O Estado de São Paulo (2020-06-23)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto TERÇA-FEIRA, 23 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






O coronavírus também pro-
moveu mudanças no Museu
da Pessoa. Com atividades
100% online, a instituição per-
cebeu a relevância que pode-
ria ter ampliando sua atuação
na pandemia. A equipe está co-
lhendo depoimentos de quem
quiser contar sobre seu dia a
dia durante a quarentena, no


projeto Diário para o Futuro.
O Museu da Pessoa surgiu
29 anos atrás, antes de se pen-
sar em haver um computador
pessoal. Agora, os registros,
antes feitos presencialmente,
estão sendo migrados para o
mundo virtual.

http://www.estadao.com.br/e/museudapessoa

A


s relações entre civis e
militares ao logo da His-
tória republicana nunca
foram bem resolvidas. O pensa-
mento e as atitudes de cada la-
do se aproximam ou se distan-
ciam por interesses comuns
ou por questões ideológicas
momentâneas.
Não faltam exemplos de ca-
da uma dessas situações, a co-
meçar da Proclamação da Re-
pública, passando pelo tenen-
tismo, pelo período Vargas, pe-
lo movimento de 64 e, agora,
com a forte presença militar
num governo civil eleito demo-
craticamente. Nos últimos 35
anos, cabe ressaltar, as Forças
Armadas cumpriram exemplar-
mente seu papel constitucio-
nal, mas não se pode negar a
ocorrência de tensões, de tem-
pos em tempos, em grande me-
dida por desconhecimento da
sociedade civil de suas ativida-
des, prioridades e ações.
No tocante à política inter-
na, do lado militar ainda não
foi claramente resolvida a dife-
rença da ação política entre mi-
litares da ativa e da reserva. Do
lado civil, para ficar nos tem-
pos mais contemporâneos, des-
de as “vivandeiras de quartéis”
até hoje, com os que pedem a
intervenção das Forças Arma-
das e o fechamento do Con-
gresso e do STF, prevalece a
tentativa de ignorar os limites
do papel dos militares na políti-
ca. Do lado militar, não está ex-
plicitada claramente a separa-
ção entre o profissionalismo
das Forças Armadas como insti-
tuição do Estado, sem manifes-
tação de apoio a partidos ou
grupos políticos, e a atuação po-
lítica de militares que, ao passa-
rem para a reserva, incorpo-
ram valores civis e deixam de
representar a instituição. Do la-
do civil, Congresso e sociedade
deveriam ter maior presença
nas discussões sobre questões
de interesse das Forças. A Es-
tratégia e a Política Nacional
de Defesa, que deverão ser sub-
metidas a exame do Congres-
so, deveriam ser discutidas em
profundidade e merecer a aten-
ção da classe política, ao contrá-
rio de até aqui. A ideia de um
centro para o estudo das rela-

ções civis e militares, de defesa
e segurança, sugerida pelo mi-
nistro Raul Jungmann e apoia-
da pelo Instituto de Relações
Internacionais e Comércio Ex-
terior (Irice), viria a preencher
uma lacuna com a criação de
um fórum privado para exame
e discussão de temas relaciona-
dos com a despolitização das
Forças Armadas, fortalecimen-
to do controle civil e papel dos
militares no processo decisório
do Estado brasileiro.
No atual governo surgiu uma
situação diferente dos gover-
nos anteriores a partir de 1985.
Superado o período de gover-
nos militares, nos últimos 30
anos podem ter surgido ten-
sões esporádicas, mas recente-
mente elas se acentuaram pela
participação de grande número
de militares da reserva e da ati-
va em cargos públicos no gover-
no federal (mais de 2.900) e pe-

lo estímulo de setores governa-
mentais a ataques a institui-
ções democráticas. No início
julgou-se que os militares no
governo poderiam servir de an-
teparo e de fator de moderação
de políticas extremadas com
forte viés ideológico, em espe-
cial na política externa, com
graves e potenciais repercus-
sões para os interesses brasilei-
ros. Com o passar do tempo
cresceu a dubiedade de afirma-
ções de militares ministros
(“consequências gravíssimas”,
“esticar a corda”, “não cum-
prem ordens absurdas, como a
tomada de poder por outro Po-
der da República por conta de
julgamentos políticos”, sempre
ressaltando o respeito à Consti-
tuição) e a percepção de que as
Forças Armadas estão associa-
das ao governo e o apoiam. Is-
so resultou no desgaste da insti-
tuição e na crescente rejeição
de ideias antidemocráticas.
Diferentes interpretações so-
bre o papel das Forças Arma-
das, estimuladas tanto por seto-
res civis como por militares,

