O Estado de São Paulo (2020-06-20)

(Antfer) #1

O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 20 DE JUNHO DE 2020 Metrópole A21


Mateus Vargas / BRASÍLIA


Anunciada no dia 20 de abril,
a compra emergencial de 12
milhões de testes rápidos da
covid-19 está travada no Mi-
nistério da Saúde. O processo
não tem data para ser concluí-
do e, segundo apurou o Esta-
dão, pode até ser cancelado
por questionamentos sobre
possíveis irregularidades. Se
confirmada a desistência, a
promessa de realizar 46,2 mi-
lhões de exames de diagnósti-
co no Brasil ficará ainda mais
longe. Mesmo após quase
dois meses sem conseguir
avançar, a meta continua sen-
do celebrada por canais ofi-
ciais da gestão Jair Bolsonaro
nas redes sociais.
O processo de aquisição de 12
milhões de testes rápidos teve
reviravoltas. No fim de maio, o
laboratório Abbott passou a ser
o favorito para levar o certame
após conseguir o registro de seu
produto na Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvi-
sa). Sem licitação, sob argumen-
to de ser “emergencial”, a com-


pra levanta desconfiança den-
tro do Ministério da Saúde.
Alguns gestores chegaram a
pedir a sua anulação, ainda du-
rante a gestão de Nelson Teich,
que deixou a pasta no mês passa-
do. Uma das razões seria a entre-
ga de dados da compra para pes-
soas que acompanham a dispu-
ta. Outra seria a limitação dos
testes rápidos, que têm baixa
sensibilidade se aplicados nos
primeiros dias de sintomas.
O exame de diagnóstico da co-
vid-19 em larga escala é um dos
pilares da estratégia do governo
para enfrentar a pandemia, mas
o Brasil testa pouco, quando
comparado a outros países. O
ministro interino da Saúde,
Eduardo Pazuello, tem dito a in-
terlocutores que para vencer a
“guerra” contra a doença o
“mais importante” é melhorar a
triagem de pacientes e medicá-
los o quanto antes, até mesmo
com a cloroquina, medicamen-
to sem eficácia comprovada.
O governo federal discute
com Estados e municípios am-
pliar o uso de exames de ima-
gem ou clínico-epidemiológi-

cos para o diagnóstico da covid-


  1. Na leitura de gestores do Sis-
    tema Único de Saúde (SUS), a
    medida evitaria ficar refém da
    disponibilidade de testes, mas
    infectologistas alertam que o
    ideal é o exame laboratorial.
    A promessa do governo é dis-
    tribuir 22 milhões de testes do
    tipo rápido, sendo 10 milhões


doados de empresas e 12 mi-
lhões comprados. Cerca de 7,52
milhões já foram entregues a Es-
tados e municípios. O exame
rápido detecta anticorpos para
a covid-19, indicando que a pes-
soa já foi infectada, e deve ser
aplicado após o sétimo dia de
sintomas. Caso contrário, a
chance de falso negativo é alta.

Para atingir 46,2 milhões de
exames, o ministério promete
distribuir também 24,2 milhões
de testes do tipo RT-PCR, que
detecta a presença do vírus. Ti-
do como de “padrão ouro” para
diagnósticos, o equipamento é
aplicado nos primeiros dias de
sintomas de pacientes.
Após quase quatro meses des-
de a confirmação do primeiro
infectado pela covid-19 no Bra-
sil, o governo entregou cerca de
3,79 milhões de exames desse
tipo, ou seja, pouco mais de 15%
do prometido. Mesmo sem
nem sequer ter se aproximado
dos 46,2 milhões prometidos,
um dos perfis oficiais da gestão
Bolsonaro nas redes sociais, a
@SecomVC, destacou “Mais
46,2 milhões de testes” entre as
ações do governo contra a co-
vid-19, em publicação feita no
Twitter em 13 de junho.
O próprio Bolsonaro, quando
cobrado sobre avanço da covid-
19 nos Estados, tem dito que já
fez a sua parte. Ele atribui a ges-
tores locais a culpa pelo aumen-
to de casos. “Já ajudamos com
dinheiro”, disse o presidente na
última segunda-feira a uma
apoiadora que afirmava que Ro-
raima “precisa de ajuda”.

