O Estado de São Paulo (2020-06-21)

(Antfer) #1

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H2 Especial DOMINGO, 21 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


CHRISTIAN DUNKER VAI COMANDAR PROGRAMA NA TV ABERTA


PSICANÁLISE

Com 30 anos de experiência
clínica, Christian Dunker ,
psicanalista paulista, ganha um
programa de TV. A emissora,
ele ainda não pode revelar,
mas conta que estreia aconte-
cerá ainda durante a pande-
mia da covid-19. “Será sobre
casais que se encontram, so-
bre o amor, e eu serei o media-
dor”, adianta Dunker à colu-
na. Youtuber com quase 200
mil inscritos no seu canal, ele
vive online, mas não se habi-
tuou às consultas por video-
chamadas. “Fico mais cansa-
do e você perde o gestual, o
suspiro do paciente”. Autor de
Mal-estar, sofrimento e sintoma:
uma psicopatologia do Brasil
entre muros , ele vê seu livro de
2015 muito atual neste 2020.
Professor da USP e vencedor
do prêmio Jabuti de 2012, lan-
çou há pouco A Arte da quaren-
tena para principiantes. Veja
trechos da conversa:

lSeu programa já tem nome?
Não posso adiantar. Será nu-
ma emissora na TV aberta
muito importante. A equipe
quer acelerar, mas temos a

quarentena, aí a gente em-
perra: como filma, como faz
com figurante, com ator...

lNa quarentena, casais estão
se separando mais ou ficando
mais unidos?
Eu diria que 50/50. A separa-
ção passou a ser uma decisão
mais problemática porque não
se sabe o fim da quarentena.
Aí ficam em casa fazendo DRs
sem fim. Mas teve uma pacien-
te que se apaixonou de novo
pelo marido, e me perguntou
o que estava acontecendo. Eu
disse: Síndrome de Estocolmo
(risos). Em outros casos, na
mesma proporção, tem gente
que começou a se conhecer
melhor e, de repente, veio a
covid-19, e se viram morando
juntos. Tipo um ‘blind living’
(como ‘blind date’).

lChegamos ao mês três de
isolamento. Como fica a saúde
mental?
Em regra, as pessoas estão
incrementando sua quantida-
de de sofrimento conforme
o tempo passa. Muitos ata-
ques de pânico, gente com

uma espécie de depressão
zumbi, o dia não passa, o noti-
ciário semelhante, sem previ-
são de fim, não sabe se preci-
sa se sacrificar mais, e se per-
gunta “Eu aguento?”. E aí pro-
curam práticas que reduzem
o sofrimento, desde medita-
ção às substâncias ilícitas. É
um desafio brutal tanto pra
quem tá sozinho em casa co-
mo pra quem tá com marido,
esposa, filhos. Passaram a se
questionar: por quê eu não
transformo minha vida?

lComeçou a flexibilização no
País, o que está achando dessa
retomada?
Tivemos o primeiro estágio, o
do medo. O segundo, o da an-
gústia. O terceiro, o luto. Ago-
ra, chegamos ao estágio que
chamo de cuidado – o objeti-
vo, dos protocolos sanitários,
e subjetivo, do emocional. As
pessoas estão em carne viva,
sensíveis e irritadíssimas, mas,
ao mesmo tempo, querendo
se encontrar, se abraçar, se
apaixonar, se encostar uns nos
outros. Então você tem a recei-
ta pra um super encontro.

lA demanda por terapia tripli-
cou, como está sendo atender
por videochamada?
A tela (do celular, do compu-
tador) causa uma distância
enervante. Fico muito mais
cansado, você perde um mon-
te de referências – o gestual,
o suspiro do paciente. E sabe
que do outro lado tem gente
desesperada.

lEstá muito mais exaustivo
pra você também?
Se eu tivesse duas horas de in-
tervalo por dia eu aproveitaria
muito mais, me divertiria. Con-
segui ver um filme ( Sofia ) e
uma série (Fleabag ). Vivo uma
situação similar a que eu tive
em Belo Monte (na tragédia
em 2016, na construção da usi-
na hidrelétrica), quando organi-
zamos uma expedição de psica-
nalistas pra região de Altami-
ra. Atendíamos 70 casos.
Vivi ali uma dedicação clíni-
ca maior do que a que eu
aguento. É quando você
passa do seu limite, mas
tem que ir em frente,
porque é uma situa-
ção de exceção.

