O Estado de São Paulo (2020-06-24)

(Antfer) #1

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A4 QUARTA-FEIRA, 24 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS PARTICULARES.
Fernando Henrique
Cardoso, ex-presidente

»Xi... A eventual participa-
ção do general Braga Netto
no episódio também contur-
bou o ambiente para a con-
tinuidade do diálogo aberto
entre representantes das
Forças e os demais Pode-
res, em especial, o Supremo
Tribunal Federal.

»Atenção. A Lei 8.112 diz
que um ministro só pode
deixar o País com autoriza-
ção do presidente.

»Coincidência? Weintraub
chegou aos EUA um dia an-
tes de Donald Trump cor-
tar os vistos de trabalho.

»Campo... Não terá vida
fácil na Câmara a PEC do
adiamento das eleições mu-
nicipais, aprovada no Sena-
do. Os deputados são sem-
pre muito sensíveis, diga-
mos, à pressão dos prefei-
tos porque a cada quatro
anos precisam deles para
ampliar sua capilaridade
eleitoral nos municípios.

»...minado. Os prefeitos,
basicamente, botaram duas
cartas na mesa em conver-
sa com os parlamentares:
prorrogação dos atuais man-
datos ou realização das elei-
ções na data consagrada em
lei: outubro de 2020.

»Estratégia. Na primeira
hipótese, alguns ficam li-
vres de disputar a reeleição
este ano e os já reeleitos
ganham uma sobrevida no
cargo. Na segunda, acabam
beneficiados por uma cam-
panha mais curta que tende
a beneficiar quem já é co-
nhecido do eleitor.

»Juntos. A bancada do PL
quer fechar questão na análi-
se da PEC da prisão após a
condenação em segunda ins-
tância, prometida para en-
trar na pauta em agosto. Ca-
minha para apoiar a propos-
ta que estende a medida pa-
ra além da esfera criminal,
incluindo às áreas cível e
fiscal do sistema jurídico.

»Pulso. Apesar do “otimis-
mo” demonstrado por Ro-
drigo Maia ao dizer que es-
pera votar a reforma tribu-
tária em agosto, líderes da
Câmara enxergam cenário
complicado para as pautas
mais arrojadas vingarem no
Congresso ainda este ano.

»Paulo 2. Em linhas ge-
rais, eles avaliam que a
“agenda reformista” será
fortemente desidratada a
partir do fim da pandemia.
O pacto federativo, por
exemplo, foi para o vinagre,
aposta um líder experiente.
A reforma tributária ainda
pulsa, ele admite, mas deve
ficar mesmo para 2021.

»Long life. Fernando Hen-
rique Cardoso, 89 anos re-
cém-completados, continua
a dar mostras de familiari-
dade com o ambiente digi-
tal. Sempre ativo nas redes,
o ex-presidente participa
amanhã (25/06), às 11h, de
live da Necton Investimen-
tos. O tema é a dinâmica
política e as instituições.

»Aos poucos. Dom Odilo
Scherer conversa hoje (por
meio de conferência virtual
de internet) com jornalis-
tas sobre a retomada das
atividades das igrejas católi-
cas da capital paulista. O
arcebispo de São Paulo reu-
niu-se com a bancada cristã
da Câmara Municipal para
debater um plano que seja
gradual e seguro.

A


nebulosa viagem de Abraham Weintraub aos EUA
jogou água no chope reservado para, quem sabe um
dia, celebrar o sonhado armistício entre Jair Bolso-
naro e as instituições. Em conversa com a ‘Coluna’, um
ministro do STF disse que o episódio indica a existência
de uma “índole delinquente” do governo, sempre tentan-
do, por meio escuso, burlar as regras, “trapacear”. Juris-
tas acham que, de novo, o Executivo cruzou a linha amare-
la e cometeu crime de responsabilidade. Resta saber se foi
com a anuência do presidente ou “apenas” da Casa Civil.

Viagem de Weintraub


esfria ‘armistício’


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Governo ‘ajusta’ data de


exoneração de Weintraub


Executivo. Planalto altera data de saída de ministro da Educação do cargo para o dia


anterior à sua viagem aos EUA; para subprocurador do TCU, mudança ‘confirma fraude’


