O Estado de São Paulo (2020-06-22)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-12:20200622:
A12 SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


MAURO CEZAR


PEREIRA


Esportes


N


o início da quarentena provo-
cada pela pandemia do novo
coronavírus, os grandes de
São Paulo tomaram posição conjun-
ta: não treinar e aguardar o momen-
to certo para retornar às atividades.
Saúde em primeiro lugar, era o lema.
Nobre, justo, correto, óbvio. Mas
passaram-se mais de três meses e o
Brasil segue na contramão do mun-
do na luta contra o vírus. Enquanto
os países europeus se trancafiaram
para achatar a temida curva, aqui vi-
vemos exatamente o inverso.
Jamais tivemos um real bloqueio,
uma quarentena pra valer, com ape-

nas pessoas indispensáveis em suas ati-
vidades profissionais indo às ruas.
Pior, com o passar do tempo, em meio
aos desmandos governamentais, mais
brasileiros saíram de casa.
A covid-19 aproveita, se espalha, já
matou mais de 50 mil pessoas, fora os
casos subnotificados, e o Brasil se fir-
mou no segundo lugar do ranking mun-
dial de óbitos provocados pela doença.
Em suma, não avançamos, regredimos.
Passados os três meses suportáveis,
os clubes de São Paulo sentem a asfixia
financeira provocada pela brusca que-
da de receitas. Não há mais como espe-
rar o momento adequado, pois nin-

guém sabe se ele realmente virá e mui-
to menos quando.
Por isso os maiores do futebol paulis-
ta se reuniram com prefeito, reivindi-
caram ao governo estadual, mostra-
ram seus protocolos de segurança, lu-
taram pela autorização. E amanhã seus
atletas poderão novamente treinar.
A coluna entrou em contato com os
clubes, que apresentam diferentes ar-
gumentos para o retorno às atividades.

As justificativas vão das finanças es-
tranguladas à preocupação com o esta-
do físico e técnico dos atletas.
“A situação do clube não foge à regra
diante dessa calamidade pública. Sem
receitas não temos recursos”, resume
o presidente do Santos, José Carlos Pe-
res. “Voltaremos quando tivermos si-
nal verde das autoridades de saúde, am-

paradas pelo governo”, acrescentou
“Sem bilheteria, os clubes perderão
entre 30% e 40% da receita anual. Com
relação à TV, caso o Brasileirão não ter-
mine neste ano, não teremos, em
2020, 30% do contrato referente à clas-
sificação final”, destaca Elias Albarel-
lo, diretor financeiro do São Paulo.
“Jogar demora um pouco, mas trei-
nar é importante para não colocar em
risco os jogadores”, lembra Matias Ávi-
la, diretor financeiro do Corinthians.
De fato, a longa inatividade, sem parti-
das e treinamentos adequados pode
afetar seriamente os elencos.
Por intermédio de sua assessoria, o
Palmeiras afirma que não pressionou
pela volta. Mas, autorizado para fazer
avaliações, se prepara para o retorno.
O clube tem todo o planejamento pron-
to para a retomada dos trabalhos den-
tro das possibilidade momentâneas.
Era ótima a intenção de esperar que
o novo coronavírus fosse controlado
no Brasil. Mas as contas seguem baten-
do à porta, as folhas de pagamento,

mesmo com reduções, ainda são ele-
vadas e há uma cota da televisão pe-
las transmissões do campeonato
paulista pendente.
Voltar aos jogos será preciso para
que os cofres sejam oxigenados.
Além disso, patrocinadores seguem
escondidos sem a bola rolando. Ain-
da não se sabe quando será possível,
mas para que aconteça, os jogadores
devem estar aptos.
Três meses de inatividade é perío-
do bem maior do que o das férias ao
final de cada ano. E os elencos repre-
sentam imenso investimento dos
clubes de futebol, cuja indústria so-
fre como diversos outros segmen-
tos da economia.
Não será surpresa se, independen-
temente do crescimento da curva,
do número de infectados e das mor-
tes, presenciarmos a defesa pela re-
torno dos jogos em São Paulo. Em
meio ao caos nacional, o futebol ten-
ta aprender a conviver com o vírus e
a driblá-lo.

Andreza Galdeano
Paulo Favero


A crise no esporte gerada pela
pandemia do novo coronaví-
rus tem afetado cada vez mais
as modalidades, que já passa-
vam por momentos de incer-
teza após a queda de investi-
mento depois dos Jogos Olím-
picos do Rio. O vôlei teve sua
Superliga interrompida an-
tes do fim e muitos jogadores
ficaram sem contrato após o
fim do vínculo com os clubes.

