O Estado de São Paulo (2020-06-24)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto QUARTA-FEIRA, 24 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Martín Mateo estava resfria-
do. Ou assim ele pensava: dor
de garganta, dores no corpo,
coriza. “Ele se sentia mal, mas
continuou trabalhando”, dis-
se seu filho Carlos. O pai de 50
anos trabalhava há décadas co-
mo tomatero – vendedor de to-
mates – no maior mercado de
alimentos da América Latina,


a Central de Abasto da Cidade
do México.
Coronavírus? Ele não acredi-
tava nisso. Então, Mateo come-
çou a ter dificuldade para respi-
rar. Em poucos dias, ele estava
morto. Naquela altura, deze-
nas de seus colegas tomateros
também estavam infectados.
http://www.estadao.com.br/e/centralabasto

O


destino da democra-
cia e a retomada do
crescimento econômi-
co dependerão da resposta
que vamos dar nos próximos
seis meses a uma pergunta
crucial: que Brasil queremos
reconstruir após a pandemia
do coronavírus? Se continuar-
mos a seguir a máxima do
sambista Zeca Pagodinho e
deixarmos a vida nos levar, va-
mos continuar marchando ru-
mo ao abismo político, econô-
mico e social.
O populismo pariu a pande-
mia política que corroeu a civi-
lidade, o diálogo e a confiança
no País. A economia mergu-
lhou novamente na recessão,
jogando metade de população
economicamente ativa no de-
semprego e evaporando a con-
fiança dos investidores no Bra-
sil. Por fim, as pandemias de
saúde, política e econômica
agravaram a desigualdade so-
cial. Além da destruição do
emprego e do aumento da po-
breza, morrem quatro vezes
mais pobres do que ricos em
cidades onde o saneamento
básico é precário: 35 milhões
de brasileiros não têm água
em casa para lavar as mãos e
mais de 100 milhões vivem
sem esgoto tratado.
Felizmente, as pandemias
de saúde, política e econômi-
ca despertaram a consciência
cívica de que temos de agir pa-
ra não nos tornarmos coauto-
res de um legado desastroso:
deixar para nossos filhos e ne-
tos um Brasil carcomido pelo
populismo, pelo corporativis-
mo e pelo voluntarismo do Es-
tado intervencionista. A união
cívica tornou-se a grande ar-
ma contra o radicalismo e os
impulsos autoritários de uma
minoria radical que não conse-
gue conviver com a pluralida-
de de ideias, a diversidade de
opiniões e as regras de civilida-
de de uma sociedade demo-
crática. Esse amadurecimento
cívico ocorreu em três fases.
Primeiro, as lideranças pú-
blicas e cívicas uniram esfor-
ços para atender às demandas
emergenciais dos mais neces-
sitados por comida, máscaras
e insumos hospitalares. Foi

um movimento importante,
que ajudou a tirar as pessoas
de suas tribos, sepultar pre-
conceitos e forjar o espírito
de cooperação e trabalho em
equipe para enfrentar a crise
e buscar soluções práticas
com celeridade e eficiência. A
crise e as necessidades bási-
cas ressuscitaram a solidarie-
dade humana e a consciência
de que estamos todos no mes-
mo barco e só depende de nos-
sas ações e escolhas singrar-
mos em direção ao inferno ou
ao paraíso.
Segundo, a pandemia políti-
ca somou-se à pandemia de
saúde. Deparamos com um
país desgovernado e um presi-
dente da República incapaz
de liderar e coordenar ações e
respostas à crise, revelando
uma inabilidade ímpar para
trabalhar em parceira com o
Congresso e os governadores.

Ao invés de passar tranquilida-
de e confiança à população,
despertou intranquilidade na
Nação ao demonstrar apreço
por bandos de delinquentes
que pregam o autoritarismo
nas ruas e nas redes sociais.
Ao ver a democracia em peri-
go, as diferenças que nos sepa-
ram tornaram-se secundárias
perante a necessidade impe-
riosa de defendermos a liber-
dade e a ordem democrática.
Novamente a união cívica
mostrou sua força. Adversá-
rios políticos uniram-se em
torno da defesa da democra-
cia; a sociedade civil uniu-se
em torno de movimentos
pró-democracia; a imprensa li-
vre e independente uniu esfor-
ços em torno da defesa da de-
mocracia, da liberdade de ex-
pressão e da credibilidade da
informação confiável.
Mas a união cívica se con-
verte em força transformado-
ra quando a sociedade está
unida em torno de objetivos
claros e propostas concretas.
Esta é a terceira fase do mo-

