Embora não aborde a atuação de
Borges Mattos em contratos da
gestão Witzel, o relatório analisa
conversas e anotações encontradas
com um dos empresários envolvidos
no esquema: Marcus Vinicius
Azevedo da Silva. Além de ser sócio
da Riomix, que participou das
licitações investigadas, Silva foi
assessor do vice-governador,
Cláudio Castro, do PSC, na Câmara
dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Esteve no gabinete entre março e
agosto de 2017. Nessa época,
diálogos encontrados em seu
WhatsApp sugerem a entrega de
valores a agentes públicos por meio
de outro integrante do grupo. Já nas
anotações, em parte replicadas no
relatório da polícia, são vistos
valores atrelados a siglas e empresas.
Em algumas delas, destacadas no
documento, há repasses para JM,
que seria João Marcos Borges
Mattos. Antes de ser subsecretário
no governo Witzel, ele foi diretor de
Administração e Finanças da Leão
XIII e integrou os quadros da pasta
de Assistência Social.
Helena Witzel acumula com mais
esse contrato, cujo valor ainda é
desconhecido, ao menos três
relações profissionais no mínimo
estranhas. O primeiro contratante é
o PSC, partido do governador e do
vice. O outro contrato, com a
empresa ligada a Mario Peixoto,
rendeu a busca e apreensão na
residência oficial. Desconhecida de
todos os principais advogados do
Rio, a advogada foi contratada por
540 mil reais, mas nunca atuou nos
processos. Os valores são
considerados muito acima da média
para uma neófita. A ex-aluna do
governador, que virou sua mulher e
se tornou uma promissora dona de
banca advocatícia, fazia apenas
consultoria por telefone, as chamadas
“consultorias verbais”. No caso do
contrato com a empresa do ex-
subsecretário de Educação, a
previsão era também de atuação
“extrajudicial”, sem que haja
processos específicos.
O terceiro contrato, para
investigadores ouvidos por Crusoé,
reforça a tese que aponta para a
utilização do escritório de advocacia
de Helena Witzel como ponto de
recebimento de valores indevidos
relacionados a negócios com o
governo do Rio. O mesmo
estratagema foi adotado em outros
tempos por outra primeira-dama do
Rio, Adriana Ancelmo, mulher de
Sérgio Cabral. Com um detalhe:
embora sejam casados desde 2004,
o atual governador e Helena Witzel
passaram para o regime de
comunhão universal de bens somente
no dia 3 de setembro de 2019. A data
é próxima à do início de um contrato
suspeito encontrado pela Polícia
Federal, entre o escritório de
advocacia da primeira-dama e uma
empresa investigada. Na prática, isso
permitiu que todos os bens do casal
passassem a ser parte de um
patrimônio só. Em nota enviada a
Crusoé, os advogados da primeira-
dama informaram que o escritório
dela “não presta mais serviços para
a referida empresa” e que “demais
informações a esse respeito serão
prestadas em juízo”.