O Estado de São Paulo (2020-06-19)

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A10 Política SEXTA-FEIRA, 19 DEJUNHODE 2020 OESTADODES.PAULO


O advogado Frederick Was-
sef afirmou, em pelo menos
duas ocasiões no ano passa-
do, desconhecer o paradeiro
do ex-assessor Fabrício Quei-
roz. “Não sei. Não sou advoga-
do dele”, disse ele em entre-
vista à GloboNews, em setem-
bro. Em junho, negou à revis-
ta
Veja conhecer o ex-policial
militar. O próprio senador
Flávio Bolsonaro (Republica-
nos-RJ) dizia, em conversas
reservadas, que não tinha
mais contato com o ex-asses-
sor e que poderia até ir preso
por obstrução da Justiça se
entrasse em contato com ele.

A interlocutores, Wassef re-
petia a versão de que não tinha
contato com Queiroz, embora
o ex-assessor tenha sido preso
ontem em um imóvel dele. O
advogado representa Flávio no
caso que investiga suspeita de
“rachadinha” na Assembleia Le-
gislativa do Rio, o que levanta a
suspeita sobre uma possível tro-
ca de informações entre investi-
gados e poderia representar ten-
tativa de obstrução da Justiça.
Flávio também já afirmou não
saber o paradeiro do ex-asses-
sor e chegou a alertar que não
mantinha mais contato com
Queiroz para que isso não fosse
interpretado como crime.
Wassef se apresenta como ad-
vogado de Bolsonaro, mas não
atua formalmente em nenhuma
causa. É presença constante nos
palácios do Planalto e do Alvora-
da, no entanto, não costuma apa-
recer nas agendas oficiais de Bol-
sonaro. Nos registros aparecem
apenas três encontros no últi-
mo ano, mas ele esteve ao me-
nos sete vezes nos últimos seis
meses com o presidente.
Anteontem, Wassef partici-
pou da cerimônia de posse do
novo ministro das Comunica-
ções, Fábio Faria. Na semana an-
terior, ele passou a tarde com o
presidente na sede do Executi-
vo e deixou o local por volta das
20h. O motivo do encontro não
foi informado. Desde a prisão de
Queiroz, na manhã de ontem,
Wassef permanece recluso na
residência onde mora, no Lago
Sul, em Brasília. Além de não dei-
xar a casa, na área nobre da capi-
tal federal, Wassef não atendeu
ligações da reportagem. Quan-
do tocada a campainha da resi-
dência, não houve resposta. Por
volta das 8h30, o advogado foi
visto na janela da casa.
Outra ocasião em que Wassef
esteve com o presidente foi no
dia 25 de abril, logo após a demis-
são do então ministro da Justi-
ça, Sérgio Moro. Ele foi ao Alvo-
rada no mesmo dia em que Bol-
sonaro discutia a substituição
na pasta. O atual chefe da Agên-
cia Brasileira de Inteligência (A-


bin), Alexandre Ramagem, que
na época tentava assumir o co-
mando da Polícia Federal, tam-
bém participou do encontro.
Além da família Bolsonaro,
Wassef é próximo do secretário
especial de Comunicação da
Presidência, Fábio Wajngarten.
Ainda na pré-campanha presi-
dencial, Wassef apresentou
Wajngarten, dono da empresa
Controle da Concorrência, no-
me fantasia da FW Comunica-
ção e Marketing, como um ho-
mem capaz de abrir portas em
emissoras de televisão.

Aproximação. Wassef conhe-
ceu Bolsonaro ainda como de-
putado, em 2016, quando a
ideia da candidatura presiden-
cial ainda parecia distante. De-
pois, na campanha presiden-
cial, o advogado passou a fre-
quentar a casa usada pela equi-
pe de Bolsonaro.
Ele é visto com desconfiança
pelos assessores mais próxi-
mos de Bolsonaro. O presiden-
te chegou a ser aconselhado a
dispensá-lo, mas o modo como
agiu justamente no caso Quei-
roz o garantiu por perto, segun-
do pessoas próximas ao presi-
dente. O principal momento foi
quando Wassef conseguiu sus-
pender no Supremo Tribunal
Federal (STF), com a decisão
do presidente da Corte, Dias
Toffoli, todas as investigações
feitas com base no compartilha-
mento de dados bancários sem
autorização judicial, atenden-
do ao pedido da defesa de Flá-
vio Bolsonaro. / JULIA LINDNER,
JUSSARA SOARES, BRENO PIRES e
RICARDO GALHARDO

