O Estado de São Paulo (2020-06-22)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-3:20200622:
O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 2020 Economia B


Douglas Gavras


Na avaliação de economistas
ouvidos pelo ‘Estadão’, os im-
pactos da pandemia do novo
coronavírus no mercado de
trabalho devem marcar uma
geração de brasileiros que já
sofria com a recuperação aca-
nhada dos empregos após a
recessão de 2015 e 2016. Em
abril, a taxa de desocupação
era de 12,6%, de acordo com
dados da Pnad Contínua, do
IBGE, mas as projeções são
de que deve chegar a 17% ou
18% até o fim do ano.

Quando a crise passar, o desa-
fio será impulsionar setores
que geram mais emprego, co-
mo o de infraestrutura, em uma
realidade de consumo das famí-
lias ainda reprimido e endivida-
mento público elevado.
Para Hélio Zylberstajn, pro-
fessor sênior da Universidade
de São Paulo (USP), o governo
precisa ser estratégico e apro-
veitar as carências do País para
promover setores geradores de
emprego (leia mais nesta pági-
na)
. Ele lembra que, na quarta-
feira, o Senado deve votar o no-
vo marco regulatório do sanea-
mento básico, que pode destra-
var investimentos.
“Uma das grandes vantagens
de ser um País com tanta coisa
a ser feita é poder vislumbrar
saídas para o ano que vem,
quando se espera que a econo-
mia poderá começar a ser recu-
perada. O Brasil, se tiver diri-
gentes com a cabeça no lugar,
tem tudo para voltar a crescer.
Mas é preciso bom senso e con-
fiança”, diz Zylberstajn.


Planejamento. Segundo Cle-
mente Ganz Lúcio, sociólogo e
técnico do Departamento Inter-
sindical de Estatística e Estu-
dos Socioeconômicos (Diee-
se), é preciso que o governo pen-
se no dia seguinte à quarente-
na, planejando ações e medidas
para garantir a renda dos brasi-
leiros sem emprego.
“Além disso, é preciso organi-
zar iniciativas públicas capazes
de criar milhões de novas ocupa-
ções no curto prazo. Caso seja
mantida a dinâmica anêmica da
economia brasileira observada
antes da crise, o País levará 20
anos para gerar os postos de tra-
balho necessários para ocupar
esse contingente de pessoas”,
avalia Ganz Lúcio.
Para ele, mesmo assim é di-
fícil imaginar o dia seguinte,
porque não se sabe quanto tem-
po vai ser preciso para vencer a
crise. “Podemos ter de convi-
ver com isolamentos parciais,
de tempos em tempos. Por isso,
será preciso uma reorganiza-
ção da economia.”
Ele ressalta que o governo de-
veria parar de semear crises e se
mobilizar em torno de uma es-
tratégia pela geração de empre-
gos, com investimentos e finan-
ciamentos de longo prazo. “É
preciso ter o Estado como indu-
tor de investimentos em in-
fraestrutura. Só que, enquanto
outros países trabalham para
construir a saída, o governo bra-


sileiro quer voltar à agenda do
ano passado. Como é possível,
se o País não será o mesmo?”
Para Marcel Balassiano, pes-
quisador do Instituto Brasilei-
ro de Economia, da Fundação
Getulio Vargas (Ibre/FGV), a re-
cuperação do emprego, pelo
menos em um primeiro mo-
mento, se dará pelo mercado in-
formal. “Em outras crises, a vol-
ta do emprego acabou ocorren-
do pelo mercado informal e is-

so faz sentido – quem perde o
emprego de carteira assinada
vai para a informalidade.
Para Balassiano, “esta crise
atual tem milhões de diferenças,
mas a recuperação tende a se dar
primeiro pelo trabalho sem car-
teira assinada. O segundo passo
a ser dado pelo governo é refor-
çar a ponte de crédito para que
empresas saudáveis consigam
atravessar esse período”.
Ele lembra que, nos últimos se-

te anos, o Produto Interno Bruto
(PIB) brasileiro recuou, em mé-
dia, 1,3% ao ano. “Algumas pes-
soas acham que a economia po-
de ser ligada e desligada de uma
hora para outra. Não é assim.
Mesmo depois que o pior passar,
a recuperação será lenta.”

Sobrevivência. Enquanto a cri-
se não passa e as soluções ainda
se mostram distantes, os traba-
lhadores precisam descobrir co-

mo sobreviver à pandemia. O
representante comercial Ga-
briel Nascimento, de 29 anos,
por exemplo, conta que não foi
apenas a queda na circulação de
pessoas nas ruas por conta das
medidas de isolamento que fize-
ram a família deixar de vender
acessórios de moda para consu-
midores em São Paulo “O medo
da covid-19 também pesou. É di-
fícil ter de escolher entre pagar
as contas ou ficar doente.”

Idiana Tomazelli / BRASÍLIA


Após as medidas emergenciais
para conter os efeitos mais dra-
máticos da pandemia, a equipe
econômica prepara a retomada
das reformas estruturais. A re-
formulação das políticas so-
ciais deve ser um dos focos nes-
sa fase, mas também estão na
mesa iniciativas para simplifi-
car a vida de empresas.


