O Estado de São Paulo (2020-06-20)

(Antfer) #1

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B4 Economia SÁBADO, 20 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


BRASÍLIA


Sete grandes empresas de inves-
timento europeias disseram à
Reuters que vão deixar de inves-
tir em produtores de carne, ope-
radoras de grãos e até em títu-
los do governo do Brasil se não
virem progresso rumo a uma so-
lução para a destruição crescen-
te da Floresta Amazônica.
As ameaças cada vez maiores
de investidores com mais de
US$ 2 trilhões em ativos admi-
nistrados, como o finlandês
Nordea e a britânica Legal & Ge-


neral Investment Management
(LGIM), mostram como o setor
privado está adotando ações glo-
bais para proteger a maior flo-
resta tropical do mundo.
O desmatamento na Amazô-
nia brasileira atingiu uma máxi-
ma de 11 anos em 2019, no pri-
meiro ano do mandato do presi-
dente Jair Bolsonaro, e aumen-
tou outros 34% nos cinco pri-
meiros meses de 2020, de acor-
do com dados preliminares do
Instituto Nacional de Pesqui-
sas Espaciais (Inpe). O presi-
dente afrouxou as proteções
ambientais e pediu mais minera-
ção e agricultura na região.
“As tendências que vemos no
Brasil são muito preocupan-
tes”, disse Daniela da Costa-Bul-
thuis, gerente de portfólio para
o Brasil da empresa de gerencia-
mento de ativos holandesa Ro-

beco. “Você tem um desmante-
lamento dos mecanismos regu-
latórios de controle ambiental
desde o ano passado.”
A assessoria de imprensa de
Bolsonaro não quis comentar as
preocupações dos investidores.
Um projeto de lei proposto
originalmente por Bolsonaro
para conceder títulos de pro-
priedade para terras públicas as-
sentadas irregularmente, medi-
da vista como um incentivo ao
desmatamento, não passou em
uma votação em maio e foi adia-
da por tempo indeterminado
depois que mais de 40 empre-
sas majoritariamente euro-
peias ameaçaram boicotar as ex-
portações brasileiras.
Em setembro, 230 investido-
res assinaram carta pedindo
ações urgentes para combater
os incêndios em crescimento
na Floresta Amazônica, captu-
rando a atenção mundial.
Mas as sete empresas de ge-

renciamento de ativos que con-
versaram com a Reuters – Store-
brand, AP7, KLP, DNB Asset Ma-
nagement, Robeco, Nordea As-
set Management e LGIM – fo-
ram mais longe ao delinear a
ameaça do desinvestimento se
não houver avanço. Elas detêm
mais de US$ 5 bilhões em inves-
timentos ligados ao Brasil, in-
cluindo comerciantes de grãos
com operações de vulto no País.
O KLP, o maior fundo de pen-
são da Noruega, disse que está
interagindo com Archer Daniels
Midland (ADM), Cargill e Bunge
e analisando se suas políticas am-
bientais são adequadas.
“Se nossa conclusão for nega-
tiva, o desinvestimento pode
ser o resultado provável, possi-
velmente ainda neste ano, e
acreditamos que tal ação levaria
outros investidores a seguirem
nosso exemplo”, disse Jeanett
Bergan, chefe de investimentos
responsáveis da KLP, por email.

Altamiro Silva Junior


Os bancos centrais já despeja-
ram US$ 6 trilhões no merca-
do financeiro desde março,
de acordo com cálculo do
Fundo Monetário Nacional
(FMI), em movimento sem
precedente, e parte desses re-
cursos começou a buscar ati-
vos de maior retorno em mer-
cados emergentes. Mas estra-
tegistas de bancos e gestoras
ouvidos pelo Estadão/Broad-
cast mostram cautela sobre
as chances de o Brasil atrair
parte desse capital no curto
prazo.
Juros reais na casa de zero,
recessão, preocupações fiscais
e crescentes ruídos políticos es-
tão entre os fatores menciona-
dos que devem manter os es-
trangeiros menos propensos a
aportar recursos no mercado fi-
nanceiro doméstico.
“Investidores devem perma-
necer vigilantes e considerar o
distanciamento de mercados
que mostram os riscos mais al-
tos (por exemplo, o Brasil)”, aler-
tam os estrategistas do banco
francês Société Générale, em
análise nesta semana que reco-
menda que seus clientes te-
nham postura mais seletiva so-
bre quais emergentes aplicar.
No Brasil, o banco avalia que os
efeitos da pandemia podem au-
mentar tensões políticas e so-
ciais, isso em um ambiente de
risco político já elevado, dete-
rioração fiscal e baixo retorno
real dos ativos, que piorou mais
agora com a última queda da ta-
xa básica de juros.
As estatísticas do Instituto In-
ternacional de Finanças (IIF),
formado pelos 450 maiores ban-
cos do mundo, com sede em
Washington, mostram que os
mercados de ações e renda fixa
dos emergentes tiveram fuga


