têm
autonomia e podem tomar deci-
sões independentemente do go-
verno do Estado. Um plano de
educação da gestão João Doria
(PSDB) ainda está sendo elabo-
rado e, como o Estadão adian-
tou, prevê volta às aulas presen-
ciais em agosto com 20% dos
alunos e ampliação desse índice
ao longo das semanas. As discus-
sões, porém, não avançaram ain-
da porque o secretário de Edu-
cação, Rossieli Soares, ficou 15
dias internado por causa da co-
vid-19. Ele teve alta ontem.
“Não sabemos ainda quando
vai acabar essa pandemia. Co-
mo colocar 40, 50, 100 estudan-
tes numa sala de aula? É muito
difícil retomar presencial”, diz
o reitor da Unicamp, Marcelo
Knobel. “Só quando tiver testes
em massa, todo a comunidade
estiver testada, tivermos a pos-

sibilidade de ter algum trata-
mento, vacina, algo que permi-
ta não colocar em risco a vida
dos estudantes, professores e
funcionários”, completa.
A Unicamp mudou seu regi-
mento durante a pandemia pa-
ra que os professores, em vez de
dar notas, avaliem alunos com
conceitos como “suficiente ou
insuficiente para passar”. Tam-
bém permite agora que os estu-
dantes tranquem as matrículas

e voltem em outro momento pa-
ra concluir o curso, sem qual-
quer prejuízo acadêmico. E ain-
da que disciplinas possam ficar
sem conclusão e sejam finaliza-
das quando possível.
As três universidades têm
mantido funcionando laborató-
rios, principalmente os que fa-
zem pesquisa sobre a covid-19.
Há ainda biotérios que preci-
sam continuar ativos ou equipa-
mentos que não podem ficar pa-
rados, mas 92% das disciplinas
teóricas estão sendo feitas onli-
ne na USP e 97,5% na Unicamp.
“Claro que tem disciplina que
não conseguiremos terminar.
Vamos deixar para o ano que
vem”, diz Agopyan. Isso aconte-
ce principalmente em cursos co-
mo os de Medicina, Odontolo-
gia, Enfermagem. Segundo ele,
se a pandemia estiver controla-
da, janeiro e fevereiro serão usa-
dos para aulas práticas, que pre-
cisam ser presenciais.

Estúdios. A Unesp, que tem
câmpus espalhados por todo o

Estado, começou esta semana a
formar professores nas ferra-
mentas Google para aulas onli-
ne – 85% das unidades já têm
aulas de forma remota. Tam-
bém está instalando estúdios
nas unidades, com ajuda da TV
Unesp. A volta das aulas presen-
ciais ficou para 2021. “Vamos
voltar remotamente no 2.º se-
mestre, e fazer esforço grande
com alunos que estão para se
formar este ano”, diz o reitor
Sandro Roberto Valentini. Se-
gundo ele, a instituição espera
maior controle da pandemia pa-
ra conseguir estruturar currícu-
los e permitir ensino híbrido pa-
ra os formandos, ao menos.
Ele acredita que o momento
pode ajudar a acelerar uma
transformação nas universida-
des para um ensino parte pre-
sencial, parte a distância. “Aque-
le desespero inicial pode acabar
se convertendo em algo muito
bom. As pessoas estão perden-
do resistência e podemos ali-
nhar a universidade com a gran-
de revolução tecnológica.”

Renato Vieira


O Ministério da Educação
(MEC) autorizou ontem, por
meio de portaria no Diário Ofi-
cial
da União, que as aulas a dis-
tância em universidades fede-
rais se estendam até o 31 de de-
zembro. Cursos presenciais
nas instituições estão suspen-


sos desde março por causa da
pandemia. Estágios e práticas
online também estão autoriza-
dos pelo ministério, exceto pa-
ra alunos de Medicina a partir
do 5.º ano. Entidades de Enfer-
magem e Farmácia preveem ir à
Justiça contra essa liberação.
As universidades têm autono-
mia para definir quais currícu-
los serão substituídos e devem
oferecer recursos aos alunos pa-
ra acompanhar as aulas, segun-
do a portaria. O texto também
prevê que as atividades acadê-
micas suspensas no momento
devem ser repostas, para cum-
prir a carga horária.

