JornalValor--- Página 2 da edição"23/06/20201a CADB" ---- Impressa por cgbarbosaàs 22/06/2020@20:43:
B2|Valor| Te rça-feira, 23dejunhode 2020
Empresas
|
Infraestrutura
IMPACTOSDO
CORONAVÍRUS
LegislaçãoANA vai definir governançae indenizações
comoprioridade regulatória, e Uniãoplanejadecretos
Governo já prepara
próximos passos da
lei do saneamento
JONILTON LIMA/ANA
Paraa diretora-presidentedaANA, ChristianneDias,a regulaçãofederal dosaneamento seráaprovadaemetapas
Ta ís Hirata
DeSãoPaulo
Ogovernojápreparaasmedi-
das seguintesàaprovação do no-
vo marco do saneamentobásico,
que deveráser votadonestase-
mana. De um lado,aAgênciaNa-
cional de Águas(ANA) tem se
reunido comagentesdo setor
para definir ostemasprioritários
queserãoalvoderegulaçãofede-
ral. De outro, o governo já plane-
ja ao menostrês decretospara
complementarasnovasregras.
A mudança na legislação está
em debatehá doisanosnoCon-
gresso Nacional. A versão atual
doprojeto,quejáfoiaprovadana
Câmara, deverá ser votada pelo
Senado nestaquarta-feira (24) e,
caso seja aceita sem alterações,
seguiráparasançãopresidencial.
Porém, aindahá resistência de
parlamentares. Até mesmode-
fensoresda lei tentamcontrolar
seu otimismo, diantedo históri-
co de repetidas votaçõesfrustra-
das nos últimos anos.
Mesmo sem aaprovaçãodefi-
nitiva, a ANA,que com a nova lei
se tornará um órgão regulador
do saneamento, já definiu alguns
dosprimeirostemasqueserãoal-
voderegulamentaçãofederal,se-
gundo a diretora-presidente,Ch-
ristianne Dias.Oplanoéformu-
larasnovasdiretrizesaospoucos,
mas um primeiro pacote já pode-
ráserlançadoatéofimdesteano.
Um dos temasprioritários será
a governançadas agências regu-
ladoraslocais,que hoje éalvo de
reclamação das empresas. Aideia
édefinirrequisitosmínimospara
queessesórgãostenhamgaranti-
das sua autonomiaecapacidade
detomardecisõestécnicas.
Outroassunto primordial éa
metodologia de cálculoda inde-
nização pelos bens reversíveis em
caso de encerramento de contra-
tos.Oassuntoganharáimportân-
ciajustamentedevidoàsmedidas
do novo marco queampliam a
concorrência entre estatais e gru-
pos privados. Diante da possibili-
dade de as companhias públicas
perderemparte de seus acordos,
é preciso determinar comoserá
calculado o ressarcimento pelos
investimentos feitos pelas em-
presaseaindanãoamortizados.
A presidenteda ANAdestaca
que todosesses temasserão alvo
de audiência econsultapública.
“Nadaserá feitode surpresa,to-
da asociedade poderá contri-
buir com o debate”, diz ela.
O prazo para aimplementação
das diretrizesdependerá do ta-
manho da estruturaque aagên-
ciareceberá.AANA,quehojetem
350 servidores, já pediu a abertu-
ra de um concurso público para
outros100. Alémdisso, aagência
já acertouatransferência de 40
servidoresdeoutrosórgãos.
“Hoje,aANAnãofazregulação
econômica em grande escala,
precisamos de mão de obra espe-
cializada. Não adianta atribuir
umanova competência àagência
semdarestrutura”, afirmaDias.
Outropasso necessário apósa
aprovaçãoda leiserá a elabora-
ção de algunsdecretos federais,
para regulamentar pontos espe-
cíficos do novo marco. A expecta-
tivadascompanhiaséqueaome-
nostrêsdelessejampublicados.
O primeiro deverácriarum
comitêinterministerial,que será
responsável por definiraaloca-
ção de recursosfederaisno se-
tor.Outra normadeverádefinir
aformade atuação do governo
federal, por exemplo,nacriação
de blocosregionais.
Um dos decretosmaisaguar-
dados é aqueleque definiráa
forma de as empresas compro-
varemsua capacidade econômi-
co-financeirapara fazeros inves-
timentos necessários.
