O Estado de São Paulo (2020-06-22)

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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 2020 Política A


Missão mais


importante


Colega de Jair
Bolsonaro da
turma de 1977
da Academia Mi-
litar das Agulhas
Negras, Pujol não tem conta
no Twitter e procura se afas-
tar de discussões políticas.
Chefiou o Centro de Inteligên-
cia do Exército e integrou a
Força de Paz no Haiti. No iní-
cio da pandemia de covid-19,
ele afirmou que a crise sanitá-
ria era a “missão mais impor-
tante de sua geração”.

Edson Leal Pujol,
Comandante do Exército

Ilques diz que
está focado na
parte operacio-
nal e no acompa-
nhamento geo-
político estratégico internacio-
nal. O almirante só dá entre-
vistas para falar do trabalho.
Os holofotes se voltaram para
a Marinha em 2019 quando
manchas de óleo se espalha-
ram no litoral. “Foi um “bom-
bardeio.” Afirma que o proble-
ma político é problema dos
políticos e não dos militares.

Dias antes de ir
para a reserva, o
brigadeiro Ber-
mudez foi esco-
lhido para co-
mandar a Força Aérea Brasilei-
ra, pelo critério de antiguida-
de definido por Jair Bolsona-
ro. De fala mansa e tranquilo,
Bermudez tinha recusado um
convite para uma vaga no Su-
perior Tribunal Militar. Com
perfil conciliador, trabalha pa-
ra evitar conflitos e manter a
FAB afastada da política.

Caio Sartori / RIO


Apesar de não ter sido alvo da
operação que prendeu Fabrí-
cio Queiroz, a filha mais velha
do ex-assessor do hoje sena-
dor Flávio Bolsonaro (Republi-
canos-RJ), Nathália Melo de
Queiroz, criticou o que consi-
dera erros do pai.
Em conversa com a mulher
do pai em outubro do ano pas-
sado, a personal trainer, tam-
bém investigada pelo Ministé-
rio Público do Rio, chamou
Queiroz de “burro”. Também
reclamou da insistência dele
em se envolver com política,
mesmo sendo o principal alvo



  • e símbolo – da investigação
    contra o ex-chefe na Assem-
    bleia Legislativa do Rio. As
    mensagens, via aplicativo de
    celular, foram descobertas pe-
    lo MP em quebras de sigilo e
    são parte da apuração.
    A indignação expressa nas


mensagens indica que Nathá-
lia, apesar dos indícios de que
transferiu para o pai até 81%
do que recebeu como assesso-
ra parlamentar, leva uma vida
diferente da de seus pares. Per-
sonal trainer com mais de 11,
mil seguidores no Instagram –
a conta passou a ser fechada
após as investigações –, Nathá-
lia posta imagens de natureza,
selfies e fotos doando sangue
que, volta e meia, recebem co-
mentários de celebridades. Re-
centemente, figuras como
Dany Bananinha e o ator Thia-
go Gagliasso passaram por lá.
Mesmo reclamando do mo-
do como o pai insistia em per-
manecer ativo na política, a
ex-assessora apontada como
‘fantasma’ pelo MP não deixa
de dar suas opiniões para os se-
guidores. No início deste mês,
na esteira da onda de imagens
com a bandeira “antifascista”
nas redes sociais, autodenomi-
nou-se uma “professora anti-
fascista”. Muito do movimen-
to tinha como objetivo criticar
o presidente Jair Bolsonaro.
A atuação de Nathália como
personal trainer de celebrida-
des – Bruna Marquezine e Bru-
no Gagliasso, por exemplo –

ajudou a chamar atenção para
o fato de ela ser “fantasma”. Is-
so porque fotos da professora
com os clientes famosos eram
publicadas no Rio de Janeiro,
enquanto seu nome estava re-
gistrado como assessora do en-
tão deputado Jair Bolsonaro
em Brasília. Ela não aparecia
na capital federal.
Nathália é tida como a mais
articulada da família. Acaba sen-
do a responsável por lidar, por
exemplo, com os advogados do
caso. Seu nome também apare-
ce nas investigações, por repas-
ses que fez ao pai, mas, por não
estar sob suspeita de obstrução

de Justiça, não foi alvo de ne-
nhuma medida cautelar na
atual fase investigação.

