O Estado de São Paulo (2020-06-22)

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B6 Economia SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


O


s tempos que estamos vivendo se
mostram realmente confusos. Há
coisas que, por mais esforço que fa-
çamos, não entendemos. Uma das conse-
quências da pandemia e da necessidade de
isolamento social foi o fechamento tempo-
rário das empresas. E, como resultado terrí-
vel dessa situação, temos a perda quase to-
tal da receita, levando assim ao fechamento

definitivo de muitas empresas, principalmen-
te as micros, pequenas e médias (PMEs). A
solução sabida por todos para evitar a que-
bradeira geral é fornecer recursos para que
as empresas possam passar por essa tormen-
ta. Se isso é mais do que sabido, por que o
crédito não chega às empresas? Principal-
mente às PMEs?
O que vemos são várias boas intenções,
mas que não trouxeram resultados. Algumas
tentativas de ação nos levam a verdadeiros
nós górdios. O próprio Congresso tem busca-
do discutir leis que se mostram muito bem-
intencionadas, mas que podem piorar a situa-
ção. Por exemplo, discute-se leis que proí-
bam os bureaus de crédito de negativarem os
inadimplentes. Isso, para evitar a quebradei-
ra dos endividados. Mas, e quem precisa de
crédito novo? Boa intenção, mas que pode

levar a uma situação pior. Sem informações,
as empresas e comércio em geral paralisam a
concessão de crédito. Sem conhecer a quali-
dade do devedor, as próprias regras impe-
dem de dar crédito.
O governo federal, no campo econômico,
tem mostrado boas intenções, tentando dis-
ponibilizar várias linhas de crédito para as
PMEs. Mas as empresas não conseguem
acesso às linhas. Num primeiro momento,
foram disponibilizados bilhões de reais,
mas por que as empresas não viram a cor
desse dinheiro? Porque, para chegar na pon-
ta, dependiam do sistema financeiro. E, pe-
las regras internas das instituições e falta
efetiva de interesse, o fluxo de recursos não
aconteceu. Quem buscou teve muitas frus-
trações, ausência de respostas. Quando ti-
nha algum retorno, só com taxas muito aci-

ma das anunciadas ou, pior, propostas pa-
ra tomar crédito no nome do empresário,
e não da empresa.
O recém-lançado Pronampe (Programa
Nacional de Apoio às Microempresas e
Empresas de Pequeno Porte) tenta que-
brar esse ciclo, prometendo fornecer em
torno de R$ 16 bilhões a título de capital
de giro aos pequenos negócios, até 30% do
faturamento de 2019 com taxa de juros
máxima igual a Selic +1,25% ao ano, prazo
de 36 meses e carência de 8 meses. Mas is-
so só será possível com a desintermedia-
ção financeira. Uma linha direta entre o
credor e o tomador de recursos. O gover-
no oferece os recursos, as garantias e indi-
ca os agentes. Vamos ver se agora o dinhei-
ro chega onde tem de estar: na mão de
quem emprega e gera renda.

Valéria Bretas
Jenne Andrade


A luta pela inclusão das mulhe-
res no mercado financeiro ga-
nhou força no século 19. En-
quanto Victoria Woodfhull tor-
nava-se a primeira investidora
ativa de ações de Wall Street,
Eufrásia Teixeira Leite dava iní-
cio a um legado semelhante no
Brasil. Natural de Vassouras,
no interior do Rio de Janeiro,
Eufrásia aventurou-se no uni-
verso das finanças depois da
morte dos pais. Ela se viu obriga-
da a administrar o patrimônio
herdado por ela e sua irmã. Aos
26 anos, foi a primeira brasileira
a investir na Bolsa de Valores.
Passados mais de 100 anos, o
estereótipo de que o mercado
financeiro não é lugar para as
mulheres continua. Levanta-
mento realizado pelo Credit
Suisse confirma: a presença fe-
minina nos conselhos de insti-
tuições financeiras é de apenas
22,2% no mundo.
“A diversidade é um assunto
que vem sendo debatido com
veemência no meio empresa-
rial e no mercado financeiro”,
diz Maria Silvia Marques, presi-
dente do Goldman Sachs no
Brasil. “As mulheres também es-
tão buscando uma maneira de
diversificar os investimentos e
acompanhamos agora a quebra
de barreiras culturais. Muito
ainda precisa ser feito, estamos
apenas no começo.”
A nítida dificuldade de ga-
nhar espaço em um ambiente
competitivo e amplamente do-
minado por homens, motivou
quatro bancos estrangeiros a
deixarem a concorrência de la-
do para impulsionar a equidade
de gênero por meio da educa-
ção. Goldman Sachs, BNP Pari-
bas, Deutsche Bank e UBS Bra-


