O Estado de São Paulo (2020-06-24)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 24 DE JUNHO DE 2020 NotaseInformações A


E


sperança em alta é o indicador
mais positivo da indústria, neste
momento, depois da queda recor-
de em abril e de alguns sinais de
recuperação em maio. Com me-
nos operários nas fábricas e mui-
tas máquinas ainda paradas, o setor trabalha
com apenas dois terços – 66,2% – da capacida-
de instalada, segundo sondagem da Fundação
Getúlio Vargas (FGV). Essa ainda é uma prévia
do Índice de Confiança da Indústria, mas os da-
dos parecem confirmar uma retomada de fôle-
go. Com melhora em seus dois componentes,
a avaliação do presente e a expectativa para os
próximos três e seis meses, o índice geral su-
biu 15,7 pontos e chegou a 76,6. O salto de
maio para junho foi um recorde. O humor, no
entanto, continua longe de 100, a fronteira en-
tre os territórios negativo e positivo.
Mas qualquer respiro depois do desastre re-
cente é muito bem-vindo. A atividade econômi-
ca despencou 9,3% em abril, segundo o Moni-
tor do PIB – FGV, e atingiu um nível 13,5% infe-
rior ao de um ano atrás. No trimestre móvel en-
cerrado em abril o Produto Interno Bruto
(PIB) foi 6,1% menor que o dos três meses até


março. Em relação ao trimestre corresponden-
te de 2019 a perda foi de 4,9%. Apesar de al-
guns sinais positivos e do início de reabertura,
depois da quarentena, as expectativas quanto
ao resultado final do ano são sombrias.
Segundo Sílvia Matos, coorde-
nadora do Boletim Macro do
Ibre-FGV, a economia deve en-
colher 6,4% neste ano. Esse nú-
mero, mencionado na sexta-fei-
ra passada, é muito parecido
com estimativas correntes no
mercado. Pela mediana das pro-
jeções colhidas pelo Banco Cen-
tral (BC) em sua última pesqui-
sa Focus, o PIB deve diminuir
6,5% em 2020 e crescer 3,5% em


  1. A maior parte das expecta-
    tivas parece haver-se estabiliza-
    do nessa vizinhança. No caso da
    produção industrial, a mediana aponta um re-
    cuo de 5,5% neste ano seguido de um avanço
    de 3,5% no próximo. Em 2019 a indústria pro-
    duziu 1% menos que em 2018.
    Percebida no Brasil no fim de fevereiro, a
    pandemia de covid-19 só afetou a economia a


partir da segunda quinzena de março, quando
o distanciamento social já estava em vigor na
maior parte dos Estados. Mas o grande impac-
to econômico da crise sanitária ocorreria no
mês seguinte. A retração de 9,3% apontada pe-
lo Monitor do PIB foi um recorde
e refletiu problemas dissemina-
dos por todos os setores.
O choque foi particularmente
severo na indústria. A produção
industrial foi 15,7% menor que
a de março, puxada principal-
mente pela indústria de trans-
formação (-24,3%) e pela da
construção (-11,7%). O desem-
penho do setor de serviços tam-
bém foi muito ruim (-7,3%),
com os piores indicadores ano-
tados no comércio (-18,3%) e
nos transportes (-15,1%).
O tombo na produção de bens e serviços re-
flete o desastre no outro lado da equação, o da
demanda. Deste lado as quedas também foram
recordes. De março para abril o consumo caiu
7,7% e o investimento produtivo, medido co-
mo formação bruta de capital fixo, desabou

23%. Todos os componentes do investimento
desabaram – máquinas, equipamentos, obras e
itens de menor peso no conjunto. Com isso, a
taxa mensal de investimento chegou a 12,1%
do PIB, a menor da série iniciada em 2000.
A redução do investimento é normal numa
crise severa. Não tem sentido ampliar a capaci-
dade produtiva quando as indicações são de
ampla ociosidade por muito tempo. As empre-
sas têm capacidade de sobra para a retomada
dos negócios. Mas precisarão investir em po-
tencial produtivo e inovação para garantir cres-
cimento seguro e duradouro numa próxima fa-
se de expansão.
Além disso, o governo terá de cuidar, mobili-
zando capital privado, de investimentos em in-
fraestrutura. É preciso construir e conservar
estradas, portos, aeroportos, complexos de
produção e transmissão de energia e sistemas
de saneamento básico. Tudo isso é essencial
para ganhos de produtividade e para a melhora
das condições sanitárias – e econômicas, por-
tanto – de dezenas de milhões de pessoas. To-
das essas tarefas dependerão de um insumo
precioso nem sempre disponível: competência
na definição e na execução de políticas.