BRASÍLIA

Depois de muita polêmica,
desta vez envolvendo até mes-
mo o uso de passaporte diplo-
mático e suspeitas de mano-
bra para entrar nos Estados
Unidos, o governo de Jair Bol-
sonaro recorreu mais uma
vez ao Diário Oficial da União
(DOU) para ajustar os fatos e
corrigiu ontem a data da de-
missão do ministro da Educa-
ção, Abraham Weintraub. Em-
bora a saída de Weintraub te-
nha sido anunciada na quinta-
feira, a exoneração foi oficiali-
zada somente no sábado,
após a chegada dele a Miami.
Com a retificação, porém, a
dispensa de Weintraub pas-
sou a valer “a partir de 19 de
junho”, um dia antes do que
constava no decreto anterior.
A suspeita é de que o ex-mi-
nistro tenha usado o cargo do
qual já havia saído para desem-
barcar em Miami e, assim, dri-
blar as restrições de viagem im-
postas pelos EUA aos brasilei-
ros, em decorrência da pande-
mia do novo coronavírus. Wein-
traub foi indicado para assumir
o cargo de diretor executivo do
Banco Mundial, em Washing-
ton. No Brasil, ele passou a ser
investigado pelo Supremo Tri-
bunal Federal (STF) no inquéri-
to das fake news após chamar
magistrados da Corte de “vaga-
bundos” e também por racismo
contra chineses, chegando a ad-
mitir o temor de ser preso.
Horas depois de o ex-minis-
tro desembarcar em solo ameri-
cano, no sábado, o governo bra-
sileiro publicou edição extraor-
dinária do Diário Oficial com
sua exoneração. A data da dis-
pensa foi corrigida ontem. A pu-
blicação da errata ocorreu justa-
mente após questionamentos
sobre a colaboração do governo
de Jair Bolsonaro na saída apres-
sada de Weintraub do Brasil.
A oposição enviou ontem um
abaixo-assinado ao embaixa-
dor dos EUA no Brasil, Todd
Chapman, manifestando preo-
cupação com o fato de Wein-
traub ter sido admitido naquele
país “sob falsas pretensões para
se esquivar do inquérito sobre
suas ações” e que agora lá resida
“fora do status regular”.
Na avaliação do subprocura-
dor-geral do Tribunal de Contas
da União (TCU) Lucas Furtado,
pode ter havido “desvio de finali-
dade” por parte do Itamaraty, já
que o ingresso de Weintraub em
Miami ocorreu com uso do pas-
saporte diplomático. Furtado ar-
gumentou que a viagem não ti-
nha caráter oficial, “o que lhe re-
tira a finalidade pública” e, por
isso, o passaporte diplomático
não poderia ter sido utilizado.
O TCU vai investigar se hou-
ve gasto de dinheiro público e
participação do Itamaraty na
ida de Weintraub aos EUA. Para
Furtado, a retificação da data de

dispensa do ministro da Educa-
ção confirma que houve fraude
no processo. “Antes, era ilegal e
parecia haver fraude. Agora,
confirmou”, disse o subprocura-
dor-geral ao Estadão/Broadcast.
“Se houve o emprego de valores
públicos em qualquer fase des-
sa viagem, os recursos foram in-
devidamente empregados e de-
verão ser ressarcidos ao erário”.

FAB. A Aeronáutica informou
ao Estadão que Weintraub não
usou voo da Força Aérea Brasi-
leira (FAB) nem dentro do Bra-
sil e nem para o exterior, nos
dias 18, 19 e 20 deste mês. Se-
gundo a Aeronáutica, a última
viagem do então ministro da
Educação em aviões da FAB foi
em 27 de janeiro, quando ele
decolou de Brasília, foi a São
José dos Campos e depois a So-
rocaba, em São Paulo, com 14
pessoas a bordo, retornando a
Brasília no mesmo dia à noite.
Integrantes do Itamaraty dis-
seram à reportagem que Wein-
traub não cometeu irregularida-
de ao usar o passaporte diplo-
mático para entrar nos EUA por-
que o fato de estar indicado pa-
ra o posto de diretor executivo
do Banco Mundial já lhe permi-
tia recorrer a esse expediente.
Lembraram que na data de en-
trada naquele país ele ainda era

ministro, mas observaram que
o passaporte diplomático não
confere imunidade ou privilé-
gio a seu detentor. No Twitter,
Weintraub afirmou anteontem
que recebeu a ajuda de “deze-
nas de pessoas” para chegar aos
Estados Unidos.
A Secretaria-Geral da Presi-
dência da República admitiu,
em nota, que a carta com o pedi-
do de demissão de Weintraub
só chegou no dia 20 de junho,
após o ex-ministro já ter deixa-
do o País. “Entretanto (...), o en-
tão ministro da Educação solici-
tou exoneração do cargo a con-
tar de 19 de junho de 2020, moti-
vo pelo qual o ato foi retificado.”
A assessoria do Ministério da
Educação também informou
que Weintraub deixou o pedido
de exoneração pronto antes de
embarcar para os EUA, com da-
ta valendo a partir de 19 de ju-
nho. Não soube informar, no en-
tanto, por que esse documento
só teria chegado ao Palácio do
Planalto um dia depois.

