O Estado de São Paulo (2020-06-22)

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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 2020 Especial H3


Caderno 2


Pedro Venceslau


Trinta e um anos depois de inter-
pretar Tieta no horário nobre da
TV Globo, Beth Faria está agora
maratonando a novela ao lado
da neta, Giulia Butler, durante o
confinamento social das duas
no apartamento da atriz no bair-


ro do Leblon, no Rio de Janeiro.
Um dos maiores sucessos de au-
diência da emissora, o folhetim
de 1989 está agora disponível na
plataforma GloboPlay.
Beth tinha 42 anos quando in-
terpretou a “cabrita” que volta
triunfante para Santana do
Agreste, 25 anos depois de ser es-
corraçada de sua cidade natal, na
trama inspirada no livro de Jorge
Amado. O elenco era um dream

team: Joana Fomm, José Mayer,
Reginaldo Faria, Yoná Maga-
lhães, Armando Bógus, Ary Fon-
toura, Lidia Brondi e outros.
A abertura da novela também
fez história. Assinada por Hans
Donner, misturava elementos
da natureza com a beleza da mu-
lher, representada por Isadora Ri-
beiro, tendo como pano de fun-
do as dunas de Mangue Seco, na
Bahia. Tieta já havia sido exibida

no Vale a Pena ver de Novo , em
1994, e no canal Viva, em 2017.
“Tieta representa a derruba-
da de todos os preconceitos. O
povo está se identificando com
ela agora. Todo dia vejo coisas
na internet. Um trabalho que fiz
há 30 anos hoje está trazendo
coisas boas”, disse Beth Faria ao
Estadão. A novela tinha uma pe-
gada feminista no momento em
que o Brasil respirava a democra-
cia e a liberdade no ano da pri-
meira eleição direta para presi-
dente após a ditadura militar.
“Nunca me considerei uma fe-
minista, mas li muito cedo, na
adolescência, aos 16 anos, O Se-
gundo Sexo, da Simone Beau-
voir. Aquilo deu uma abertura
na minha cabeça”, disse a atriz.
A força feminina de Tieta aju-
dou a mobilizar o público, que
pressionou a Globo a incluir a
novela no cardápio de reprises
de sua plataforma de streaming.
Em tempo de #metoo e explo-
são movimentos contra o assé-
dio, Beth Faria disse que existe
um “machismo estrutural” na
televisão. “O assédio não foi in-
ventado agora. Não sofri assé-
dio, mas passei por muitos. Se

eu disser que sofri me coloco co-
mo vítima, e eu não gosto. Pas-
sei por assédios e sobrevivi. As
atrizes mais jovens hoje enxer-
gam o assédio de outra forma.
Passávamos por assédios, mas
tínhamos vergonha de falar.”

Cilada. Em sua quarentena, Be-
th Faria tem dialogado frequen-
temente com os colegas da clas-
se artística, que estão mobiliza-
dos para tentar evitar o colapso
do setor audiovisual. Segundo
ela, por volta de 350 mil pessoas
estão desempregadas, e a crise
antecede a pandemia do corona-
vírus. “Parou tudo há dois anos
e meio. O cinema brasileiro pre-
cisa destravar. Houve uma des-
moralização dos artistas e do ci-

nema. A população começou a
ter antipatia pelos artistas.”
E por falar em artistas, um te-
ma é inevitável. O que vai ser da
Secretaria Nacional de Cultura
sob comando de Mário Frias? So-
bre ele, Beth Faria é sucinta.
“Não o conheço. Não sei qual o
projeto dele e se ele tem.” Já Regi-
na Duarte, colega de sua geração
na Globo, a atriz conhece bem.
Beth conta que não se surpreen-
deu com as posições políticas de-
la, que eram conhecidas desde o
apoio a José Serra na disputa pre-
sidencial contra Lula em 2002.
Sobre a breve passagem de Re-
gina pelo governo Bolsonaro, Be-
th Faria tem uma explicação: o
ostracismo. “Para uma atriz
mais velha o ostracismo tem que
ser muito trabalhado psicologi-
camente. Não é igual a jogador
de futebol, que uma hora pifa. A
atriz vai tendo menos trabalhos,
menos convites. E quando apare-
cem, é um papel pequeno.”
Segundo a protagonista de Tie-
ta , um convite como aquele para
o governo pode “fazer bem para
o ego” da pessoa. “Quando a pes-
soa não tem uma boa formação
cultural, pode cair nessa cilada.”

Streaming*


Trinta anos depois, Beth Faria


assiste à novela ao lado da neta


TIETA

l ‘Machismo estrutural’

Para a atriz, trama segue atual, com uma protagonista


que ‘representa a derrubada de todos os preconceitos’


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MÚSICA

Trio Virgulino
Dia 24/6. Quarta, 19h

Yvison Pessoa
Dia 25/6. Quinta, 19h

Maíra Freitas
Dia 22/6. Segunda, 19h

Ed Motta
Dia 23/6. Terça, 19h

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e inéditas direto
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da atualidade.

Em Casa


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TEATRO

Denise Fraga
em Galileu e Eu - A Arte da
Dúvida
Idealização, criação e realização:
Denise Fraga, José Maria e Luiz
Villaça. Textos: Bertold Brecht
Dia 24/6. Quarta, 21h30^14

Amanda Lyra
em Quarto 19
A partir do conto de Doris Lessing
Direção: Leonardo Moreira
Dia 22/6. Segunda, 21h30^16

IDEIAS

Lazer e sociedade:
cenários e
perspectivas
Com Bel Santos Mayer e
Fernando Mascarenhas.
Mediação: Simone Rechia
Apresentação: Alessandra
Galvão
Dia 22/6. Segunda, 16h

Jovens e o isolamento
social na pandemia
Com Elânia Lima e
Everson Anderson Arteiro.
Mediação: Gabriela Neves
Dia 23/6. Terça, 16h

Prevenção de Quedas
Mudar um Hábito Já
Faz Diferença
Com Tiago Alexandre e
Marcelo Valente. Mediação:
Gustavo Nogueira de Paula
Dia 24/6. Quarta, 16h

Lágrimas de
morte, cantos de
cura: saberes
tradicionais
em tempos de
pandemia
Com Nívia Luz e
Rosângela Pereira
de Tugny. Mediação:
Joaci Pereira Furtado.
Apresentação: Dulci Lima
Dia 25/6, quinta, 16h

A periferia explica:
Geração de renda e
inclusão produtiva
em tempos de
pandemia
Com Marcelo Rocha
e Adriana Barbosa.
Mediação: Tiaraju Pablo
D’Andrea. Apresentação:
Midiã Claudio
Dia 27/6. Sábado, 16h

Isolamento.
Beth Faria em
casa, no bairro
do Leblon, no
Rio, em foto
clicada pela neta

‘O assédio não foi
inventado agora. Passei por
assédios e sobrevivi. As
atrizes mais jovens
enxergam o assédio de
outra forma. Passávamos
por assédios, mas tínhamos
vergonha de falar’

GIULIA BUTLER
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