O Estado de São Paulo (2020-06-22)

(Antfer) #1

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A4 SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS
PARTICULARES.
André
Mendonça,
ministro da
Justiça

»Destinos.... É consenso
no meio político que o futu-
ro do mandato de Jair Bol-
sonaro deverá passar pelos
presidentes da Câmara e do
Senado a partir de 2021.

»...cruzados. Seja porque
Rodrigo Maia tem dito que
não pretende aceitar os pe-
didos de impeachment con-
tra o presidente, seja por-
que, mesmo se ele mudar
de ideia, é pouco provável
que um eventual processo
termine ainda este ano.

»Relax. Uma vez mantido
no comando da Câmara em
2021, porém, Maia poderia
se sentir mais à vontade,
digamos, para conduzir do
começo ao fim o impeach-
ment de Bolsonaro, avalia
quem conhece bem o atual
presidente da Casa.

»Registre-se. Rodrigo
Maia rechaça a possibilida-
de de permanecer no cargo.

»Ativo. Dos nomes hoje
cotados (e com alguma
chance vitória) para ocupar
a presidência da Câmara,
Baleia Rossi (MDB-SP) é
visco como o mais arredio
à ideia de passar pano para
o presidente caso Bolsona-
ro continue vivendo perigo-
samente em sua conturba-
da relação com a Carta.

»Corpo. Cresceu o movi-
mento de dirigentes do
Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo
(Ciesp) contra a mudança
no estatuto da entidade.
“Nossos representantes de-
vem preservar a imagem e
reputação da instituição,
arduamente construída du-
rante 92 anos”, diz carta
divulgada pelo Ciesp de Ri-
beirão Preto.

»Tradução. Na prática, a
carta, assinada por 20 con-
selheiros, se opõe a uma
eventual tentativa de nova
reeleição de Paulo Skaf à
presidência da entidade.

»Passaporte. Uma das
apostas da reestruturação
da Segurança Pública na
gestão de André Mendonça
será investir na capacitação
acadêmica. O ministro pre-
tende dar bolsas de pós-gra-
duação no exterior a poli-
ciais brasileiros. A maior
parte das pesquisas sobre o
tema hoje é feita por ONGs
que não têm recortes ali-
nhados aos do governo.

»Passaporte 2. Recente-
mente, Mendonça esteve
com o embaixador da Espa-
nha, Fernando García Ca-
sas. Está em andamento
um acordo para bolsas aos
policiais do governo com a
Universidade de Salaman-
ca, onde o próprio ministro
fez mestrado e doutorado.

»Atento. Tiago Ribeiro,
especialista em marketing
digital, alerta para um pro-
vável aumento no volume
de fake news e de robôs na
eleição deste ano: “O ideal
será ter uma equipe só para
checagem do que está sen-
do veiculado”. Ele participa-
rá de hoje até quarta-feira
do Congresso de Marketing
Político Digital 4.0, evento
gratuito e online.

COM MARIANNA HOLANDA

Q


uem conhece bem as relações entre Supremo e
Congresso diz que, neste momento, a maioria da
Corte sonha em ter Rodrigo Maia e Davi Alcolum-
bre no comando da Câmara e do Senado, respectivamen-
te, também a partir de fevereiro de 2021. Por que? Por en-
tender que ambos têm conduzido as Casas com a modera-
ção, a responsabilidade e a autoridade exigidas pelos tem-
pos atuais. Há também um fator preocupante: ainda não
surgiram alternativas “confiáveis” de sucessão à dupla do
DEM, principalmente na Câmara, onde o Centrão impera.

Sucessão no Congresso


preocupa o Supremo


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Marco Antônio
Freire Gomes co-
manda 25,3 mil
homens em 69
unidades do Nor-
deste, à exceção do Maranhão.
Gentil e de temperamento se-
reno, é uma das lideranças na-
cionais da força. Foi secretá-
rio executivo do Gabinete de
Segurança Institucional.

Na área militar
mais nova do
Exército, o ofi-
cial chefia 12 mil
homens distri-
buídos em 30 organizações no
Pará, Amapá e Maranhão. O
comandante tem um perfil
eminentemente militar. É vis-
to como uma pessoa benquis-
ta na caserna e fora dela.

Theophilo vem
de uma família
de militares.
Dois irmãos tam-
bém são gene-
rais. Ele tem 17 mil homens
em cem 100 unidades, sendo
30 delas na área de fronteira.
Entre suas preocupações es-
tão as atividades da Operação
Acolhida, em Roraima.