sil lançam, juntas, a segunda edi-
ção do curso Dn’A Women – De-
velop and Achieve, programa
gratuito de formação profissio-
nal destinado a jovens universi-
tárias do Estado de São Paulo.
Com cinco meses de duração,
o projeto oferece 60 vagas para
estudantes cisgênero e transgê-
nero de qualquer curso universi-
tário com graduação prevista en-
tre o final de 2021 ou 2022. Syl-
via Coutinho, presidente do
UBS no Brasil, relata que uma
das alunas estava prestes a sair
da área por causa do preconcei-
to de gênero.
“O mercado financeiro sem-
pre teve o preconceito de ser
um ambiente masculino. Por-
tanto, também cabe a nós,
CEOs de grandes bancos, que-
brar esse paradigma”, diz Syl-
via. A diversidade é um pilar im-
portante para o UBS, que tem
hoje 50% de mulheres em seu

comitê executivo.
Antes de participar do curso,
Milena la Rubia, de 21 anos, não
tinha intenção de atuar no mer-
cado financeiro. “O programa
representa mulheres que estão
unidas para enfrentar os
desafios que a área
apresenta. Quere-
mos ampliar o nos-
so protagonismo”,
diz. Ela foi contra-
tada para o progra-
ma de estágio do
Deutsche Bank.
Há 18 anos no banco
francês BNP Paribas, Ri-
cardo Guimarães diz que pro-
mover diversidade é uma tarefa
de todos. “É um processo demo-
rado, mas precisamos de inicia-
tivas para impulsionar mais mu-
lheres em cargos de chefia. O
jovem é o futuro para esse equi-
líbrio”, diz ele, que assumiu o
comando da instituição finan-

ceira em março.

Idade para começar. A trajetó-
ria de Carolina Bartunek, filha
de Florian Bartunek, um dos
principais gestores de fundos
de ações do País, estampa a pre-
missa de que não existe idade
para entender e fazer os primei-
ros investimentos. Aos 12 anos,
ela pediu um patins de presente
para o pai e foi questionada:
“Você quer um par de patins ou
um par de ações?”
O processo de educação fi-
nanceira de Carolina – que hoje
tem 17 anos e é colunista do E-
Investidor – começou naquele
momento. “A jornada de apren-
dizado também depende de um
conteúdo com vocabulário dire-
cionado aos jovens”, diz. “Co-
meçamos a ter voz, mas ainda
há espaço para iniciativas de in-
clusão para mulheres jovens.”

Sem medo da crise. Desde o
fim do ano passado, as mulhe-
res lideram a alta de investido-
res pessoas físicas na B3 – e a
crise do coronavírus não bar-
rou esse movimento. Em janei-
ro eram 431,9 mil na Bolsa. Em
maio, esse número cresceu
38%, para 598 mil.
Os dados são ainda mais im-
pressionantes quando é feito o
recorte por faixa etária. O nú-
mero de mulheres com idade
entre 16 a 25 anos cresceu 361%
na B3 entre maio de 2019 e
maio de 2020, passan-
do de 12,3 mil para
quase 57 mil investi-
doras.
Para Maite Leite,
presidente do
Deutsche Bank des-
de 2018, o boom nos
números no momento
de maior volatilidade da
história na economia não é
uma coincidência. “Existe um
contingente de mulheres que
são chefes das família, e a que-
da de juros impulsionou a bus-
ca por outras opções de investi-
mentos”, diz. “Em momentos
de crise, elas tendem a ser proa-
tivas.”

DEUTSCHE BANK

]
FÁBIO GALLO

Quando o que importa é a diversidade


Novo caminho. Minela la Rubia, estagiária do Deutsche Bank, diz que as mulheres querem ampliar o protagonismo

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● O número de mulheres pessoas físicas de 16 a 25 anos na bolsa
de valores cresceu 461,8% em um ano

JOVENS INVESTIDORAS NA B

MAI
2019

JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR
2020

MAI

FONTE: B3 INFOGRÁFICO/ESTADÃO

EM MILHARES DE INVESTIDORAS

12,

56,

Curso de educação
financeira busca acabar


com o estereótipo de


que o mercado financeiro


não é para mulheres


Cadê meu crédito que


deveria estar aqui?


50%
É A FATIA DE
MULHERES NA
ADMINISTRAÇÃO
DO UBS
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