JornalValor--- Página 18 da edição"23/06/2020 1a CAD A" ---- Impressapor ccassiano às 22/06/2020@21:34:
A18| Valor|Te rça-feira, 23dejunhode 2020
Especial
Nos fóruns
globais,um
ataqueao
globalismo
DeBrasília
O governoJair Bolsonaronão
deverámaisapoiar,em eleições
paraachefia de organismosin-
ternacionais ede agências do
chamadoSistema ONU, candida-
tosoriundosdopróprio“secreta-
riado” dessas entidades. Sob a
gestão do chanceler Ernesto
Araújo, o Itamaratypretende de-
fender, nas votações,nomesque
tenhamparterelevanteda traje-
tória profissional desenvolvida
primordialmenteem seus países
de origeme nunca na estrutura
técnico-burocrática das organi-
zaçõesparaasquaisconcorrem.
Essaposturabusca,segundoos
atuais formuladores da política
externa brasileira, desinflarere-
verter amentalidade “globalista”
que prevaleceria em entidades
importantes do sistemainterna-
cional. Para o chanceler e o asses-
sor internacionalda Presidência
da República, Filipe Garcia Mar-
tins, muitos organismos foram
capturados por seus próprios
corpos burocráticos edeixaram
de lado sua funçãooriginal de in-
tercâmbiode boas práticas para
invadir a competência de Estados
nacionaisempolíticaspúblicas.
Reflexoda decisãobrasileira
de não apoiarmaiscandidatos
de “dentro do sistema”foi a esco-
lha do novodiretor-geralda Or-
ganizaçãoMundial de Proprie-
dadeIntelectual (OMPI).Na elei-
ção, realizadaem março, o Brasil
votouno candidatode Cingapu-
ra —endossado pelosEstados
Unidose ex-chefe do escritório
de patentesdo país asiático. O
Itamaratyignorou os apelosde
Pequim, que pedia insistente-
mentevoto na chinesa Wang Bi-
nying, entãoa número dois no
organogramadaprópriaOMPI.
De acordocom uma fonte gra-
duadada diplomacia, diferente-
mentedo que se especulou, não
havia nenhumarestriçãoàChina
ou percepçãode que os chineses
teriamcargos demais nos orga-
nismos internacionais vincula-
dos ao chamado SistemaONU—
Pequimjá tem os diretores-ge-
rais da FAO (agência das Nações
Unidasparatemasdeagricultura
ealimentação), OACI(aviaçãoci-
vil), Unido(desenvolvimentoin-
dustrial)eUIT(comunicações).
O grande ponto,segundo essa
fonte, era ohistóricode Wang:
umatécnicaqueconstruiusuacar-
reiranaprópriaOMPI,por23anos,
até chegar à posição de vice-dire-
tora. É otipodeperfil que, apartir
de agora, o Itamaraty —comoo
governo Donald Trump—quer
evitarnosórgãosinternacionais.
Martins, assessor internacional,
costuma definir o “globalismo” da
seguinte forma: umatentativa de
instrumentalizaçãopolítico-ideo-
lógicadaglobalizaçãoquetransfe-
re o poderdecisório dos eleitores
nacionais eseus representantes
eleitos para um conjunto de buro-
cratas não eleitos em instâncias
transnacionais —como ONU,
OMC,OMSe Unesco.Trump, que
segueidêntica linhaderaciocínio,
játirouosEstadosUnidosdaUnes-
coeanunciouumboicoteàOMS.
O nacionalismo, segundo Mar-
tins, seria justamente aantítese
do globalismo:dar às naçõeso
poder de decidir,rejeitando a
ideia de transferir essa responsa-
bilidade paraburocratas anôni-
mos. Nas palavras complementa-
res deAraújo, resistir auma “qua-
se religião”que tem comoman-
damentos direitos humanos, cli-
matismoeideologiadegênero.