vimento cívico que se inicia
agora: forjar a união do Brasil
em torno de uma agenda foca-
da na retomada do crescimen-
to econômico, do emprego e
do investimento privado. A
agenda da retomada do cresci-
mento demandará espírito
cívico, pressão da sociedade e
grandeza do Congresso. A mu-
dança de atitude começa den-
tro de cada um de nós: o al-
truísmo precisa vencer o cinis-
mo, a defesa de princípios
tem de se sobrepor à defesa
de interesses pessoais, a espe-
rança é capaz de aniquilar o
medo. Não é possível definir
prioridades nacionais a partir
da visão estreita de interesses
setoriais. É preciso pensar o
País, e não pleitear benefí-
cios, isenção fiscal e medidas
protecionistas que vêm contri-
buindo para arruinar a compe-
titividade e a produtividade
da economia brasileira.
Quando a sociedade civil, o
setor privado e o Congresso
estão unidos em torno de uma
pauta, coisas extraordinárias
acontecem. Essa união foi fun-
damental para a aprovação
das reformas trabalhista e pre-
videnciária e será vital para a
vitória das reformas tributária
e administrativa, a votação do
marco do saneamento básico,
dos projetos de lei capazes de
garantir a segurança jurídica e
de travarmos uma discussão
racional sobre o programa de
renda básica. O desgoverno
no País tem de ser remediado
pelo protagonismo do Poder
Legislativo. O apoio do Con-
gresso Nacional, do governo e
do Judiciário à agenda nacio-
nal será fundamental para
transformar os desejos da so-
ciedade em leis e normas que
possam estimular a retomada
da economia, do emprego e
dos investimentos. O momen-
to é agora! Unidos, é possível
mudar o Brasil e construir-
mos o país que queremos.

]
FUNDADOR DO CENTRO DE
LIDERANÇA PÚBLICA (CLP), É
AUTOR DO LIVRO ‘10 MANDAMEN-
TOS – DO PAÍS QUE SOMOS
PARA O BRASIL QUE QUEREMOS’

Liga decidiu não correr risco
de alguma atleta contrair
covid-19 em caso de retorno.

http://www.estadao.com.br/e/basquete

MÉXICO


Um mercado devastado pela covid-


Ação, que valerá a partir de 4
de julho, faz parte do último
estágio de reabertura gra-
dual do país, um dos mais
afetados pela covid-19.

http://www.estadao.com.br/e/inglaterra

l“Uma das maiores provas de que este país é o rei da subnotificação.
Brasil rumo aos 10 milhões de infectados.”
FELIPE SICILIANO

l“Que ótima notícia. Sério mesmo. Aumento do número de casos e o
de mortos se mantém constante. Sinal que a letalidade está baixa.”
ANTONIO BELLUCCI

l“Do jeito que esse povo está nas ruas, fazendo festa e tudo o mais,
tem muito mais infectados do que isso.”
LINCOLN ALVES SANTOS

l“Não adianta ficar nesta neurose de números e probabilidades. A
vida tem que seguir independentemente do problema.”
EMILIO MURARI

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Realizado sempre na 1.ª se-
mana de janeiro, em 2021 o
evento ocorrerá quase dois
meses depois que o habitual
devido à pandemia.

http://www.estadao.com.br/e/globodeouro

Espaço Aberto


A


s patranhas que envol-
vem o escândalo no ga-
binete do senador Flá-
vio, primogênito do presiden-
te Jair Bolsonaro, quando era
deputado estadual começam
na denominação íntima da
prática criminosa investigada
pelo Ministério Público (MP)
do Rio: “rachadinha” ou “ra-
chid”. Para chamar delitos
por sua gravidade real urge
usar nomes com que os defi-
ne o Código Penal: peculato
(uso de dinheiro público para
proveito pessoal), corrupção,
lavagem de dinheiro e organi-
zação criminosa. Os seis anos
da Operação Lava Jato familia-
rizaram o brasileiro com o
que se faz em Casas Legislati-
vas do País por parlamentares
de todos os entes federativos
e sem exceção de legendas.
Ou seja, contratar por venci-
mentos superiores à média
servidores dispensados do ex-
pediente e obrigados a entre-
gar parte do que ganham aos
empregadores.
O filhote 01 do fundador da
“nova política” é acusado de
chefiar malfeitores que atua-
ram em seus quatro manda-
tos na Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro (Alerj). Con-
forme o MP do Rio, cuidava
disso o ex-subtenente da Polí-
cia Militar (PM) fluminense
Fabrício Queiroz, preso numa
operação conjunta das Polí-
cias Civis do Rio e de São Pau-
lo com autorização do juiz Flá-
vio Itabaiana e supervisão da
Ordem dos Advogados do Bra-
sil (OAB). Esta se tornou ne-
cessária pelo expediente a
que recorreu o dono da casa,
onde foi encontrado o acusa-
do, de pôr na parede a placa
do escritório de advocacia
Wassef & Sonnenberg (nome
da cidade polonesa de um
campo de concentração nazis-
ta e sobrenome da prima e só-
cia). Imagens do vídeo produ-
zido pelas autoridades reve-
lam a associação entre tira-
nia, representada por um car-
taz referente ao AI-5, sigla
com que se sintetiza a ditadu-
ra militar, e a Máfia, simboli-
zada pelo boneco de Tony
Montana, personagem do fil-


