O Estado de São Paulo (2020-06-23)

(Antfer) #1

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A18 TERÇA-FEIRA, 23 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Alerta máximo
Abertos apenas serviços essenciais, como
supermercados e farmácias
Controle
É permitida a abertura de shoppings e do comércio
de rua, com protocolos
Flexibilização
Também podem abrir bares, restaurantes, salões
de beleza e barbearias

FA S E

1

FA S E

2

FA S E

3

FLEXIBILIZAÇÃO

Panorama do Estado de São Paulo – visão por Departamento
Regional de Saúde (DRS)
FASE 1 FASE 2 FASE 3

FONTE: GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO INFOGRÁFICO/ESTADÃO

SÃO PAULO

GRANDE
SÃO PAULO

CAMPINAS

PIRACICABA
BAURU

RIBEIRÃO
PRETO

BARRETOSFRANCA

SÃO JOÃO
DA BOA
VISTA

SOROCABA

PRESIDENTE
PRUDENTE

ARAÇATUBA

SÃO JOSÉ
DO RIO PRETO

MARÍLIA

TAUBATÉ

REGISTRO

BAIXADA
SANTISTA

ARARAQUARA/
SÃO CARLOS

Em 22/

* Após aumento de casos,
as duas cidades fecharam
comércio sem determinação
do governo estadual

Felipe Resk
Marina Aragão
José Maria Tomazela
SOROCABA


O interior paulista, novo epi-
centro da pandemia no Esta-
do, registrou pela primeira
vez número maior de novos
casos da covid-19 do que a ca-
pital no fim de semana. Mes-
mo com aval para liberar o
comércio segundo o plano
de reabertura gradual da ges-
tão João Doria (PSDB), Cam-
pinas e Sorocaba fecharam
as lojas ontem diante da alta
de infectados. Já Marília e Re-
gistro, que receberam orien-
tação do governo para reto-
mar restrições a atividades
econômicas, decidiram man-
ter o comércio aberto. O Es-
tado informou já ter notifica-
do os dois municípios.

São Paulo chegou a 12.
mortes ontem. A previsão do go-
verno era de passar de 16 mil no
fim do mês, mas agora a gestão
Doria disse que a alta diária de
óbitos tem sido menor do que a
projeção inicial.
No Brasil, o total de mortes
atingiu 51.407, aponta levanta-
mento conjunto dos veículos
de comunicação Estadão , G1,
O Globo , Extra , Folha e UOL. On-
tem, foram 748 novos registros.
Segundo o balanço, 1.111.348 já
foram infectados no País.
“O interior (paulista) passou
a capital em número de novos
casos este fim de semana, com
14,5% a mais. Registra inversão
na lógica de que a capital era o
epicentro da crise”, disse o se-
cretário de Desenvolvimento
Regional, Marco Vinholi. “É um
momento de cooperação, ten-
do em vista que a ação de um
prefeito afeta os municípios vi-
zinhos.” O plano estadual de fle-
xibilização da quarentena tem
cinco fases. Cada região é classi-
ficada em uma etapa, conside-
rando o número de infectados,
mortes e a ocupação das UTIs.
Se há piora no quadro, a região
pode regredir de fase.
A taxa de ocupação de leitos
de UTI no Estado de São Paulo
ontem era de 65%. O governo
admite haver estoque baixo de
anestésico para entubar pacien-
tes, mas diz já ter pedido nova
remessa à União.
Com todos as UTIs públicas e
privadas para a covid-19 ocupa-
das e três pacientes na fila, Soro-
caba voltou a fechar o comércio
ontem. Embora siga na fase la-
ranja, que permite reabrir lojas
e shoppings, na prática a cidade
regrediu à vermelha, de maior
restrição. No centro, guardas-
civis percorriam as ruas para fis-
calizar ontem. “Estamos em
vias de aumentar a disponibili-


dade de leitos em dois hospi-
tais, mas até lá a população pre-
cisa colaborar. Com a flexibili-
zação anterior do comércio,
houve muito abuso, desleixo
grande da população”, disse o
médico Fernando Brum, do co-
mitê local de combate ao vírus.
A restrição vale até sexta.
Campinas, além de restringir
o comércio, suspendeu cirur-
gias eletivas para desafogar hos-
pitais. A cidade está na fase la-
ranja, mas adotou restrições do
nível vermelho. Na rede munici-
pal, a lotação das UTIs é de
100%. Consumidores desavisa-
dos ainda foram aos shoppings
ontem, causando aglomeração.