Há três meses,em aula magna
parajovens diplomatas no Insti-
tuto Rio Branco,ochanceler ex-
plicou por queevitar a palavra
“global” e usar o termo “interna-
cional”. Ele argumentouque o
primeiro vocábulo relativiza o
sentido de nação, a identidade, a
soberania nacional. Ao definir
que determinado assunto é“glo-
bal”, como as mudanças climáti-
cas ou as políticas migratórias,
busca-se minar um pouco da ca-
pacidadedecisória dos Estado-
nação.“Oadjetivoglobaléumró-
tulo. Quandovocê vê esse rótulo
na garrafa, sabe queestá toman-
doalgocontraasoberania.”(DR)
China se irrita com adesão a iniciativa de Trump
DeBrasília
Aadesãorecentedo Brasilao
América Cresce(Growthin the
Americas),iniciativa lançada por
Donald Trump para apoiarinves-
timentosem infraestruturanos
países latino-americanos ecari-
benhos,irritouautoridades chi-
nesase fez crescero mal-estarde
Pequimcom o governoJair Bol-
sonaro. O desconforto nos basti-
doresét ão pronunciadoque a
Chinadecidiunão liberar, por
ora,financiamentoparaprojetos
noâmbitodefundosbilaterais.
Um memorandode entendi-
mentossobreaparticipaçãobra-
sileira no América Cresce foi
anunciadoem março, quandoos
dois líderesse reuniramna Flóri-
da, duranteaviagemcélebrepe-
la contaminaçãode diversas au-
toridadespelonovocoronavírus.
A China diz não ver problemas
na integração do Brasil aprojetos
bilaterais ou regionais de desen-
volvimento, mas encara oAméri-
ca Cresce como uma nítida tenta-
tiva dos Estados Unidos de minar
a Iniciativa CinturãoeRota (Belt
and RoadInitiative). Também
chamada de Nova Rota da Seda, a
BRIfoiidealizadapelopresidente
XiJinpingejátemmaisde70paí-
ses envolvidos, que cobrem 65%
da populaçãomundial e repre-
sentamcerca de um terçodoPIB
global. Fala-se em financiar US$ 1
trilhão de investimentos em por-
tos, rodovias, ferrovias,aeropor-
tos,energiaetelecomunicações.
O que deixou os chineses insa-
tisfeitosfoi asuposta assimetriade
tratamentoàsduasiniciativaspelo
Brasil.Uminterlocutordogoverno
emPequim,quepediuparanãoter
o nomepublicado a fim de evitar
maisdanosno diálogo com o Ita-
maraty, explicouos motivos do
desconforto: “A indiferença dadaà
Iniciativa Cinturãoe Rota,compa-
rada ao entusiasmocom oAméri-
ca Cresce, é alarmante e preocu-
pante, evidenciando alinhamento
comosEstadosUnidosedistancia-
mentonasrelaçõescomaChina”.
Na leiturados chineses,ogo-
vernoBolsonarodemonstrouex-
cessode preocupaçãoem aderir
àBRIecausaralgumtipodeincô-
modona Casa Branca,mas abra-
çou sem nenhumahesitaçãoo
AméricaCresce,quePequimcon-
sideraevasivoesemsubstância.
Os EstadosUnidosassinaram
memorandoscom oito paísesda
regiãopara parceriasno progra-
ma: alémdo Brasil,Argentina,
Chile, Colômbia, El Salvador,
Equador, Jamaicae Panamá.A
IDFC(siglaem inglêsde Coope-
raçãoFinanceira paraoDesen-
volvimento Internacional) ex-
pandiuparaUS$ 60 bilhõesoli-
mite de investimentopara proje-
tos em infraestruturalogística,
digital,energiaemeioambiente.
Já a Chinasondou o Brasil em
pelomenosduasoportunidades,
nas visitas oficiais de Bolsonaroe
dovice-presidenteHamiltonMou-
rão no ano passado, sobrea inclu-
sãodopaísnaIniciativaCinturãoe
Rota.Aresposta brasileirasempre
foi na linha de que investimentos
chineses são muito bem-vindos,
mas devemocorrer por meio de
aquisições no mercado ou de lei-
lões no escopo do Programade
ParceriasdeInvestimentos(PPI).
O climanegativose acentuou,
nas últimassemanas,com decla-
raçõesjocosasde autoridades
brasileirassobrea origemdo co-
ronavíruse com a recomendação
feita pelo Itamaratyde banimen-
to da Huawei nas futuras redes
de5G—temacaroparaaChina.
