Valor Econômico (2020-06-23)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 16 da edição"23/06/2020 1a CAD A" ---- Impressapor ccassiano às 22/06/2020@19:56:


A16|Valor|Terça-feira, 23 de junhode 2020


Opinião


BCentracomograndeplayer,compoderparagerir


jurosdapontalongadadívidapública.FabioTerra


Orçamento de guerra,


compromissadas e Selic


Só há um caminho


para reduziro custo da


atuaçãodo BC nos


mercadossecundários


de dívida:Selicmenor


P


romulgada em 7 de


maio, aEmendaConsti-


tucional 106/2020,ape-


lidadade PEC do Orça-


mentode Guerra,autorizou a


atuaçãodoBancoCentraldoBra-


sil (BCB)no mercado secundário


localeinternacionalde títulos


do TesouroNacionale de ativos


privadosde capitaise de paga-


mentos.Fez-se,assim, o“quanti-


tativeeasing” brasileiro, e esta


bem-vindaatuaçãodo BCB ocor-


reráviaemissãodemoeda.


A medidaé oportuna. No âm-


bito do mercadosecundáriode


dívidapública,oBCB entracomo


grandeplayer,tendopoderde


criarliquidezsuficientepara ad-


ministrarosjurosdapontalonga


dadívidapública.HojeoTesouro


éresponsávelporgerenciarosju-


ros longos,mastem poderde


açãobemmenordoque oBCB,


pois usa recursospróprioslimi-


tadosàs disponibilidades vincu-


ladasao colchãode liquidezda


dívidanobojodaContaÚnica.


O BCB, ao criar moeda para re-


comprartítulos públicos,reduz


adívida bruta.A liquidezque


entãose tornará disponívelno


mercadofinanceiro, nestemo-


mentode crise,não buscaráati-


vos privadosprefixados,nem de


rendavariável e, muito menos


externos,dadoorisco cambial


elevado.Logo, ela se tornaráre-


servalivreno mercado monetá-


rio, pressionandoaSelicem re-


laçãoà meta.Restaráao próprio


BCB, assim,enxugar reservasli-


vres via compromissadas, au-


mentandoa dívidabruta.


Ou seja, no fundo,oBCBestá


fazendo um “twist”de títulos


longospor curtos,com um dife-


rencialem relaçãoàação do Te-


souroque já ocorre nestesenti-


do: o BCB tem capacidadeilimi-


tadade marcarjuros longos.A


dívidabrutapermanecerá a mes-


ma, mas o seu custo—que é um


dosdeterminantes,inclusive,das


própriascompromissadas —se


reduz, sempresendo limitado


pelataxapiso,aSelic.


No âmbitodo mercadosecun-


dáriode ativos privados,a medi-


da permiteestabilizarosistema


financeironacional ao evitar


umagrandedeflaçãode ativos


quandoas instituiçõesfinancei-


ras precisarem de caixaenãoen-


contrarem compradores para


seus títulos.Por sinal,a emenda


constitucionaltrouxedois po-


réns,quaissejam: por um lado, a


limitaçãode o BCB não poder


comprarativos com ratingabai-


xo de BB-, oque exclui, portanto,


os ativosmais mal avaliadosdas


instituições, que são justamente


os maisacometidos pelacrise.


Por outrolado, exigirrating em


momentode criseé delicado,


pois emborao requerimentotra-


ga segurançajurídicaao BCB em


relaçãoaos órgãos públicosde


controle,a avaliaçãodas condi-


çõesdemercadoficaturva.


A ação do BCB no mercadose-


cundáriode dívidaprivadaé um


processode desalavancageme


saneamento de balanço. Ao criar


moedae adquirir ativos priva-


dos, o BCB traz ao seu balanço


ativosque as instituições finan-


ceirasjulgamser os seus piorese


a elas entrega moeda, o ativo


maisseguro de umaeconomia,


porémsemremuneração. A li-


quidez, então, se tornaráreserva


livre no sistema financeiro e


buscaráo retornoque ofereça


maior liquidez e segurança:


compromissadas.


