O Estado de São Paulo (2020-06-21)

(Antfer) #1

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A4 DOMINGO, 21 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»SINAIS
PARTICULARES.
Jair
Bolsonaro,
presidente da
República

»Sai... Os efeitos da pande-
mia só não são considera-
dos um caminhão sem
freios na popularidade de
Bolsonaro por causa do au-
xílio emergencial de R$
600, que faz o presidente
se manter resiliente.

»...da frente. O auxílio, po-
rém, é finito e pode termi-
nar antes da catástrofe sani-
tária, justamente quando o
desemprego estiver aumen-
tando no País, indicam pro-
jeções confiáveis. A partir
daí, o caminhão estará sem
freios na Ladeira da Miseri-
córdia, em Olinda, ou na
“da Morte”, em São Paulo.

»Popularidade. A longa
duração da pandemia e o
aumento de casos da covid-
19 no interior do País ten-
dem a enfraquecer a estraté-
gia adotada por Bolsonaro
de fingir que o problema
não é dele. Por mais que a
conta seja dividida com os
prefeitos e os governado-
res, uma parte da fatura se-
rá cobrada do presidente.

»Veja... Claro, Frederick
Wassef é um fio desencapa-
do e Queiroz pode fazer al-
guma revelação bombástica
que, se comprovada, atinja
diretamente o mandato de
Jair Bolsonaro (o entorno
do presidente descarta).

»...só. Mesmo nesse pior
cenário, Jair Bolsonaro pre-
cisará do STF para tentar,
de alguma forma, controlar
as investigações no Rio. Por
isso, “pacificar” a relação
tem de ser a prioridade.

»Ruas. São Paulo terá ho-
je, a partir das 10h30 saindo
da Avenida Sumaré, carrea-
ta silenciosa pela democra-
cia e em homenagem às víti-
mas da covid-19 e aos pro-
fissionais de saúde.

»Xi. Um analista recomen-
da: é bom Jair Bolsonaro
rezar para Donald Trump
se reeleger nos EUA.

»Só... Apesar da lacração
nas redes sociais, Abraham
Weintraub não é particular-
mente um sucesso de popu-
laridade na “vida real”. Pes-
quisa da consultoria Traves-
sia, realizada com exclusivi-
dade para a Coluna , mostra
que 55% dos entrevistados
têm imagem negativa do
ex-ministro da Educação.

»...nas redes. Nada menos
que 53% concordaram com
a demissão dele. Ou seja,
apoio digital não se traduz
em aprovação, o que pode
ser um empecilho para mo-
vimentos futuros arrojados,
como o balão de ensaio da
candidatura ao governo.

»Quem? Ainda sobre a
imagem do ex-ministro,
26% dos entrevistados dis-
seram não conhecer Wein-
traub suficientemente para
opinar e só 19% consideram
a imagem dele positiva.

»Saudosos. Dos entrevista-
dos, 33% responderam que
Weintraub não deveria ter
saído da Educação.

»Dados. 1.002 pessoas fo-
ram entrevistadas no últi-
mo dia 19 (42% são do Su-
deste, 28% do Nordeste,
15% do Sul e 15% das re-
giões Centro-Oeste e Nor-
te). A margem de erro é de
3 pontos porcentuais; o ní-
vel de confiança, de 95%.

COM MARIANA HAUBERT

A


despeito do alto risco que embute, a prisão de Fabrí-
cio Queiroz (pelo o que se sabia até ontem, 20/06)
deve representar apenas mais uma rachadura na
popularidade de Jair Bolsonaro, pondera gente próxima
do presidente e avaliam analistas. As maiores ameaças à
governabilidade continuam a ser o conflito com o STF e a
covid-19: a refrega entre Poderes só impinge derrotas a
Bolsonaro e a interiorização da doença, somada à inani-
ção da economia e ao possível fim do auxílio emergencial,
projetam um segundo semestre difícil para o presidente.