trouxeram a público a discus-
são sobre o poder moderador
dos militares, à luz do artigo
142 da Constituição. O presi-
dente do STF, Dias Toffoli, ha-
via se manifestado no sentido
de que “as FFAA sabem muito
bem que o artigo 142 da Consti-
tuição não lhes confere o papel
de poder moderador”. O voto
do ministro Luiz Fux, ao fixar
regras e limites de atuação das
Forças Armadas, conforme a
Constituição, tudo indica, deve-
rá ser respaldado pelo plenário
do STF. A nota assinada pelo
presidente da República, pelo
vice-presidente e pelo ministro
da Defesa aceita essa interpre-
tação, ao lembrar que “as
FFAA destinam-se à defesa da
pátria, à garantia dos Poderes
constitucionais e, por iniciativa
de qualquer destes, da lei e da
ordem”. A decisão da Suprema
Corte poderá ser a pedra angu-
lar do novo relacionamento en-
tre civis e militares.
Militares em funções políti-
cas de ministros e altos funcio-
nários do governo observam se-
guidamente que as atitudes po-
líticas de militares com postos
no governo são de lealdade e
não podem ser confundidas
com a postura isenta das For-
ças Armadas como instituições
de Estado. É do vice-presiden-
te, militar da reserva, a afirma-
ção de que “precisa acabar essa
história de que as FFAA estão
metidas na política”.
Essas afirmações seriam cor-
roboradas pelo silêncio dos co-
mandantes das três Forças, mi-
litares profissionais em função
no Ministério da Defesa. Para
encerrar de vez esse capítulo
seria importante que os coman-
dantes das três Forças se mani-
festem publicamente, disso-
ciando-as de demonstrações
contra as instituições, caso ve-
nham a se repetir. Com isso fi-
caria claro o não envolvimento
da instituição na política inter-
na e seu total respeito à Consti-
tuição.

]
EMBAIXADOR, COM TESE DE MES-
TRADO SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE
CIVIS E MILITARES NA LONDON
SCHOOL OF ECONOMICS (1972)

De janeiro a maio, quantida-
de de mulheres na Bolsa
cresceu 38%, para 598 mil.
http://www.estadao.com.br/e/bolsa

MUSEU DA PESSOA


Depoimentos em tempos difíceis


Programa será chamado
“Nós corremos como um” e
foi lançado um dia depois de
Lewis Hamilton participar
de um protesto em Londres.

http://www.estadao.com.br/e/racismo

l“Uma boa auditoria nas contas da universidades federais para ver co-
mo e onde são distribuídos os recursos seria bem interessante.”
MARIA DALL

l“O cenário atual reflete muito o abandono da educação, da ciência e
da tecnologia pelos governos.”
CLAUDEMIR MAZUCHELI

l“Só agora perceberam aquilo que o presidente já havia falado há
tempos? E dinheiro por acaso dá em árvore?”
LILIAN LOBO

l“O governo paulista precisará urgentemente realizar um aporte fi-
nanceiro para as universidades, que podem não sobreviver.”
GABRIEL SOBREIRA

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

VELOCIDADE
F1 lança campanha
contra o racismo

De olho nas novas regras de
flexibilização da quarente-
na, startup vai ampliar a
oferta de bikes nas linhas
4-Amarela e 5-Lilás.