Essa metodologia, que deverá
ser publicada emum prazode
dias, será decisivaprincipalmen-
te para as estatais com menosre-
cursos,que correrãoorisco de
perderem contratos caso não
provemque são capazes de cum-
prirasmetasdeuniversalização.
A expectativa do mercado é
que, diante de todos essas medi-
dasnecessárias, anovalegislação
sópassaráaproduzirefeitosapós
um ano emeio. “Primeiro, deve
haver o impacto na regulamenta-
ção.Apósessafase,começaoefei-
to de geração de novos negócios,
que deve demorar de três acinco
anos”, diz Radamés Casseb, presi-
dentedaAegeaSaneamento.
Para ele, umadas consequên-
cias maisimediatas da aprovação
do novo marco será uma percep-
ção mais positiva do mercado fi-
nanceiro em relação ao setor.
Comosriscos reduzidos, aexpec-
tativa éque o custo de captação
decréditopossadiminuir,avalia.
Para o presidente do Conselho
de Administração do grupo
Águasdo Brasil,CarlosHenrique
Lima,omaior impacto no curtís-
simoprazovirá não da aprova-
ção da lei esim dos processosde
desestatizaçãoconduzidos pelo
BNDES, que começama sair do
papelnesteano. “Coma novale-
gislação, a perspectivaéque os
concorrentes serãomais ousa-
dos, dianteda maiorsegurança
jurídicadosetor”, afirma.
Aavaliação do executivo éque
osetor privado, hojecom 6% do
mercado desaneamento, possa
chegar a uma fatiade 40% em dez
anoscomanovalegislação.
Para BNDES, novo marco legalvai destravar investimentos
AndréRamalho e Juliana
Schincariol
DoRio
A aprovação do marco legaldo
saneamento, previsto para ser vo-
tadono Senado na quarta-feira,
devecomeçar a destravar um flu-
xo de estruturações de projetos e
de eventuais privatizaçõesnose-
tor a partir do ano que vem,disse
ontem o presidente do Banco Na-
cional de DesenvolvimentoEco-
nômicoeSocial(BNDES), Gustavo
Montezano. Ele destacou, porém,
que os Estadosdo Riode Janeiro e
Alagoas já saíram na frente e de-
vem avançar comlicitações de
concessão ainda este ano.
A expectativaé que a licitação
da concessãoregionalizadados
serviços de abastecimento de
águaeesgotoda RegiãoMetro-
politanadeMaceió(AL)ocorra
no próximotrimestree, no Rio,
o leilãoda CompanhiaEstadual
de Águae Esgoto(Cedae),no úl-
timotrimestre.Segundoo BN-
DES,existematualmenteproje-
tos sendoestruturadostambém
no Acre, Amapá, CearáeRio
Grandedo Sul, comlicitações
previstaspara2021.Juntoscom
as iniciativas dos governos do
Rio e Alagoas, os projetosso-
mamcercade R$ 50 bilhõesem
potenciais investimentos.
Montezano acredita que a
aprovaçãodo novo marco legal
devefazer a rodade novos proje-
tos girar, mas que os efeitos não
são de imediato. Elembraque os
projetos em fase de modelagem
atualmente foram iniciados tendo
em vista a base regulatória atual.
“Aose aprovaresse marcore-
gulatório, não começamos na se-
mana afazer obra, afazer conces-
são,avenderempresas.Aestrutu-
ração deum projetodesse leva de
12 a 24 meses. O fluxo maior de
operações, de transações e even-
tuais privatizações deve começar
aacontecer apartir do ano que
vem eisso aí vai dando uma cele-
ridade para os anossubsequen-
tes”, disse o executivo,durante
evento online promovido pelo
banco sobre o marcolegal de sa-
neamentoeperspectivas.
Segundoele,oBNDES tem “dis-
posição,liquidezecapital”parafa-
zer mais investimentos no setorde
saneamento.“Nãofaltaráfinancia-
mentode longo prazopara osetor
de saneamento se osetor privado
não estiver disponível. Mas temos
alta confiançaque ofinanciador
privadovem”, afirmou.
Montezanodestacouque as li-
nhasdecréditoestãodisponíveis
para empresaspúblicasou priva-
das, mas que existeum déficitna
estruturaçãode “bonsprojetos”
por partedo Poder Público.“Pre-
cisamosdebonsprojetosbem
estruturados. Nossograndede-
safioéaumentaraquantidadede
projetosviáveis”,disse.