Fonte ligadaao governo chinês
disse aoValorque, diante da dete-
rioraçãodos ânimos,nemsequer
se cogita o destravamento do Fun-
dodeCooperaçãoBrasil-Chinapa-
raExpansãodaCapacidadeProdu-
tiva.Lançadoem 2015,durante
encontroem Brasíliadaex-presi-
denteDilmaRousseff edo primei-
ro-ministro Li Keqiang, o mecanis-
mo destinaria até US$ 20 bilhões
paraapoio a projetos de infraes-
truturaedesenvolvimentoindus-
trial. Para cada dólar aportado pe-
loBrasil,aChinadariaoutrostrês.
O fundodemorou quase três
anos paraser estruturado e chegar
àlistafinaldecandidatosareceber
recursos. Em março de 2019, re-
portagem doValormostrou que a
linhadetransmissãodeenergiade
Belo Montehavia sido escolhida
comoprimeiro ativo eofundopo-
deria entrar com até 40% do “equi-
ty”. Porém, devido à retóricaanti-
China do governo Bolsonaro,Pe-
quimhavia preferido dar um tem-
po nas tratativas. “Hojea situação
estápior.Essefundoteráqueespe-
rar por um momento e um am-
bientemelhor”, disseafonte.(DR)
RelaçõesexternasParadentroeparaforadachancelaria,ministroacumulacontrovérsias
Com guinada ideológica, Araújo
abala as estruturas do Itamaraty
DanielRittner
DeBrasília
Em uma das últimas recepções
da comunidade diplomática em
Brasília, antes do primeiro caso
de coronavírus na cidade,oem-
baixadordaFrançaabriusuaresi-
dênciaoficial,localizadaamenos
de um quilômetro da Esplanada
dos Ministérios, para despedir-se
dos amigos.Bebericando vinho e
caipirinha, os convivas sorriam
nosjardins da casa,que ostenta
na sala um piano de cauda onde
repousa afoto do presidente Em-
manuel Macron e da primeira-
dama Brigitte, rotulada como
“feia” porautoridadesbrasileiras.
ApósdoisanosemeionoBrasil,
o embaixador Michel Mirailletjá
dominava oportuguês, mas usou
sua língua materna para fazer um
discurso emocionado e convidar
todos para que o visitassemem
Paris, ondeacaba de assumir um
dos cargos maisimportantes no
QuaiD’Orsay, achancelaria fran-
cesa.Diplomatas europeus ede
países africanos, jornalistasere-
presentantes de organismos mul-
tilaterais, a ministra do Supremo
TribunalFederal(STF)CarmenLú-
cia e a ex-procuradora-geralRa-
quelDodgeaplaudiramprolon-
gadamente. Uma ausência, po-
rém,foinotada.Ao contrário do
que se costumaver em despedi-
das do tipo, não havia um único
altofuncionáriodoItamaratyali.
Seria exagero dizer que ahistó-
ria, por si só, ilustra um suposto
isolamento da diplomacia brasi-
leira. Masoepisódio revela como
oBrasil,antes visto como facilita-
dor de consensos em negociações
internacionais e queridinhodos
países emergentes, hoje cultiva
distanciamento —eàsvezes até
mal-estar —com vários dos nos-
sosantigosparceirosestratégicos.
Um dos postosmaisnobres da
carreira, por exemplo, aembaixa-
daemBuenosAirestornou-sesím-
bolo de inoperância forçada etem
ordens de mantercontatos mera-
menteformais, apenas em níveis
técnicos,como governodo es-
querdistaAlbertoFernández.Éo
oposto do que deveria fazer uma
missão diplomática,especialmen-
te sendo a Argentina principal só-
cia do Brasil no Mercosul e tradi-
cional maiordestinodas exporta-
çõesdeprodutosmanufaturados.
Para dentroe para fora, a gestão
ErnestoAraújoabalou as estrutu-
rasdoMinistériodasRelaçõesExte-
riores. Nemmesmo quando oPT
chegou ao poder, em 2003,agui-
nada foi tão grande. Cadavez mais
próximodo presidente Jair Bolso-
naro, o chancelerconduziu a saída
do Brasil de fórunsregionais como
a Unasule Celac,fechou sete em-
baixadasna África eno Caribeque
haviam sido abertasnos anos Lula-
Dilma Rousseff, mudouposições
históricasna ONUparaalinhar-se
aos EstadosUnidos, impôsdificul-
dadesem negociaçõesambientais
eprivilegiou orelacionamento na
Europacom dois países comanda-
dos por líderes da direitaultracon-
servadora(Hungria ePolônia),que
críticos avaliamser de baixíssima
complementaridadecomoBrasil.