http://www.estadao.com.br/e/bike

DIVULGAÇÃO

Espaço Aberto


N


a antidemocracia brasi-
leira o povo vem sem-
pre em último lugar:
manda nada quem tem muito
voto, pensa que manda quem
tem uns poucos e manda em
tudo quem não tem nenhum.
E são estes os únicos que du-
ram para além do que o povo
quiser que durem.
Bolsonaro late, mas quem
morde é “o Leviatã”. Sem que
haja, aqui ou no mundo, qual-
quer lei ou definição do que se-
ja isso, o STF, de cujas atribui-
ções legais está expressamen-
te excluída a de fazer inquéri-
tos, com apoio unânime da
“grande imprensa”, decretou
por 10 a 1 a “legalidade” do “in-
quérito das fake news ” que ini-
ciou 15 meses atrás sem provo-
cação, outra violação da or-
dem constitucional, com um
ato de censura à imprensa, a
terceira violação.
As contradições insanáveis
desse enunciado atestam a
condição terminal da nossa
“democracia”. Como uma
aberração lógica, jurídica e for-
mal como está venceu a vergo-
nha de ser afirmada em públi-
co pelos papas do formalismo
eu não sei. Mas é o único meio
de derrubar com a mesma caja-
dada Jair Bolsonaro e seu vice
general de Exército, possivel-
mente antes que ele possa no-
mear os ministros que teriam
vagas no Supremo ao longo do
seu mandato, a “cereja no bo-
lo” prometida nos primeiros
dias de maio pelo caudaloso
ministro Celso de Mello ao
anunciar o rito sumário para
essa tentativa (e o STF vazar
para a imprensa os “planos B
e C” publicados no mesmo
dia, nos mesmos termos, em
todos os jornais).
Desde que o STF se autoatri-
buiu a função de legislar, lega-
lizar a ilegalidade ou criminali-
zar o que estava na lei – seja
para prender, seja para soltar



  • virou “o novo normal”. Ope-
    ra como aquelas máquinas chi-
    nesas de construir pontes e
    ferrovias: tira da frente e atira
    no abismo as leis que não ser-
    vem à sua agenda política e
    lança, do vagão de trás para a
    frente da locomotiva, vestidi-


nhas de regimento interno ou
o que for, as que necessita pa-
ra avançar o próximo metro,
antes ou até mesmo depois de
fazê-lo.
Estamos em pleno pesadelo
de Rui Barbosa. Nada mais é
certo e sabido, senão que cada
porta do inferno que o STF re-
solver abrir só o STF poderá
fechar – ou voltar a abrir – se e
quando quiser. Não há a quem
recorrer.
Os queirozes são outra (ve-
lhíssima) história. Mas, no Bra-
sil como em todo país civiliza-
do, ninguém pode ser punido
por NADA do que disser (ou
pensar), a não ser pelas figu-
ras tipificadas no Código Pe-
nal. Muito menos representan-
tes eleitos do povo no exercí-
cio dos seus mandatos. Ainda
assim o Congresso Nacional
manteve um silêncio sepulcral
diante da devassa fiscal, tele-

fônica e de internet (!!) de de-
putados e senadores eleitos
culpados de “apoiadores de
Jair Bolsonaro”. O farisaísmo
das associações de classe e
“de defesa dos direitos do cida-
dão”, então, há muito, já, que
“é de lei”. Até o indisfarçado
júbilo que perpassava na co-
bertura de algumas das televi-
sões de notícias dos pogroms
do dr. Moraes, com “buscas e
apreensões” sucessivas e até
prisões por crime de opinião
como não se via desde os
“anos chumbo”, era de se espe-
rar. Mas ver nos canais da im-
prensa profissional jornalistas
interrogando jornalistas ao vi-
vo para cobrar-lhes as “afirma-
ções antidemocráticas” escri-
tas ou proferidas foi “um avan-
ço” chocante e deprimente pa-
ra quem ainda se esforça por
manter o orgulho da profissão
e a esperança no Brasil.
Joseph Pulitzer, um dos in-
ventores do jornalismo demo-
crático, dizia que “ é impossível
matar mesmo uma democracia
muito imperfeita se sua impren-