Um dos pontos da agenda é
promover uma “grande desre-
gulamentação”. Segundo apu-
rou o Estadão/Broadcast , técni-
cos estão fazendo um pente-fi-
no em normas e obrigações de
vários setores. A ideia é retirar,
simplificar ou reduzir obriga-
ções com o objetivo de facilitar
a retomada para empresários.
Na equipe do ministro da Eco-
nomia, Paulo Guedes, há um
consenso de que a adoção de no-
vas medidas é essencial para im-
pulsionar a economia e de que a
sinalização de compromisso
com a agenda de reformas será
decisiva para que investidores
confiem no País.
Além da desregulamentação,

o governo vai centrar seus esfor-
ços num primeiro momento
em mudanças de marcos legais,
como saneamento, setor elétri-
co, ferrovias e independência
do Banco Central.
Muitas dessas propostas já es-
tão no Congresso e travaram no
passado diante das dificuldades
do governo em consolidar uma
base de apoio no Parlamento.
Com a aproximação entre o Palá-
cio do Planalto e o Centrão, a ex-
pectativa é de que as condições
de aprovação sejam maiores.
Num segundo momento, ain-
da em 2020, a equipe econômi-
ca pretende disparar as refor-
mas mais estruturantes, que de-
vem ter um foco social aliado a

um incentivo às contratações
de trabalhadores registrados.
É nessa frente que está o Ren-
da Brasil, como vem sendo cha-
mado o programa que sucederá
o Bolsa Família. A ideia é am-
pliar a rede de assistência para
incluir milhões de “invisíveis”

que agora surgiram aos olhos
do governo com o cadastro do
auxílio emergencial de R$ 600.
A equipe econômica também
prepara uma desoneração da fo-
lha de salários semelhante a do
Programa Verde Amarelo, que
liberou as empresas de paga-

rem contribuição patronal e
alíquotas referentes ao salário-
educação e ao Sistema S na con-
tratação de jovens entre 18 e 29
anos com salário de até R$
1.567,50. A Medida Provisória
que criou o contrato perdeu a
validade sem que houvesse con-
senso no Congresso para sua
aprovação. Agora, uma das alter-
nativas é que a desoneração não
seja limitada por faixa etária.
Medidas de simplificação tri-
butária também serão priorida-
de. O governo deve sugerir a
criação do IVA federal, com a
unificação de PIS/Cofins, por
meio de um projeto de lei.
Dentro da equipe econômica
há quem avalie que o avanço ago-
ra da PEC 45, que inclui reformu-
lação de tributos como ICMS,
pode ser muito difícil com “Es-
tados saindo da guerra”. Mes-
mo com uma transição, alguns
governos estaduais podem per-
der receitas com a reforma.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


l Reconstrução

Para economistas, governo deve impulsionar setores que geram mais vagas, como a infraestrutura, após o pior da pandemia passar


‘As empresas


precisam


de oxigênio’


Equipe econômica prepara


agenda para o pós-pandemia


Crise entre EUA e China eleva incerteza na economia. Pág. B4 }


●Comportamento do mercado de trabalho durante a pandemia

EFEITO COVID

4,7 4,8 5,

12,3 12,9 12,

3,3 3,

4,

ESTAVAM SEM TRABALHAR,
POR DOENÇAS E OUTROS
MOTIVOS

ESTAVAM
DESOCUPADOS

ESTAVAM
DESALENTADOS

EM MILHÕES DE PESSOAS, NO TRIMESTRE DE 2020

FONTES: IBGE E COM IBRE/FGV INFOGRÁFICO/ESTADÃO

FEV MAR ABR FEV MAR ABR FEV MAR ABR

8,
milhões
estavam
trabalhando
de casa em
maio, por
conta das
medidas de
isolamento
social

17,
milhões
queriam
trabalhar, mas
não
encontraram
emprego ou
tiveram medo
de ficar
doentes

FELIPE RAU/ESTADÃO

Criar emprego será o desafio no pós-crise


“É preciso ter o Estado
como indutor de
investimentos. Só que,
enquanto outros países
trabalham para construir
uma saída, o governo
brasileiro quer voltar à
agenda do ano passado.”
Clemente Ganz Lúcio
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Para o economista Hélio Zyl-
berstajn, medidas como a redu-
ção de jornada e de salários aju-
daram a frear o aumento do de-
semprego como reflexo da pan-
demia da covid-19 no País. Ele
diz, porém, que a dificuldade
das empresas em tomar crédi-
to foram no sentido oposto.
lAs medidas adotadas pelo go-
verno para os trabalhadores até
agora foram acertadas?
Sim, 10 milhões de pessoas
mantiveram o vínculo de em-
prego por meio da suspensão
do contrato ou pela redução
da jornada e do salário. A Me-
dida Provisória 936 foi inova-
dora e, se o governo prorrogar
as medidas, vamos evitar mais
aumento do desemprego.
lOnde as medidas deram erra-
do? Na tomada de crédito pelas
empresas durante a crise?
O que dependia do planeja-
mento e da gestão da crise até
foi feito, mas emperrou nos
bancos. Eles continuaram exi-
gindo garantias das empresas
na hora de tomar crédito, ape-
sar de o governo assumir os
riscos ao financiar a folha de
pagamento. O que precisa ser
feito é resolver esse gargalo.
Para ter emprego, as empre-
sas precisam de oxigênio. / D.G.
Hélio Zylberstajn,
professor sênior da USP
ENTREVISTA
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
Consenso no Ministério
da Economia é de
que compromisso com
reformas atrairá
investidor e empresas
Focos. Equipe de Guedes quer alterar marcos legais

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