Testagem baixa. O ministério
lançou o programa Diagnosti-
car para Cuidar, em 6 de maio,
com a promessa de realizar tes-
te de diagnóstico em larga esca-
la, com exame RT-PCR, e pes-
quisa epidemiológica, com uso
do produto “rápido”.
Mas, até 4 de junho, a rede pú-
blica havia feito apenas cerca de
555 mil exames. A estimativa to-
tal de testes realizados no País é
imprecisa, pois sistemas de uni-
dades privadas e públicas de
saúde não dialogam. Técnicos
do ministério apontam que cer-
ca de 1,7 milhão de exames já
foram aplicados. Conforme re-
velou o Estadão, a Agência Bra-
sileira de Inteligência (Abin) já
alertou o Palácio do Planalto so-
bre o baixo número de testes.

No momento em que o Brasil
alcança 1 milhão de casos do no-
vo coronavírus, o Ministério da
Saúde divulgou orientações pa-
ra a “retomada segura das ativi-
dades e o convívio social segu-
ro”. Publicada ontem no Diário
Oficial da União, a portaria, no
entanto, reconhece que cabe às
autoridades locais avaliar o ce-
nário epidemiológico para
afrouxar ou não restrições con-
tra a covid-19.
O texto traz recomendações
gerais sobre distanciamento so-
cial, etiqueta respiratória, higie-
nização de ambientes e uso de
equipamentos de proteção indi-
vidual, como máscaras. Tam-
bém orienta a elaboração de
“plano de ação para a retoma-
da” por todos os setores.
“Retomar as atividades e o
convívio social são também fa-
tores de promoção da saúde
mental das pessoas, uma vez
que o confinamento, o medo do
adoecimento e da perda de pes-
soas próximas, a incerteza so-
bre o futuro, o desemprego e a
diminuição da renda são efeitos
colaterais da pandemia pelo
SARS-COV-2 e têm produzido
adoecimento mental em todo o
mundo”, afirma o ministério.
A pasta sugere adotar, “sem-
pre que possível”, trabalho re-
moto e implementação de “ati-
vidades de forma virtual”, espe-
cialmente para atendimento ao
público. Outra recomendação é
para triagem e monitoramento
de pessoas que podem estar
doentes. A pasta recomenda
medir a temperatura antes da
entrada em estabelecimentos.
O ministério não trata sobre
uso de testes para detecção do
vírus ou de anticorpos.
Segundo o último balanço do
ministério, divulgado ontem,
há 1.032.913 casos acumulados


da covid-19 no Brasil, sendo que
mais de 450 mil pacientes se-
guem em observação. Há ainda
48.954 óbitos e mais de 3 mil
mortes em análise.
Desde o começo da crise, o
presidente Jair Bolsonaro se po-
siciona contra o distanciamen-
to social, pede a reabertura do
comércio e estimula o uso da
cloroquina, medicamento sem
eficácia comprovada. Por diver-
gência com Bolsonaro sobre es-
ses pontos, dois ministros da
Saúde já deixaram o governo. A
pasta está sob comando interi-
no do general Eduardo Pazuel-
lo desde 15 de maio.
O ministério aponta como
medidas básicas higienizar as
mãos com água e sabão ou usar
álcool em gel 70%. A pasta tam-
bém sugere evitar aglomera-
ções e manter distância mínima
de 1 metro de outra pessoa.
Além disso, afirma que pessoas
com sintomas da covid-19, que
são similares aos de uma gripe,

fiquem em casa.
O Ministério da Saúde reco-
menda, na portaria, uso de más-
caras em todos os ambientes, in-
cluindo lugares públicos e de
convívio social. Também afir-
ma ser preciso “substituir as
máscaras cirúrgicas, a cada qua-
tro horas de uso, ou de tecido, a
cada três horas de uso, ou quan-
do estiverem sujas ou úmidas”.
Vários governos locais já torna-
ram obrigatório o uso de másca-
ras em espaços públicos.

