Valor Econômico (2020-06-23)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 4 da edição"23/06/20201a CADA" ---- Impressa por ccassianoàs 22/06/2020@21:36:5 8


A4| Valor|Te rça-feira, 23dejunhode 2020


Brasil


João LuizRosa


Para ser negro, quão


negro é preciso ser?


Colorismodificulta


entender a questão


racialnoBrasil


A


recenteondade


protestos


antirracistas


deflagradapela


mortedo


americanoGeorgeFloyd


ressaltaumconceitoquenãoé


exclusivamentebrasileiro,mas


encontrouterrenofértilno


país:ocolorismo.Basicamente,


écomosehouvesseumaescala


decorecaracterísticasfísicas


ideaisquetomacomo


referênciaopadrãofísicode


umapessoabranca.Quanto


maispróximodessemodelo—


oqueincluitexturadocabelo,


grossuradoslábioselargurado


nariz—,maioréaaceitação


socialdeumapessoanegra.E


menoropreconceito.Sãoos


incontáveistons


dadiscriminação.


Umadasdescriçõesvisuais


maisprecisasdessefenômenoé


asérie“Polvo”,queaartista


plásticabrasileiraAdriana


Varejãoexpôspelaprimeiravez


em2014.Otrabalho,revelador,


baseia-senasrespostas


espontâneasqueosbrasileiros


deramsobreseuprópriotom


depeleaospesquisadoresdo


IBGE,em1976.Olevantamento


doInstitutoBrasileirode


GeografiaeEstatística


catalogou136termos


diferentes.Adrianaescolheu 33


emandoupintarseupróprio


retratocomoqueseriamessas


cores.Entreostonscitadose


queaparecemnaspinturas,


estão“fo goió”,“cafécomleite”,


“queimadadesol”,“corfirme”,


“enxofrada”e“morenão”.


NosEstadosUnidosa


abordagemédiferente.


Prevaleceaquestãoétnica,e


nãoestética.Sealguémtem


antepassadosnegros,entãoé


negro,mesmoquetenhatraços


físicosbrancos.


Umcasoexemplarocorreu


quandoaamericanaHalle


Berryfoisaudadacomoa


primeiramulhernegraavencer


oOscardemelhoratriz,em


2002,quandooprêmiojáera


distribuídohá73anos.Foipelo


filme“A ÚltimaCeia”.De


cabeloscurtos,lisos,ela


apareceuacompanhadadesua


mãe—branca,louraedeolhos


claros.NoBrasil,porcausade


seutomdepele,épossívelquea


atrizfossedescritacomo


“mo rena”,“mestiça” oualgo


parecido.NosEUA,ela


discursoucomonegra.


Issonãosignificaqueos


brasileirosdevam,


necessariamente,adotaros


mesmoscritériosqueos


americanos.Ambosospaíses


foramodestinoforçadoda


maiorpartedosescravos


africanos,mastiveram


processoshistóricosdiferentes,


queajudaramaformarsuas


identidadesnacionais.


Cabeacadasociedade,


portanto,encontraras


maneirasmaisapropriadasde


identificarecombatero


preconceito.Masnãoparece


haverdúvidadequeo


colorismoatrapalha.


Lembrodeumareportagem,


publicadaanosatrás,naquala


autoraperguntavaauma


senhora—negra,comoafoto


publicadadeixavaver—por


queelanãosedeclaravaassim.


“Porquenegraéminhavizinha,


queémuitomaispretadoque


eu”,respondeuamulher,com


confiançainabalável.


Éumsintomadocolorismo.


Agradaçãodacordepeleesua


maioroumenoraprovação


socialrestringemosentimento


deempatiaquepoderia


fortaleceraçõesafirmativase


coibiropreconceitoracial.Na


prática,écomoseoracismoeas


agressõesdeledecorrentessó


devessemserpreocupaçãode


quemtemapelemaisescura.


Negroésempreooutro.


Muitosepisódiosmostramo


dilemadasociedadebrasileira


diantedocolorismo.Hámuitose


discuteseMachadodeAssis,um


dosmaioresescritoresdalíngua


portuguesa,eranegroounão.A


últimavezqueoassuntovoltouà


tonafoiem2019,quandouma


fotodoautor,originalmenteem


pretoebranco,foipublicadaem


cores.Aambiguidadeemtorno


daquestãoracialtambémlevou


o“NewYorkTimes”apublicar


umartigo,em2018,sobre


Neymar,quesetornaraojogador


maiscarodomundo.“Neymaré


negro?”,perguntavaojornal,ao


ladodocomentário:“OBrasilea


dolorosarelatividadedaraça”.