Visto. Interlocutores do ex-mi-
nistro afirmaram ao Estadão
que Weintraub teria entrado
nos EUA com o visto G-1, espe-
cífico para representantes es-
trangeiros que trabalham em or-
ganismos internacionais, como
o Banco Mundial. Os governos

brasileiro e americano, porém,
não confirmam qual permissão
de entrada foi usada por Wein-
traub para chegar aos EUA.
Os americanos impuseram
restrições à chegada de viajan-
tes que estão no Brasil em razão
do coronavírus, mas o visto G-
é um dos que estão na lista de
exceções. Antes de começar a
trabalhar na instituição, no en-
tanto, o nome de Weintraub
precisa passar por uma eleição
dentro do grupo que irá repre-
sentar com a diretoria executi-
va para a qual foi indicado.
O Estadão questionou o Ban-
co Mundial se Weintraub já esta-
ria habilitado a solicitar o visto
específico para trabalhar na ins-
tituição mesmo antes da elei-
ção. A instituição informou que
questões sobre vistos devem
ser direcionadas ao Departa-
mento de Estado.
O ministro Celso de Mello, do
Supremo, pediu ontem ao procu-
rador-geral da República, Augus-
to Aras, que indique se o inquéri-
to para investigar se Weintraub
cometeu crime de racismo ao iro-
nizar o sotaque dos chineses de-
ve ir para a Justiça estadual ou
federal. O ex-titular da Educação
perdeu o foro privilegiado ao dei-
xar o cargo, na semana passada. /
JULIA LINDNER, TANIA MONTEIRO,
BEATRIZ BULLA e LUCI RIBEIRO

Camila Turtelli / BRASÍLIA

O presidente da Câmara, Rodri-
go Maia (DEM-RJ), questionou a
viagem do ex-ministro da Educa-

ção, Abraham Weintraub, aos Es-
tados Unidos, e disse não ter en-
tendido a situação que foi criada.
“Eu não entendi o porquê. Ele
estava fugindo de alguém? Estra-
nho, não é?”, perguntou Maia ao
comentar os motivos que leva-
ram o Palácio do Planalto a repu-
blicar a exoneração do ex-minis-
tro. “Essa é a primeira vez na his-
tória que alguém diz que está exi-
lado e tem o apoio do governo.
Geralmente é o contrário, as pes-

soas fogem porque estão sendo
perseguidas por um governo.
Acho que é uma coisa meio ataba-
lhoada. Não faz muito sentido.”
Maia sempre deixou claro
suas restrições em relação a
Weintraub e chegou a declarar,
no plenário da Câmara, que não

era possível “acreditar nesse mi-
nistro”, durante a polêmica so-
bre o adiamento do Exame do
Ensino Nacional do Ensino Mé-
dio (Enem).
“Ninguém está sentindo falta
dele no Ministério da Educa-
ção. Ninguém queria que ele fi-
casse no Brasil de qualquer jei-
to”, afirmou Maia. “É uma pes-
soa que mais atrapalhou do que
ajudou. Não entendi essa neces-
sidade de se criar um ambiente
para ele sair correndo do Brasil,
até porque ele está sendo indica-
do para um banco internacio-
nal, certamente ele teria autori-
zação dos EUA para entrar no
país”, disse Maia.

Vinicius Poit

‘Ele estava fugindo de


alguém?’, pergunta Maia


BOMBOU NAS REDES!

l ‘Falta’

Presidente da Câmara
questiona viagem de
Weintraub e diz não
entender por que a
situação foi criada

ABRAHAM WEINTRAUB/TWITTER

Ex-ministro. Weintraub nos EUA; investigado em inquérito no STF, ele deixou o país no sábado

“É um absurdo que maus políticos e gestores públi-
cos usem o momento da pandemia como brecha pa-
ra praticar atos corruptos.”

Deputado federal (Novo-SP)

»CLICK. Jair Bolsonaro
em inauguração do Cen-
tro de Operações Espa-
ciais do Satélite Geoesta-
cionário de Defesa e Co-
municações Estratégi-
cas, em Brasília.

Alan Santos/PR

“Ninguém está sentindo
falta dele no Ministério da
Educação. Ninguém queria
que ele ficasse no Brasil de
qualquer jeito.”
Rodrigo Maia
PRESIDENTE DA CÂMARA
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