lEstá otimista?
Muito! A pandemia trouxe
pra gente uma crise ética.
É nessa hora que aparece
o melhor e o pior da pes-
soa. Esse tipo de perda
real, de vidas, de empre-
gos, nos colocou numa
dieta narcísica. Pra
darmos valor ao que
importa e sabermos
viver com pouco. Está-
vamos muito gordos,
muito donos de si e do
mundo. ‘Eu mando, eu
faço, eu clico e aconte-
ce tudo’. Você, meu ca-
ro, não é de nada pra
um vírus que fechou as
portas do mundo.
\CECÍLIA RAMOS

Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]

Eliana Silva de Souza


O ator Mário Frias, 48 anos, é a
nova aposta do presidente Jair
Bolsonaro para comandar a Se-
cretaria Especial de Cultura. Ele
entra no lugar de Regina Duarte,
que ficou por três meses no se-
tor, sendo exonerada no começo
de junho. Sua nomeação surgiu
em edição extra do Diário Oficial
da União,
na sexta-feira, 19, com
Pedro José Vilar Godoy Horta co-
mo secretário-adjunto (que ha-
via sido chefe de gabinete na ges-
tão de Regina Duarte). Ele assu-
me a pasta recebendo muitas
críticas da classe artística, que co-
loca em dúvida sua capacidade
para assumir o cargo.
Quinta tentativa do governo
Bolsonaro, Frias teve seu nome
levantado para a secretaria nos
momento finais da atuação de Re-
gina Duarte, mantendo encon-
tro com o presidente, a quem de-
fende com força e vigor em suas
falas e em suas redes sociais.
Frias chega ao governo apadri-
nhado pela deputada federal Car-
la Zambelli (PSL-SP), que levou
seu nome ao Planalto. Fã do escri-
tor Olavo de Carvalho, a deputa-
da fez uma declaração em sua
conta do Twitter sobre o novo se-
cretário. “Recebemos com entu-


siasmo a notícia da nomeação do
ator @mfriasoficial como secre-
tário de Cultura do Governo Fe-
deral. Acredito que a gestão de
Mario Frias será muito positiva,
considerando sua vasta expe-
riência como produtor, ator
e empresário”, afirmou.
Apesar do apoio de
sua “madrinha” po-
lítica, o ator foi bas-
tante criticado
por colegas de
profissão. O
ator José de
Abreu, que cos-
tuma se posicio-
nar politicamen-
te nas redes so-
ciais, postou 38 se-
gundos da risada de
Nilo, seu personagem
na novela Avenida Bra-
sil, ironizando a nomea-
ção. E escreveu: “Um secre-
tário de Cultura que conhe-
ce tanto Cultura quanto o
Weintraub conhece o Portu-
guês. Perguntem-lhe o último li-
vro que leu (Cartilha Sodré?), a
última peça que viu (Galinha Pin-
tadinha?), a última exposição
que viu (Romero Brito em Mia-
mi?)”, escreveu.
A atriz Patricia Pillar também
se pronunciou, comentando a

notícia da nomeação dizendo: “É
pra rir ou pra chorar?”. O músico
Leoni criticou a escolha: “O
‘ator’ Mário Frias foi nomeado
para ‘comandar’ a secretaria de
‘cultura’. Sua ‘capacitação’ é ser
bolsonarista”.
O dramaturgo
Alcides Nogueira,
que prepara para
a Globo um re-
make da novela
Amor com Amor
Se Paga, de Ivani
Ribeiro, colocou
em dúvida o que o novo secretá-
rio poderá fazer pelo setor. “Não
conheço pessoalmente o ator
Mário Frias, mas acho que vai
ser mais um a não fazer
nada pela classe artísti-
ca, como seus anteces-
sores, a exemplo de
Regina Duarte”, de-
clarou. “Ele vai ficar
pouco tempo no car-
go, com certeza, pois
não tem respaldo da
classe artística nem
proposta, o que não
é surpresa para
quem se aliou a
um governo co-
mo esse, que quer
calar os artistas e
intelectuais.”
No Twitter, o
ator e diretor Pe-
dro Neschling
escreveu: “ Má-
rio Frias ocupan-
do o mais alto
cargo da Cultu-
ra do país. Nem
como piada eu
pensaria em algo
assim. Se você não
compreende o
quão desastroso is-
so é, eu sinto muito