Asdiferençaseconômicasdo


paístambémrefletem


fortementeocolorismo.


Segundooestudo


“Desigualdadessociaisporcorou


raça”,divulgadopeloIBGEno


anopassado,55,8%dapopulação


sedeclaravanegra,incluindo


“pretos”e“pardos”.Apesarde


maioria,osnegrossó


representavam27,7%dos10%


commaiorrendimentoper


capita.Nessesegmento,os


brancoserammaioria,com


70,6%.Nooutroextremo,dos


10%comrendamenor,asituação


seinvertia,com75,2%denegrose


23,7%debrancos.


Outraconclusãodoestudoé


quenegrosganhammenose


chegammaisraramenteaos


cargosbemremunerados.


Enquantoosaláriomensal


médiodeumbrasileirobrancoé


deR$1.846,odeumnegroé


poucomaisdametadedisso—


R$934.Oscargosgerenciaissão


preenchidosprincipalmente


pelosbrancos,com68,6%das


vagas.Osnegrossão29,9%.


Essecenárionãopodeser


desprezadonaformulaçãode


políticassociais.Temganhado


forçaaconcepçãodeque,ao


atenderosmaispobres,os


negrosseriamautomaticamente


beneficiados,jáquerepresentam


amaiorpartedabaseda


pirâmideeconômica.Nãoseria


necessário,portanto,criar


mecanismosespecíficos.


Há,defato,umaenorme


intersecçãoentreosdoisperfis


—oracialeoeconômico—,mas


sãoquestõesqueremetema


objetosdiferenteserequerem,


porisso,políticasdiferentes.


Abuscapormecanismos


paradistribuirmelhorarendae


reduzirapobrezanãodispensa


ouinvalidaacriaçãode


ferramentasparacombatero


racismoedarchancesde


promoçãosocialàpopulação


negra,comoascotasnas


universidadespúblicas.


ValelembraroqueBarack


Obama,primeiropresidente


negrodosEUA,disseem2017,


emSãoPaulo,durante


conferênciapromovidapelo


ValoreobancoSantander.


Falandosobreaquestão


ambiental,Obamadisseque


aceitavadiscutirqualquer


pontoemrelaçãoaotema,


desdeoscritériosusadospara


medirosdanosànaturezaaté


asmedidasmaisadequadas


paradeteroritmode


destruição.Sónãoerapossível,


afirmou,discutircomquem


negavaoaquecimentoglobal,


porqueissoserianegaro


pressupostododebate.


Omesmoargumentocabeà


questãoracial.Énaturale


saudávelqueexistam


divergências.Épossívelreavaliar


iniciativas,cancelarprogramas,


corrigirdesviosoupropornovas


ações.Masqualquerconversa


precisapartirdaadmissãodeque


aescravidãoafricanaéumfato


históricocujasconsequências


sãomaléficas,perpetuam-see


precisamsertratadas.Semisso,


nãoháchancedediálogo.


JoãoLuiz Rosaé repórterespecial


[email protected]


Tombodo petróleodeve tirar 0,74 ponto


do PIB brasileironeste ano, diz BofA


SILVIA ZAMBONI/VALOR

Beker: Quedado petróleotem impacto no crescimento e no quadro fiscal,as duasmaiores preocupaçõesquanto ao Brasil


AríciaMartins


DeSãoPaulo


A fortequedados preços do


petróleoagrava ojádesafiador


cenárioparaaeconomiabrasilei-


ra, que deveencolher7,7% no


ano,apontaoBank of America.


Em relatório, aequipede análise


de David Beker, chefede econo-


mia eestratégia do BofA,calcula


queochoquenascotaçõesda


commodity terá impacto negati-


vo de 0,74pontopercentualno


desempenho do Produto Interno


Bruto(PIB)em 2020.O efeitoes-


peradotemcomopremissaqueo


WTI,referêncianomercadoame-


ricano, deverecuar44% em rela-


çãoa2019,paraUS$32obarril.


“As duasprincipaispreocupa-


çõesem relação ao Brasilsão o


crescimento econômico e oqua-


dro fiscal.A quedado petróleo


tem impactonas duas”, afirma


Beker. Os preçosmenoressão re-


flexodaforteretraçãodademan-


da global,devidoà derrubada do


nívelde atividadeeconômica,e


também da valorizaçãodo dólar,


que afetanegativamenteas cota-


ções de commodities,observou.


“É umaramificaçãoda criseem


queestamosinseridos”,dizele.


