Sabor Club - Edição 29 (2019-05)

(Antfer) #1

24 | Sabor. club [ ed. 29 ]


minha cabeça. Eram muitos sabores novos e intensos num
lugar só, muitas texturas, e tudo conversava. Depois soube
da história com os orixás e me apaixonei”.
No jantar do Quitéria, os miniacarajés são entradas
disputadas, anunciados no cardápio com a frase: “como na
Bahia”. A chef explica: “O feijão batido até ficar aerado, o
dendê bem quente, o vatapá com pão e caldo de camarão,
o caruru em pasta e a saladinha com o camarão que
secamos na casa”.
No bufê orgânico servido durante o dia faz sucesso o
peixe assado em folha de bananeira, que também é fruto

de andanças nordestinas. “Faço uma pasta de urucum,
laranja e alho que aprendi na Bahia. Pesquiso e converso
com todo mundo por onde passo. Cozinheiros e seus
parentes, mães, avós e tias. Gosto de saber o que comiam
quando crianças.”
Andarilha e curiosa, Alejandra já esteve em
Pernambuco, Ceará, Bahia, Minas Gerais, São Paulo,
Paraná e Rio Grande do Sul. O desenho de seu mapa de
sabores segue a ideia da nossa comida afetiva, sem grandes
invenções mas com ingredientes de alta qualidade e
“emoção nos pratos”.
Nos rolês de bicicleta que faz de casa, no bairro de
Laranjeiras, pelo Aterro do Flamengo, até o restaurante
(cerca de seis quilômetros só de praia), ela observa o Rio

de perspectiva privilegiada e busca simplicidades. Nas
lanchonetes de esquina, conheceu os empadões e fez o seu
para o cardápio com manteiga orgânica caseira, recheado
de siri (lembram do panelão na Bahia?) e servido apenas
com hortaliças frescas.
Sua última coleção traz também um ravioli com
lâminas de beterraba no lugar da massa, queijo de cabra e
molho de castanhas; e a costelinha suína com batata baroa,
crocante de alho poró e melado de caju. De entrada, o
bolinho de tapioca e “muitos queijos” utiliza seis versões
do laticínio feitas em Minas Gerais.

“Entendi que no Brasil as carnes, peixes, frutas e
legumes podiam todos ser combinados, de acordo com
o que cada um tivesse ao alcance, no quintal de casa.
Comecei a dar atenção aos talos e raízes, cozinhar os
legumes com casca. E buscar um toque adocicado, porque
brasileiro gosta das coisas doces.”
De sobremesa tem doce de abacaxi da infância, uma
verrine de compota da fruta e cremes de confeiteiro e
de natas. E o pudim de tapioca com coco e cumaru, um
campeão de audiência.
Brasileiríssima, essa Alejandra, não?

Quitéria – R. Maria Quitéria, 27, Ipanema,
Rio de Janeiro – RJ. Tel.: (21) 2267-4603

“Faço uma pasta de urucum, laranja e alho que aprendi na Bahia. Pesquiso e converso
com todo mundo por onde passo. Cozinheiros e seus parentes, mães, avós e tias”

Olha que delícia é a varandinha do Quitéria, o restaurante da Alejandra, em Ipanema, no Rio
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