O Estado de São Paulo (2020-06-22)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-2:20200622:
B2 Economia SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Primeira Pessoa


E-MAIL: [email protected]

F


oi tudo culpa da Yersinia pes-
tis. Esta bactéria, alojada em
ratos, acabou infestando se-
res humanos na Europa no século
14, deflagrando a Peste Negra. O re-
sultado foi devastador. A população
europeia caiu de 94 milhões, em
1300, para 68 milhões, em 1400. A
dizimação da força de trabalho ele-
vou os salários, obrigando a Coroa
inglesa a decretar um edito em 1349
que proibia aos trabalhadores recu-
sar oferta de emprego com paga-
mento “usual” do período anterior à
pandemia. A ideia era combater au-
mentos de salário. Quem nos ensina
isso é W. Scheidel, no portentoso
The Great Leveller , livro em que o his-
toriador vende a tese de que gran-
des catástrofes tiveram impacto po-
sitivo na redução da desigualdade
social ao longo da História.
Nossa peste é, felizmente, menos
voraz. Não será pela redução absolu-
ta da oferta de trabalhadores que a
distribuição de renda será menos
concentrada. Mas o impacto sobre
a desigualdade será contundente.
Menos mal que agora a crise econô-
mica veio acompanhada de queda
nos juros. O padrão brasileiro é ele-
var os juros quando a chapa esquen-
ta, o que premia os ricos. Ainda as-
sim, o aumento na desigualdade po-
de ser significativo. Basta pensar-
mos que as atividades que podem
ser exercidas remotamente são liga-
das a tarefas administrativas ou in-
telectuais. Trabalhadores manuais,
por definição, são os maiores preju-
dicados. Na educação, o efeito per-
verso não demorará a se manifes-
tar. Crianças de famílias pobres
têm enorme desvantagem em se-
guir as aulas em casa. Mas é possí-
vel, se houver vontade, adotar políti-
cas públicas compensatórias. O au-
xílio emergencial mostrou o cami-
nho. É evidente que ao custo de qua-
se R$ 600 bilhões por ano sua pere-
nização é inviável. Mas é possível
encontrar fórmulas intermediá-
rias. Pagar R$ 300 mensais para ca-
da criança com até quatro anos, por
exemplo, custaria algo como R$ 52
bilhões por ano. Não é pouco dinhei-
ro. Este gasto, no entanto, não eleva-
ria a relação dívida/PIB, uma vez
que o PIB sobe na mesma propor-

ção do gasto (na verdade, um pouco
mais) e a despesa seria parcialmen-
te compensada pelo aumento da ar-
recadação, no rastro do aumento
do consumo. Claro que não paga a
conta. Mas pode-se também corri-
gir distorções. Nas contas do econo-
mista Marcos Mendes, do Insper, o
fim da desoneração da cesta básica
(que é ineficaz porque contempla
ricos e pobres simultaneamente)
pode render R$ 15 bilhões, ao passo
que a extinção das deduções por de-
pendentes e gastos com saúde e edu-
cação significaria R$ 28 bilhões adi-
cionais. Sem falar do imposto me-
nor que incide sobre os fundos ex-
clusivos, a doideira mais grandilo-
quente do nosso manicômio tribu-
tário (os bancos não montam fun-
dos com apenas um cotista com me-
nos de R$ 15 milhões de patrimô-
nio). Há numerosas formas, mais
elaboradas, sendo discutidas. Sim,
é possível. Mas há três obstáculos.
O primeiro é que combater as ini-
quidades sociais nunca foi priorida-
de do presidente Bolsonaro. Sua ade-

são, agora que luta para sobreviver,
é improvável. Ele não entende que
ou vamos todos juntos ou não ire-
mos a lugar algum. Também a equi-
pe econômica não vê relevância nes-
te tema. Se houver a perspectiva de
aumentar a arrecadação, a preferên-
cia será por reduzir o déficit, ao in-
vés de fazer transferências para os
mais pobres. Para eles, o Estado é
sempre o problema, nunca a solu-
ção. O terceiro obstáculo é a ausên-
cia de capital político para avançar
em mudanças que promovam a dis-
tribuição de renda. A articulação do
Executivo é pífia. Não há consenso,
não há liderança, não há coordena-
ção, não há projeto. Não há compro-
misso. Nem partido o presidente
tem. É possível mudar, mas antes é
preciso querer.