“O país se encontrano maior
isolamentodiplomáticodosúlti-
mos50anos”,afirmouaoValoro
historiadorCarlosMalamud,já
apontadocomoum dos 50 inte-
lectuaisibero-americanos mais
influentes pela revistaespanhola
“Esglobal” e hoje pesquisadordo
RealInstitutoElcano,emMadri.
Para ele, a boa fama da diplo-
maciabrasileira “está se dilace-
rando” na Europa e atualmente
“seria impensável” ver o Brasil à
frente de grandes coalizões de
países emergentes em fóruns
multilaterais, comoocorreu no
passado.Malamudachaqueodis-
curso ambíguo sobremudanças
climáticas, a aliança com um go-
verno impopular comoo de Do-
nald Trump e apostura na pande-
mia ajudam a dilapidar esse esto-
quedeimagempositivadopaís.
“Há umaideologização extre-
ma da políticaexterna”, acres-
centaMalamud, que ironizao
discurso de que existiriauma má
vontadeda opiniãopúblicain-
ternacional,supostamente de es-
querda, contraaduplaBolsona-
ro-Araújo. “Issosó faz sentidose
partimos do princípiode que to-
dos aquelesque se encontrama
maisde dez centímetrosde Ola-
vodeCarvalhosãocomunistas.”
AAssociaçãodosDiplomatas
Brasileiros (ADB)manifestou, em
reuniões,otemordequerepresen-
tações do país no exterior e seus
profissionais passem a ser novos
alvosdeataques físicospor islâmi-
cos radicais,como já ocorreu com
embaixadas dos Estados Unidose
do Reino Unido.Pichações e pe-
quenos protestos de cunho políti-
co foramregistradosalgumasve-
zes na Europa, mas o receio é de
aumentodahostilidade,naesteira
de atitudes comoa promessade
mudança da embaixada em Israel
paraJerusalém (oraembanho-
maria)edoapoioaoataqueameri-
canoque matou ogeneralirania-
noQassemSoleimaninoIraque.
O diplomata aposentado Ro-
bertoAbdenur,ex-embaixadorem
Washington, brinca que o Brasil
hoje sótem“trêspaísesemeio”co-
mo amigos: Israel, Hungria ePolô-
nia. “Meiosão os EstadosUnidos,
porque estamosexcessivamente
alinhados com as ideias do Trump
e antagonizamos com a outra me-
tade, os democratas”,afirmouAb-
denur,emumsemináriovirtualda
ADB, na semanapassada. “Essa po-
líticaexterna representa uma bru-
tal ruptura com o nosso patrimô-
nio diplomático.Eoresultadodis-
so é o encolhimento da presença
doBrasilnoplanointernacional.”
O chacoalhão dadopor Araújo
tambémmoveu as estruturasin-
ternas do Itamaraty.Éimpossível
estimar ograu exato de discórdia
entre seus colegas, mas há algu-
mas evidências. De ministros de
primeiraclasse asecretários, que
compõemos seis degraus da car-
reira,inúmeros subordinados do
chancelerpassaram a requisitar
transferência para postos normal-
mentedesvalorizados: consulados
(quelidamcoma burocracia do
atendimentoaos cidadãos brasi-
leiros no exterior), departamentos
administrativos, embaixadas na
periferiadaÁsia ou da Europa.Es-
sespostospassaramaservistosco-
mo refúgios,ondese podeficarfo-
ra do “centro nervoso”da política
externaeescapardasdesavenças.
Nomes identificadoscom ges-
tões petistas, acomeçar pelos ex-
chanceleresde Dilma, foramalo-
cadosem postos de segunda divi-
são.Tratados com deferência pelo
governo MichelTemer, em respei-
to à sua trajetória profissional, re-
cuaram vários patamares: Mauro
Vieira saiuda missãonaONU em
Nova York para aCroácia, Antônio
Patriota migrou da Itália para o
Egito, Luiz Alberto Figueiredodei-
xouPortugalefoiparaoQatar.
Mesmo sem jamais teremfeito
declaraçõescontráriasaBolsonaro
ou a Araújo,outrosdiplomatas
respeitadospelos colegasficaram
mesessem função, gastandosuas
horas de trabalhona biblioteca do
Itamaraty. Em comum, tinham
passagens como assistentes do ex-
ministro Celso Amorim ou do ex-
assessorpresidencial Marco Auré-
lioGarcia,emgovernospetistas.