por todos nós.”
Frias mostra-se um fiel escu-
deiro do presidente, assinando
embaixo de todos as falas do
mandatário e pedindo a seus se-
guidores que não percam a fé no
seu eleito. Em en-
trevista à CNN,
no período de “fri-
tura” de Regina,
ele afirmou: “Pro
Jair, cara, o que
ele precisar eu tô
aqui”.
Antes de Frias,
passaram pela Secretaria Espe-
cial de Cultura Henrique Pires,
Ricardo Braga, Roberto Alvim e
Regina Duarte. José Paulo Mar-
tins entrou como interino, entre
um e outro. O setor vem sofren-
do com essa indefinição, o que
atrasou projetos, e não tem sido
capaz de elaborar um plano de
ajuda aos artistas que estão so-
frendo sem trabalho com a pan-
demia do coronavírus.
Na época em que o nome de
Frias estava sendo avaliado, em
uma live com a amiga Natália La-
ge, a atriz Samara Felippo comen-
tou sobre o tema: “Ele foi protago-
nista junto com a Priscila Fantin
(em ‘Malhação’). É uma referên-
cia daquela época. A questão é
que deveria ser uma pessoa mini-
mamente com discernimento pa-
ra entender que, para estar num
lugar como esse (Secretaria da
Cultura) , de tanta responsabilida-
de, de tanta sabedoria, tem que
estar muito preparado”.
O carioca Mário Frias ficou co-
nhecido nos anos 1990 como o
galã do seriado adolescente Ma-
lhação entre 1997 e 1998, da Rede
Globo. Atuou ainda em novelas
como Meu Bem Querer e O Quinto
dos Infernos. Em Senhora do Desti-
no , ele viveu o deputado Thomas
Jefferson. Fez ainda Floribella
(Band) e Os Mutantes e A Terra
Prometida (Record). É casado
desde 2011 com Juliana Camatti,
com quem tem uma filha. Com a
atriz Nívea Stelmann, com quem
foi casado de 2003 a 2005, tam-
bém tem uma filha.

lA Federação Israelita do Esta-
do de São Paulo realiza hoje dri-
ve thru solidário, no Clube A
Hebraica e no Colégio Renascen-
ça, arrecadando doações para a
Campanha do Agasalho 2020.

lO Grupo JCA está transpor-
tando gratuitamente doações
de empresas para ajudar insti-
tuições e comunidades a en-
frentar o coronavírus. O pro-
grama JCA Solidário permane-
ce aberto a novos parceiros.

lA Docol, exportadora de
metais sanitários, doou mais
de 2.300 produtos, entre tor-
neiras, chuveiros e acessórios,
ao combate à covid-19, soman-
do cerca de R$ 445 mil.

lO Kitchin participa da rede de
solidariedade criada pela Chan-
don Brasil. A cada garrafa de
Chandon pedida no delivery do
restaurante, a marca irá doar cin-
co pratos de comida por meio da
ONG Banco de Alimentos.

Waldick Jatobá tem se dividido durante a
quarentena entre os três projetos que
dirige: o Instituto Bardi, o Instituto
Campana e a feira Made. “Através do
instituto Campana desenvolvemos uma
campanha para distribuir máscaras para
adultos e crianças moradores da
comunidade do Moinho. Também estamos
preparando uma vaquinha online com o
Abacashi para arrecadar fundos”. No
campo pessoal, o curador conseguiu
finalizar o projeto de mestrado e agora é
mestre em arquitetura, design e urbanismo.

RESPONSABILIDADE
SOCIAL

NOVO NOME NA


‘Senhora
do Destino’.
Frias
interpretou
deputado

CHEGA AO GOVERNO
APADRINHADO PELA
DEPUTADA FEDERAL
CARLA ZAMBELLI

POLAROID


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Ator Mário Frias é a quinta tentativa do governo na secretaria,


cujo posto estava vazio desde a saída de Regina Duarte


CULTURA


JOÃO MIGUEL JÚNIOR /TV GLOBO

IARA MORSELLI/ESTADÃO

ARQUIVO PESSOAL

Caderno 2

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