Maisdo que meramenteso-


brar no sistemabancário por au-


sência de oportunidades de in-


vestimento,em um contextoco-


mo oatual oque as instituições


financeiras querem são compro-


missadas (inclusive,mesmose


não houvesseo“quantitativeea-


sing”brasileiro). Elas são, como


dito, amelhor rentabilidade


possível comriscozeroe liqui-


dez plena.Tê-las no balançofaz


partedo processo de fugapara


liquidezdas instituições finan-


ceirase de desalavancagemde


seus balanços. Logo,neste pro-


cessose tem crescimentoda dí-


vida brutanão comoum efeito


colateral da ação do BCB no


mercado secundáriode dívida


privada,mascomoa razãode


ser da própriaação.


Coma presençado BCB em


ambos os mercados secundários


de dívida,portanto,éesperada


elevaçãoda dívida.A novidade


bastantepositiva éque o BCB te-


rá fortepoderde marcaçãodos


juroslongos,comotem paraa


Selic, por atuarno mercadose-


cundáriode títulos do Tesouroo


que,por arbitragem,se transmi-


te ao mercadoprimário, em que


ocorre a trocaefetiva de recursos


entre investidores eaautoridade


fiscal.Mas, mesmo com juros


longosmenores, um maiorpata-


mar de dívidaimplicacustosfis-


caisfinanceirosmaioresàUnião.


Tivéssemosdepósitos voluntá-


rios de reservaslivres,o impacto


das açõesdo BCB sobreo tama-


nhoda dívidamobiliáriaseria


menor,masnãoostemos.Logo,a


questão que surgeé comoredu-


zir ocusto financeiroda necessá-


ria atuaçãodo BCB nos mercados


secundáriosde dívidapúblicae


privada? O caminho é apenas


um:menorjurosSelic.


Então,entra em cenaum dile-


ma. O juro Selic,emboraesteja


em tudodescrito acima,émar-


cadoindependente de todopro-


cessode estabilizaçãofinancei-


ra; seu foco miraaconvergência


do IPCAàmeta e, por isso,há


folga parareduzi-lo, portanto.


Mas,aSelic, por ser areferência


de remuneraçãobásicado país,


temintensa correlaçãocom o


câmbio, que está desvalorizado


e pressionado. Nesteponto, não


há folga.


Oque fazer?Arespostaestá na


administraçãode dívidaque o


BCB podefazeragora.Sua ação


comoplayer hors-concoursno


secundáriode títulospúblicos o


permitemarcarjuroslongosem


um patamar que cubra, ao me-


nos em parte, oprêmiode risco


doBrasileatenueasaídadecapi-


tais —com Selicmenorno atual


momento do ciclointernacional


de liquidez é impossível evitar


saídadecapitais.


Assim, abre-se espaço para


que a Selic,ojurocurto, caia, re-


duzindoocusto do maiorvolu-


me de compromissadas (dívida


curta)que virá da estabilização


do sistemafinanceiro —edimi-


nuindo, por tabela,ocusto de fi-


nanciamentoda Uniãovia Conta


Únicaou eventual financiamen-


tomonetário,masquenãoénos-


soassuntoaqui.


Em um debatenormativo,não


éjustoqueenquantoaeconomia


brasileira divide os custos da


maiorquedade PIB de sua histó-


ria, setoresajudados pelaação


públicavia BCB continuemga-


nhando.Aajudaao setorfinan-


ceiroprecisa ser feita,mas à Selic


atual,elaéfeitadandoretornofi-


nanceiroa quemrecebeuajuda,


às custas de toda a sociedade que


pagaos jurosincidentes sobrea


dívidapública.


Fabio Terraé professorda UFABCe do


PPGE-UFU.


DANIELMARENCO/A GÊNCIAO GLOBO

Congresso tentamaisuma vez


aprovar marcodo saneamento


D


eveservotadopeloSenadonesta


semanaonovomarcoregulatório


dosaneamento.Apandemiado


novocoronavírusrecolocouo


assuntonaordemdodia.Os


índicesdesaneamentodopaíssão


lamentáveis.Cercade100milhõesde


habitantes,praticamentemetadeda


população, nãotêmacessoarededeesgoto,e


muitopoucodoqueécoletadoétratado.


Outros35milhõesnãorecebemáguatratada.


Paravastascamadasdapopulaçãoé


simplesmenteimpossívelobservaros


cuidadosmínimosdehigienequeocombate


àpandemiaexige.


Apesardisso,algunspartidosresistema


retomaroassunto,quevemsendodiscutido


desdeoanopassadonasduascasaslegislativas.


