O Estado de São Paulo (2020-06-20)

(Antfer) #1

A4 SÁBADO, 20 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS PARTICULARES.


Fabrício Queiroz,
ex-assessor de Flávio
Bolsonaro

»Vento virou? Na quinta-
feira passada, a demissão
de Weintraub por Bolsona-
ro não foi suficiente para
virar o jogo midiático dian-
te da relevância da prisão
de Fabrício Queiroz. Passa-
do o susto, no entanto, a
tag #weintraubgovernador
se manteve em alta o dia
todo no Twitter.

»Desenhando. Para quem
ainda tem dificuldade de
entender o bolsonarismo e
a importância de sua guerri-
lha cultural, o episódio é
ilustrativo. Na explicação
de um especialista em mí-
dias eletrônicas, a “candida-
tura” de Weintraub tem na-
riz de fake news, boca de
fake news, corpo de fake
news, mas não pode ser cha-
mada de fake news.

»Balão. Weintraub pode
até vir a disputar o Palácio
dos Bandeirantes em 2022,
claro. Levar a sério a candi-
datura neste momento, po-
rém, é desviar o foco. Ah,
as críticas à (fraca) gestão
dele na Educação também
ficaram em segundo plano.

»Peça-chave. Para quem
acompanha de dentro as
investigações do Ministério
Público do Rio, Queiroz po-
de conectar peças que es-
tão faltando em vários in-
quéritos em curso neste mo-
mento. O ex-assessor do
clã Bolsonaro é TNT pura.

»Sigilo. O governador
João Doria (PSDB) ficou
sabendo da operação da po-
lícia paulista que prendeu
Fabrício Queiroz em Ati-
baia (SP) momentos antes
de ela acontecer.

»Pesos-pesados. O presi-
dente do STF, Dias Toffoli,
e o ex-ministro Nelson Jo-
bim participam hoje de live
do Prerrogativas (11h30, no
canal de YouTube do grupo
jurídico). Na pauta, o papel
do Supremo para manter a
estabilidade democrática.

»Resta... Em plena pande-
mia, o Porto de São Sebas-
tião, no litoral de São Pau-
lo, teve aumento de quase
4% na movimentação de
cargas. Entre março e maio
deste ano, foram 144 mil
toneladas ante 139 mil no
mesmo período de 2019.

»...esperança. Uma novi-
dade do porto, tradicional
no escoamento de bovinos
e de grãos e administrado
pela Companhia Docas, do
governo de SP, foi a retoma-
da, depois de 15 anos, do
transporte de açúcar para
exportação: 75 mil tonela-
das. A ação gerou cerca de
400 empregos e teve o pri-
meiro carregamento com
destino a Gâmbia (África).

»Figa. O secretário João
Octaviano (Logística e
Transportes) estima que a
commodity atinja mais 200
mil toneladas neste ano.

»Refresco. O deputado
João Henrique Caldas, o
JHC, propôs projeto para
dilatar prazos para execu-
ção orçamentária de municí-
pios, Estados e a União, to-
dos passando perrengue.

»Refresco 2. A ideia é que
a execução possa ocorrer
em exercícios distintos do
que originalmente conven-
cionado para não compro-
meter a capacidade adminis-
trativa dos entes, especial-
mente no pós-pandemia.

M


esmo fora da Esplanada, Abraham Weintraub
continua prestando serviços a Jair Bolsonaro: no
dia em que o Brasil bateu 1 milhão de casos confir-
mados/oficiais de covid-19, o ex-ministro da Educação agi-
tou as redes sociais e mobilizou atenções com o lançamen-
to de uma “candidatura” ao governo de São Paulo. Rapida-
mente, a isca foi mordida pelos adversários do presidente
e o balão de ensaio provocativo virou um palanque digital
para Weintraub ajudar Bolsonaro a tentar se esquivar,
por mais um dia, dessa nova triste marca do País na crise.

Weintraub produz mais


uma cortina de fumaça


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Relator avalia voto
opcional a partir dos

60 anos. Pág. A


Weverton Rocha


Miliciano integrava ‘núcleo’


de grupo de Flávio, diz MP


Ministério Público reúne indícios de que ex-PM Adriano Nóbrega, chefe de milícia no Rio, era


‘executivo’ de organização criminosa e participou de plano para esconder família de Queiroz