H


á 75 anos, após
a pior guerra da
História, 50 na-
ções forjavam,
nas palavras de
Harry Truman,
“uma unidade de determinação
inabalável para pôr fim às guer-
ras”. Ao contrário da sua prede-
cessora – a Liga das Nações, cu-
ja ascensão e queda após a
Grande Guerra detonou outra
maior –, a Organização das Na-
ções Unidas (ONU) resistiu à
guerra fria, ajudando a evitar a
3.ª Guerra. Mesmo a guerra en-
tre países é rara, e suas Forças
de Paz, com 100 mil recrutas
de 120 países, servem em 13
missões protegendo 125 mi-
lhões de pessoas. Mas as guer-
ras civis e catástrofes humanitá-
rias nestes 75 anos mostram
que a ordem mundial não só é
abalável, como pode colapsar.
A ONU deveria prenunciar
um governo global. Mas suas es-
truturas mudaram pouco des-
de 1945. Paradoxalmente, sua
tendência congênita à inclusão
gerou disparidades ainda não
sanadas. Cada voto dos 193
membros da Assembleia-Geral
vale o mesmo – o da Índia (1,
bilhão de pessoas) tanto quan-
to o de Tuvalu (12 mil). De acor-
do com a Freedom House, ape-
nas ¼ é de democracias livres.
Suas distorções representati-
vas, sobrecarregadas por uma
burocracia exasperante, obs-
truem a meritocracia e a defesa
dos direitos humanos contra a
ilegalidade internacional, a mi-
séria ou governos corruptos e
cruéis. A ONU, disse sensata-
mente o ex-secretário-geral
Dag Hammarskjöld, “não foi
criada para levar a humanidade
ao paraíso, e sim para salvá-la


do inferno”. Mas se boa parte
de suas resoluções, na melhor
das hipóteses, não passa de va-
nilóquios humanitaristas – na
pior, chega a legitimar tiranias
e crimes de Estado.
Por exemplo, o Conselho de
Direitos Humanos, como afir-
mou John Kerry, secretário de
Estado dos EUA na gestão Oba-
ma, assim como o ex-secretá-
rio-geral Ban Ki-moon – antes
de sintomaticamente se retra-
tar –, foca desproporcionalmen-
te nas alegações de abuso por
parte de Israel. Entre 1975 e
1991 a ONU igualou o sionismo
ao “racismo”, mas nem uma
única resolução reprovou as
violações da China, Rússia, Co-

reia do Norte, Arábia Saudita
ou Síria. Se nos genocídios no
Congo, Bósnia, Somália, Ban-
gladesh ou Sudão, seus qua-
dros foram pouco mais que ob-
servadores bem-intenciona-
dos, nos escândalos de corrup-
ção do Programa Petróleo por
Comida ou dos abusos sexuais
no Haiti, eles abriram as portas
do inferno. Na última década o
número de refugiados dobrou,
atingindo o recorde de 51 mi-
lhões. Seu Conselho de Segu-
rança, engessado e restrito, fre-
quentemente negligencia o
mandato de “manter a paz e a
segurança internacional”. Dos
seus cinco membros permanen-
tes, EUA e Reino Unido invadi-
ram o Iraque; a Rússia tomou
um pedaço da Ucrânia; e a Chi-
na ocupa territórios sob dispu-