Valério Stumpf
lidera 52 mil ho-
mens de 152 or-
ganizações do
Exército. Antes,
o discreto general atuou na
Secretaria de Economia e Fi-
nanças do Exército e foi o nú-
mero 2 do Gabinete de Segu-
rança Institucional. Está longe
de discussões políticas.

Um dos mais


influentes


Marco Antônio Freire Gomes,
Comandante Militar do Nordeste

Fronteira é a


prioridade


Estevam Cals Theophilo,
Comandante Militar da Amazônia

Boas relações


com os civis


Paulo Sérgio de Oliveira,
Comandante Militar do Norte

É dele a maior


tropa da Força


Valério Stumpf
Comandante Militar do Sul

STF e Forças Armadas


buscam pacificação


Conhecido pela
liderança e per-
fil conciliador, o
general Arruda
lidera 46 mil ho-
mens em mais de 100 unida-
des em três Estados. Busca
entendimento e acalmar o in-
flamado e atuante “exército
de pijama”, o setor da reserva,
que tem força política no Rio.

Tânia Monteiro
BRASÍLIA

Em meio às disputas entre o
Poder Executivo e o Judiciá-
rio, o Supremo Tribunal Fede-
ral (STF) e as Forças Armadas
estabeleceram contatos direi-
tos buscando evitar a escala-
da da crise. Se ao STF interes-
sa mostrar que está apenas
cumprindo seu papel em suas
decisões, aos militares é im-
portante demonstrar distân-
cia dos radicais – mesmo os
fardados – que buscam pôr o
País sob tensão a fim de obter
uma ruptura institucional.
Diante das movimentações,
ontem foi a vez de o presidente
Jair Bolsonaro dizer no Rio: “A
nossa missão, a missão das For-
ças Armadas, é defender a pátria,
é defender a democracia ( Mais
informações na página A5 )”.
Na manhã de 10 de junho, o
ministro Gilmar Mendes, do
STF, encontrou-se com o gene-
ral Edson Leal Pujol, comandan-
te do Exército, no Setor Militar
Urbano. Em plena crise entre o
Palácio do Planalto e o Judiciá-
rio, Gilmar pretendia medir a
temperatura no Quartel Gene-
ral. A conversa evidenciou o afas-
tamento do ministro da Defesa,
Fernando Azevedo e Silva, da in-
terlocução entre os Poderes.
Gilmar indicou que o Supre-
mo não tem intenção de inter-
romper o mandato de Bolsona-
ro. Observou que muitas avalia-
ções sobre o comportamento
dos magistrados não passam de
“teorias conspiratórias”. Nas pa-
lavras do ministro, a preocupa-
ção na Corte é com o “telefone
sem fio”, uma série de mensa-
gens “dúbias” de Bolsonaro em
relação à democracia, e também
com a insistência dele em suge-
rir que as Forças Armadas esta-
riam com o governo numa possí-
vel ruptura institucional. Pelo
Twitter, Gilmar afirmou que
“Exército não é milícia”. Além
disso, classificou a ideia de que
os militares podem fechar o STF
e o Congresso como “incompatí-
vel” com a Constituição de 1988.

Pujol mais ouviu do que falou.
Gilmar encontrou ali um gene-
ral econômico nas palavras, mas
que deu a entender a existência
de um mal-estar nas Forças Ar-
madas com posições de minis-
tros da Corte em relação ao Pla-
nalto, possivelmente numa refe-
rência a ações de Celso de Mello
e de Alexandre de Moraes. A con-
versa entre o ministro e o gene-
ral também girou em torno de
missões militares de logística e
apoio ao combate à pandemia
do coronavírus e da Operação
Verde Brasil, de repressão ao des-
matamento na Amazônia.

Mudo. Pujol se mantém calado
ao longo da sucessão de crises,
voltado às responsabilidades da
área. No encontro com Gilmar,
sinalizou que não aceita nem
mesmo o papel de interlocutor
político da caserna ou do gover-
no com o Judiciário, que era do
ministro da Defesa. O posto está
vago. O general Fernando Azeve-
do e Silva, que já foi assessor do
atual presidente da Corte, Dias
Toffoli, perdeu espaço na inter-
locução depois de emitir três no-