Emtermosdeatividade,Beker,


aeconomista Ana Madeiraeo


analistaFrankMcGannmostram


que oprincipaldesdobramento


se darásobreos investimentos.


Nos cálculosdo BofA,a queda


dos aportes no setorde petróleo


deveter efeitonegativode 0,


pontosobreo PIB, por meioda


formaçãobrutade capitalfixo


(FBCF,medidadas ContasNacio-


nais do que se investeem máqui-


nas,construçãocivileinovação).


Maiorrepresentantedo seg-


mentono país eresponsável por


73% da produção nacionalde pe-


tróleo, a Petrobras deveinvestir


US$ 7bilhões este ano, 35% a me-


nos do que no ano anterior, pro-


jeta a instituição.Odeclíniotem


impacto diretorelevantena for-


maçãobruta,umavezqueosgas-


tos de capital da empresa res-


ponderam por 2,8%da FBCFno


ano passado, mas o reflexonega-


tivosobreosinvestimentoséain-


da maior, destacamos analistas


da instituição, devido ao efeito


multiplicador.


Ao diminuirseus investimen-


tos, a Petrobrascomprometeo


nívelde atividade em todaaca-


deia de petróleo, explica o chefe


de economia do BofA,em seg-


mentoscomoextração, refinoe


logística. A partirde uma matriz


insumo-produto, aequipe de


análisedo bancoestimaque ca-


da R$ 1 “desinvestido” pela com-


panhiatem impacto negativode


R$1,94sobreoPIB.


Aindasob a óticadademanda,


as cotaçõesmaisbaixas do barril


reduzemocrescimentoeconô-


mico também pelocanal das


vendasexternas.Atrásapenasda


soja,opetróleoéosegundoprin-


cipalitemda pautade exporta-


çãobrasileira,compeso de13,3%


no total de embarques, ressalta o


banco. Emboraseja relativamen-


te fechadoao comérciointerna-


cional,o país éum exportador lí-


quidode petróleo,notamBeker,


MadeiraeMcGann.


Assim,observameles, quando


os preçosda commoditycaem,o


saldoda balançacomercialfica


maismagro. Nas estimativasdo


BofA,a cada US$ 10 de queda nas


cotaçõesdo óleo,adiferençaen-


treexportaçõeseimportaçõesdi-


minuicercade0,1%doPIB.Como


opaístambémimportapetróleo,


oimpacto na balança éparcial-


menteamenizado, mas mesmo


assimnegativo:para obanco, o


recuoprevistoparaopetróleoes-


te ano vai reduzirosuperávit co-


mercialemUS$2,8bilhões,oque


“re tiraria” 0,21pontodoPIB.


OBofAanalisa,ainda,oreflexo


da derrubada das cotaçõesdo


óleo nas contaspúblicas.Soman-


do amenorarrecadaçãode im-


postosrelacionadosao petróleo


e seus derivadoseorecuoprevis-


to pararoyalties e dividendos, a


perdadereceitadevechegara1%


do PIB.“As receitasjá estãopres-


sionadaspela atividadedeprimi-


da”, observamos analistas, que


projetam déficit primário de


9,3% do PIB parao setorpúblico


consolidadono ano, mas veem


riscoderombomaior.


Oúnico aspectofavorável do


choque nos preçosdo petróleo é


seuefeitodesinflacionário,mases-


se movimento atingiuseuápice


em maio, quando agasolina caiu


4,35%,ponderaBeker.Obancocal-


cula que o combustível dará alívio


de 0,9 ponto ao Índice Nacional de


Preços ao Consumidor Amplo (IP-


CA) anual, já considerado na pro-


jeçãodealtade2%paraoíndice.


AbsoluteC
AegeaSaneamentoB
ÁguasdoBrasilB
Allegiant TravelB
AlpargatasB
AmericanAirlinesB
AppleB
ArcelorMittalB
AtvosB
B3B
BancodoBrasilC
BancoSafraC

BemBrasilC
BGCLiquidezC
Bichara AdvogadosB
BNDESB
BNDESParB
Bonsucex HoldingB
BradescoC
BraskemB
BRFB
BTG PactualC
CanadianSolarB
CanvasC

CedaeB
Chesapeake EnergyB
ChevronB
ChinaSteelB
CMEGroupB
CopelB
CreditSuisseC
DeloitteB
EasynvestC
EDFRenewableB
ExtractionOil&GasB
GardeC