Marcelo Godoy
Ricardo Brandt

Pela primeira vez desde o iní-
cio das investigações sobre o
gabinete de Flávio Bolsonaro
na Assembleia Legislativa do
Rio, o Ministério Público Es-
tadual encontrou provas de
que pessoas ligadas ao sena-
dor mantinham contato com
o miliciano Adriano Maga-
lhães da Costa Nóbrega, che-
fe da milícia Escritório do Cri-
me, no período em que este
era procurado pela Justiça. O
chefe do grupo criminoso te-
ria participado da elaboração
de um plano de fuga da famí-
lia do ex-assessor Fabrício
Queiroz e integrava, segundo
o MP, “o núcleo executivo da
organização criminosa” lide-
rada pelo atual senador.
Até então, as relações de
Adriano com o gabinete de Flá-
vio haviam acontecido no perío-
do em que, de acordo com as in-
vestigações, ainda não era públi-
ca a associação do ex-capitão
com o crime organizado. Flávio,
por exemplo, havia homenagea-
do o então policial na Assem-
bleia Legislativa do Rio (Alerj).
Também o visitara na cadeia,
quando ele respondia a um pro-
cesso por homicídio. Por fim,
empregou a mãe de Adriano, Rai-
munda Veras Magalhães, e a ex-
mulher dele, Danielle Mendon-
ça da Costa, como funcionárias
fantasmas em seu gabinete na
Alerj, segundo a investigação.
No caso de Raimunda, o Mi-
nistério Público apresentou à
Justiça provas de que ela nunca
esteve na Alerj. Examinando os
deslocamentos de seu telefone
celular, foi possível verificar
que o aparelho jamais se aproxi-

mou do prédio em que ela devia
trabalhar. Raimunda é sócia de
uma pizzaria com o filho. Da
conta da pizzaria saíram R$
69,2 mil para Fabrício Queiroz.
Tanto Raimunda quanto Da-
nielle pertenceriam ao esque-
ma de “rachadinha”, na qual par-
te do dinheiro pago aos assesso-
res do gabinete seria apropria-
do pelo então deputado esta-
dual Flávio Bolsonaro.
No pedido de prisão de Quei-
roz apresentado à 27.ª Vara Cri-
minal, o Ministério Público do
Rio afirma que o capitão Adria-
no “se valia de parentes para in-
tegrar o núcleo executivo da
ORCRIM (organização crimino-
sa)”. O documento estima que
ele repassou mais de R$ 400 mil
para contas administradas por
Queiroz, acusado de ser o opera-
dor financeiro da organização.

Operação. As pistas que liga-
vam o chefe da milícia ao esque-
ma da rachadinha surgiram em
outra investigação do Grupo de
Atuação Especializada no Com-
bate ao Crime Organizado (Gae-
co). Eram dados extraídos do te-
lefone celular apreendido com
Danielle na casa do miliciano du-
rante a Operação Intocáveis.
No WhatsApp da ex-mulher
do criminoso – que morreu em
tiroteio com a polícia baiana em
9 de fevereiro deste ano – foram
achadas conversas com Quei-
roz. Segundo os promotores, ela
tinha ciência de que era funcio-
nária fantasma e temia a origem
ilícita do dinheiro. Por fim, di-
zem os investigadores, Queiroz
e Adriano “tentaram embaraçar
a investigação”, mandando Da-
nielle faltar no depoimento no
MP. Eles enviaram um advoga-
do para conversar com ela, “dei-

xando claro que a organização
criminosa, além de poder pres-
sionar e intimidar as testemu-
nhas dos fatos, estaria abordan-
do as pessoas intimadas e articu-
lando a combinação de teses de-
fensivas fantasiosas entre os au-
tores e partícipes dos crimes”.
Tudo isso antes de Adriano
ter sua prisão decretada. O caso
mais grave ocorreu depois e foi
descoberto com a apreensão do
celular da mulher de Queiroz,
Márcia Oliveira Aguiar, ocorri-
da em 18 de dezembro de 2019.
Naquele dia, conforme o rela-
tório do MP, ela pretendia em-
barcar para São Paulo, onde ia se
esconder com Queiroz, que era
mantido na casa do advogado