ta no Pacífico.
A relação entre as três potên-
cias nucleares, EUA, China e
Rússia, “nunca foi tão disfun-
cional”, como disse o secretá-
rio-geral António Guterres. En-
quanto os EUA de Trump se
isolam cada vez mais, retiran-
do-se de alianças ou chanta-
geando organizações multilate-
rais, a China força sobre elas
seu poder de compra – ainda
que, em contraste com a União
Soviética, suas ambições impe-
rialistas se restrinjam à Ásia, o
Partido Comunista manobra re-
solutamente para tornar o mun-
do mais dócil à autocracia.
Guterres divide a história da
ONU em três fases: a “bipolar”
(guerra fria), a “unipolar” (bre-
ve prevalência dos EUA) e a
atual, “ainda não multipolar,
mas essencialmente caótica”.
Em janeiro, ele aludiu a “qua-
tro cavaleiros do apocalipse”:
rupturas geopolíticas; agressão
ambiental à beira do irreversí-
vel; desconfiança da globaliza-
ção; e o lado tenebroso da tec-
nologia digital. Hoje galopa um
“quinto”: a pandemia. Ne-
nhum deles – assim como o cri-
me organizado, o terrorismo
ou a proliferação nuclear – po-
de ser confrontado sem coorde-
nação multilateral. “Mas se os
EUA dão passos atrás, todos os
outros devem dar um passo à
frente”, como disse a revista
The Economist. “Se hesitarem,
arriscam um grande pandemô-
nio – similar ao pesadelo nos
anos 1920 e 30.”
Já se disse que, “se a ONU
não existisse, precisaria ser in-
ventada”. Graças à habilidade
dos estadistas do pós-guerra,
ela existe. Mas precisa ser
reinventada.

O


presidente Jair
Bolsonaro disse
que o governo
não tem como
pagar mais duas
parcelas de R$
600 de auxílio emergencial para
os trabalhadores que sofreram
drástica perda de renda em ra-
zão da pandemia de covid-19. Se-
gundo Bolsonaro, “a União não
aguenta outro (pagamento) com
esse mesmo montante”. Desse
modo, o presidente confirma
que não compreendeu a dimen-
são da crise que, quiseram os fa-
dos, lhe coube administrar.
Nenhum chefe de Estado dig-
no do cargo que ocupa poderia
sequer imaginar a hipótese de
deixar à própria sorte milhões de
concidadãos que repentinamen-
te se viram privados de quase tu-
do por motivos alheios à sua von-
tade. E esses motivos não cessa-
ram – muito ao contrário, como
mostram os terríveis números
do avanço da doença no País.
Para Bolsonaro, contudo, é
preciso ter “responsabilidade”.
E por “responsabilidade” o presi-
dente entende que é a preserva-
ção das contas nacionais à custa
da penúria de seus concidadãos.
Isso, numa hipótese benevo-
lente, mostra que o presidente
não entendeu nem seu papel na
condução do País nem o risco
que correm seus desafortuna-
dos governados. Já numa hipóte-
se menos benevolente, pode-se
especular, dada a insistência de
Bolsonaro no erro mesmo dian-
te de inquestionáveis evidên-
cias, que haja aí algum propósi-
to político inconfessável – co-
mo, por exemplo, o de atribuir a
governadores, muitos deles
seus desafetos, a responsabilida-
de pela privação que afeta mi-

lhões de eleitores.
Afinal, desde sempre o presi-
dente insiste, como tornou a fa-
zer agora, que “talvez tenha ha-
vido um certo exagero no trato
dessa questão”, referindo-se à
imposição de isolamento social
nos Estados, medida que desace-
lerou brutalmente a economia.
O consenso entre todos os que
prezam a ciência e não a irres-
ponsabilidade é o de que esse,
afinal, é o custo de salvar milha-
res de vidas e que cabe aos go-
vernos encontrar maneiras de
mitigar os efeitos econômicos.
O auxílio emergencial é uma
dessas maneiras, e uma das mais
importantes. Seu custo integra
o chamado “orçamento de guer-

ra”, que dá ao governo liberdade
de gastar o que for necessário pa-
ra enfrentar a crise, sem as amar-
ras fiscais do Orçamento regular
e enquanto durar o estado de ca-
lamidade pública – que original-
mente vai até o fim do ano.
Ou seja, o presidente não tem
razão quando invoca o risco de
insolvência da União como pre-
texto para deixar de pagar o au-
xílio emergencial no atual valor.
“É exagero de quem diz isso”,
afirmou, com razão, o presiden-
te da Câmara, Rodrigo Maia, ao
comentar a observação do presi-
dente. “O governo não pode es-
perar mais para prorrogar o auxí-
lio. A ajuda é urgente e é agora”,
enfatizou o deputado, que de-
fende o pagamento dos R$ 600
por mais dois ou três meses, en-
quanto o governo estuda pagar