Logo que ochancelertomou
posse, em janeiro de 2019, surgiu
umalenda noscorredores: a de
que haveriainfiltrados da Agência
BrasileiradeInteligência(Abin)na
área de informática etecnologia
do ministério. Bastou esse folclore
paraespalhar umanovaprática:
mensagens trocadas por aplicati-
vos de telefone frequentemente
são “apagadas para todos” na con-
versa, logo em seguida ao disparo,
como se representassem alguma
ameaça. Grupos de WhatsAppfor-
mados por ex-alunos de uma mes-
ma turmano InstitutoRio Branco
oudiplomatasquehaviamservido
juntos em um país, por exemplo,
hojeraramente têm troca de opi-
niões sobrepolítica.Muitosrela-
tam temorde manifestarem dis-
cordânciaeserem“dedurados”.
“O climaé de humilhação e ca-
çaàsbruxas”, dizoex-ministroda
Culturaed eputado federalMar-
celoCalero(Cidadania-RJ),quese
licenciou da carreira diplomática
paraoexercíciodo mandato. Ele
encaminhouaopresidentedaCâ-
mara, RodrigoMaia (DEM-RJ),a
propostade criar umacomissão
de acompanhamento externo do
Itamaraty. “Moderação eprevisi-
bilidade são atributos da própria
diplomacia, mas hoje existe uma
contaminaçãopelaideologia,um
fanatismoquasemístico”, afirma.
Umaqueixa dosfuncionários é
a dificuldadede acesso ao gabine-
te de Araújo.“Não fomos recebi-
dos pelo ministro umaúnicavez
para discutir assuntos da carreira”,
lamenta o oficial de chancelaria
João Marcelo Melo,presidente do
sindicatodosservidores,oSindita-
maraty. Apesar disso, também no-
ta aspectos positivos, comoritmo
de trabalho da corregedoria inter-
na (responsável pela apuração de
denúncias eirregularidades) eo
trânsito de Araújo no Palácio do
Planalto, o que ajuda a garantirre-
cursosfinanceirosem momentos
críticos (como na repatriação de
brasileirosduranteapandemia).
Um antigo conhecedordo Ita-
maraty divide os diplomatasem
trêsgrupos:os“truebelievers”,que
realmenteacreditam nas diretri-
zes dadaspor Araújo; quemprefe-
riu submergir por um tempo em
postosinvisíveisenãoteridentida-
de vinculada àgestão Araújo; eos
que abraçaram o “ernestismo” não
porconvicção,masparaextrairbe-
nefícios do sistema de promoções
e concessão de bonspostos no Ita-
maraty, ainda muito pautados por
relaçõesdeamizadeecompadrio.
Nas últimassemanas, contra-
riandoohabitualcomedimento
diplomático, alguns embaixado-
res fora do país subiramo tom pa-
ra contestar críticas a Bolsonaroe
adotaruma postura chamada de
“rotweiller”no Itamaraty.Foi lido
comotentativa de criarproximi-
dade com a nova cúpula ministe-
rial. Orepresentantedo Brasil em
Madri, Pompeu Andreucci, escre-
veua“ElPaís”dizendoqueodiário
tem “arrogância obscurantista”e
“vocaçãoneocolonialista”.Ochefe
da missão em Luanda, Paulino
Franco, rebateu um ex-ministro e
colunista de Angola, acusando-o
de“deixar-selevar[...]poropiniões
simplistas emaledicentes” de opo-
sitoresesetoresradicaisnoBrasil.
Quandoanalisaessetipodeepi-
sódio,um dos mais experientesdi-
plomatas da ativa se lembra do
embaixadorchilenoem Brasília,
nos anos 1980:“Sempre que al-
gumjornal brasileiro chamava o
governo Pinochet de ditadura, ele
mandavaumalongacartaexaltan-
do ademocraciano Chile.Aima-
gem de um país reflete o queele é,
issonãosemudacomumacarta”.
Araújofoi procuradopeloVa-
lor, masnãocomentouoassunto
atéaconclusãodestaedição.
ErnestoAraújo: mudança emposiçõesdoBrasilnaONU,proximidadecomEUA deTr umpe saídadefórunsregionais
GUSTAVO MINAS/BLOOMBERG