sa estiver minimamente saudá-
vel. Assim, se uma democracia es-
tiver dando sinais irreversíveis
de que está caminhando para a
morte é porque sua imprensa já
tinha morrido antes dela ”.
A brasileira está gritando de-
sesperadamente esses sinais.
Há uma lógica – perversa, mas
lógica – no egoísmo, no férreo
apego aos privilégios e na
olímpica alienação das corpo-
rações da privilegiatura. Afi-
nal, elas vivem de fato no
Olimpo, e isso faz muuuito
tempo. No Brasil deles não
tem pandemia, não tem de-
semprego, não tem falência,
não tem desespero. E isso sa-
bidamente vicia e deforma ir-
reversivelmente. Por isso só
O Poder, de onde todos esses
privilégios se dependuram, in-
teressa. Mas é suicida o alinha-
mento automático da impren-
sa com elas e contra a multi-
dão dos constrangidos “debai-
xo de vara” a arrancar da sua
miséria as lagostas e os vinhos
tetracampeões das “excelên-
cias” enquanto estrebucha na
pandemia.
Sexta-feira passada este jor-
nal dizia em editorial que “o
Brasil deveria parar para refle-
tir por que razão (...) a política
se tornou um permanente ca-
so de polícia” e que “está mais
que na hora de mudar sem es-
perar a vinda de outro messias
de quermesse”. Certíssimo!
Só a imprensa poderia induzir
a operação desse milagre. Mas
ele será impossível enquanto
ela continuar aplaudindo coi-
sas como os 75 a 0 de aprova-
ção que o Senado deu às redu-
ções de 25%, 50% ou até 75%
dos salários do setor privado
enquanto o paisano dr. Mo-
raes “prendia e arrebentava”,
na mesma página em que grita
que fazer a mesma coisa com
os salários da privilegiatura ou
exigir que o povo eleja (e dese-
leja por recall) todos quantos
hoje ela nomeia (para “ra-
char”) é ferir de morte a “auto-
nomia” das “instituições do es-
tado democrático de direito”.

]
JORNALISTA, ESCREVE
EM WWW.VESPEIRO.COM

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
JOÃO FÁBIO CAMINOTO / DIRETOR DE JORNALISMO
MARCOS BUENO / DIRETOR FINANCEIRO
MARIANA UEMURA SAMPAIO / DIRETORA JURÍDICA
NELSON GARZERI / DIRETOR DE TECNOLOGIA

CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR:
FALE COM A REDAÇÃO:
3856-
[email protected]
CLASSIFICADOS POR TELEFONE:
3855-
VENDAS DE ASSINATURAS: CAPITAL:
3950-
DEMAIS LOCALIDADES:
0800-014-
VENDAS CORPORATIVAS: 3856-

MOBILIDADE
Bicicletas para alugar
nas estações de metrô

COMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK:

TWITTER/REPRODUÇÃO

]
Fernão Lara Mesquita


Tema do dia


Campanha ‘Eu Ajudo como
Dá’ auxilia famílias vulnerá-
veis no Rio de Janeiro.

http://www.estadao.com.br/e/rio

Bye bye


democracia


Estamos em pleno
pesadelo de Rui
Barbosa. E não há
a quem recorrer

Relações entre


civis e militares


Seria importante
comandantes das FFAA
se dissociarem de atos
contra as instituições

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
CEP 02598-900 – SÃO PAULO - SP
TEL.: (11) 3856-2122 /
REDAÇÃO: 6º ANDAR
FAX: (11) 3856-
E-MAIL: [email protected]
CENTRAL DE ATENDIMENTO
AO ASSINANTE
CAPITAL E REGIÕES METROPOLITANAS:
4003-
DEMAIS LOCALIDADES: 0800-014-77-
https://meu.estadao.com.br/fale-conosco

CENTRAL DE ATENDIMENTO ÀS AGÊNCIAS DE
PUBLICIDADE: 3856-2531 – [email protected]
PREÇOS VENDA AVULSA: SP: R$ 5,00 (SEGUNDA A
SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
R$ 5,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 8,00 (DOMINGO).
ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Pandemia faz USP,


Unesp e Unicamp


perderem R$ 1,2 bilhão


Em maio, recursos foram insuficientes
para pagar salários de funcionários e as
instituições usaram fundo de reserva

]
Rubens Barbosa

ACERVO DO MUSEU DA PESSOA

No estadao.com.br


BOLSA

Mulheres lideram alta
de investidores na B

BOA AÇÃO

Dentista faz vaquinha
para doar marmitas
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