O Estado de São Paulo (2020-06-19)

(Antfer) #1

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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 19 DE JUNHO DE 2020 Economia B3


ENTREVISTA


Altamiro Silva Junior


O Banco Central deixou a por-
ta entreaberta para novo corte
de juros, mas jogou um “balde
de água fria” em quem espera-
va redução muito maior pela
frente. Se vier um novo ajuste,
será pequeno, provavelmente
de 0,25 ponto porcentual, dis-
se ao Estadão/Broadcast o chefe
de economia e estratégia do
Bank of America no Brasil, Da-
vid Beker.
Para o estrategista da insti-
tuição financeira, a atividade
econômica do País já pode ter
chegado ao fundo do poço e há
chance de o Produto Interno
Bruto (PIB) cair menos neste
ano do que a retração de 7,7%
atualmente projetada pelo ban-
co americano.


lComo o sr. avalia a decisão do
Copom de cortar os juros para
2,25% ao ano?
O corte foi o que todo mundo
projetava. Eu esperava que ele
trouxesse uma linguagem mos-
trando dependência de dados,
que o comunicado trouxe, ao
deixar a porta entreaberta pa-
ra novo corte. Mas o Banco
Central disse que, se tiver uma
redução residual, ela vai depen-
der dos indicadores. Deixar a
porta aberta é bom. Conside-
rando os riscos, não vale a pe-
na fechá-la. Ao mostrar depen-
dência de dados, o BC está pre-
servando o grau de liberdade.
No limite, ele pode recalibrar a
decisão.


lEm termos de sinalização do
BC, o que esperar para as próxi-
mas reuniões?
Em relação ao que o mercado
discutiu como possibilidade
para a reunião deste mês, ti-
nha muita gente falando em
mais um corte de 50 pontos,
eventualmente podendo ir até
além disso. Nesse sentido, o
BC acabou dando uma mensa-
gem um pouco mais conserva-
dora, quando disse que o estí-
mulo parece suficiente, compa-
tível com os impactos econô-
micos e vai monitorar os da-
dos. Ele talvez possa ter joga-
do um balde de água fria na ex-
pectativa de muito mais cor-
tes.


lÉ mais provável um novo corte
de 0,25 ponto?
Tem de esperar como os da-


dos vão evoluir, mas o BC fala
em corte residual. Resíduo é
uma coisa pequena. Meu cená-
rio é que pararam os cortes, va-
mos reavaliar, dependendo
dos indicadores e da ata na se-
mana que vem. Mas se tiver
mais um corte, está mais com
cara de 0,25 ponto do que de
0,50. O BC não fechou a porta
completamente, mas deu a en-
tender que o risco é de corte
pequeno.

lApós os recentes indicadores
de atividade, mudou sua visão
para o PIB do Brasil este ano?
Prevemos queda de 7,7% este
ano. Se me perguntassem há
três semanas sobre os riscos,
eu diria que seria para um nú-
mero pior. Hoje acho que tal-
vez seja para número levemen-

te melhor. Ao olhar o mundo,
a volta tem sido muito rápida
nos EUA, na China. O merca-

do ficou um pouco mais anima-
do com a velocidade da recupe-
ração. No comunicado do BC

tem um trecho interessante so-
bre monitorar todos os impac-
tos do estímulo, dando a enten-

der que talvez a queda da ativi-
dade não seja tão ruim quanto
se imaginou em um primeiro
momento. Nas conversas que
temos tido com empresas, as
pessoas com quem conversa-
mos dizem que não é aquele
pior cenário que tinham dese-
nhado. Não é um bom cenário,
mas não é o pior cenário.

lO sr. acredita que a atividade
econômica já atingiu o fundo do
poço?
Parece que o pior mesmo foi o
primeiro semestre. A discus-
são agora é sobre a velocidade
da retomada e quais os riscos
para ela, em particular a segun-
da onda de infecções em ou-
tros lugares. No Brasil, infeliz-
mente, ainda não superamos a
primeira onda.

lA decisão do BC para os juros
pode ter algum impacto no câm-
bio?
Como a discussão que havia é
que o Brasil talvez pudesse che-
gar a níveis ainda mais baixos
de juros, o tom do comunica-
do foi positivo (para o câm-
bio). Projetamos o dólar em
R$ 5,40 no fim do ano.

lA decisão do BC deve ter al-
gum impacto no mercado de ju-
ros futuros?
Talvez nos contratos mais cur-
tos tenha leve alta, mas, como
o BC está falando que se tiver
um novo corte será residual,
pode ajudar a curva a aplanar
um pouco.

lCom o novo corte, a taxa de
juros real do Brasil está muito
baixa. Isso pode ter impacto ne-
gativo para investimentos estran-
geiros?
Depende da classe de ativos,
na renda fixa, sim. A discussão
é como o juro baixo pode me-
lhorar o crescimento e atrair
recursos para outros ativos,
principalmente em ações. O in-
vestidor estrangeiro está mui-
to pouco alocado em Brasil em
renda fixa e ainda tem muito
espaço para alocação na renda
variável. Mas também depen-
de de crescimento, da lucrativi-
dade das empresas. Não neces-
sariamente vem de imediato.

lQual sua expectativa de os ju-
ros voltarem a subir no Brasil?
É uma discussão para meados
do ano que vem, dependendo
da retomada da atividade. Em
2021, para todas as reuniões a
curva precifica aumentos de 25
a 40 pontos-base (0,24 a 0,40
ponto porcentual). O mercado
parece que está precificando o
risco, não só da alta, mas do ce-
nário, a incerteza fiscal.