me Scarface, gângster cruel da
Chicago da Lei Seca.
A biografia profissional do
dono do imóvel que serviu de
cativeiro ao protagonista do
escândalo acrescenta a essas
referências a atuação do ex-
advogado do presidente da Re-
pública e de seu filho senador
em denúncias de infanticí-
dios. Frederick Wassef era de-
voto da seita satânica Linea-
mento Universal Superior
(LUS), liderada por Catarina
de Andrade, autora do livro
Deus, a Grande Farsa, acusada
e inocentada por falta de pro-
vas do desaparecimento de
dois garotos de 6 anos em
Guaratuba (PR), em 1992. Ele
também advogou para Catari-
na, indiciada como mentora
intelectual de 18 homicídios
de meninos com idades entre
8 e 14 anos, de 1989 a 1993, no
Pará e no Maranhão. Segundo

os autos, os assassinatos fa-
ziam parte de um ritual de
“magia negra”. Desses, cinco
corpos não foram encontra-
dos, três sobreviveram mutila-
dos e 11 foram assassinados e
castrados em Altamira (PA).
Wassef, que se jacta de ter
dado ao deputado Bolsonaro
a ideia de se candidatar à Pre-
sidência, obteve liminar do
presidente do Supremo Tribu-
nal Federal (STF), Dias Toffo-
li, paralisando por seis meses
as investigações financeiras
do Conselho de Controle de
Atividades Financeiras
(Coaf) para beneficiar Flávio
e outros. Mas o plenário anu-
lou seus efeitos. Com isso foi
retardada, mas não impedida
a investigação do MP do Rio,
que contém imagens de Fabrí-
cio pagando boletos de esco-
las das filhas e mensalidades
de planos de saúde do chefe
na Alerj.
O inquérito resultou na pri-
são preventiva do ex-compa-
nheiro de pescarias do presi-
dente na casa do ex-advogado

da famiglia Bolsonaro, desnu-
dando a relação de Fabrício
com o capitão Adriano da
Nóbrega, chefão da milícia do
Rio das Pedras e do Escritório
do Crime. O depósito de mais
de R$ 400 mil em dinheiro vi-
vo do miliciano na conta do
ex-faz-tudo do 01 soma-se
agora às manifestações de
simpatia do presidente e do
senador pelo criminoso execu-
tado na Bahia. Jair, então de-
putado federal, prestigiou seu
julgamento por homicídio e
ordenou que o filho o conde-
corasse com a Medalha Tira-
dentes na cela onde vivia. Flá-
vio ainda manifestou seu apre-
ço por Adriano à época de sua
morte, ocasião em que Fabrí-
cio se disse muito triste por
ter perdido um amigo.
Embora peculato, corrup-
ção, lavagem de dinheiro e or-
ganização criminosa sejam ti-
pificações penais muito gra-
ves, elas não são comparáveis
à conexão com milícias, gru-
pos mafiosos que espoliam co-
munidades pobres e matam
quem atravessar o seu cami-
nho. Nunca foi secreta a gene-
rosidade com que o presiden-
te e o senador transformaram
seus gabinetes em associações
assistencialistas de familiares
“desamparados” de milicia-
nos, empregando-os sem exi-
gir que trabalhassem. Foi o ca-
so de Raimunda Veras Maga-
lhães, mãe de Adriano. Outra
beneficiária da caridade com
chapéu alheio (dinheiro públi-
co) do clã presidencial, Márcia
Aguiar, mulher de Fabrício, é
agora foragida da Justiça.
Com mais de 1 milhão de ca-
sos e de 50 mil mortos pela co-
vid-19, aos quais o presidente
Jair Bolsonaro nunca deu a
mínima atenção, tratando a
pandemia como um “resfriadi-
nho”, a crise sanitária e a de-
pressão econômica são usa-
das por líderes das institui-
ções democráticas como pre-
textos para não fazerem o que
urge ser feito: fora, Bolsona-
ros. Fazem o que de pior pode
acontecer com o Brasil.

]
JORNALISTA, POETA E ESCRITOR

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
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EM JULHO
Inglaterra vai reabrir
cinemas e museus

Globo de Ouro fica
para 28 de fevereiro

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]
José Nêumanne


Tema do dia


Fundos da Trópico têm sido
resilientes, mesmo em meio
à pandemia.

http://www.estadao.com.br/e/einvestidor

O bandido Adriano


e a famiglia Bolsonaro


MP do Rio desvenda
relações promíscuas
entre ex-faz-tudo de
Flávio e milícia carioca

União


pelo Brasil


É possível mudar o
Brasil e construir
o país que queremos.
O momento é agora!

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

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SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
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ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Prefeitura estima que


SP tem 1,16 milhão de


infectados


Resultado da primeira testagem em
massa da capital vê infecção maior da
população da zona leste

]
Luiz Felipe d’Avila

JANEHAHN/WASHINGTON POST PREMIAÇÃO

No estadao.com.br


LIGA

Basquete Feminino
encerra temporada

E-INVESTIDOR

Fundo rende mais de
300% da CDI na crise
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