Oexecutivosaiu em defesado
novomarco,ao dizerque aregu-
laçãonãoobrigaránenhumEsta-
do aprivatizarseus ativos,nem
desvalorizaráas estatais.“No fim
do dia, o marcolegalaumentará
o valordas estatais[ao criarum
ambiente de negóciosmaisfavo-
rávelainvestimentos]”,disse.
A universalização da rede de sa-
neamentobásiconoBrasildeman-
daráinvestimentosda ordem de
R$ 600 bilhões até 2033, dissea se-
cretáriaespecial do Programa de
Parceria de Investimentos (PPI) do
Ministério da Economia, Martha
Seiller. “Não vai ser dos pequenos
orçamentosda União, Estados e
municípios que sairão os recursos
para fazer esseinvestimento.Nos-
sa soluçãode universalização pas-
sa pela atuação do setor privado...
O PL[projeto de leido marco legal]
nãovaifazeraprivatização.Issoca-
be aos Estados. Mas [o projeto] vai
deixar de travar essa possibilida-
de”,defendeuMartha.
Osenador Tasso Jerreisati
(PSDB-CE),relatordo projetono
Senado, disseque avotaçãona
Casa Legislativa está marcada
paraamanhã, às 16h.Segundo
ele, aindahá pontosde resistên-
cia, que se congregamao redor
do “espíritocorporativista liga-
do à insegurançadas empresas
estaduais”e de algunspartidos
de esquerda.Oparlamentar, no
entantodisseestarotimistacom
a aprovaçãodo novomarco.
“A possibilidade de aprovaro
projeto émuito grande. A minha
dúvidaésehaveráalgumdestaque
que possa ser aprovado isolada-
menteeaíoprojetotemquevoltar
para a Câmara. Não achoprovável,
maspodeacontecer”, afirmou.
Petrobras vê produção de
petróleo cair 5%em maio
AndréRamalho
DoRio
APetrobras registrou, em
maio,oseu piordesempenho
operacionaldesdea eclosãoda
criseeconômica global desenca-
deadapela pandemiada covid-
19.Aproduçãodepetróleodaes-
tatal,no Brasil,caiu 5,4% no mês
passado,na comparação com
abril.Segundodados da Agência
NacionaldoPetróleo(ANP),ape-
troleirabrasileiraproduziuem
maio, na média, 2,045milhões
debarrisdiários—omenorpata-
mar mensalapurado pela com-
panhiadesdejunhode2019.
Os últimos dois mesesforam os
maiscríticospara aindústria pe-
trolífera desdeo início da pande-
mia, do ponto de vista da deman-
da global pelacommodity.Num
primeiro momento, a Petrobras
conseguiucompensar odeclínio
do mercado doméstico com recor-
des de exportação de óleo cru em
abril, quando aempresa exportou
1 milhão de barris/dia. O cenário,
porém,nãoserepetiuemmaio.
O desempenhooperacionalda
empresafoipuxadoparabaixope-
la queda dos volumes dos dois
principais ativos da petroleira, no
pré-sal: o campo de Lula, cuja pro-
duçãorecuou14%nomêspassado,
para888 mil barris/dia; e Búzios,
que produziu 471 mil barris/dia (-
8,3%). Questionada se os dois cam-
pos foramimpactados por casos
de covid-19 em alto mar ou pela
falta de compradores, a Petrobras
preferiu não comentar. Segundoo
último boletimmensalda ANP, a
plataformaCidade de Mangarati-
ba, que opera em Lula, ficou para-
da nos primeiros novedias de
maio,porefeitosdapandemia.
Já a produção de gás natural da
companhia recuou 7,5%emmaio,
frente abril, para 88,9 milhõesde
metroscúbicosdiários.Comisso,a
produção de óleo e gás da Petro-
bras totalizou2,604milhõesde
barris diários de óleo equivalente,
ou seja,74,4% do volumeda pro-
duçãonacional —de 3,484 mi-
lhõesdeBOE/diaemmaio.
Noacumuladodoano,contudo,
aPetrobras tem conseguido man-
ter a curvadecrescimento de suas
operações.Aempresa acumula
uma alta de 13,3% na produção de
petróleo, anteigual período do
ano passado. Segundoa ANP,a
companhia produziuumamédia
de 2,170milhões de barris/dia nos
cincoprimeirosmesesdoano.
