EXPEDIÇÃOAOEVERESTE 93
carga devido ao frio e, por isso, Tom e dois sher-
pas, Urken e Phu Tashi, puseram-nas no interior
dos seus fatos. Quando o problema foi resolvi-
do, aperceberam-se de que faltavam os tubos
para montar os sensores de vento: dois peque-
nos propulsores que medem a velocidade e a di-
recção do vento.
Baker lembrou-se da pega de uma pá de alu-
mínio que a equipa trouxera. Tinha, aproxima-
damente, o mesmo diâmetro dos tubos em falta.
Um dos guias, Lakpa Gyaljen Sherpa, pegou num
martelo e bateu na pega para a adaptar ao tama-
nho ideal. De seguida, Baker envolveu-a com ti-
ras de fita adesiva.
“É uma estação meteorológica moderna”, brin-
cou Tom. “Mas tem fita adesiva e a pega de uma
pá azul e cor de laranja fluorescente.”
Nos meses seguintes à
descida da montanha
pela equipa, as cinco
estações meteorológicas
do Evereste
transmitiram com
regularidade dados sobre
velocidade e direcção do
vento, a temperatura, a
radiação solar e térmica,
a pressão barométrica e a
precipitação, dando aos
cientistas uma
perspectiva nova e rica
de uma das regiões com
o clima mais complexo do mundo.
Investigadores de todo o mundo começaram a in-
troduzir os dados em modelos climáticos e meteo-
rológicos. Até à data, a revelação mais inquietante
diz respeito à forma como o gelo derrete a grande
altitude. Há muito que os cientistas sabem que
a radiação solar aumenta dramaticamente nos
locais onde a atmosfera é mais rarefeita. No en-
tanto, poucas medições da radiação solar tinham
sido realizadas até então nestas altitudes. Algu-
mas leituras nas estações de Western Cwm e Colo
Sul igualaram ou excederam a constante solar – a
potência do sol antes de ser filtrado pela atmosfe-
ra da Terra. Em tais condições, a neve pode derre-
ter significativamente, mesmo que a temperatura
atmosférica se mantenha abaixo de zero. O princí-
pio é parecido com usar a energia radiante de um
forno de micro-ondas para aquecer alimentos.
Isto é importante porque a maioria dos modelos
climáticos previam a quantidade de gelo glaciar
baseando-se apenas na temperatura. “Milhares
de quilómetros quadrados podem estar a derreter
na região montanhosa da Ásia sem nosso conhe-
cimento”, disse-me recentemente Tom Matthews.
No início de Janeiro de 2020, Tom começou a
suspeitar de que os dados recolhidos pelo sensor
de vento da estação da Varanda estavam a tornar-
-se menos fiáveis. Os valores das leituras direccio-
nais começaram a ser muito próximos, como se o
sensor estivesse obstruído e a velocidade do vento
tivesse diminuído consideravelmente. Depois, no
dia 20 de Janeiro, a estação meteorológica desli-
gou-se por completo. “Diria que sofreu um ‘trau-
ma’”, disse Tom, fazendo uma pequena pausa. “Só
há uma maneira de descobrir: voltando lá.” j