National Geographic - Portugal - Edição 230 (2020-05)

(Antfer) #1

22 NATIONAL GEOGRAPHIC


Na sua variedade quase infinita, os
insectos executam uma miríade de
tarefas, muitas das quais não lhes são
creditadas. Cerca de três quartos de
todas as angiospérmicas dependem
de insectos polinizadores: as abelhas
e abelhões são os mais populares, mas
as borboletas, as vespas e os escarave-
lhos também pertencem a este grupo.
A maior parte das culturas de fruto
precisa de insectos polinizadores.
Os insectos também são essenciais para a dis-
persão das sementes. Muitas plantas equipam as
suas sementes com pequenos apêndices, conhe-
cidos como elaiossomas, que estão repletos de
gorduras e outros nutrientes. As formigas trans-
portam a semente, consomem apenas o elaiosso-
ma, e deixam o resto a germinar.
Os insectos, por sua vez, servem de alimen-
to aos peixes de água doce e a praticamente a
todos os tipos de animais terrestres. Os répteis
insectívoros incluem as osgas, os anolis e os es-
cíncidos. Os musaranhos arborícolas e os papa-
-formigas são mamíferos insectívoros. As ando-
rinhas, os parulídeos, os pica-paus e as carriças
são algumas das aves que se alimentam essen-
cialmente de insectos.
Até as aves que são omnívoras na idade adulta
dependem frequentemente dos insectos enquan-
to juvenis. Alguns chapins, por exemplo, criam
os seus pintos exclusivamente com lagartas e são
necessárias mais de cinco mil lagartas para uma
ninhada atingir a idade da muda da pena. Um es-
tudo recente sobre as aves da América do Norte
concluiu que o seu número também tem diminuí-
do acentuadamente: quase um terço desde 1970.
As espécies com dietas maioritariamente à base
de insectos têm sido das mais atingidas.
Os insectos intervêm igualmente de forma
decisiva na decomposição, mantendo a roda da
vida a girar. Ao ingerirem excrementos, os esca-
ravelhos-bosteiros ajudam a devolver nutrientes
ao solo. As térmitas fazem o mesmo ao consumi-
rem madeira. Sem insectos, a matéria orgânica
morta começaria a acumular-se. Reunidas as
condições certas, as larvas das moscas varejeiras
podem consumir 60% de um cadáver humano
numa semana.


É difícil atribuir um valor mone-
tário a este trabalho, mas dois ento-
mólogos tentaram fazê-lo em 2006.
Examinaram quatro categorias de
“serviços prestados por insectos”
(“enterro de excrementos, controlo
de pragas, polinização e alimento de
animais selvagens”) e estimaram um
valor de 52,4 mil milhões de euros
por ano, só nos EUA.

O POSTO DE INVESTIGAÇÃO de La Selva dista ape-
nas 56 quilómetros da capital da Costa Rica, San
José, mas, para chegar lá, é necessária uma viagem
de automóvel de duas horas.
Antigamente, um dos mais animados locais
nocturnos de La Selva era um pequeno pavilhão
equipado com um lençol branco e uma lâmpada
de luz negra acesa para atrair insectos. O núme-
ro de insectos capturado no lençol era tão grande
que os visitantes do posto ficavam acordados até
de madrugada para observá-los. Nas duas últi-
mas décadas, porém, o espectáculo tem perdido
brilho. Na verdade, já nem sequer há espectáculo.
Duas viagens até ao pavilhão em noites quentes
e húmidas no passado mês de Janeiro renderam
três traças, um gorgulho, um percevejo e alguns
mosquitos. “Quando aqui vim pela primeira vez,
era um autêntico ponto de encontro”, confessa
Lee Dyer, ecologista da Universidade de Nevada,
referindo-se ao pavilhão. “Agora, vemos poucos
insectos: talvez um ou dois.”
Lee trabalha em La Selva desde 1991. A sua
investigação concentra-se na interacção entre
insectos e as suas plantas hospedeiras. Vários
insectos dependem de outros insectos para vi-
ver. A maioria das vespas parasitas, por exemplo,
põe ovos nos corpos de lagartas, usando os hos-
pedeiros como uma despensa viva: as larvas das
vespas devoram gradualmente as lagartas a partir
do interior. Outros insectos, conhecidos como hi-
perparasitóides, põem os ovos no interior dos cor-
pos dos parasitóides ou sobre estes. Até existem
insectos que parasitam hiperparasitóides.
Com a ajuda de alunos e voluntários, Lee Dyer
tem recolhido lagartas em La Selva, criando-as
para ver o que delas emerge: traças, nalguns ca-
sos, e parasitóides noutros. À semelhança dos

Esta libelinha vive junto
de ribeiros rodeados
por árvores no Leste da
América do Norte. Este
espécime de cinco
centímetros é oriundo
das montanhas Great
Smoky. Alimentan-
do-se de mosquitos, é
devorado por aves e rãs.
É uma de quase três mil
espécies conhecidas de
libelinhas, da mesma
ordem que as libélulas.
Ao contrário de muitas,
não está em perigo.
FOTOGRAFADO NA ESTAÇÃO DE
CAMPO DE BIOLOGIA DA
UNIVERSIDADE DE TENNESSEE
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