Petroleiras de xisto dos EUA podem
ter perdas contábeis de US$ 300 bi
DerekBrower
FinancialTimes,deLondres
As companhias de xisto dos Es-
tadosUnidospoderãoserforçadas
a reduziro valorcontábil de seus
ativos em US$ 300 bilhões neste
ano,acomeçardosegundotrimes-
tre, umavezque começaram a
contabilizar o colapso dos preços
do petróleo em seus balanços, se-
gundoapontaumnovoestudo.
As grandes depreciações –cerca
de metadedo valorlíquido das
propriedades, unidades eequipa-
mentos das empresas - aumenta-
rão aalavancagem do setorde 40%
para 54%, causando insolvências e
reestruturações, afirma o estudo
daconsultoriaDeloitte.
“Comos impactosda covid-
aumentandoas pressõessobre
as empresasde xistoem 2020,
umaondade depreciaçõespo-
derálevar, nos próximos seis a
12 meses,à maiorconsolidação
já vistapelosetor”, diz Duane
Dickson, vice-presidentedo con-
selhode administraçãodas ope-
raçõescom petróleo egás da De-
loittenos Estados Unidos.
As baixascontábeis,baseadas
no preçodo petróleoaUS$ 35 o
barril,serãomaisum golpepara
um setorjá fustigadopelopior
“crash” nas cotações da commo-
dity em décadas.A produçãode
petróleocaiu depoisque opera-
dorasfecharampoços,desliga-
ram equipamentosociosose de-
mitiramfuncionários.
A consultoriaRystad Energy
calculaque as depreciaçõesdos
produtores de xistono primeiro
trimestre foram em torno de
US$ 38 bilhões.
No fim de maio, 18 empresas
de exploraçãoe produçãojá ha-
viam declarado falência em
2020,segundoafirmade advo-
caciaHaynesand Boone.Recen-
temente, a Extraction Oil & Gas ,
de Denver, entrouparaa lista.A
Chesapeake Energy, umapionei-
ra na exploraçãode xisto, deverá
fazero mesmoem breve.
Como preçodo petróleonos
EUA aUS$ 35 o barril,quaseum
terçodos produtores de xistoes-
tão insolventes,avalia a Deloitte
–incapazesde cumprircom suas
obrigaçõesdelongoprazocomo
fluxode caixalivre.Na sexta-fei-
ra, o petróleodo tipo West Texas
Intermediate (WTI),areferência
americana,foi negociadoa cerca
de US$ 40 obarril,mas amédia
do trimestre é de menos de
US$ 27. Em abril,por um breve
períodoele foi negociadoabaixo
de zero, provocando ondasde
choqueno setorque, em média,
precisados preçosem tornode
US$45paraserlucrativo.
A consolidação é provável.
Mas aDeloitteacreditaque ape-
nas 27% das empresasde xisto
oferecerãovalorsuficiente para
os compradores.Eapenasem-
presas independentes grandes
ou as supergrandescomoChe-
vroneExxonMobilaindaterão
forçafinanceiraparafazeraqui-
sições.A vulnerabilidade do se-
tor deve-se à taxa aceleradacom
que a produçãode xistovem
caindo, o que significaque no-
vos poçosprecisamser perfura-
dos constantemente paracom-
pensar a queda acelerada da
produçãoem outros.
“Você está numaesteirade ca-
pitalapenas para manter sua
produçãoeessa esteirase move
muito depressa”, afirma Scott
Sanderson,um diretordo escri-
tóriode Houston,EUA,da De-
loitte.O aumentoda produção
nos últimosanosdependeuda
disposição de Wall Street de
continuarfinanciandoessaes-
teira com capitalnovo.
“O boomdo fracking foi em
grande parte financiado por dívi-
da”, diz Mohsin Meghji, diretor da
M-IIIPartners, uma consultoria de
reestruturação que está traba-
lhandocom alguns produtores de
xisto insolventes. Mas os investi-
dores estão aborrecidoscom o
xisto. Wall Street não deverá ban-
car uma novarecuperação ou pa-
gar pela consolidação que, segun-
do os analistas,osetor precisa fa-
zer. Mesmoantesdo crash “ha via
a sensação de que os mercadosde
capitais iriam secar”, explica San-
derson. “Agora,a janela está
completamente fechada.”
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