National Geographic - Portugal - Edição 230 (2020-05)

(Antfer) #1
NATIONALGEOGRAPHIC

GRANDE ANGULAR | GRAFENO


mecânico,nomeadamentederesinas(fibrasde
vidrooudecarbono),e compropriedadescomoa
elevadacondutividadetérmicae eléctricae uma
granderesistênciamecânica.
Osusoscomerciaisdesteinovadormaterialabran-
gema electrónicae o sectordadefesa,passando
pelasindústriasautomóvel,navale atéaeroespacial,
comaviõescomoonovocaça-bombardeiro
LockheedMartinF35e o Boeing 787 Dreamlinerque
integramcomponentescomgrafeno.
Seráo “papelelectrónico”a trazera tecnologia
paraasmãosdoconsumidor.Nãofaltarámuitopara
quesejapossívelenrolarumtablete seguirporta
foracomeledebaixodobraço.Umdosaspectosque
diferenciao grafenoé o factodeserummaterial
limpoe permitira reutilizaçãoe novosusos,apro-
ximando-sedoconceitodeeconomiacircular.Além
dissoa matéria-primaestáfacilmentedisponível,
poiso carbonoé o sextomaterialmaisabundante
domundo,comgrandesprodutores(China,Índia,
SriLankaouSuécia)a forneceremdiferentesquali-
dades,compreçosquetantopodemsercalculados
emduzentoseurosportonelada(paramaterialde
qualidadecorrente)comoemcemeurosporquilo-
grama(paramaterialdetopo).
“Ografenoé comoumafolhadepapel,enquanto
a grafiteé umaresmadessasfolhas”,dizVítor
Abrantes.Ografenoé compostoporátomosdecar-
bonodispostosnumaconformaçãoqueseasseme-
lhaafavosdemel.Aocontráriodografeno
monocamadaproduzidonoINL,muitomaisdis-
pendiosoe tecnologicamentemaisdifícildecriar,
aquitrabalha-senumaversãodesignadafewlayers.
Coma novaunidadeindustrial,quenoconjunto
implicoujáuminvestimentodequasedoismilhões
deeuros,a Graphenesttemcapacidadedeprodução
de1,5toneladas/ano,masesperaexpandiresses
númerosempoucosanos.

Entramos no VougaPark, antiga fábrica de massas
alimentares, em Sever do Vouga, recentemente
renascida da ruína, como uma fénix tecnológica.
Agora, a fábrica acolhe uma empresa muito parti-
cular: a Graphenest.
Fundada em 2015 por Vítor Abrantes, Bruno
Figueiredo e Rui Silva, esta startup especializou-se
em grafeno e é constituída por uma equipa jovem,
liderada por Vítor Abrantes, estudante do mestrado
em engenharia de materiais, cujo avô foi o antigo
capataz desta mesma fábrica, um peculiar acaso do
destino. Num amplo pavilhão de betão, o novo
módulo da fábrica, concluído em Agosto do ano pas-
sado, brilha com a sua instrumentação inox, tubos
coloridos e frascos borbulhantes, capazes de deixar
invejoso Doc Brown, o excêntrico cientista do filme
“Regresso ao Futuro”.
Para lá das aparências, sente-se um espírito
inventivo e irreverente na equipa, mais tarde con-
firmado pelo director, que entre sorrisos confiden-
cia ter existido muito experimentalismo na génese
do projecto: “Tudo começou numa notícia que li
no Facebook, sobre baterias de carregamento
rápido. Para provar que a nossa tecnologia era viá-
vel, tivemos de ser criativos na demonstração. Usá-
mos, por exemplo, o filtro de um Audi para purificar
o ar de entrada e recuperámos uma caldeira semi-
nova de uma sucata para criar o sistema de secagem
por pulverização. Neste processo-piloto, consegui-
mos montar o mesmo equipamento com um custo
dez vezes inferior ao que uma unidade comercial
equivalente teria custado.”
Agora noutro patamar, a Graphenest é um prove-
dor de soluções tecnológicas de grafeno, com apli-
cações específicas para empresas, e tem vindo a
chamar a atenção de gigantes tecnológicos globais,
como a Apple, a Samsung ou a LG Electronics, dado
que a tecnologia que desenvolve é mais flexível e
barata do que as concorrentes. Um sinal dessa rele-
vância internacional foi a nomeação de Bruno
Figueiredo, director científico, para a lista “30 Under
30” da revista “Forbes” em 2017 e o facto de a
empresa ter sido a única startup estrangeira a inte-
grar um acelerador de empresas da Força Aérea
norte-americana em Boston, nos EUA.
Presentemente, há dois produtos-base em comer-
cialização, adaptáveis consoante as especificações
dos clientes: a HexaShield é uma tinta condutora,
aplicável a diferentes superfícies e com usos pos-
síveis na blindagem electromagnética (tornando
por exemplo uma sala invisível ao electromagne-
tismo, como uma gaiola de Faraday virtual).
A HexaMatrix tem como funcionalidade o reforço

Nas instalações da Graphenest, na antiga fábrica
de massas Vouga, um exemplar de borracha compó-
sita com grafeno é analisado pela equipa técnica.
A versatilidade deste supermaterial levará à substi-
tuição do silício em muitas aplicações actuais.

“O grafeno é como uma folha
de papel, enquanto a grafite
é uma resma dessas folhas”,
diz Vítor Abrantes. Ao
contrário do grafeno, a grafite
não tem espessura fixa.
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