mais duas parcelas, mas com va-
lor inferior – especula-se algo
em torno de R$ 200 ou R$ 300.
Em vez de tratar do auxílio
emergencial como uma questão
puramente fiscal e de tentar
transformar a pandemia em ati-
vo eleitoral, Bolsonaro – que,
nunca é demais lembrar, é tam-
bém presidente do comitê de
gestão da crise criado junto com
o “orçamento de guerra” – deve-
ria empenhar-se para que esse
auxílio chegue a quem precisa
desesperadamente dele. Deveria
assumir a coordenação dos es-
forços para lidar com a doença e
com o impacto econômico. De-
veria lamentar por cada um dos
mais de 50 mil mortos nessa tra-
gédia. Assim faria um estadista.
Mas Bolsonaro sempre prefe-
riu fazer pouco da doença, dos
doentes e dos que cuidam deles,
investindo as energias nacionais
em debates inúteis sobre remé-
dios miraculosos e sobre supos-
tas fraudes nos números de mor-
tos para prejudicá-lo. Desfez-se
de dois ministros da Saúde por-
que estes se recusaram a avali-
zar seus devaneios e segue di-
zendo que “não podemos dei-
xar que o efeito colateral do tra-
tamento da pandemia”, isto é, a
paralisia econômica, “seja mais
danoso do que a própria pande-
mia” – como se o fechamento
de fábricas fosse mais grave do
que a morte de milhares de cida-
dãos. Para Bolsonaro, cabe a
seus desafortunados governa-
dos encontrar maneiras de so-
breviver como puderem à pan-
demia, porque, se depender da
disposição do presidente, o
máximo que os milhões que cor-
rem o risco de ficar sem auxílio
emergencial ouvirão de seu go-
verno é: “E daí?”.

Da queda à esperança


ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

Presidente confirma
que não compreendeu a
dimensão da crise que
lhe coube administrar

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Notas & Informações


A ONU aos 75 anos


Graças à habilidade dos
estadistas do pós-guerra
ela existe. Mas precisa
ser reinventada

Salve-se quem puder


lAtos inconstitucionais
Lei sobre responsabilidades
A Lei de Responsabilidade Fis-
cal é um marco que divide a
história da gestão pública brasi-
leira entre um passado de men-
tiras deslavadas e os novos tem-
pos em que uma contabilidade
criativa com pedaladas pode
significar impeachment. Impen-
sável revogá-la, seria a volta à
barbárie. Contudo é vergonho-
so que tenhamos necessitado
de uma lei para enfatizar que a
gestão tem de ser responsável
fiscalmente. Da mesma forma
estamos, vergonhosamente,
carentes de outra lei, a enfati-
zar a responsabilidade por pala-
vras e atos de gestores. Estimu-
lar seguidores a promoverem
ações e estes serem levados à
prisão por essas mesmas ações
não pode resultar na total isen-
ção de quem os estimulou. A
cegueira e o desconhecimento
das implicações legais desses
seguidores foram explorados
por um gestor que, do palan-
que que o cargo público lhe pro-
picia, estimulou ilegalidades. O
País carece de gestores respon-
sáveis e consequentes. Agora
seguidores flagrados em irregu-


laridades e perseguidos pela
Justiça pedem decretos para
reformar as regras vigentes que
eles violaram, para poderem
voltar à legalidade. Melhor se-
ria se responsabilizassem quem
os estimulou e com ele dividis-
sem a pena a pagar. Para viver
em sociedade há que ser sob o
Estado de Direito. Sempre, sem-
pre, com responsabilidade.
JOSÉ SIMÕES NETO
[email protected]
SÃO PAULO

lCorrupção
Rachadinha
Sempre se disse que no Brasil
se rouba desde o tempo do on-
ça. A festança com o dinheiro
público é uma grandiosidade e
a punição deixa a desejar. Ago-
ra voltou à tona a questão da
rachadinha envolvendo o sena-
dor Flávio Bolsonaro e o seu
fiel escudeiro Fabrício Queiroz.
Durante o governo petista tive-
mos o “rachadão”, com o men-
salão do Lula e o Mais Médicos
da Dilma. Enquanto isso, mi-
lhões de desempregados for-
mam filas intermináveis para
receber míseros R$ 600.
J. A. MULLER