Na prática, porém, as univer-
sidades têm enfrentado dificul-
dades para manter as classes on-
line. Das 69 universidades fede-
rais, por exemplo, só 15 estão
com aulas remotas ou ativida-
des parciais, segundo o painel
de monitoramento do MEC.
A suspensão afeta 78% da co-
munidade universitária federal
(professores, alunos e servido-
res), diz relatório da Comissão
da Câmara dos Deputados que
analisou a atuação da pasta. O
documento apontou omissão
da gestão de Abraham Wein-
traub no MEC nas políticas pú-
blicas para minimizar a crise da
pandemia na educação.
A Universidade Federal do
Rio (UFRJ) – maior do País,
com 67 mil alunos – disse esta
semana que só retomará aulas
presenciais em 2020 se houver
remédio ou vacina contra o no-
vo coronavírus. Ainda segundo
a instituição, é preciso discutir
um retorno no formato remoto

emergencial para não perder
completamente o ano letivo.
A Federal de São Paulo (Uni-
fesp), por exemplo, decidiu es-
te mês que retomará as ativida-
des de forma online em 6 de ju-
lho ou 3 de agosto – a data fica a
critério de cada faculdade. É exi-
gido manter ao menos 75% dos
dias letivos previstos original-
mente. Com isso, o encerramen-
to do primeiro semestre está
previsto para outubro. Outras
instituições, como a Federal do
Ceará, também discutem uma
proposta emergencial de reto-

mada com aulas a distância.
João Carlos Salles, presiden-
te da Andifes, associação que
reúne os reitores das federais,
conta que as universidades ain-
da vão avaliar como proceder
no segundo semestre e diz que a
entidade está em um congresso
para definir parâmetros. “Preci-
samos garantir a qualidade das
aulas, a segurança dos alunos e
a questão do acesso tecnológi-
co, que não pode ser desconsi-
derado”, diz ele, reitor da Fede-
ral da Bahia (UFBA).

Estágios. Os conselhos fede-
rais de Enfermagem (Cofen) e
de Farmácia (CFF) disseram
que acionarão a Justiça contra a
previsão de estágio remoto. Em
nota, o CFF defendeu o ensino
presencial. “A portaria afronta
todos os princípios de qualida-
de do ensino, visto que o apren-
dizado em saúde demanda o de-
senvolvimento de habilidades
que não se aprendem a distân-

cia”, diz o texto, assinado pelo
presidente do conselho, Walter
da Silva Jorge João.
Já o Cofen prevê entrar com
mandado de segurança na Justi-
ça ou com ação civil pública con-
tra a portaria. “Nesse contexto
de pandemia, não podemos per-
mitir que os profissionais se for-
mem de qualquer maneira. A
pandemia vai passar, mas os
profissionais vão trabalhar pela
vida inteira”, afirma a procura-
dora geral da entidade, Tycian-
na Monte Alegre.
Durante a pandemia, a pasta
também permitiu antecipar a
formatura de alunos de Medici-
na, Enfermagem, Farmácia e Fi-
sioterapia, desde que eles já ti-
vessem cursado 75% da carga
horária de internato ou estágio
obrigatório. Cerca de 7,3 mil alu-
nos dessas quatro carreiras da
Saúde concluíram o curso antes
do prazo. Procurado, o MEC
não se manifestou até as 20 ho-
ras de ontem.

Com 90% das atividades online, reitores se dizem preocupados com a contaminação. Aulas teóricas são adiantadas e práticas poderão


ser feitas só em 2021. Instituições, que têm autonomia para essa decisão, possuem 114.674 alunos na graduação e 64.094 na pós


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS País tem mais 1.209 óbitos; SP registra recorde pelo 2º dia. Pág. A10 }


l Rede federal

MEC libera estágio e


classe online até o fim


do ano nas federais


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1,123 milhão
de universitários são de federais.

54
das 69 universidades federais
estão com atividades suspensas.

Órgãos de Enfermagem e


Farmácia vão à Justiça


contra prática online; de


69 universidades, só


15 mantêm aulas agora


l Em maio, a Universidade de
Cambridge, no Reino Unido, anun-
ciou que todas as aulas seriam
feitas online até o verão de 2021.
Stanford (EUA) anunciou a sus-
pensão do programa de intercâm-
bio no dia 5. E ao menos seis cur-
sos de Harvard (EUA), entre eles
Direito e Design, também anuncia-
ram que manteriam classes a dis-
tância no segundo semestre.

FELIPE RAU/ESTADÃO - 26/3/

USP, Unicamp e Unesp decidem voltar


no 2º semestre só com aulas remotas


Câmpus Butantã. Na USP, maior parte das disciplinas teóricas é ministrada pela internet e a universidade mantém funcionando laboratórios, principalmente os de pesquisa da covid-


Metrópole

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