de quase US$ 100 bilhões em
recursos externos por conta da
pandemia do coronavírus e o
Brasil foi um dos que mais per-
deram capital externo. Os nú-
meros mais recentes mostram
que os fluxos voltaram, mas ain-
da de forma tímida. Em maio,
ficaram em US$ 4,1 bilhões. Os
aportes, porém, se deram de for-
ma desigual entre os emergen-
tes, com investidores preferin-
do a China e outros mercados
asiáticos, segundo o IIF.
Dados do Banco Central mos-
tram que as saídas de capital do
Brasil prosseguiram em junho
pelo canal financeiro, com flu-
xo negativo de US$ 463 milhões
no mês até o dia 12, mesmo com
a Bolsa tendo ensaiado uma re-
tomada dos aportes externos.
No acumulado do ano, a saída
líquida pelo canal financeiro so-
ma US$ 33,8 bilhões. Na B3, em
junho há saldo positivo de R$
2,9 bilhões, mas no ano é negati-
vo em R$ 74 bilhões.
Com os juros muito baixos, o
chefe de economia e estratégia
do Bank of America, David
Beker, ressalta que o Brasil já
perdeu a atratividade para in-
vestimentos na renda fixa. Ao
mesmo tempo, se as taxas histo-
ricamente baixas melhorarem
o ritmo de crescimento do Bra-
sil, e por consequência os lu-
cros das empresas, o País pode
começar a atrair recursos para
outros ativos, principalmente
em ações. Mas não é um movi-
mento para agora, pois depen-
de da retomada da atividade e
das perspectivas de lucrativida-
de para as companhias. “Não ne-
cessariamente vem de imedia-
to”, disse ele. “O investidor es-
trangeiro está muito pouco alo-
cado em Brasil em renda fixa e
ainda tem muito espaço para
alocação na renda variável.”

‘Maré alta’. Em meio aos estí-
mulos monetários e fiscais ja-
mais vistos, e US$ 12,5 trilhões
aplicados em títulos com juros
negativos, os investidores vão
procurar oportunidades nos
emergentes, afirmou o respon-
sável pela área de dívida de
mercados emergentes da ges-
tora inglesa Legal & General
Investment Management (L-
GIM), Uday Patnaik. Mas ele
mostra maior cautela com o
Brasil. Ainda assim, o executi-
vo avalia que o País pode atrair
algum interesse dos investido-
res internacionais, na medida

em que uma “maré alta levanta
todos os barco”.
Contudo, para o Brasil conse-
guir se destacar entre os emer-
gentes, o governo de Jair Bolso-
naro precisa mostrar disposi-
ção em prosseguir com as refor-
mas e, mais ainda, que o ajuste
fiscal melhore a dinâmica da
dívida pública, afirma o gestor
da LGIM. Ele menciona ainda a
necessidade de melhorar o qua-
dro político, resolvendo as acu-
sações que envolvem a família
Bolsonaro.
O sócio da gestora Ibiuna, Ma-
rio Torós, ex-diretor do Banco
Central, estima que o Brasil te-

ve a terceira maior expansão de
gasto fiscal por conta da pande-
mia, atrás apenas de Estados
Unidos e Japão, o que traz preo-
cupação para os investidores.
“Na política fiscal, o governo
testou todos os limites que se
possa imaginar”, disse ele em
evento pela internet do BTG
Pactual, ressaltando que a situa-
ção das contas públicas já não
era boa antes da crise e ficou
ainda pior, se refletindo no real
mais enfraquecido que outras
moedas emergentes e no risco
país mais alto.
Sobre a injeção de recursos
pelos bancos centrais, Torós co-

menta que apenas o balanço do
Federal reserve (Fed, o banco
central americano) teve expan-
são, nos meses de abril e maio,
em volume que representa qua-
se todo o crescimento monetá-
rio nos anos desde o pós-crise
financeira mundial de 2008.
“Estamos anestesiados por vo-
lume sem precedentes de políti-
cas fiscal e monetária.”
Se o dinheiro está mostrando
resistência em entrar no Brasil,
a opção de captar recursos no
exterior tem sido bem-sucedi-
da, não só para o País, mas para
outros emergentes. Na renda fi-
xa, estudo da gestora europeia

BlueBay Asset Management
mostra que a busca por ativos
de maior retorno tem sido cres-
cente, por conta da alta liqui-
dez. Este ano, governos e em-
presas de países emergentes
conseguiram captar US$ 330 bi-
lhões, crescimento de 17% em
relação ao mesmo período de


  1. E as novas captações não
    se limitaram a países com ra-
    ting alto, na categoria grau de
    investimento, mas também paí-
    ses com maior risco, com rating
    nos níveis B ou BB, como Egito,
    Brasil e Bahrein, que têm conse-
    guido colocar papéis no exte-
    rior com forte demanda.