Cotidiano. Sabe-se que Nathá-
lia está cansada de toda a inves-
tigação, que fez com que ela
perdesse clientes e mudasse a
rotina. Queria poder retomar
o estilo de vida que mantinha
até ser citada constantemente
no noticiário. Mas os desdobra-
mentos do Caso Queiroz, cada
vez mais próximo ao Palácio
do Planalto, não deixam.
Enquanto a mulher de Quei-
roz – Márcia Oliveira Aguiar,
com prisão decretada e consi-

derada foragida pelo MP – e ou-
tras pessoas próximas a ele
mantinham conversas que indi-
cavam um esquema para prote-
gê-lo e mantê-lo escondido, Na-
thália só é citada no documen-
to recente do MP quando resol-
ve elencar os problemas do pai.
Ao encaminhar para Márcia,
que não é sua mãe, uma repor-
tagem do jornal O Globo que
mostrava um áudio de Quei-
roz falando sobre cargos em
Brasília, em outubro do ano
passado, Nathália escreveu:
“Meu pai não se cansa de ser
burro, né?” Márcia respondeu:
“Cara, é foda! Não sei, cara,

quando é que teu pai vai apren-
der a fechar o caralho da boca
dele? Eu tô cansada!”
As conversas não pararam
por aí. Nathália, inconformada
com a suposta burrice do pai,
voltou a mandar uma longa
mensagem para a mulher dele,
que não é sua mãe. “Eu não
consigo mais ter pena do meu
pai, porque ele não aprende.
Meu pai é burro! Meu pai é bur-
ro! (...) Ele continua falando
de política. Ele continua se
achando o cara da política.”
O Estadão procurou Nathá-
lia por diferentes meios, mas
ela não respondeu.

Manter a FAB


longe da política


PERFIL


Em mensagens,


o desabafo da


filha de Queiroz


Nathália Melo de Queiroz, ex-assessora parlamentar


BRASÍLIA


O discurso de distanciamen-
to das Forças Armadas da po-
lítica é prejudicado pela pre-
sença de militares da ativa na
gestão Bolsonaro. Os minis-
tros da Secretaria de Gover-
no, Luiz Eduardo Ramos, e da
Saúde, Eduardo Pazuello,
por exemplo, são generais da
ativa. O entendimento geral
nas três forças é de que o esco-
lhido, ao assumir o posto de
natureza civil, deveria pedir
transferência para a reserva.
Ramos disse, recentemente,
que pretende aposentar a far-
da para se dedicar à articula-
ção política do governo.

O Estadão revelou que 2,


mil militares da ativa ocupam
cargos no Executivo. São 1.
integrantes do Exército, 680 da
Marinha e 622 da Força Aérea. A
reportagem levou o Tribunal de

Contas da União (TCU) a deci-
dir contar quantos militares
ocupam cargos na administra-
ção Bolsonaro, além de fazer
uma tabela comparativa da

atual gestão com as de Michel
Temer e Dilma Rousseff.

Ramos. “Respeito a decisão da
maioria do Tribunal. Mas tam-
bém não seria importante saber
quantos médicos e engenheiros
tem no governo? Quantos ho-
mens e mulheres? Quantos indí-
genas, negros, pardos e bran-
cos? Digo com propriedade que
militares são cidadãos fardados
que mesmo na reserva conti-
nuam servindo ao País. Diante
disso questiono: há algum pro-
blema com os militares?”, per-
guntou Ramos, em postagem
nas redes sociais, no dia 18.
De qualquer forma, há tam-
bém incômodo, na Marinha e
na Aeronáutica, com a nomea-
ção do pessoal da ativa para tra-
balhar no Planalto e na Esplana-
da, e com a tentativa de Bolsona-
ro de colar sua imagem à das
Forças Armadas.
Em fevereiro, o presidente
convocou o almirante Flávio Ro-
cha para assumir uma assesso-
ria especial no seu gabinete.
Atualmente, o oficial executa
várias tarefas para ajudar Bolso-
naro a solucionar problemas,
principalmente os políticos.
A presença de Rocha no gabi-
nete presidencial preocupa a
Marinha. Das três forças, a Aero-
náutica é a que tem menos pes-
soal da ativa no governo. A
maior apreensão, atualmente, é
com uma onda de manifestos
de militares da reserva a favor