]
ECONOMISTA, FOI DIRETOR DE POLÍTICA
MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL E PRO-
FESSOR DE ECONOMIA DA PUC-SP E DA
FGV-SP. E-MAIL: LUISEDUARDOAS-
[email protected]

Se houver vontade, é
possível adotar políticas
públicas compensatórias
mais perenes

A


Cibra Fertilizantes investirá US$ 80 milhões para surfar no merca-
do crescente de adubos. Vai ampliar a estrutura e atrair clientes por
meio do e-commerce, tendência também no setor de insumos agrí-
colas. Hoje tem uma unidade de produção, nove misturadoras e um centro
de distribuição. “São diversos projetos de ampliação – as obras começam
no ano que vem – e temos buscado locais para construção ou adquirir plan-
tas já existentes”, conta Santiago Franco, CEO da Cibra. A maior capacida-
de dará condições à empresa de atingir até 3 milhões de toneladas de adu-
bos entregues no Brasil em cinco anos. Para 2020, a projeção é de 1,7 mi-
lhão de toneladas. De janeiro a maio, a Cibra entregou 50% mais, enquanto
o mercado cresceu 8% a 9%, segundo Franco. O executivo espera que a par-
ticipação no mercado, de 5%, chegue a 10% em cinco anos. A Cibra prevê
faturar ao menos R$ 2,5 bilhões em 2020.


É preciso


querer


»Online. Um dos projetos já está
em vigor: uma loja online, de olho
nos pequenos e médios produtores.
A companhia chegou a criar uma
startup para concretizar a ideia. “A
expectativa de ampliar nossa base
de clientes é grande”, diz Franco. A
expansão física da Cibra se dará no
Estado de São Paulo, onde ainda não
atua, e no Norte/Nordeste – no To-
cantins e no Maranhão, onde atua,
mas ainda tem pouca presença.


»Vitrine. O principal produto para
tentar ganhar mercado será um no-
vo fertilizante, Poly4, misto de po-
tássio, cálcio, magnésio e enxofre,
que sairá da planta química da An-
glo American em construção na In-
glaterra. A mineradora britânica
detém 30% de participação na Ci-
bra, controlada pela norte-america-
na Ominex, do Texas. A Anglo apos-
ta na Cibra para garantir vendas de
25% do Poly4. O produto deve che-
gar ao Brasil em até dois anos.


»Não quero. Bancos privados não
se animaram com a possibilidade
de conceder crédito rural com ta-
xas subsidiadas, trazida com a Lei
13.986. “Não preciso de subsídio


com Selic a 2,25%. Por que aceita-
ria mais controle do governo se
posso oferecer praticamente a mes-
ma taxa e operar como quiser?”,
resume uma fonte do setor. Outro
interlocutor acrescenta que, “além
de se submeter a mais regras, as
instituições teriam de fazer mais
investimentos”.

»Sem crise. O Grupo Mantiqueira,
maior produtor de ovos do País, vai
aplicar R$ 50 milhões este ano em
“granjas 4.0”, com tecnologias vol-
tadas a tendências inovadoras na
criação comercial, que privilegiam
o bem-estar animal. Quem conta é
Leandro Pinto, presidente do gru-
po. “Para o ano que vem, aplicare-
mos mais R$ 50 milhões nessa li-
nha”, diz. As granjas estão em Lore-
na e Cabrália Paulista (SP).

»Na onda. Mas o isolamento so-
cial, imposto pela covid-19, atra-
sou por 60 dias as obras tocadas
pela Mantiqueira. Já as vendas de
ovos surpreenderam, diz Pinto.
“Houve uma explosão de consu-
mo da segunda quinzena de mar-
ço até a primeira de abril, pois o
ovo é uma proteína barata e que

não depende de refrigeração”, diz.
“Agora, o consumo voltou ao nor-
mal.” A produção do grupo deve
crescer 4% em 2020, para 2,5 bi-
lhões de ovos.

»Céu de brigadeiro. A Perfect
Flight, startup de monitoramento e
gestão de pulverização aérea, está
indo de vento em popa. Até o fim
da safra 2019/2020, a plataforma
deve processar o dobro da área do
ciclo passado, com 4,5 milhões de
hectares monitorados. O faturamen-
to deve crescer entre 35% e 40%,
para cerca de R$ 4 milhões. “O pro-
dutor vê no software um aliado pa-
ra fazer a melhor aplicação dos in-
sumos, sem desperdício”, explica
Leonardo Luvezuti, diretor de negó-
cios da empresa. Focada em grãos,
fibra e cana-de-açúcar, a agtech
atende a grandes do setor como
SLC Agrícola, Raízen e Tereos.

»Bons voos. Para a safra 2020/2021,
que começa no mês que vem, a Perfect
Flight estima cobertura de 8 milhões
de hectares e receita de R$ 7,5 mi-
lhões. O incremento virá de operações
de monitoramento em tempo real e
pulverização localizada por drones.
Em 2021, a empresa deve começar a
vender para os Estados Unidos e mer-
cados da América Latina.