INSS volta a atender


presencialmente a


partir de 13 de julho


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


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Fatia brasileira em


fundos entre o Brics


cai pela metade


Europeias ameaçam


cortar investimentos


contra desmatamento


lCenário


Apesar da liquidez global, analistas apontam juros baixos, recessão, questões fiscais e políticas como entraves ao País ante outros emergentes


Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

O INSS vai retomar gradual-
mente o atendimento presen-
cial nas agências do órgão a par-
tir de 13 de julho de 2020. Uma
portaria deve ser publicada na
próxima segunda-feira fixando
o cronograma e os protocolos
para a reabertura. A informação
foi confirmada oficialmente pe-
lo INSS ontem à tarde.
A minuta do documento, obti-
da pela reportagem, prevê que o
acesso ao interior das agências
será controlado e ficará restrito
a servidores e usuários com agen-
damento prévio. Também have-
rá limite máximo de pessoas no
mesmo ambiente, de acordo
com as dimensões do espaço.
As superintendências regio-
nais do INSS vão fornecer equi-
pamentos de proteção indivi-
dual e coletiva contra a dissemi-
nação da covid-19 e adequar os
espaços e as sinalizações no in-
terior das agências para garan-

tir o distanciamento social.
Os servidores ainda precisa-
rão seguir protocolos de limpe-
za e desinfecção periódica, em
especial dos ambientes de uso
comum e nos consultório onde
são realizadas perícias médicas.
As agências que não tiverem
condições de retomar gradual-
mente o atendimento presen-
cial continuarão funcionando
em regime de plantão. O INSS
precisará divulgar o plano de
ação e um painel eletrônico
com informações sobre o fun-
cionamento das agências, bem
como um acompanhamento so-
bre a eficácia das medidas de
prevenção.
O atendimento exclusiva-
mente por meio dos canais re-
motos fica prorrogado até 10 de
julho deste ano. Depois disso, o
INSS manterá a priorização de
oferta de serviços por meio dos
canais de atendimento remoto,
assim como a possibilidade de
teletrabalho para servidores
que se enquadrarem nesse tipo
de modalidade.
As perícias médicas são um
dos poucos serviços que reque-
rem necessariamente um aten-
dimento presencial. Outras soli-
citações podem ser feitas por ca-
nais digitais.

Weintraub no Banco Mundial é derrota para Guedes. Pág. B6 }


l A participação do Brasil nos
fundos internacionais segue em
queda livre. Nos fundos globais,
a fatia de ativos brasileiros caiu
para apenas 0,2% em maio, de
0,4% em dezembro de 2019, de
acordo com estudo do BTG Pac-
tual, que leva em conta dados da
consultoria americana EPFR, que
monitora carteiras que adminis-
tram US$ 24 trilhões. Nos fundos
dedicados ao Brics (Brasil, Rús-
sia, Índia, China e África do Sul)
a queda foi ainda mais pronuncia-
da, de 17,4% em dezembro para
a metade, 8,8% no mês passado
(ver gráfico ao lado).
Nos fundos dedicados a emer-
gentes, a fatia do Brasil também
teve nova redução e está agora
em 5,2%, ante 8,6% em dezem-
bro, mostra o estudo do BTG. Em
todos os fundos, a participação
brasileira é a menor em mais de
15 anos. “Olhando as alocações
dos investidores internacionais,
vimos que Brasil virou insignifi-
cante”, afirma o estrategista da
Tag Investimentos, Dan Kawa.
Mesmo nos fundos especiali-
zados em América Latina, a par-
ticipação brasileira teve queda
este ano, baixando de 66% em
dezembro para 58%. Na região,
gestores têm preferido o Méxi-
co, que tem taxa de juros de 6%,
o triplo da brasileira, e risco
bem menor. Até a da Argentina,
que adiou o pagamento da dívi-
da a investidores internacionais,
subiu de 1,6% para 3,3% no mes-
mo período. / A.S.J.

GABRIELA BILO / ESTADAO–27/8/2019

Produtores de carne,


operadoras de grãos e


até títulos do governo


podem perder recursos


da ordem de US$ 5 bi
Ambiente. Combater incêndios na Amazônia é prioridade


DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 27/6/2019

“Não necessariamente vem
de imediato (recursos).”
David Beker
CHEFE DE ECONOMIA E ESTRATÉGIA
DO BANK OF AMERICA


“Na política fiscal, o
governo testou todos
os limites que se possa
imaginar.”
Mario Torós
O SÓCIO DA GESTORA IBIÚNA E
EX-DIRETOR DO BANCO CENTRAL


Bolsa. Na B3, em junho saldo positivo é de R$ 2,9 bi, mas no ano está negativo em R$ 74 bi

0,20

5,23

8,77

FATIA MENOR

Participação do Brasil nos Fundos 

EM PORCENTAGEM

2005 2010 2015 2018 2020

0

10,0

20,0

30,0

40,0

24,43

1,14

12,72

34,97

1,97

15,92 12,60

0,52

6,03

0,58

8,03

18,49

FONTES: BTG PACTUAL E EFPR INFOGRÁFICO/ESTADÃO

GLOBAIS EMERGENTES BRICS

Investidor externo vê Brasil com cautela


Retomada nas agências
do órgão será feita
gradualmente e vai
seguir protocolos de
combate à covid-19
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