12 NATIONAL GEOGRAPHIC
Se existisse um ponto de partida
para a crescente preocupação com o
declínio dos insectos, seria esta escola.
“Não contamos os frascos, porque
o número muda todas as semanas”,
disse Martin Sorg, o curador princi-
pal da colecção. Ele estima que “exis-
tam várias dezenas de milhares”.
No fim da década de 1980, Martin
e os colegas decidiram averiguar a
situação dos insectos em diferentes
tipos de áreas protegidas da Alemanha.Paratal,
montaram armadilhas Malaise, um dispositivo
que parece uma tenda triangular inclinada. As
armadilhas capturavam tudo o que voasseparao
interior, incluindo moscas, vespas, traças,abelhas,
borboletas e neurópteros. Todas as capturaseram
acondicionadas em frascos.
A fase de recolha durou mais de vinteanosaté
acumular dados sobre 63 áreas protegidas,sobre-
tudo no estado da Renânia do Norte-Vestefália,
onde se situa Krefeld. Em 2013, os entomólogos
regressaram a dois locais onde tinhamrecolhido
amostras pela primeira vez em 1989.Amassade
insectos capturados nas armadilhasfoiumape-
quena fracção do conjunto recolhido 24 anosan-
tes. Voltaram aos mesmos locais em 2014 e reco-
lheram novas amostras em mais deumadezena
de outros. Independentemente da localização,os
resultados eram semelhantes.
Para interpretar os resultados, a Sociedademo-
bilizou a ajuda de outros entomólogose especia-
listas em estatística, que analisarammeticulosa-
mente os dados. A análise confirmouque,entre
1989 e 2016, a biomassa de insectos voadoresem
áreas protegidas da Alemanha diminuíra 76%,
uma percentagem gigantesca.
Esta conclusão, publicada na revistacientífica
“PLOS One”, desencadeou manchetesemjornais
de todo o mundo. O “The Guardian”falounum
“Armagedão ecológico”, o “New YorkTimes”num
“Armagedão dos insectos”. O “FrankfurterAllge-
meine Zeitung” declarou que “estamosnomeio
de um pesadelo”. Segundo o Altmetric,umsítiona
Internet que acompanha o número dereferências
online a investigações publicadas, oestudofoio
sexto ensaio científico mais discutidode2017.A
outrora desconhecida Sociedade Entomológica
de Krefeld foi inundada de pedidos
de depoimentos da comunicação
social, situação que se mantém até
hoje. “Não existe, simplesmente, um
fim”, suspirou Martin Sorg.
Desde o estudo de Krefeld que os
entomólogos de todo o mundo exa-
minam registos e colecções. Alguns
cientistas argumentam que os estu-
dos que apresentam referências a
alterações dramáticas têm mais pro-
babilidade de publicação do que os que não o fize-
rem. Mesmo assim, os resultados são sugestivos.
Investigadores que estudam uma floresta prote-
gida no estado de New Hampshire (EUA) desco-
briram que o número de escaravelhos diminuiu
mais de 80% desde meados da década de 1970 e
que a diversidade dos insectos como um todo so-
frera uma redução de quase 40%.
Num estudo sobre borboletas realizado nos Paí-
ses Baixos, apurou-se que o número de insectos di-
minuíra ali quase 85% desde finais do século XIX,
enquanto um estudo sobre efemerópteros realiza-
do na zona superior do Centro-Oeste dos EUA con-
cluiu que as populações de insectos tinham sido
reduzidas para menos de metade desde 2012. Na
Alemanha, uma segunda equipa de investigadores
confirmou os resultados de Krefeld, concluindo
que, entre 2008 e 2017, o número de espécies de in-
sectos nas pradarias e florestas do país – com base
numa recolha repetida de amostras em centenas
de locais em três zonas protegidas distantes entre
si – sofrera um declínio superior a 30%.
“É assustador, mas é compatível com o cenário
apresentado num crescente número de estudos”,
resumiu Wolfgang Weisser, professor da Universi-
dade Técnica de Munique.
OS SERES HUMANOS podem adorar borboletas e
detestar os mosquitos, mas, na verdade, desco-
nhecem a maior parte dos insectos. Isto diz muito
mais sobre as criaturas de duas pernas do que
sobre as criaturas de seis patas.
Os insectos são, de longe, as criaturas mais
diversificadas do planeta, de tal forma que os
cientistas ainda hoje desenvolvem esforços para
apurar quantas espécies diferentes existem. Já fo-
ram identificadas cerca de um milhão de espécies
Há várias espécies de
escaravelhos do género
Pseudoxycheila nas
terras altas do Equador
(e mais de 350 mil
espécies em todo o
mundo). Este alimen-
ta-se provavelmente de
outros insectos existen-
tes no solo da floresta.
As manchas amarelas
podem enganar os
predadores, tornando o
escaravelho parecido
com vespas, cujas
picadas são terríveis.
FOTOGRAFADO NA ESTAÇÃO
BIOLÓGICA DE YANAYACU