Marília e Registro. O Estado
anunciou semana passada o re-
cuo das regiões de Registro e
Marília no plano de reabertura,

o que já havia feito com a região
de Barretos. A regressão foi da
fase laranja para a vermelha.
Apesar disso, Marília mante-
ve o comércio aberto ontem. A
prefeitura alega que a Justiça
deu autonomia à prefeitura pa-
ra definir medidas sanitárias.
Conforme o prefeito Daniel
Alonso (PSDB), o problema
não está no comércio, pois há
fiscalização. “Está nos fins de se-
mana, nas chácaras particula-
res, onde se veem filas quilomé-
tricas de carros, onde muito pro-
vavelmente há pessoas se aglo-
merando, se abraçando.” A pre-
feitura diz que vai ampliar o nú-
mero de leitos e respiradores.
Em Registro, o prefeito Gil-
son Fantin (PSDB) também en-
trou na Justiça contra a reclassi-
ficação, mas o pedido ainda não
havia sido julgado até ontem à
tarde. Lá, o comércio funcio-
nou ontem por quatro horas. A
Associação Comercial, Indus-
trial e Agropecuária da região
diz seguir medidas de higiene.
Segundo Vinholi, as duas pre-
feituras já foram notificadas so-
bre o descumprimento à regra.
O Estado tem prometido acio-
nar a Promotoria e a Justiça em
caso de desrespeito ao plano.

Interior tem mais casos do que SP pela


1ª vez; cidades voltam a fechar comércio


O atual estágio da pandemia no
Brasil preocupa o médico sani-
tarista Gonzalo Vecina Neto e o
infectologista Sérgio Cimer-
man. Os dois colunistas do Es-
tadão
participaram de live no


Facebook ontem. “A curva dimi-
nuiu a velocidade de crescimen-
to, mas não está decrescente. É
um momento em que se vê o
resultado do isolamento social,
mas não é o esperado. Tínha-
mos de ter ao menos 14 dias
com resultados em queda. Vejo
com preocupação o que aconte-
cerá nos próximos dias porque
o aumento de probabilidade de
contato leva a aumento da pro-
babilidade de casos”, disse Veci-
na, que ainda destaca o proble-

ma da subnotificação.
Cimerman cita o avanço para
o interior paulista como exem-
plo. “Você vê o sistema de saú-
de entrando em colapso em ci-
dades como Marília, Campinas,
Presidente Prudente... É por
causa de um plano estadual for-
çado. Até entendemos pela
questão econômica, mas agora
terão de fechar por 15 dias para
reavaliação.” Para ele, o Brasil
deve se espelhar em países que
tiveram de recuar sobre a flexi-

bilização por alta de casos, co-
mo Israel, Irã e Portugal.
“Não é vergonha retroceder,
assumir que perdeu o contro-
le e precisa orientar nova-
mente a população. O duro é
continuar errando. Aí é burri-
ce”, disse. “Esses países re-
trocederam e os casos estão
diminuindo novamente.”
E, para Vecina, o País deve
entrar com força na briga pa-
ra construir fábricas capazes
de produzir vacina quando
ela for aprovada. Caso contrá-
rio, diz, o Brasil poderá ter de
pagar bem mais caro. “Va-
mos ter de comprar pelo pre-
ço que as multinacionais qui-
serem vender, porque elas
não fazem filantropia.”