»Em alta. A demanda por frete rodo-
viário do agro subiu 8,2% de janeiro a
maio ante igual período de 2019, ante
incremento de 5,3% vindos da indús-
tria e varejo, aponta o Índice de Frete
e Pedágio Repom (IFPR), da empresa
de soluções para gestão de frotas Re-
pom, pertencente ao grupo Edenred
Brasil. Só em maio, o crescimento no
agro chega a 21,2%, enquanto indústria
e varejo, mais afetados pela pandemia,
tiveram recuo de 4,6%.

»Base firme. O diretor de Mercado
Rodoviário da Edenred Brasil, Thomas
Gautier, avalia que o agronegócio vem
de um cenário sólido, com safra de ve-
rão robusta, estabilidade logística e
exportação de grãos aquecida. “Esses
fatores possibilitaram que o frete conti-
nuasse forte no segmento”, diz. O le-
vantamento analisou 1,5 milhão de via-
gens de janeiro a maio deste ano.

POR CLARICE COUTO, TÂNIA RABELLO,
ISADORA DUARTE e LETICIA PAKULSKI

C


onsiderado o maior portal de
compra e venda de carros no
País, o Webmotors observou,
durante a pandemia, aumento de con-
sumidores interessados em trocar o
carro por outro mais antigo e rece-
ber o dinheiro da diferença. O movi-
mento ocorre em meio ao aumen-
to do desemprego e da redução de
salários. Atento ao cenário, o por-
tal e seu controlador, o Santander,
recauchutaram o antigo sistema de
troca com troco.

lQual a audiência do por-
tal?
Temos, por mês, 12 mi-
lhões de usuários que
acessam a plataforma,
30 milhões de visitas e

150 milhões de buscas. Além das pes-
soas que anunciam, temos 14 mil lojis-
tas cadastrados e estoques de 400
mil veículos.

lEsses números foram mantidos?
Na metade de março, a audiência
caiu 15%. O que mudou radicalmente
foi o envio de propostas de compra,
ou leads, que caiu 42%. Em abril co-
meçou uma recuperação, que ganhou
força em maio. Neste mês a audiên-
cia está caindo só 5%. O envio de pro-
postas está 25% menor. Essa queda,
porém, é toda no envio de leads para
pessoas físicas, pois o envio para lo-
jas está perto do patamar pré-covid.

lQual a razão da diferença?
As pessoas estão se sentin-
do mais seguras em nego-
ciar com lojas, talvez por
questão de segurança ou
por ter o car delivery, siste-
ma que criamos entre lojis-
tas. Todo o processo de
compra é online e o
lojista faz a higieni-
zação e entrega

o carro na casa do cliente.

lO que explica a recuperação, se há
forte queda na venda de carros zero?
Tradicionalmente, 70% das vendas
do mercado são de usados e 30% de
novos. O impacto foi maior nos no-
vos, mas teve a suspensão dos licen-
ciamentos. Mesmo que ocorresse a
compra, o carro não era registrado.

lMudou o comportamento do cliente?
As pessoas estão buscando carros
com dois anos a menos de uso em
relação ao que era antes. Há um aque-
cimento da troca com troco – o con-
sumidor entrega o carro para venda e
compra um mais antigo para receber
a diferença, talvez por estar apertado
financeiramente. Ele também pode
trocar por outro mais barato e fazer
um refinanciamento mais longo ou
com prestações mais baixas.

lComo é essa troca?
Antes, a maior parte à venda eram mo-
delos 2013 a 2015, média que subiu cer-
ca de um ano – ou seja, as pessoas
anunciam carros com menos anos de
uso. Já a procura, antes maior em mo-
delos 2014, 2015 e 2018, agora está vol-
tada para 2011, 2013 e 2014. As pessoas
vendem o mais novo e compram o
mais antigo./ CLEIDE SILVA

Opinião


l]
LUÍS EDUARDO
ASSIS

Silo com adubo. Investimento visa a atender demanda crescente


l Em conta

1
real é o custo médio
por hectare monitorado,
segundo a Perfect Flight

Cibra prepara expansão no


setor de adubos no País


coluna do


Na pandemia,


‘troca com troco’


volta com tudo no


comércio de carros


CIBRA

O Mapa da Bolsa


IRB Brasil ON

CVC Brasil ON

Ecorodovias ON

Azul PN

Rumo ON

58,33%

73,49%

70,05%

21,88%

41,60%

● As ações que mais subiram e as que mais caíram
na semana passada

FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO

OBS.: EMPRESAS QUE FAZEM PARTE DO ÍNDICE IBOVESPA

Melhores

Cielo ON

BTG Pactual Unit

Cyrela Realty ON

Magazine Luiza ON

Qualicorp ON

Piores

Na semana Em 1 mês

47,38%

60,26%

25,02%

59,71%

18,44%

0

-9,57%

-4,66%

-1,93%

-1,45%

-1,00%

35,39%

11,62%

11,65%

11,95%

14,27%

Eduardo Jurcevic,
presidente da Webmotors

WEBMOTORS
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