O risco do caminhão


sem freios na ladeira


ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
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POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

KLEBER SALES/ESTADÃO

Câmara dos Deputados
recebe 48 pedidos de

impeachment. Pág. A


Jair Bolsonaro


Prisão de Queiroz servirá


de base para 1ª denúncia


Promotores que apuram esquema de ‘rachadinha’ na Alerj devem separar ações por


núcleos do que chamam de ‘organização criminosa’ no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro


Caio Sartori / RIO
Marcelo Godoy

A operação que levou à prisão
do ex-assessor parlamentar
Fabrício Queiroz será a base
da denúncia que o Ministério
Público do Rio deve apresen-
tar contra o primeiro grupo
de investigados no caso da
“rachadinha”. Investigado-
res e advogados que conhe-
cem o caso disseram ao Esta-
dão que os promotores de-
vem dividir os processos de
acordo com os núcleos da cha-
mada organização criminosa
que funcionaria no gabinete
do então deputado estadual
Flávio Bolsonaro, na Assem-
bleia Legislativa do Rio.
No pedido de prisão de Fabrí-
cio Queiroz, os promotores
mostraram que obtiveram na
Justiça 103 quebras de sigilos
bancários e fiscais de empresas
e pessoas para apurar cinco cri-
mes: organização criminosa,
obstrução da Justiça, peculato,
lavagem de dinheiro e inserção
de informação falsa em docu-
mento público. Juntos, esses de-
litos têm penas que atingem, so-
madas e em caso de condena-
ção, um mínimo de 13 anos e um
máximo de 45 anos de prisão.
A decisão de fazer novas bus-
cas no caso durante a ação que
culminou na prisão de Queiroz
na Operação Anjo pode levar
ainda a novas diligências, em ra-
zão do que for descoberto na pe-
rícia nos telefones do ex-asses-
sor e do advogado Luiz Gustavo
Botto Maia, outro alvo. Um dos
objetivos dos promotores é

identificar o personagem que
usa o codinome de Anjo, respon-
sável por dar ordens para Quei-
roz e mantê-lo escondido em
Atibaia, onde foi preso na quin-
ta-feira pela Polícia Civil de São
Paulo. O imóvel em que o ho-
mem apontado como o opera-
dor financeiro do esquema frau-
dulento chefiado pelo senador
estava pertence ao advogado
Frederick Wassef, que defende
Flávio Bolsonaro (Republica-
nos-RJ) e é amigo do presidente
Jair Bolsonaro.
No caso da Operação Anjo, os
promotores disseram ao juiz
Flávio Itabaiana, da 27.ª Vara
Criminal do Rio, que estavam
investigando lavagem de dinhei-
ro, obstrução da Justiça e pecu-
lato. A ação atingiu quatro inte-
grantes do que a promotoria de-
signa como o primeiro núcleo
da organização criminosa. Tra-
ta-se do grupo ligado ao ex-as-
sessor parlamentar.
A divisão da organização cri-
minosa em grupos fez parte da
fase anterior da apuração da pro-
motoria, quando, em 18 de de-
zembro de 2019, foram cumpri-
dos 24 mandados de busca e
apreensão e quebrados os sigi-
los bancários, telefônico e fiscal
dos seus integrantes.
No grupo de Queiroz, o Minis-
tério Público lista 14 pessoas.
Além dele, são citadas as duas
filhas do ex-assessor – Nathália
Melo de Queiroz e Evelyn Melo
de Queiroz –, e sua mulher, Már-
cia Oliveira Aguiar. Márcia teve
a prisão preventiva decretada
na Operação Anjo, mas perma-
necia foragida até a conclusão

desta edição. Os dois outros in-
tegrantes do grupo que foram al-
vo da operação são as ex-assesso-
ras Luiza Souza Paes e Alessan-
dra Esteves Marins.

Acusação. É este núcleo que
deve ser o alvo da primeira de-
núncia criminal. Com a reparti-
ção do caso em mais processos,

os promotores evitariam uma
ação demorada e confusa, com
dezenas de fatos e condutas a
serem examinadas, o que pode-
ria tumultuar o processo, tor-
nando-o moroso. A ideia seria
garantir agilidade às ações, se-
guindo o modelo da Operação
Lava Jato, em Curitiba.
Advogados que atuam no caso
disseram ainda que esperam que
os demais cinco grupos listados
pelo MP deem origem a proces-
sos diferentes. O segundo grupo
investigado era liderado pelo ex-
capitão da PM e miliciano Adria-
no Magalhães da Nóbrega, mor-
to em fevereiro em tiroteio com
a polícia no interior da Bahia. Ele,
sua mãe e sua ex-mulher, além
das duas pizzarias das quais ele
era sócio, teriam repassado R$
405 mil, dos quais R$ 202 mil por
meio de saques em dinheiro, pa-
ra o operador financeiros da orga-
nização criminosa.
O terceiro grupo seria o com-
posto por ex-assessores de Flá-
vio que moravam em Resende,
no interior do Rio, e que repassa-
vam ao então deputado quase a
integralidade de seus salários
na Alerj. O grupo é designado
como “família Siqueira”. O quar-
to grupo é o liderado pelo PM
Diego Sodré de Castro Ambró-
sio e a empresa de vigilância San-
ta Clara. O quinto caso é o da
loja de chocolates do senador e
por fim, no último grupo, está a
investigação das transações
imobiliárias. Os promotores
não decidiram ainda se vão ou
não apresentar uma denúncia
específica apenas para o crime
de organização criminosa.