Transporte. O documento
traz orientações sobre uso de
transporte individual e coleti-
vo. Em ambos os casos, o minis-
tério recomenda higienizar o in-
terior do veículo com frequên-
cia e manter as janelas abertas.
No caso de transporte coletivo,
a recomendação é manter dis-
tanciamento social e evitar for-
mação de aglomerações e filas
durante o embarque e desem-
barque de passageiros.
O ministério também reco-
menda desinfecção de veículos
de transporte coletivo com uso
de desinfetante, “em particular
os assentos e demais super-
fícies de contato com os passa-
geiros, nos veículos e nos pon-
tos de embarque e desembar-
que de passageiros, com contro-
le do registro da efetivação nos
horários predefinidos”. /M.V.

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PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lAlerta

Governo divulga orientações para


‘retomada segura’ de atividades


lO Ministério Público do Tribu-
nal de Contas da União (MPTCU)
pediu na quinta-feira abertura de
investigação sobre possível su-
perfaturamento na produção de
cloroquina no Brasil, além da res-
ponsabilidade do presidente Jair
Bolsonaro ao orientar aumento
da produção. Na representação, o
procurador junto ao tribunal Lu-
cas Rocha Furtado afirmou que
Bolsonaro “deixa de garantir de

forma adequada o direito da so-
ciedade à saúde” ao estimular
produção e uso de medicamento
sem eficácia comprovada.
Furtado cita reportagens para
levantar suspeita sobre aumento
de 84 vezes na produção do fár-
maco nos últimos meses, em
comparação a anos anteriores.
Além disso, o procurador afirma
que o preço do produto pode ter
subido seis vezes, comparado a


  1. Apesar de alta do dólar e
    do valor do transporte na pande-
    mia, Furtado afirma que o custo
    “representa um forte indício de
    eventual superfaturamento, situa-
    ção que merece ser devidamente


apurada”. O Exército informou ao
Estadão que fez duas aquisições
de insumo para fabricação de
cloroquina em 2020. Na primei-
ra, em março, o quilo do produto
custou R$ 488. Em maio, quase o
triplo: R$ 1.304. O órgão afirmou
que a alta se deve à escassez do
produto no mercado mundial e à
variação do preço de frete.
O procurador ainda afirma que
não é “razoável” atitude do gover-
no federal, “sob influência direta
do presidente”, de aumentar de
forma extraordinária a produção
do fármaco. O Palácio do Planal-
to não se manifestou até as 20
horas. / M.V. e BRENO PIRES

lAvanço global
O mundo teve, na quinta-feira, o
maior número de novos casos da
covid-19 desde o início da pande-
mia, informou a Organização
Mundial da Saúde (OMS). Foram
mais de 150 mil registros da
doença em nível global.

Com mil casos, litoral norte reabre praias e quiosques. Pág. A22 }


Entrave em


compra de


testes afasta


País de meta


“O País tem 10 a 15 vezes
menos testes diagnósticos
realizados por milhão de
habitantes que os demais
(países).”
Abin
EM RELATÓRIO ENVIADO AO PLANALTO

Processo para adquirir 12 milhões de exames


rápidos contra a covid-19 pode ser cancelado


Resultado rápido. Exame em larga escala é aposta do governo para enfrentar a pandemia

GABRIELA BILO/ESTADÃO–21/4/2020

MINETO/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS

Portaria do Ministério diz


que convívio é fator de


saúde mental, mas


reconhece prerrogativa


de autoridades locais


Proteção. Cartilha orienta uso de máscara em área pública

Procurador apura


superfaturamento


em cloroquina

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