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


l Proteção

Governo diz que epicentro da crise no Estado não é mais na capital; Sorocaba e Campinas bloquearam abertura de lojas diante da alta de


infecções e da ocupação de UTIs. Já Marília e Registro, embora com recomendação de elevar restrições, não retomaram a quarentena


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Colunistas do ‘Estadão’ apontam


riscos na reabertura pelo País


Luiz Antônio da Silva Teixeira
HISTORIADOR

Secretário do Rio deixa o


cargo e pede desculpas


Assintomáticos podem ter resposta imune mais fraca. Pág. A19 }


LEANDRO FERREIRA/FOTOARENA

“O grande fator que está
determinando a diminuição
(do registro de novos casos) é
o uso da máscara. A
máscara é fundamental.”
Carlos Carvalho
CHEFE DO COMITÊ CONTRA COVID EM SP

Campinas. Cidade fechou lojas e suspendeu cirurgias eletivas para desafogar hospitais, com UTIs praticamente lotadas

Segundo especialistas,


retomada de atividades


foi prematura, o que pode


levar ao fechamento se


houver nova alta de casos


Metrópole






Podemos comparar a atual
pandemia com a de 1918,
da influenza H1N1, ou de
outras doenças infecciosas?
É muito difícil se pensar em
comparativo, em relação a ou-
tras epidemias. Porque fora a
epidemia gigante de gripe es-
panhola, a gente não tem na-
da parecido no mundo. Nada
que tenha se disseminado
com a força que teve a influen-
za em 1918. Acho que não va-
mos ter um número tão gran-
de – nem de infectados nem
de mortos. Mas não existe
muita certeza.





A covid-19 não leva vanta-
gem em relação à gripe
espanhola, no quesito
maior propagação, em decorrên-
cia da vida moderna?
Existem dois aspectos. Biologi-
camente, a gripe espanhola foi
muito mais contagiosa, teve
um poder de difusão muito
mais forte. Mas socialmente
as pessoas não andavam de
avião naquela época, não pega-
vam carro e iam para outro
Estado. Isso hoje faz com que
o coronavírus se propague
mais.





Então teremos mais
transmissão e mortes
por covid-19?
Acredito que haverá uma invi-
sibilização da epidemia. Cada
vez mais, pessoas vão morrer
em regiões mais distantes, em
lugares mais pobres, no inte-
rior. E nas grandes cidades,
onde a maior parte já vai ter
se infectado, vai diminuir. E a
epidemia vai ficar mais invisí-
vel. Na gripe espanhola, estu-
dos recentes de história mos-
traram exatamente isso. Os
primeiros dados falavam so-
bre São Paulo e Rio, sobre a
epidemia e a violência dela.
Depois, mais recentemente,
surgiram estudos sobre casos
em Salvador e várias outras
regiões. Eles começaram a
mostrar o lado oculto da pan-
demia de 1918. Sobre como
ela foi chegando aos lugares
mais distantes, matando mui-
to mais gente, sem contato
com o serviço de saúde, sem
contato com a imprensa. E
isso não ficou para a história –
no interior da Bahia, tem um
trabalho de uma pesquisadora
que mostra que os meses se-
guem e a doença vai se alas-
trando. / RICARDO BRANDT

3 PERGUNTAS PARA...

Marcio Dolzan / RIO

O secretário estadual de Saúde
do Rio, Fernando Ferry, anun-
ciou ontem que está deixando o
cargo. A saída ocorre apenas 35
dias após ele assumir o posto
que pertencia a Edmar Santos,
que havia sido exonerado pelo
governador Wilson Witzel
(PSC) por “falhas na gestão de
infraestrutura dos hospitais de
campanha”. A Secretaria Esta-
dual de Saúde (SES) anunciou
que o coronel do Corpo de Bom-

beiros Alex Bousquet assumirá
a pasta.
Em vídeo enviado à TV Glo-
bo, Ferry pediu desculpas à po-
pulação do Rio. “Queria dizer
que eu tentei. Eu agradeço ao
governador por ter me dado es-
ta oportunidade de tentar resol-
ver estes graves problemas que
estamos vendo na saúde. Eu só
queria dizer mais uma coisa: pe-
ço desculpas à população. Mas a
única coisa que eu tenho a falar:
eu tentei. Obrigado e espero
que vocês me desculpem.”
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