O problema pega inclusive
campeões olímpicos de 2016,
que apesar de terem um ouro no
currículo, vivem um momento
de grande insegurança. Muitos
times nem sequer sabem quan-
do poderão retomar as ativida-
des. Até por isso, esses profissio-
nais estão de olho em clubes de
fora do País e investem em ou-
tras áreas na expectativa de a si-
tuação econômica melhorar.
Evandro, campeão com a sele-
ção brasileira nos Jogos do Rio,
se despediu do Sada Cruzeiro
em maio, após o quatro tempo-
radas. Aguardando novas pro-
postas, ele lançou uma marca
de roupas em conjunto com a
namorada, Bruna Lecardeli, e
aposta nos estudos durante a
quarentena.
“O mercado do vôlei não está
igual aos outros anos. Ele está
bem complicado. Alguns joga-
dores já fecharam novos contra-
tos, mas grande parte segue
sem clube. É difícil estar sem ti-
me até agora. Fico preocupado,
sem saber o que fazer. Em com-
pensação, estou tentando inves-
tir em outras áreas”, conta em
entrevista ao Estadão.
“Precisamos esperar para ver
como o mercado vai reagir lá na
frente. Mas estou seguindo em
frente. Até abri a marca de rou-
pas Eight BE e consigo dar bas-
tante atenção para esse novo in-
vestimento. Também procuro


focar nos estudos, realizar pa-
lestras, estudar o Insta-
gram...Está bem interessante
essa parte. Já o lado profissio-
nal, apesar de ser um campeão
olímpico e um bom jogador, es-
tá bem complicado”, lamenta
Evandro.
No mesmo cenário está o téc-
nico Rubinho, que comandava
o Sesi-SP e foi auxiliar de Ber-
nardinho na conquista olímpi-
ca de 2016. O clube não renovou
os contratos do elenco profis-
sional e ele acabou ficando sem
um time para comandar. Por-
tanto, também busca uma nova
oportunidade no mercado. Até
lá, o treinador está aproveitan-
do o tempo livre para realizar
encontros online com colegas
de profissão, lives e também mi-
nistrar o curso nacional de trei-
nadores unto à Federação Mi-
neira de Voleibol.
“Estou afastado do Sesi des-
de maio. Antes, eles me avisa-
ram que eu não ficaria na equipe
em função dos problemas finan-
ceiros e reajustes que a institui-
ção teria de fazer. Agora estou
aguardando uma chance fora do
Brasil. Não que eu queria sair da-
qui, mas acho que vou ter uma
oportunidade melhor. Tenho
um procurador que está anali-
sando algumas negociações
mais diretas. O importante é
não desanimar”, diz Rubinho.
Para ele, “existe um pouco

mais de perspectiva fora do
País”. “Para quem está buscan-
do uma nova oportunidade na
carreira, o melhor cenário está
fora do Brasil. Lá as coisas estão
um pouco mais avançadas, já
que eles tiveram a pandemia
um pouco antes da gente.”
Assim como Rubinho, o cam-
peão olímpico Éder também
percebeu que as melhores opor-
tunidades para os atletas brasi-
leiros estão surgindo em times
estrangeiros. O central tam-
bém se despediu do Sesi, mas
assinou contrato com uma equi-
pe alemã.
“O vôlei foi amplamente afe-
tado pela pandemia. Hoje as
pessoas estão pensando no seu
bem-estar e o esporte acaba sen-
do voltado mais para a área do
lazer das pessoas. Então, acaba
não sendo uma prioridade e é o
correto. Só que por outro lado,
o vôlei já vinha com bastante di-
ficuldade aqui no Brasil em fun-
ção da crise. Tivemos bons cam-
peonatos nos últimos anos,
mas a Superliga não tinha mais
o equilíbrio de bons times”, diz
o jogador.
“Acredito que o vôlei vai ter
bastante dificuldade no próxi-
mo ano. É um momento para
rever os nossos conceitos no
Brasil e aproveitar essa crise co-
mo uma oportunidade para re-
começar de uma forma melhor.
Ter mais projeção e visibilida-
de”, continua. Apesar de ser
campeão olímpico, Éder desta-
ca que não foi fácil achar uma
nova equipe. “Eu não arrumei
um clube rápido e estava preo-
cupado com a situação porque
o tempo estava passando. Foi
bem difícil. Todos estão passan-
do por isso, por essa dificulda-
de, em razão dessa crise no Bra-
sil. Estamos vendo muitos joga-
dores indo para o exterior justa-
mente por esses fatores”.
Apesar de acreditar que o vô-
lei terá de enfrentar mudanças