de Bolsonaro e contra o Judiciá-
rio e o Congresso. Embora afas-
tados do dia a dia da força, os
oficiais aposentados da Força
Aérea Brasileira (FAB) acabam
sendo vistos como representan-
tes da instituição.
Na última quinta-feira, saiu o
último deles. O texto 504 Guar-
diões da Nação , que circulou nas
redes, contava com 243 milita-
res da reserva, a maioria da
FAB, aí incluídos seis tenentes-
brigadeiros, ex-integrantes do
Alto Comando da Aeronáutica.
Hoje, os militares mais conhe-
cidos e barulhentos do País,
que fazem postagens com amea-
ças veladas às instituições, es-
tão na reserva ou não têm tro-
pas. A lista dos oficiais da caser-
na com real poder de mando,
por outro lado, inclui nomes
desconhecidos, distanciados
do debate político. São os co-
mandantes do Exército, da Ma-
rinha e da Aeronáutica e os co-
mandantes do Exército em oito
regiões militares, todos eles ge-
nerais de quatro estrelas – à ex-
ceção do chefe do Comando do
Planalto, um general três estre-
las. Esses sete oficiais integram
o seleto grupo dos 16 que for-
mam o Alto Comando do
Exército, subordinados a Pujol.
Na Aeronáutica e na Mari-
nha, forças com outros mode-
los de divisão operacional, os co-
mandantes de áreas também
têm patentes de três estrelas.
/ TÂNIA MONTEIRO

lO presidente Jair Bolsonaro
afirmou ontem, no velório de um
paraquedista que morreu em trei-
namento, que a missão das For-
ças Armadas é defender a demo-
cracia. "A nossa missão, a missão

das Forças Armadas, é defender
a pátria, é defender a democracia.
E como dizia ( aquele ) que se tor-
nou um grande amigo, o ex-minis-
tro Leônidas Pires Gonçalves ( mi-
nistro do Exército no governo de
José Sarney ), nós estamos a ser-
viço da vontade da população bra-
sileira." Leônidas submeteu o en-
tão capitão Bolsonaro a Conselho
de Justificação, que o condenou,
veredicto depois revertido.

Generais criticam


presença de oficiais


da ativa no governo


Entendimento nas três Forças é que o escolhido – como Ramos e


Pazuello – deve ir para reserva ao assumir posto de natureza civil


PERFIS

lO senador Flávio Bolsonaro
(Republicanos-RJ) anunciou on-
tem no Twitter que Frederick
Wassef deixou de ser seu advoga-
do no caso das rachadinhas na
Assembleia Legislativa do Rio. “A
lealdade e a competência do ad-
vogado Frederick Wassef são ím-
pares e insubstituíveis. Contudo,
pode decisão dele e contra a mi-
nha vontade, acreditando que es-
tá sendo usado para prejudicar a
mim e ao presidente Bolsonaro,
deixa a causa mesmo ciente de
que nada fez de errado.” Wassef
é o dono da casa em Atibaia (SP),
onde foi preso o ex-assessor Fa-
brício Queiroz, acusado de ser o
operador financeiro da grupo cri-
minoso liderado por Flávio. / M.G.

WILTON JUNIOR / ESTADÃO

‘Missão é defender


democracia’, diz


presidente em velório


Acidente. Bolsonaro acompanhou ontem o velório do soldado Pedro Lucas Ferreira Chaves, de 19 anos, que faleceu no sábado em um treinamento no Rio


Flávio anuncia


mudança na defesa


Enfrentou óleo


no Nordeste


Ilques Barbosa Junior,
Comandante da Marinha

Antonio Carlos Bermudez,
Comandante da Aeronáutica

REPRODUÇÃO

Investigação. A jovem teria criticado o pai em mensagens apreendidas pela promotoria

Nathália é a filha mais


velha do ex-assessor de


Flávio Bolsonaro e foi


empregada no gabinete


do presidente na Câmara

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