Frederick Wassef, em Atibaia.
Para não ser descoberto, Quei-
roz desligava o celular quando
entrava na região de Atibaia –
Márcia era orientada pelo “An-
jo”, o homem que monitorava
Queiroz, a fazer o mesmo.
O plano, segundo o MP, come-
çara a ser traçado um mês antes,
em reunião na cidade do interior
paulista entre Queiroz, o advoga-
do Luis Gustavo Botto Maia, que
defende Flávio Bolsonaro, e o An-
jo. Eles aguardavam o julgamen-
to pelo Supremo Tribunal Fede-
ral sobre o compartilhamento de
dados do Coaf e temiam uma de-
cretação de prisão. Mensagens
de Queiroz à mulher mostram
que o ex-assessor mandou Már-
cia procurar Raimunda, que esta-
va escondida em uma casa na ci-
dade de Astolfo Dutra, em Minas.
Era necessário conversar pes-
soalmente com a mãe do mili-
ciano, que se escondia em Mi-
nas por orientação de Queiroz e
de Botto Maia. O advogado do
senador também participaria
do encontro. Os três iam espe-
rar a chegada da mulher de
Adriano, que levaria ao milicia-
no um recado de Botto Maia.
Quando estavam na cidade,
Márcia mandou foto dela com o
advogado para Queiroz. Ele, en-
tão, segundo a promotoria, adver-
tiu a mulher “para apagar sua lo-
calização, a fim de dificultar even-
tual rastreamento, o que mais
uma vez ressalta a natureza clan-
destina do encontro e o provável
caráter ilícito da proposta que es-
taria sendo encaminhada a Adria-
no”. Depois, novo encontro en-
tre os quatro ocorreu no Rio, no
dia 17, quando a mulher do mili-
ciano voltou da Bahia e transmi-
tiu pessoalmente a reposta do fo-
ragido ao advogado do senador.

Rayssa Motta
Pepita Ortega

O Ministério Público Federal
no Rio intimou o senador Flá-
vio Bolsonaro (Republicanos-
RJ) a prestar depoimento na in-
vestigação que apura suposto
vazamento da Polícia Federal
sobre a Operação Furna da On-
ça. Além de Flávio, serão ouvi-

dos os advogados Ralph Hage
Vianna e Christiano Fragoso.
A investigação faz parte do
procedimento aberto para apu-
rar declarações feitas pelo su-
plente de Flávio no Senado, Pau-
lo Marinho (PSDB). Segundo o
empresário e pré-candidato à
prefeitura do Rio, o filho mais
velho do presidente Jair Bolso-
naro foi previamente avisado

da operação que mirou irregula-
ridades na Assembleia Legislati-
va do Rio e trouxe à tona as mo-
vimentações atípicas nas con-
tas de seu ex-assessor Fabrício
Queiroz, preso anteontem.
Marinho afirmou que, segun-
do relato do próprio Flávio, um
delegado da PF avisou das inves-
tigações pouco após o primeiro
turno das eleições daquele ano
e informou que integrantes da
Superintendência da PF no Rio
adiariam a operação para não
prejudicar Jair Bolsonaro no se-
gundo turno.
Em virtude do foro por prer-

rogativa de função, o Núcleo de
Controle Externo da Atividade
Policial no Rio solicitou que o
procurador-geral da República,
Augusto Aras, encaminhe a inti-
mação. Flávio terá 30 dias, a con-
tar do recebimento, para mar-
car o depoimento.
O advogado de Flávio, Frede-
rick Wassef, classificou as decla-
rações de Marinho como uma
“cortina de fumaça”. O senador
disse a acusação é uma “inven-
ção” e afirmou que o empresá-
rio tem interesse em prejudicá-
lo, já que é seu primeiro-suplen-
te no Senado.

Janaina Paschoal

Senador é intimado a depor


sobre suposto vazamento


BOMBOU NAS REDES!

Defesas deverão


contestar prova com


base em conversas


DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-29/4/

Planalto. Flávio Bolsonaro no palácio; senador diz que prisão de ex-assessor tem objetivo de atingir governo de seu pai

“Foi um acerto tirar o ministro Abraham Weintraub
do MEC. Infelizmente, ele não entende nada de edu-
cação, mas criminoso o homem não é!”

Deputada estadual (PSL-SP)

O Estadão procurou a defesa do
senador Flávio Bolsonaro (Repu-
blicanos-RJ), mas não conseguiu
localizar o advogado Frederick
Wassef. Também procurou a as-
sessoria do parlamentar no sena-
do, mas não obteve reposta. O
jornal também procurou as defe-
sas do ex-assessor Fabrício Quei-
roz, de Raimunda Vera Maga-
lhães, e Danielle Mendonça da
Costa, mas o advogado Paulo
Emílio Catta Preta não quis se
manifestar. A reportagem apurou
que a defesa deve contestar o
valor probatório das conversas
entre os investigados encontra-
das no WhatsApp da mulher de
Queiroz, Márcia Oliveira Aguiar. /
CAIO SARTORI E M.G.

»CLICK. O grupo Prerro-
gativas faz hoje (21h) live
cultural (YouTube), com
Julia Giovannetti, Cesar
Pimentel e cia. Apresen-
tação de Luciana Worms
e Pedro Carriello.

COLUNA DO ESTADÃO

INVESTIGAÇÃO NO RIO

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