Retratos de Madalena
No cinema, predomina ao longo dos tempos o
retrato de uma mulher sedutora, como no filme
A Última Tentação de Cristo , de Martin Scorsese.
Lançado em 1988, teve como protagonista a atriz
Barbara Hershey, lembrada pela cena em que Jesus,
sofrendo com delírios enquanto estava na cruz, a vê
na figura de esposa, grávida de um filho seu.
Já a película Maria Madalena , lançada em 2018
e dirigida por Garth Davis, conta a história da
personagem antes de seu encontro com o Messias.
Essa representação, porém, tem causado duras
críticas de quem considera o filme uma heresia, ou
seja, que vai no sentido contrário ao da visão bíblica,
já que, nele, Maria Madalena foi apresentada como
a pessoa escolhida para ser porta-voz de Cristo.
Além disso, sua jornada começa no sentido contrário
aos ideais traçados por sua família, a qual esperava
que ela se casasse e servisse ao marido. Nessa
história, ela tem outras aspirações e sai em busca
de algo que lhe fizesse entrar em contato com sua
verdadeira alma, sua essência, seu espírito. É nesse
caminho que encontra o profeta.
Pela primeira vez, depois de muitos equívocos sobre
quem foi Maria Madalena, ela aparece representada
na sétima arte como protagonista de sua própria
história, assim como no livro Maria Madalena -
Bíblia ao Código da Vinci: Companheira de Jesus,
Deusa, Prostituta, Ícone Feminista. Supera a imagem
de prostituta e da polêmica relação carnal com Cristo
para ser devidamente reconhecida como a grande
apóstola que foi.moldado pelas atitudes patriarcais que orientavam
a cultura romana.
Nas Epístolas paulinas ou Cartas de Paulo, alguns
trechos exemplificam qual era o pensamento sobre
a presença das mulheres nas comunidades: “As
mulheres sejam submissas a seus maridos como ao
Senhor, porque o marido é cabeça da mulher como
Cristo é cabeça da Igreja, seu corpo, do qual ele é
o Salvador. Ora, assim como a Igreja está sujeita a
Cristo, assim o estejam também as mulheres a seus
maridos em tudo” (Efésios 5:22-24). Em sua carta
aos Corintios, o apóstolo também escreve: “As mu-
lheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não
é permitido falar; mas estejam submissas como
também ordena a lei. E se querem ser instruídas
sobre algum ponto, interroguem em casa os seus
maridos, porque é vergonhoso para uma mulher o
falar na igreja” (1 Coríntios 14:34-35).
Mesmo inserida em uma realidade de sub-
serviência que descreve Paulo, Maria Madalena
também é reconhecida como confidente de Jesus
nos evangelhos canônicos – de Mateus, Marcos,
Lucas e João – e ainda revela a importância de sua
relação com o profeta quando se faz presente nas
cenas da crucificação e da ressurreição. Vejam, Je-
sus aparece para uma mulher e não para seus após-
tolos. Não teria ela, então, um papel insubstituível,
determinante e empoderado na narrativa bíblica?Retornar
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