após a crise, o levantador Wil-
liam, companheiro de Éder no
Sesi, espera continuar no Brasil
com o objetivo de fortalecer a
modalidade no País. “Essa é a
minha intenção”, afirma o atle-
ta, que está próximo de anun-
ciar o seu novo clube.
“Ainda não fechei com ne-
nhum time. Os clubes estão vol-
tando aos poucos e os atletas
dependem dessa reabertura pa-
ra poder avançar numa negocia-
ção. Por esse motivo eu ainda
não tenho nada concreto, ape-

nas conversas prévias, até por-
que essas conversas já existiam,
mas com todo esse cenário no-
vo por causa da pandemia as coi-
sas pararam e estão sendo reto-
madas aos poucos”, explica.
Questionado sobre a possibi-
lidade de não conseguir uma
equipe e precisar sair do Brasil,
William revela não ter receio.
“Isso não passou pela minha ca-
beça. Talvez o Brasil esteja so-
frendo um pouco mais e opções
fora do País existem e são con-
cretas, mas a minha ideia ainda

é permanecer aqui”, conta.
“Não é só o vôlei que está vi-
vendo uma situação complica-
da, mas o esporte no geral e até
outras áreas por causa da pande-
mia. Acredito que teremos de
nos adaptar a uma nova realida-
de, entender o cenário e ver
quais vão ser as medidas a se-
rem tomadas de precaução para
que o esporte possa voltar com
segurança. Não sei se normal-
mente, mas da melhor maneira
possível e atrativo como sem-
pre foi”, completa William.

Vôlei. Dificuldade causada pela covid-19 agrava situação do Esporte, que já vivia dias mais complicados; atletas buscam equipes no exterior


E-MAIL: [email protected]
INSTAGRAM: @maurocezar
TWITTER: @maurocezar

Futebol tenta driblar o vírus


]Em grande fase nesta temporada,
o atacante Arthur Cabral marcou pe-
lo Basel na derrota para o Luzern por
2 a 1, ontem, e chegou a 12 gols pelo

clube. Com isso, atingiu a meta esti-
pulada no contrato de empréstimo
negociado pelo Palmeiras e ativou a
cláusula automática de compra pelo
time suíço. A transferência renderá
cerca de R$ 13 milhões à equipe pau-
lista, dona de 50% dos direitos.

SITUAÇÃO

ARTHUR CABRAL RENDERÁ
R$ 13 MILHÕES AO PALMEIRAS

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


‘É difícil estar sem
time, preocupa. Em
compensação, estou
tentando investir
em outras áreas’

Crise deixa campeões olímpicos sem time


Evandro

Era ótima a intenção de esperar
o controle do vírus. Mas as
contas seguem batendo à porta

OURO NOS JOGOS DO RIO-

Corinthians tem 21 casos


de covid-19 no elenco


DENIS BALIBOUSE/REUTERS-7/11/

LEANDRO RAMOS

Roupas.
Bruna e
Evandro, ouro
no Rio: novo
investimento

O Corinthians confirmou on-
tem que 21 jogadores do elenco
profissional foram infectados
pelo novo coronavírus desde o
início da pandemia. Desses, 13
já se recuperaram, enquanto ou-
tros oito estão afastados, não
irão ao CT Joaquim Grava hoje,
na reapresentação, e serão sub-
metidos a novos exames, para
que recebam o aval médico para
treinar e trabalhar.
O número impressiona, pois
significa que apenas seis dos 27

atletas não tiveram a covid-19.
O clube, porém, não revela a
identidade dos jogadores que
testaram positivo
“Outros 19 atletas se apresen-
tarão no CT Dr. Joaquim Grava,
na segunda-feira (22), para a re-
tirada de Equipamentos de Pro-
teção Individual (EPI) que se
tornarão de uso pessoal no dia a
dia, além de materiais de treino
como uniformes e chuteiras,
que serão conduzidos e higieni-
zados pelos atletas em suas ca-

sas”, afirmou o clube.
Entre integrantes da comis-
são técnica, do estafe do clube e
funcionários do CT Joaquim
Grava, o número de infectados
é de 34. Desses, cinco ainda não
se recuperaram do coronavírus
e cumprem as medidas de qua-
rentena. Todos eles, porém, es-
tão assintomáticos.
O Corinthians teve um caso
de coronavírus tornado públi-
co, do massagista Raimundo
"Ceará", que apresentou sinto-
mas da covid-19 e precisou ser
hospitalizado. Ele apresentou
melhora, mas ficará afastado pe-
los próximos dias por ser do dos
grupos de risco – tem mais de
60 anos. / LEANDRO SILVEIRA
Free download pdf