Caio Sartori / RIO

Preso ontem em Atibaia, São
Paulo, o ex-assessor parlamen-
tar Fabrício Queiroz estava
sem advogado desde dezembro
do ano passado, quando Paulo
Klein deixou sua defesa. Neste
mês, contudo, o ex-assessor de
Flávio Bolsonaro na Assem-
bleia Legislativa do Rio de Janei-
ro contratou Paulo Emílio Cat-
ta Preta, experiente defensor
de Brasília que atuou recente-
mente para Adriano Magalhães
da Nóbrega, miliciano do Rio
morto em fevereiro.
Capitão Adriano, como era
conhecido, também era alvo da
investigação sobre prática de ra-
chadinha na Alerj. O miliciano

Janeiro de 2019
Suspensão
Ministro do STF
Luiz Fux atende a
pedido de Flávio
Bolsonaro e deter-
mina a suspensão
da investigação
sobre movimenta-
ções atípicas de
Queiroz. Relator do
caso, ministro Mar-
co Aurélio Mello
rejeita a reclama-
ção de Flávio e de-
volve caso Queiroz
para a primeira
instância.

Ex-advogado de miliciano vai defender Queiroz


Investigação
MP do Rio
Abre 22 procedi-
mentos de inves-
tigação criminal
com base no rela-
tório do Coaf.
Análise da movi-
mentação de
Queiroz mostra
que funcionários
lotados no gabi-
nete de Flávio na
Alerj repassa-
vam valores equi-
valentes até
99% do salário
que recebiam.

Maio de 2019
Quebra de sigilo
Justiça do Rio autoriza a quebra de sigilo bancário e fiscal
de Flávio Bolsonaro e de Queiroz. Decisão do juiz Flavio
Itabaiana alcança ainda familiares dos dois e dezenas de
pessoas que trabalharam com o então deputado estadual.

Dezembro de 2018
Movimentação atípica
‘Estadão’ revela que um relató-
rio do Coaf apontou movimenta-
ção atípica de R$ 1,2 milhão na

conta de Fabrício Queiroz. Ex-po-
licial militar, Queiroz é amigo da
família Bolsonaro e, oficialmen-
te, trabalhava como motorista
de Flávio Bolsonaro.

lEspecialistas em Direito Penal
ouvidos pelo Estadão dizem que,
até o momento, é improvável que
o advogado Frederick Wassef
responda na Justiça por hospe-
dar o ex-assessor Fabrício Quei-
roz em Atibaia. A possibilidade
de imputação de obstrução da
Justiça depende de provas con-
tra o advogado. Juristas ressalta-
ram que Queiroz não estava fora-
gido e que, apesar da situação
“muito estranha”, o fato de Was-
sef tê-lo abrigado não é ilegal.
Essa é a opinião do criminalista
Fernando Castelo Branco, do Ins-
tituto de Direito Público. Já o ad-
vogado Gustavo Badaró, profes-
sor da Universidade de São Paulo
(USP), vê “mais dano político do
que jurídico” na prisão – embora
não descarte possíveis acusa-
ções contra Wassef. / TULIO KRUSE

INVESTIGAÇÃO NO RIO


WALLACE SILVA/FOTOARENA

Defensor de Adriano
Magalhães de Nóbrega,
morto na Bahia em
fevereiro, assumiu o
caso do ex-assessor

Novo caso.
Paulo Emilio
Catta Preta
durante
entrevista

A CRONOLOGIA DO CASO QUEIROZ


REPRODUÇÃO

Juristas não veem


crime de advogado


DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 4/4/

FABIO MOTTA/ESTADÃO - 17/11/

Advogado


negava


contato


com ex-PM


Flávio também dizia desconhecer paradeiro


de Queiroz por receio de obstruir a Justiça

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