tas para explicar atos e declara-
ções de Bolsonaro e sobrevoar
com ele, num helicóptero, uma
manifestação antidemocrática.
Mesmo com a recusa em ocu-
par o posto de Azevedo e Silva,
Pujol recebe pedidos de encon-
tros. Do lado do governo não fal-
tam convites. Bolsonaro tem in-
sistido em aparecer ao lado dos
comandantes das Forças. Fo-
ram três reuniões oficiais desde
abril, um recorde da Presidên-
cia, fora as que não estavam pre-
vistas na agenda. Na última quar-
ta-feira, por exemplo, Bolsona-
ro chamou Pujol para assistir à
cerimônia da bandeira, no Palá-
cio da Alvorada. Com esses ges-
tos, o presidente procura mos-
trar que as Forças estão ao seu
lado. Assim, alimenta o discurso
caro a apoiadores extremistas,
insinuando que pode haver um
golpe em andamento, mesmo
sem uma sinalização sobre isso.
Quando assumiu a Defesa, em
janeiro de 2019, Azevedo e Silva
avisou aos comandantes que ti-
nha a prerrogativa de fazer mani-
festações políticas. Argumen-
tou que estava num posto com

essa característica. Diante disso,
a exemplo de Pujol, o almirante
Ilques Barbosa, da Marinha, e o
brigadeiro Antônio Carlos Ber-
mudez, da Aeronáutica, evitam
exposições nas mídias sociais e
se mantêm quietos, focados nas
ações de suas áreas.
Em 2018, às vésperas do julga-
mento do habeas corpus do ex-
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, o então comandante do
Exército, general Eduardo Villas
Bôas, tuitou que repudiava “a im-
punidade” e que a força estava
“atenta às suas missões institu-
cionais”. Hoje, Villas Bôas, na re-
serva, tem 780 mil seguidores.
Na esteira de Villas Bôas, mui-
tos oficiais da ativa criaram per-
fis pessoais no Twitter e no Face-
book. Pujol não aceitou. Em ju-
lho de 2019, o então chefe do Es-
tado Maior do Exército e atual
ministro da Casa Civil, general
Walter Braga Netto, assinou a
portaria 196, que proibiu a mili-
tância virtual dos militares da ati-
va. Braga Netto observou que
manifestações políticas são ve-
dadas no Estatuto dos Militares
e no Regulamento Disciplinar.

Crise. Desgaste do ministro da Defesa fez o Supremo buscar diálogo com o Comando do


Exército; comandantes das Forças buscam ficar distantes da radicalização bolsonarista


Com 143 unida-
des e 17,2 mil
homens em São
Paulo, Fernan-
des é o único
comandante de área que convi-
veu com Jair Bolsonaro no
Congresso, entre 2002 e 2005.
Fernandes era assessor parla-
mentar do Exército. Os dois,
no entanto, não são próximos.

O general Fer-
nando José
Sant’ana Soares
e Silva assumiu
o comando em
29 de abril. Chefia 14 mil ho-
mens, em 52 unidades, na fron-
teira com Paraguai e Bolívia.
Com perfil operacional, ele é
conhecido por “fazer as coisas
acontecerem”.

Negraes tem en-
tre suas respon-
sabilidades a se-
gurança de Brasí-
lia. Ele lidera
22,7 mil homens em 57 organi-
zações em Goiás, no Distrito
Federal, no Tocantins e parte
do Triângulo Mineiro. Coman-
dou a força de pacificação no
Complexo da Maré, no Rio.

Chefe de área


conturbada


Júlio César de Arruda,
Comandante Militar do Leste

Sérgio Moro

Faz as coisas


acontecerem


Fernando José Soares e Silva,
Comandante Militar do Oeste

Conviveu com


Bolsonaro


Eduardo Antonio Fernandes,
Comandante Militar do Sudeste

BOMBOU NAS REDES!S

Da Maré para


o Planalto


Sérgio Costa Negraes,
Comandante Militar do Planalto

MARCOS CORRÊA/PR-7/5/

Chefes. O almirante Ilques, o general Pujol e o brigadeiro Bermudez: distância dos radicais

PERFIS

“Mais de 50.000 vítimas (mortes) pelo novo corona-
vírus. Muito triste. Cuidem-se. Lembro que já tive-
mos Ministro da Saúde (Henrique Mandetta).”

Ex-juiz e ex-ministro da Justiça

»CLICK. Jair Bolsonaro,
em justa homenagem, foi
a velório de paraquedista
morto em um acidente. O
presidente ainda não fez
gesto semelhante às víti-
mas da covid-19 no País.

COLUNA DO ESTADÃO
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