Idiana Tomazelli/ BRASÍLIA


O governo pode registrar nes-
te ano um rombo superior a
R$ 800 bilhões, admitiu on-
tem o secretário do Tesouro
Nacional, Mansueto Almei-
da. Em sua última estimativa
oficial, o Ministério da Econo-
mia calculava um déficit pri-
mário do setor público de R$
708,7 bilhões em 2020.

Ontem, Mansueto, que está
de saída do governo e deve ira
para a iniciativa privada após
um período de quarentena, dis-
se que uma projeção de rombo
na casa dos R$ 700 bilhões seria


“otimista”. Economistas e a Ins-
tituição Fiscal Independente (I-
FI) do Senado já projetam um
déficit até maior, passando dos
R$ 900 bilhões.
Diante da situação das con-
tas, Mansueto destacou a neces-
sidade de manter o compromis-
so com o teto de gastos, meca-
nismo que limita o avanço das
despesas à inflação e hoje fun-
ciona como uma espécie de “su-
perâncora” para sinalizar com-
promisso com o ajuste.
Segundo o secretário, mudar
a Constituição para flexibilizar
o teto “está fora de cogitação”.
“Se o governo não conseguir re-
sistir à pressão (contra o teto),
isso pode elevar juro, risco país,
aumentar período de restrição,
carga tributária”, alertou.
Ele ressaltou que o teto de
gastos impede a manutenção
de gastos emergenciais deste
ano em 2021, a não ser que eles

sejam incluídos no Orçamento
e devidamente compensados.
Do contrário, seria preciso mu-
dar a Constituição. “Se não res-
peitar o teto, vai ser pior”, adver-
tiu o secretário, em videoconfe-
rência promovida pelo site Info-
money.
Mansueto disse ainda que a
crise atual não é só de liquidez,
é de solvência também. “Não sa-
bemos quais empresas vão so-

breviver e como será comporta-
mento de consumidor”, afir-
mou.

Janela. O governo tem uma ja-
nela de dois ou três anos para
fazer reformas e recolocar o
País na trajetória de crescimen-
to, avaliou Mansueto. Ele reco-
nheceu que nem todas as refor-
mas necessárias serão aprova-
das neste governo, mas desta-
cou a importância de não des-
perdiçar a oportunidade, sob
risco de assistir a uma piora na
perspectiva do País.
Segundo Mansueto, o impac-
to da crise na arrecadação neste
e nos próximos anos levará o
País a acumular rombos sucessi-
vos nas contas, e o superávit só
deve voltar no fim do próximo
governo, em 2026 ou 2027.
“Cumprir o teto de gastos e fa-
zer reformas serão importantes
para antecipar volta do supe-
rávit”, disse.
A janela citada por ele é o pe-
ríodo de juros baixos no mundo
todo. Em sua avaliação, bancos
centrais de países como Esta-
dos Unidos e Japão já sinaliza-
ram com a possibilidade de con-
viver com juros básicos muito
próximos de zero nos próximos
dois anos. “Provavelmente tere-

mos muita liquidez e juro baixo
até 2022”, disse.
O Brasil, avalia o secretário,
tem uma oportunidade para si-
nalizar que dívida sobe até
2025, 2026, e depois cai. “A
dívida cresce muito este ano,
mas em 2021 fica praticamen-
te estável”, afirmou, ressaltan-
do que não pode haver retro-
cesso, como seria uma even-
tual revisão ou queda do teto
de gastos.
“A janela que temos é de dois
ou três anos. Acho que refor-
mas necessárias não serão apro-
vadas todas neste governo. A lis-
ta de coisas que Brasil precisa
fazer é muito grande. Só aos
poucos vai construindo consen-
sos”, afirmou.
“Nos próximos dois ou três
anos não podemos errar. Se er-
rar, vamos ter muitos proble-
mas à frente. Não podemos des-
perdiçar essa janela de oportu-
nidade como tantas outras ve-
zes a gente desperdiçou”, disse
o secretário.
Mansueto destacou ainda
que o atual governo não vai con-
seguir em nenhum ano cumprir
a chamada regra de ouro do Or-
çamento, que impede a emissão
de dívida para bancar despesas
como salários.

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l Pressão
Rombo pode superar
R$ 800 bilhões neste
ano, afirma Mansueto
Com covid, atividade econômica recua ao nível de 2006. Pág. B4 }
ADRIANO MACHADO/REUTERS
“Se o governo não
conseguir resistir à pressão
(contra o teto de gastos),
isso pode elevar
juro, risco país,
aumentar período de
restrição e carga tributária.”
Mansueto Almeida

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Foco. Beker:
hoje, banco
vê tombo de
7,7% no PIB
‘Cenário não é bom, mas não é o pior’
Economia do País já pode
ter chegado ao fundo do
poço, e PIB de 2020
pode cair menos do que o
projetado, diz economista
David Beker, economista do Bank of America
Austeridade. Mansueto vê dificuldade em aprovar reformas
Previsão anterior era
de déficit público de
R$ 708 bilhões; já há
projeções de resultado
negativo de R$ 900 bi
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