RIO

A Justiça negou o pedido para
substituir a prisão preventiva
de Fabrício Queiroz por prisão
domiciliar, segundo informou
na madrugada de ontem, o Tri-
bunal de Justiça do Rio (TJ-RJ).
O pedido havia sido apresen-
tado na sexta-feira pelo advoga-
do Paulo Emílio Catta Preta, de-
fensor de Queiroz. Ex-assessor

parlamentar do senador Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ),
ele foi preso na quinta-feira e
está no complexo penitenciário
de Gericinó, em Bangu (zona
oeste do Rio). O advogado ale-
gou que Queiroz se recupera de
um câncer e, em razão de seu
estado de saúde, deveria cum-
prir prisão domiciliar.
O pedido foi distribuído à 3.ª
Câmara Criminal do TJ-RJ, e

coube à desembargadora Sui-
mei Meira Cavalieri julgá-lo.
Ela negou o pedido, segundo a
assessoria de imprensa do TJ. O
mérito do habeas corpus será
julgado futuramente pelo cole-
giado da 3.ª Câmara Criminal.

Flávio. O senador Flávio Bolso-
naro divulgou ontem uma nota
na qual se diz “vítima de um gru-
po político” e reafirma sua ino-
cência. No texto, Flávio não ci-
tou nomes de opositores e tam-
pouco deixou claro qual seria o
grupo político do qual seria víti-
ma de perseguição.
“O senador Flávio Bolsonaro

é vítima de um grupo político
que tem patrocinado uma verda-
deira campanha de difamação.
Essas pessoas têm apenas um
objetivo: recuperar o poder que
perderam na última eleição”,
diz a nota. “Apesar dos incessan-
tes ataques à sua imagem, Flá-
vio Bolsonaro continua a acredi-
tar na Justiça. Ele reafirma ino-
cência em qualquer das acusa-
ções feitas por seus inimigos e
garante que seu patrimônio é to-
talmente compatível com os
seus rendimentos. Tudo ficará
inequivocamente comprovado
dentro dos autos.” / FÁBIO
GRELLET e MARCIO DOLZAN

Elena Landau

Advogados dos


investigados não


se manifestam


Justiça do RJ nega habeas


corpus para ex-assessor


Investigação no Rio


SEBASTIÃO MOREIRA/EFE - 18/6/

Corpo de delito. O ex-assessor Fabrício Queiroz (ao centro) no dia em que foi detido pela Polícia Civil de São Paulo

BOMBOU NAS REDES!

GABRIELA BILO/ ESTADÃO

“O cara (Weintraub) já fugiu para Miami? Eu achava
que esse pessoal era adepto do ‘a verdade vos liberta-
rá’. Pelo jeito, é ‘Miami vos libertará’.”

Economista

lO Estadão procurou o advoga-
do Paulo Emílio Catta Preta, que
defende a família do ex-capitão
da PM Adriano Magalhães Nóbre-
ga e o ex-assessor Fabrício Quei-
roz. Catta Preta informou apenas
que havia pedido um habeas cor-
pus em favor de Queiroz em ra-
zão de sua saúde – o ex-asses-
sor tratara um câncer em 2019.
No mais, o advogado não quis se
manifestar. O Estadão não con-
seguiu localizar a defesa dos de-
mais acusados citados pelo Mi-
nistério Público. Dono da casa
onde Queiroz foi preso, o advoga-
do Frederick Wassef – que defen-
de o senador Flávio Bolsonaro –
nega ter “escondido” o ex-PM
em seu escritório em Atibaia e
também diz não ser o “anjo” men-
cionado em conversas intercepta-
das pelo Ministério Público. As
afirmações foram feitas ontem,
em entrevista ao jornal Folha de
S. Paulo. / C.S. e M.G.

»CLICK. Os deputados
federais do Novo Alexis
Fonteyne (SP) e Paulo
Ganime (RJ) no Salão
Verde da Câmara. Ses-
sões presenciais ainda
permanecem suspensas.

COLUNA DO ESTADÃO
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