GenialC
GlencoreB
GuideC
HaynesandBooneB
HuaweiA
IntelB
ItaúB1, C1, C
KapitaloC
KICB
KlabinB
MetalúrgicaGerdauB
Monteiro AranhaB

MultilaserA
NeoQuímicaB
NexooC
NissanB
NovusCapitalC
OdebrechtB
ÓramaC
PetrobrasB
PoscoB
Prati-DonaduzziB
PwCB
QuébecCartierMiningB

RystadEnergyB
SantanderC
SogemarB
T&F ConsultoriaB
TataSteelB
TereosB
UnitedAirlinesB
VerdeC
VLIB
VoltaliaB
WirecardC
XPInvestimentosC

Índicede empresascitadasemtextosnestaedição


IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


Fontes:IBGE,Petrobras,BofAGlobalResearch

Aindarelevante


Participaçãodos investimentosdaPetrobrasnoPIBbrasileiro- em%


1,


0,

0,

1,

1,

2,

2,5 44%é quantoo


preçodobarrilde


petróleoWTIdeve


recuarem 2020 nas


estimativasdaequipe


decommoditiesdo


BofA.Comessa


trajetória,o impacto


negativonoPIB


brasileiroseráde


(^2007200820092010201120122013201420152016201720182019) 0,74ponto
1,
2
1,
1,6 1,
1,
1,
1,
0,
0,6 0,6 0,
Atividadesde saúdetêmmaiorquedaem 20 anos
Alessandra Saraiva
DoRio
A crisecausadapela covid-19 le-
vou as atividadesde saúde,dentro
do ProdutoInterno Bruto (PIB), às
pioresquedasem20anosemabril,
segundo oMonitor do PIB da Fun-
dação Getulio Vargas (FGV). Isso
porque, com as restrições de circu-
laçãodepessoas,parainibirconta-
minação pelo novocoronavírus,
caiu drasticamenteonúmero de
consultas e de exameslaborato-
riaisdesdemeadosdemarço.
NolevantamentodaFGV,aativi-
dadeeconômicaemabrilcaiu9,3%
antemarço,comrecuode13,5%na
comparação comabrildoano pas-
sado, e queda de 6,1% no trimestre
encerradoemabril em relação ao
finalizado em janeiro. Na mesma
pesquisa, em abril, a atividade de
saúdepública caiu 11% ante abril
doanopassado,eadesaúdepriva-
da, recuo de 13,3%, na mesma
comparação.Ambasforamasmais
intensas retrações da série históri-
ca iniciada em 2000. Isso, na práti-
ca, será maisum componentene-
gativoparadesempenhodoPIBdo
segundo trimestre, afirmouClau-
dioConsidera,economistadaFGV.
Saúdepúblicaeaprivadare-
presentavam 4,3% do PIB em
2017,sendoaprimeiraresponsá-
vel por 2%, e asegunda,por 2,3%,
informou aFGV. No monitorda
fundação, a saúdepública,que
tem fatia de 13% na atividadede
administraçãopública do PIB,
contribuiucom2,9 pontoper-
centualnegativosparaaretração
de 1,2%naquela atividade em
abrilanteabrilde2019.
Já a saúdeprivada,que repre-
senta15,1%da atividade“outros
serviços” no PIB, contribuiu com
um pontopercentualnegativo
paraa quedarecordede 19,3%
naquela atividade no Monitor
da FGV em abril.
“Aspessoasnão vão maistanto
aambulatóriosdevidoàpande-
mia, adiamconsultas.Não recor-
rem mais a exames laborato-
riais”,comentou opesquisador.
“Pode ser que aparte de interna-
ção tenhacrescido [por causada
pandemia],mas não o suficiente
paracompensaras quedas[nos
outrossegmentosdesaúde].”
Outroaspectocitadopor ele
na pesquisafoi o impacto, nos
tributos,da retraçãona econo-
mia de serviços.Aquedade im-
postossobreprodutoseserviços,
basicamenteIPI e ICMS,foi de
22,3%em abrilante abrildo ano
passado, tambémrecorde.Até
então, a pior quedahavia ocorri-
doemmarçode1996(-12,9%).
Entretanto,Considerareiterou
que,tantoodesempenhonegati-
vo do PIB, delineado pelo moni-
tor,quantoas taxasreferentes à
atividadeda saúde atingiram
“fundodo poço”em abril.“Em
maio,deveficarmenospior”, dis-
se. Ele lembrounotíciasde rea-
berturagradualda economia, já
sinalizadas em algumascapitais,
que devemcontribuirpara taxas
menosdesfavoráveisemmaio.

Free download pdf