[email protected]
AVARÉ

Patranhas
Frederick Wassef, o ex-advoga-
do de Flávio Bolsonaro, acusou


  • sem provas – a polícia de ter
    plantado provas na sua casa
    que abrigava Fabrício Queiroz.
    Tudo, porém, foi acompanha-
    do por membros da OAB e fil-
    mado, ao vivo. Flávio e o pró-
    prio Wassef nos últimos meses
    negaram diante das câmeras
    ter qualquer conhecimento do
    paradeiro do paladino Queiroz.
    Qual bela razão teríamos para
    acreditar que agora estariam
    falando a verdade?
    FELIPE MENDES DOS SANTOS
    [email protected]
    SÃO PAULO


lDiscurso em velório
Grande amigo?!
Bolsonaro não para de mentir.
O general Leônidas Pires, en-
tão ministro do Exército (go-
verno Sarney), queria a sua ex-
pulsão do Exército depois que
a revista Veja publicou evidên-
cias de sua participação nos
planos de bombas nos quartéis.
O livro O Cadete e o Capitão, de

Luiz Maklouf Carvalho, tem
mais detalhes sobre o apreço
do “grande amigo” general
Leônidas ao ex-capitão.
PEDRO PAULO GOMES DA COSTA
[email protected]
SÃO PAULO

lPandemia
Lições da tragédia
Cumprimento o Estadão pela
homenagem prestada no do-
mingo às famílias das mais de
50 mil vítimas desta pandemia,
cujo desfecho ainda é desconhe-
cido. Mas sabe-se com clareza
que não é uma “gripezinha” e
também que ainda não existe
nenhum remédio que impeça a
progressão desse número fúne-
bre, no qual se incluem profis-
sionais da área da saúde que
perderam a vida buscando mi-
norar o apavorante sofrimento
das vítimas da covid-19. E as
perspectivas são as piores,
pois, como mostra o editorial
Lições de uma tragédia (21/6,
A3), não temos um líder nacio-
nal para comandar as indispen-
sáveis ações coordenadas para
minimizar a evolução, ainda
vigente, desta tragédia. O que
está aí não se cansa de demons-

trar em público seu desapreço
pelas recomendações para evi-
tar o contágio de pessoa para
pessoa, nem apoiou o único
meio disponível para diminuí-
lo: o isolamento social. Tentou
privilegiar a economia, mas,
também se sabe, mortos não
recuperam economia alguma.
ANTONIO CARLOS GOMES DA SILVA
[email protected]
SÃO PAULO

lSaneamento básico
Como ficará?
O Congresso Nacional está vo-
tando uma lei que facilita e in-
centiva o capital privado a in-
vestir em saneamento básico,
não somente em obras, mas
também para assumir os servi-
ços que compõem esse item
nas cidades que assim o deseja-
rem. Não é segredo que o Bra-
sil não dispõe para grande par-
te de sua população, principal-
mente no Norte-Nordeste, dos
serviços de saneamento básico.
Não sabemos como ficará a re-
dação final da lei, mas espera-
mos que ela incentive e facilite,
sim, o ingresso do capital priva-
do no setor, mas de preferência
nas cidades e regiões onde o

saneamento básico é de Tercei-
ro Mundo ou nem existe, a fim
de evitar que esse capital se in-
teresse apenas em investir na
aquisição de empresas estatais
como, por exemplo, a paulista
Sabesp, que tem contrato com
quase 400 municípios e geren-
cia seus recursos de forma que
os superávits advindos dos mu-
nicípios lucrativos sejam inves-
tidos em melhorias nos deficitá-
rios, como os assumidos recen-
temente e onde é necessário
maior conjunto de obras. Na
década de 1970 a estatal paulis-
ta construiu o Sistema Canta-
reira, composto por cinco bar-
ragens interligadas por sete tú-
neis e uma elevatória, que tra-
zem a água bruta de uma dis-
tância de quase cem quilôme-
tros da capital. A água é eleva-
da até uma estação de trata-
mento que a torna potável e a
distribui à população paulista-
na, graças a uma obra gigantes-
ca que produz 33 mil litros/se-
gundo. Entendo que tudo isso
não pode ser dado de mão bei-
jada ao capital privado.
LAÉRCIO ZANNINI
[email protected]
SÃO PAULO
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