LEOPARDO-DAS-NEVES 69
ceis, como as cabras e ovelhas da aldeia, os cavalos
juvenis e as crias de iaque.
Numa manhã de frio penetrante em Feverei-
ro, agachei-me na borda incrustada de gelo de
um precipício, observando com binóculo o ve-
lho leopardo-das-neves. Estava a dormitar numa
saliência do penhasco em frente, cujas paredes
íngremes desciam quase 300 metros até ao rio
Spiti. Um véu de fl ocos de neve fi nos como pes-
tanas pairava sobre o desfi ladeiro e, ocasional-
mente, quando eu sacudia o binóculo, a pelagem
esfumada do felino perdia-se entre as pregas e as
sombras. “Bolas, perdi-o outra vez”, sussurrava
eu. Prasenjeet levantava os olhos da máquina fo-
tográfi ca e apontava. Eu seguia o seu dedo até ao
novo ponto onde o animal se encontrava.
A verdade é que este era o leopardo-das-neves
de Prasenjeet. Alguns guias locais até se referiam
a ele como tal. Quando soubemos que fora detec-
tado um felino, um deles disse-lhe: “É o teu”. E to-
cou-lhe na orelha esquerda.
Nos últimos dois anos, o fotógrafo Prasenjeet
Yadav acompanhara o macho a pé e recorrendo a
armadilhas fotográfi cas neste recanto de grande
altitude do vale de Spiti, no Norte da Índia. Nas se-
manas seguintes, percorreríamos cerca de 50 qui-
lómetros a pé, descendo desfi ladeiros, subindo
passagens atulhadas de neve e escalando penhas-
cos gelados. Hoje, porém, no meu primeiro dia
em Kibber e ainda tonto com a subida até 4.200
metros de altitude, o felino dignara-se a aparecer.
Uma fêmea desce
uma encosta no Parque
Nacional de Sanjian-
gyuan. Como os barais
e outras presas abundam
na região, ela caça num
território relativamente
pequeno, com 15 a 25
quilómetros quadrados.
Nos sítios onde há pou-
cas presas, um leopardo-
-das-neves pode
precisar de um território
de caça com mais de mil
quilómetros quadrados.
FRÉDÉRIC LARREY
O S
LEOPARDOS-
-FANTASMA
DOS
HIMALAIA
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A National Geographic Society, organização sem fins
lucrativos, ajudou a financiar esta reportagem.