Osmotivossãovariados.Háobjeçãodaparte


doslíderesdoPSB,PSDePTquecriticama


inserçãodotemanapautadassessõesvirtuais,


estabelecidasnoiníciodacriseparasetocarà


distânciatemasrelacionadosàpandemiaeao


estadodecalamidade.OlíderdoPSD,senador


OttoAlencar(BA)chegaanãoverrelaçãodo


“projetocomapandemia,mascomasdoenças


veiculadaspelaágua”, epede“apuraçãomaior,


estudoseaudiênciasdaspartesenvolvidas”.


Doladodogovernoedospartidosque


apoiamoprojeto,aexpectativaéqueeleseja


umdosestimuladoresdaretomadados


investimentosnopós-pandemia.Onovo


marcoregulatório,previstoparaentrarem


vigorem2021,abreespaçopara


investimentosestimadosemR$700bilhões


até2033comoestímulodadoàs


privatizaçõeseconcessõesdosserviços.


Ademandapordiscussõesmais


aprofundadascarecedefundamento.O


projetodeleiemavaliaçãonoSenado, oPL


4.162/2019,veiodaCâmaradosDeputados,


ondefoiaprovadoemdezembrodoano


passado.Haviaumprojetoanterior,do


senadorTassoJereissati(PSDB-CE),


engavetadopelosdeputadosesubstituído


porumapropostaencaminhadapeloPoder


Executivo,emagosto.Porterorigemno


PoderExecutivoecontermudançasdo


relatorGeninhoZuliani(DEM-SP),apalavra


finalédaCâmaradosDeputados.


Desdeoiníciodoano,oSenadojáchegoua


discutiroprojetodaCâmaraportrêsmesese


fez20audiênciasarespeitodele,contabilizaa


casa.Parafacilitaratramitação,orelator,


senadorTassoJereissati,sugeriuamanutenção


dotextoenviadopelaCâmara,abrindomãode


mudanças.Aintençãoéagilizaroprocessoao


evitaralteraçõeseelepreciseretornaràCâmara


paranovaanálisedosdeputados.


Masalgunspartidosprometemresistir.Um


dospontosmaispolêmicos—desdesempre—é


oquepermiteaentradadosetorprivadono


saneamento.Peloprojeto,osmunicípiosterão


quefazerlicitaçõesparadefinirqualempresa,


sejaelapúblicaouprivada,seráresponsável


peloserviçodesaneamento.Osacordosem


vigorserãomantidosatémarçode2022.A


partirdaí,poderãoserprorrogadospor


anos,desdequeasempresascomprovem


viabilidadeeconômico-financeiraeo


cumprimentodemetas.Asempresasdevem


garantircoberturade99%paraofornecimento


deáguapotávelede90%paracoletae


tratamentodeesgotoaté2033.Estadose


municípiospoderãocontratarserviçosde


formacoletiva,condiçãoestabelecidapara


resolveroproblemadecidadescujoportepode


nãosersuficienteparaatrairinteressadospara


alicitação.Aadesãoévoluntária.


AAgênciaNacionaldeÁguas(ANA)vai


regularosaneamentobásicoepoderáoferecer


ajudatécnicaefinanceiraparamunicípiose


blocosdelesimplementaremseusplanosparaa


área.Oapoioestarácondicionadoaregras


comoaadesãoaosistemadeprestação


regionalizadaeàsubstituiçãodoscontratos


vigentes,emtrocadelicitação.


Oprojetodeleiprevêquefamíliasdebaixa


rendapoderãorecebersubsídiosparacobrir


oscustosdofornecimentodosserviçosde


saneamentoeconexãográtisàrededeesgoto


paracontornaroproblemadasquenão


fazemaligaçãoparanãogastareseguem


usandofossasoudespejandooesgotoem


riosecórregos.Foramfixadosnovosprazos


paraofimdoslixõesacéuaberto.


ComalimitaçãofiscaldosEstados,


municípiosedaUnião,onovomarco


regulatóriodosaneamentoindicaasolução


possívelpararesolverumaquestãoquese


tornouaindamaisvitalcomapandemia.A


OMSestimaqueanualmente15milpessoas


morreme350milsãointernadasnoBrasil


todososanosdevidoadoençasligadasà


precariedadedosaneamentobásico.


Segundooorganismo,acadaR$1investido


emsaneamento,economiza-seR$4em


gastoscomsaúde.


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